Lembranças

(Fase - I)

            Quem sabe não te identificarás com esta crônica?

                De meu espírito afloram recordações de momentos de minha existência, hoje transformados em sonhos obsessivos, medonhos, entremostrando-me novos caminhos a serem seguidos, mas para isso precisarei despojar-me do iluminismo (Mística dos iluminados) e isso eu não quero. Como resolver o impasse? Deixando o tempo passar, aceitando essa conveniência cósmica e acomodação da fantasia à realidade, substituindo o denodo pela cautela, vivendo sob o escudo das melhores lembranças. (Wilson M. Pereira) 

            Gostaria de poder evitar numa reminiscência longínqua a saudade de certa criaturinha de rosto oval, covinha sutil no queixo, sinal gracioso na bochecha esquerda do rosto perfeito, indecisa menina esquálida, semi-analfabeta, filha de uma mulher feia, sofrida e infiel; dependente de um um pai alcoólatra que se pauperizava cada vez mais pelo etilismo crônico, pelo jogo, indiferente às necessidades afetivas, básicas, da família esfacelada. O espírito da moça bonita, conquanto possuisse o corpo escanifrado, absorveu todas as mazelas familiares e eu, sem o prévio conhecimento da herança maldita, assumi o que até hoje me aflige o espírito agoniado. 

            Esse amor que me eleva e abate ainda existe? Não sei! Hoje admito que há um limite indiferençável entre a acomodação e a apatia crescente em meu ser. No mais escondido de minha nostalgia, da hoje quase insuportável solidão a dois, sinto os olhos marejarem-se, as lágrimas insulsas, monotonas e absurdas que emergem d´alma com a força de um vulcão há muito reprimido, necessitando muitíssimo de silêncio e prece, mas a ardência desse choro silencioso absorve-as como as areias escaldantes dos desertos sugam não fugidias gotas impotentes do orvalho breve da noite morta.

            Wilson M. Pereira

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