Este não é o lançamento mais recente do violeiro e pesquisador Roberto Corrêa, mas é um bom ponto de partida para quem não o conhece, além de ser um excelente trabalho.
     O CD começa com Baião do pé rachado. A melodia nordestina exala simplicidade, mas a música é virtuosística, rápida e cheia de variações interessantes. A técnica é digna de um mestre do instrumento, mas a beleza das melodias tem suas raízes fincadas em terra interiorana.
    Dono de um senso melódico apurado e um extenso vocabulário musical, Roberto Corrêa faz músicas que contam histórias de tal forma que é possível afirmar que a viola canta. Lagoa morta, por exemplo, é belíssima, assim como Lambança qu'imbalança, ambas com melodias marcantes. As variações vêm e vão, como comentários numa prosa boa, potuando os temas bacanas.
    Perobeira Maria, Parecença e Anti-Viola são exemplos de como cada música de Corrêa traz sertão inteiro dentro de si. Em meio a momentos melancólicos, surgem climas que parecem enlevar o espírito, uma alegria, uma correriazinha, um balanço, às vezes mesmo junto com a tal melancolia. 
    Formando quase um corpo à parte do restante do CD, há uma Suíte das cobras - quatro peças, cada qual com o nome de uma cobra diferente, nas quais a viola "respira" mais, divaga melancólica entre muitas pausas. 
    A presença da Viola de Cocho em duas faixas deste CD é provavelmente responsável pela recente popularização deste instrumento rústico e de timbre interessante entre os violeiros modernos. Em Peleja de siriema com cobra, Corrêa imita uma siriema e ainda tira uma bela canção do bojo da violinha.
    O disco traz ainda uma bela capa e um encarte caprichado, com textos sobre o homem do campo, as violas caipira e de cocho e explicações sobre alguns títulos das músicas - tudo com versões em português, inglês e espanhol, demonstrando que o compositor, o pesquisador e o divulgador da cultura caipira andam sempre juntos.
    O equilíbrio entre erudição e singeleza aparece em todas as faixas deste Uróboro. Um baita disco de viola que permanece como um dos mais representativos da carreira de Roberto Corrêa.

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