A
viola e eu
Em 2001, eu estava cansado da música que vinha ouvindo,
passei a procurar novos sons e encontrei a música caipira
brasileira.
O engraçado é que eu não tinha
motivo algum pra gostar de música caipira. Não
nasci e nem tenho parentes no campo. Meu contato com a música
caipira até dois anos atrás era praticamente nenhum e moro em
uma cidade industrializada e claustrofóbica (São Paulo, a
selva cinzenta), ou seja, sou alguém "sem raiz" no
meio caipira. Mas tudo o que eu procurava estava lá: a emoção
e a simplicidade, a autenticidade que só tem o que é
verdadeiro.
Aí me veio um
estalo que me levou em outra direção: Os americanos sempre
souberam misturar música antiga, "de raiz", com
vertentes mais modernas, tocando a história da música pra
frente. E no Brasil? Seria possível que a música
tradicional brasileira só tenha evoluído para o pop radiofônico
de zezés e daniels? Será que ninguém teve a idéia de juntar
música caipira e rock?
A idéia era tão boa que
provavelmente alguém já tinha pensado nisso. Fui atrás e
encontrei um mundo de gente com um pé na
tradição e outro em linguagens musicais contemporâneas,
universais. Em julho de 2002, fiquei
sabendo que o Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo,
promoveria um Sarau Paulista de Viola, com diversos grupos
tradicionais e outros que usavam a música caipira dentro de uma
abordagem contemporânea.
O evento, que durou o mês inteiro, encheu
meus ouvidos de coisa boa. Violeiros como Vinicius Alves, Ivan
Vilela e Pereira da Viola e bandas como Matuto Moderno e Fulanos
de Tal me mostraram que algo muito singular estava acontecendo
ali. Apesar da intenção de fazer música nova, não se queria
romper com o passado; o respeito pela tradição era enorme.
Com o tempo, vi que esse pessoal se
enxerga como parte de uma coisa só. Existe até um embasamento
teórico e uma inteção de se passar para a mídia e o público
a idéia de que há um "movimento", mas eu percebi
que, se o tal existe, é porque bandas e violeiros estão
constantemente trocando informações, promovendo-se mutuamente
e participando de eventos e festivais pelo país, de forma
eminentemente independente, sem apoio - e grana - de gente graúda.
A partir daí, fui
atrás de bandas, CDs, livros, eventos e comprei uma viola
caipira a fim de entender essa música que é velha e nova e
toca o coração de tanta gente.
Aí veio a idéia deste site.
A cultura e a música caipira estão vivas e
se adaptando aos novos tempos. Com este site, procuro reunir as
informações que vou encontrando pelo caminho e quem sabe até
fornecer um mapa para quem quiser saber mais sobre o assunto.
Além disso, são raras as transcrições para viola caipira na
Internet, daí a necessidade de se disponibilizar tablaturas e
partituras aos novos violeiros que aparecem a cada dia.
O violeiro Paulo
Freire sempre diz pra quem quiser escutar: "O sertão mora
dentro de cada um de nós".
Eu encontrei o meu.
dezembro
de 2004 |