Método:
A Arte de Pontear Viola
Roberto Corrêa
Edição do autor
Já vou logo avisando: longe de ser apenas um método para
aprender a tocar viola caipira, este é o mais completo tratado
sobre o instrumento já escrito. Este livro é o resultado de
vinte anos de pesquisa e vivência por parte do violeiro Roberto
Corrêa e traz rios de informação para iniciantes e iniciados.
Dividido em duas partes, o livro começa com
uma Parte Especulativa muito completa e interessante.
Nela estão a história da viola caipira, suas medidas, um guia
completo de suas afinações por todo o Brasil,
informações sobre cordas - com medidas sugeridas para cada
afinação e até uma receita pra fazer corda de tripa (!) e uma
parte dedicada especialmente à viola de cocho. São
particularmente úteis as considerações sobre entonação,
através das quais o violeiro (ou melhor, seu luthier) pode
alterar o cavalete do instrumento para garantir uma afinação
precisa.
A Parte Prática é o método
propriamente dito. Incrivelmente bem organizada, começa com
dicas de estudo e apresenta ilustrações que correspondem aos
toques e efeitos típicos de viola e sua representação nas
tablaturas. Isso é muito importante, pois, embora a tablatura
seja uma convenção internacional, em nenhum lugar é possível
encontrar sinalizações específicas para viola caipira (quer
representar graficamente um rasqueado? Uma matada seca? Uma
matada percutida? Tá tudo ali).
A partir daí há um guia de afinação e
seguem-se os exercícios que vão colocar o violeiro nos trilhos
da boa música. Estes são específicos para desenvolver a
soltura, a velocidade e a independência dos dedos de ambas as
mãos e foi nesta parte que eu dei uma "empacada".
Achei que os exercícios, embora úteis, são um tanto
enfadonhos, pois são basicamente cromáticos e levam em
consideração apenas a parte mecânica das mãos. Creio que, se
eles fossem mais melódicos, manteriam o interesse do estudante
e chegariam ao mesmo resultado mecânico. Saí do impasse
pulando esta parte e passando a estudar simultaneamente os
rítmos de música caipira e os estudos progressivos, que são a
cereja do bolo.
Para cada rítmo analisado, Corrêa mostra a
célula rítmica mais frequente e indica como referência
algumas gravações clássicas de duplas que o utilizaram. Aí
mostra um trecho com pouco mais de dez compassos com cada
rítmo. Isso é muito legal, pois o estudante aprende aquele
toque fazendo música e não apenas exercícios. Cateretê,
Cururu, Toada, Mazurca e o afamado Pagode-de-Viola estão ali,
ao lado de mais onze rítmos (dos quais ainda são indicadas
variações - é muito material), tudo bem explicadinho.
Os vinte e cinco Estudos Progressivos
fecham o livro e são pequenas músicas compostas pelo autor em
diversos níveis de dificuldade. Dão a sensação ao estudante
de que ele está criando um razoável repertório de rítmos e
recursos técnicos, que podem ser usados em ponteios de músicas
conhecidas ou composições próprias.
Há ainda um álbum de acordes e um guia de
acompanhamento, com indicação das progressões mais utilizadas
na música caipira. Material suficiente para o violeiro
acompanhar uma infinidade de músicas só olhando as cifras.
Como método, A arte de pontear viola
é completo e didático ao extremo. Como livro que fala da
música e da viola caipira, é simplesmente essencial. |