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Quem Herda Não Furta
A escritora
Marilda Confortin é uma brasileira. Para explicá-la e melhor explicar sua
obra, devemos antes desvendar o significado de sua condição de cidadã de
um país tão cheio de particularidades como esse de onde ela vem. Pois o
Brasil, creiam, é muito mais do que um país. É um estilo de vida.
Descendo os olhos pelo mapa do mundo, na América do Sul nos chama a atenção
um enorme triângulo que de tão grande torna-se desproporcional em relação
ao tamanho dos outros países. É o Brasil. Aqui se fala português - uma espécie
de português bem diferente daquele falado em Portugal, mas mesmo assim português
- quando todo o resto do continente fala espanhol. Desse modo iniciamos
uma cascata de exceções.
Apesar de nossos inúmeros problemas comum aos pobres países latino-americanos,
comum aos países considerados emergentes; conseguimos manter unificada a
língua falada por 170.000.000 de pessoas, espalhadas por 8.511.965 quilômetros
quadrados de área. Não temos dialetos nem diferenças lingüísticas regionais,
mas sim um mesmo idioma que nos une, fenômeno bastante estudado mas nunca
explicado. No nosso país a coisa mais importante é nossa língua, preservada
milagrosamente. Também nessa área somos uma exceção.
Foi partindo da robustez dessa língua que a nossa literatura se construiu.
Temos excelentes novelistas, entre eles o conhecido Jorge Amado, e inúmeros
poetas entre os quais lembramos os nomes de Cecília Meireles e Haroldo de
Campos, esse quem afirmou que não tem pátria, mas sim mátria. Ainda, em
nosso hino nacional, criamos o seguinte verso: “...dos filhos desse solo
és mãe gentil...” . E é isso que é o nosso país: uma mátria, uma mãe gentil
e em sendo assim é uma mulher desafiadora e indomada. Opulenta e acolhedora.
Também aqui há uma exceção, se em confronto com os outros países do mundo,
todos masculinos.
Com isso quero explicar a parte feminina carregada na bagagem textual de
Marilda Confortin, por onde quer que ela vá. Quem herda não furta, costuma-se
dizer. E ela não está fazendo nada diferente do que apossar-se de um patrimônio
que é legitimamente seu.
Seu livro TRIZ, aqui apresentado, é uma demonstração do pensar feminino,
escrito por alguém que sente e se apresenta como mulher, num mundo ainda
partido por dois gêneros sexuais, quando deveria ser repartido. Prova disso
são os títulos de seus primorosos poemas: Coisas de Mulher, Ato de Contrição,
Provocação, Professor, Fé. Ou essa surpreendente construção poética: