![]() |
|||
![]() ![]() |
|||
Trechos alternados do prólogo
Agora, Milagros era responsável pela propriedade. Tinha permissão para tudo. Mandar e desmandar. Entrar e sair, assim como, comprar ou vender o que quer que fosse, somente com sua autorização. Correta e trabalhadeira. Com sua estatura pequena, ancas largas, rosto muito moreno e com a contínua fisionomia de desconfiança. Milagros. Quem saberia dizer sua origem?
José também ainda trabalhava por ali e, juntamente com Milagros, cuidava para que tudo caminhasse direito, apesar de tudo. Os dois criados estavam ali desde o começo. Chegaram à mesma época. Os dois muito jovens ainda, porém, o tempo e o vento talharam seus rostos com fúria e adquiriram uma pele grossa com aquela estranha coloração.
De calças listradas e sempre menores do que precisava, camisas amareladas e suspensórios, José era feio que só. E muito exagerado no que fazia ou falava.
Figuras engraçadas, cheias de trejeitos inusitados que divertiam os que se aproximavam deles. Os dois, de total serventia e confiança, ainda mais nesta época de total isolamento e tantas fagulhas.
- ...Mea culpa ...mea culpa... fiat voluntas tua... (Minha culpa... minha culpa... que seja feita a tua vontade...) - murmurava Milagros, batendo a mão no peito, esperançosa por perdão.
- Viu? Não tem nada... Não ouço nada... Imagine se dá para ouvir... - sussurrou José, de cara feia.
- Eu escuto e você não? Esse porta-jóias nunca mais funcionou, por que só eu estou escutando? - questionava Milagros.
- Porque é doida! Vamos embora daqui!
Parado e sem saber o que fazer, José se assustou ainda mais quando Milagros entrou no quarto aos tropeços, pálida e sem poder falar.
Finalmente, entre tantos mistérios sobre a vida, uma ela havia tido permissão de desvendar.
- Credo quia impossibile est... (Acredito, porque é impossível) - comentou Milagros, olhando pela janela do quarto (...)