Um dos violões
maciços da Godin


Viola elétrica feita pelo
luthier Vergílio Lima


A Arteiro


João Scremin, Márcio Benedetti e Ricardo Vignini, com a Arteiro nas mãos

A viola elétrica

    Acompanhando a evolução do violão, nota-se que foram introduzidas ao longo dos anos diversas modificações para que o instrumento se adaptasse a novas formas de propagar seu som. O próprio surgimento da guitarra elétrica veio da necessidade de se amplificar o som do violão quando tocado juntamente com outros instrumentos de maior potência sonora, como os de sopro.
    Recentemente, passaram a ser fabricados instrumentos que possuem características híbridas de guitarra elétrica e violão. São os violões de corpos maciços como os das guitarras, mas que guardam características típicas de um violão, como o cavalete de madeira e o uso de cordas de náilon. Há diversas outras variações em cima desta idéia, inclusive versões maciças de instrumentos árabes sem trastes, e a fábrica Godin é talvez a mais notória por construir este tipo de instrumento.
    Assim como a guitarra não substitui o violão, estes violões maciços não substituem nenhum dos dois, mas guardam algumas vantagens sobre seus irmãos acústicos. Dentre elas, maior resistência e facilidade de amplificação, além de serem menos sujeitos à microfonia.
    Também a viola caipira evoluiu com o tempo. A construção do instrumento por parte de luthiers ou fábricas está bem mais sofisticada do que a que era usada pra fazer as velhas violas de Queluz. Também são várias as formas de se amplificar o som da violinha em shows, com captadores magnéticos, de rastilho e outros tipos, mas será que ninguém pensou em fazer uma versão "guitarra" da viola caipira?
    Fui atrás da informação e achei alguns fatos interessantes.
    Descobri que a Cheruti, do Rio Grande do Sul, durante um tempo colocou entre seus produtos uma viola elétrica semelhante a uma guitarra. Seu corpo era semi-acústico, o cavalete era de madeira e a captação era do tipo piezo. Segundo o que me informou a fábrica, o guitarrista da banda Plebe Rude, Jander Bilaphra, possui uma destas e a usou no Rock in Rio II. Infelizmente, não há registro de nenhuma música gravada com o instrumento.
    Outra viola elétrica foi construída pelo luthier Vergílio Lima, de Sabará-MG, para o violeiro Pereira da Viola. Embora fosse maciça, possuía uma "boca" para dar uma cara de viola acústica (não sei por quê). Esta viola foi vendida para o violeiro Ricardo Vignini (Matuto Moderno) e hoje está com Luciano de Moraes (Brazmusic). Seu sistema de amplificação é L.R. Baggs e o que me chamou a atenção quando tive oportunidade de tocá-la foi seu braço, que é muito semelhante ao de uma guitarra elétrica - e ótimo de tocar.
    Uma solução interessante - e a mais parecida com uma guitarra de dez cordas - foi encontrada pelo guitarrista e violeiro Théo Werneck, da banda Caboclada. Ele pegou uma guitarra Danelectro de 12 cordas e retirou duas delas, removendo inclusi
ve os carrinhos e as tarraxas. Eu o vi usando a "guiola" (como ele a chama) ao vivo e seu som pode ser ouvido no CD da Caboclada, Domínio Público.
   Pois é, mas já estava na hora de alguém fazer uma viola elétrica maciça definitiva, como os violões Godin que eu mencionei no início. No final de 2004, ouvi de um amigo que havia um luthier em São Paulo fazendo um modelo semelhante aos Godin, só que com dez cordas. Fiquei com as antenas ligadas e pedi pra este meu amigo me avisar quando ela ficasse pronta, mas não foi preciso, em janeiro recebi um telefonema do Ricardo Vignini dizendo que a tal viola estava com ele e que ele a estrearia num show do Matuto Moderno naquele mesmo mês.
    Encurtando a prosa, fui ao show, vi, ouvi e toquei a viola elétrica, que é sensacional. Difere de uma guitarra elétrica especialmente devido ao tamanho da escala e as dimensões do braço (além do número de cordas, claro), seu cavalete é de madeira, possui dois captadores magnéticos Lace Sensor e um piezo embaixo do cavalete. Tem um pré-amplificador ativo embutido e apresenta muitas possibilidades timbrísticas. No show, que era num lugar pequeno
e pouco barulhento, o som do instrumento estava impecável, substituindo tranquilamente uma viola acústica amplificada.
    A viola elétrica foi construída pelos luthiers João Scremim e Márcio Benedetti, seu modelo se chama Arteiro e vai ser produzido em série. Eles estão pra colocar no ar um site através do qual os violeiros (modernos ou não) vão poder saber mais sobre o instrumento e em como adquiri-lo.
    A viola é um instrumento ancestral que viajou o mundo e se abrasileirou. É o coração de uma música genuína que sobrevive ao tempo e aos modismos, adaptando-se sem perder suas características. A Arteiro não vai tomar o lugar das violas acústicas, mas é inegavelmente uma evolução do instrumento e eu, que acompanho as mudanças da música caipira, espero que ela tenha vindo pra ficar. 

fevereiro de 2005

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Viola Elétrica® Marcelo Garcia