Paulo Freire Trio
- Vai Ouvindo (2004)

     Fiquei bastante interessado em ouvir este CD quando li uma matéria na Guitar Player dizendo que Paulo Freire havia ligado a viola em pedais de distorção e outras latinhas. Entretanto, o papel dos efeitos nas músicas é mínimo (além do quê a viola distorcida não difere muito de uma guitarra).
    Vai ouvindo abre com "Andei, andei", em que Paulo Freire faz a conexão entre o contador de causos que ele sempre foi e algo entre o repente e o rap. A letra surreal esconde um instrumental de primeira, que está mais para MPB (a boa) do que para música regional ou caipira. Esta faixa dá o tom do restante do CD, nas quais Freire canta e conta causos ao mesmo tempo (ou canta falando ou mais fala do que canta, sei lá - o paralelo com o repente é bem apropriado), sempre apoiado por um instrumental excelente. As letras surreais, esquisitas mesmo, também desfilam por todo o disco, e causam uma certa estranheza diante da competência instrumental do trio.
    A diversidade de rítmos e climas em Vai ouvindo é grande, e mostra a importante contribuição dos músicos que apóiam Paulo Freire na empreitada, especialmente o irmão-baixista Tuco Freire, que complementa os toques de viola com perfeição e executa alguns belos solos. Mostra também que tem mais viola do que música caipira em Vai ouvindo, ou seja, este é um disco em que a viola é um instrumento como qualquer outro, e não está apenas a serviço da música sertaneja. Exemplo disso é a versão inusitada do standard de jazz "Round midnight", em viola de cocho, na segunda faixa.
    Vai ouvindo representa um passo adiante na carreira de Paulo Freire, em que ele se abre para novos caminhos sem tirar completamente o pé do lugar de onde veio. O resultado é estranho e interessante ao mesmo tempo.

 

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Viola Elétrica® Marcelo Garcia