Tião
Carreiro
- É Isto que o Povo Quer (1995)
O que
é que o povo quer? Solos de viola caipira, claro. Bom, foi-se o
tempo em que os pagodes de Tião Carreiro e Pardinho
frequentavam as paradas de sucesso. Mas, embora longe da memória
do povo e do conhecimento dos mais jovens, as músicas da dupla
são referência obrigatória pra quem quer aprender a tocar
viola caipira, principalmente devido ao toque original e virtuosístico
de Tião Carreiro, o pai de todos os violeiros modernos.
Alimir Sater certa vez disse que a história
da viola pode ser dividida em " antes do Tião" e
"depois do Tião". É verdade. Foi ele quem primeiro
deu um destaque maior à viola caipira como instrumento solista,
tocando de forma inusitada até então.
Além de gravar dezenas de LPs com
diversos parceiros, Tião gravou dois discos solo. Neles,
aproveitava os solos de viola que fazia nas introduções e
pontes das músicas "cantadas" e criava seleções
instrumentais com três ou quatro delas em cada faixa. A
Chantecler remasterizou digitalmente e reuniu os dois num só CD
da série "dose dupla", que pode ser encontrado por aí
por dez, doze pilas.
A primeira parte do CD contém as doze
músicas do disco lançado em 1976, É isto que o povo quer.
Cinco delas são as "seleções de pagodes" a que me
referi acima, e trazem versões diferentes (e um tanto
aceleradas, às vezes) de clássicos que o violeiro gravou com
Pardinho: "Tudo Serve", "Baiano no Côco",
"Nove e Nove", "Pagode do Ala", "Pagode
em Brasília", "Linha de Frente" e muitas outras.
As famosas "Menino da Porteira", "Rio de Lágrimas",
"Canoeiro" e "Cabelo Loiro" também estão
no disco em ótimas versões instrumentais. As curiosidades
ficam por conta de dois sambinhas caipiras que não estão em
discos que Tião gravou com seus parceiros, "Viola que Vale
Ouro" e "Viola Chic Chic". A acentuação do
pagode de viola criado por Tião Carreiro tem grande semelhança
com o samba urbano e estas duas faixas borram ainda mais as
linhas divisórias entre os dois gêneros.
No LP de 1979, Tião Carreiro em
solos de viola caipira, há duas seleções de pagodes, dois
clássicos sertanejos ("Cavalo Zaino" e "Beijinho
Doce"), uma seleção de polcas e oito músicas
"inteiras". Em todas, porém, nota-se em Tião um
violeiro mais lírico do que no disco de 1976. As notas soam
mais claras e a melodia se acomoda com perfeição aos
andamentos mais lentos. É bem bonito de se ouvir.
Há, em cada um dos discos, uma faixa
em que o violeiro também canta. A toada "Ferreirinha na
Viola", do primeiro, e o samba nada sertanejo
"Malandro da Barra Funda", do segundo. Não são
ruins, mas destoam um pouco do conjunto e não faria mal se
tivessem ficado de fora.
A bola fora da Warner (que detém o catálogo
da Chantecler) fica por conta da capa qualquer nota e da ausência
dos créditos dos músicos que acompanharam Tião Carreiro nas
duas empreitadas. O fato era corriqueiro naqueles tempos, mas
faz falta saber o nome do pessoal - principalmente os do segundo
disco, que são muito bons.
De qualquer modo, este CD tem os
maiores toques de viola de Tião Carreiro e leituras
instrumentais de clássicos da música sertaneja de raiz, o que
o torna referência obrigatória pra qualquer um que queira
tocar viola caipira.
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