Caboclada
- Domínio Público (2003)
A
banda formada pelos irmãos Theo e Márcio Werneck tem sido
colocada ao lado de outras que procuram fazer música caipira
com toques contemporâneos, mas o leque de estilos que entram na
mistura vai bem além da música regional de São Paulo e Minas.
Eu vejo a Caboclada, na verdade, como uma banda pop, que coloca
sim música caipira em suas composições, mas também rock,
reggae, funk, rítmos nordestinos e um toque de rap/hip hop.
É impressionante a capacidade da
Caboclada de mudar o discurso no meio da música, tanto na forma
de cantar como no instrumental. Um exemplo disso é "Queima
de Fogos", que começa calminha, numa batida regional com
uma violinha fazendo a melodia, até que, numa certa altura, a
letra vai para outra direção, fazendo uma divagação meio
desnorteada como é o pensamento da gente, e o instrumental fica
mais pesado (belo timbre de guitarra) e nervoso. O efeito destas
variações é muito bom, surpreende quem está ouvindo e não
chega a ser uma colagem de estilos, já que a música flui bem,
mesmo nas mudanças mais bruscas e improváveis.
As expressões populares abundam em
todas as faixas, o que por vezes me parece meio forçado, mas em
geral casa bem com o jeito desencanado de cantar de Márcio
Werneck. "E aí beleza", que rendeu um clip, sintetiza
bem esse esquema.
Há momentos em que a Caboclada não se
distingue de outros grupos pop brasileiros, repetindo - ainda
que sem ir completamente na onda - algumas fórmulas que se
ouvem no rádio. Achei "Muleque Trabalhador", por
exemplo, parecida demais com coisas que o Skank já fez. No
entanto, os destaques do CD "Fala Maluco", "Pare
Para", "Tipo Assim", a embolada "O Pobre e o
Rico" e principalmente "E aí beleza" têm cara
de Caboclada e mostram que a banda tem a oferecer algo que anda
em falta por aí: músicas boas, daquelas que a gente sempre
lembra, canta junto e assobia. |