A Gestão de Renato Barreto de Siqueira
Presidente de Agosto de 1.962 à Janeiro de 1.963

Redação e Pesquisa: Sergio Surugi de Siqueira

No momento em que escrevo, assume a Coordenação Geral da Comissão Gestora do Clube Atlético Paranaense (cargo análogo ao antigo de Presidente) o Sr. Nelson Fanaya, que substitui ao grande Presidente e depois Coordenador Geral Mario Celso Petráglia, o homem que tornou real o sonho de fazer um grande Atlético.
Começo o texto desta forma, pois alguém já disse e muitos repetiram que para se conhecer o presente e prever os resultados do futuro, é fundamental conhecer a história, os fatos passados. Quando iniciei a minha ligeira pesquisa para levantar o dia a dia da vida Atleticana na época em que meu pai, Renato Siqueira, foi presidente, de forma surpreendente constatei que guardando as devidas proporções, considerando as características das épocas e principalmente levando em conta que o futebol paranaense em meados de 1.962 absolutamente não possuia a abrangência nacional nem movimentava tanta gente e dinheiro como hoje; os problemas pelos quais os dirigentes passaram eram muito semelhantes aos atuais.
Pouco consigo recordar desta época, pois tinha apenas 5 anos de idade. Lembro-me vagamente das manhãs de Sábado (dia considerado
"sagrado" pelo meu pai), quando raras vezes almoçavamos antes das 14h30, já que antes desse horário era impossível tirar Renato Siqueira do já antigo e saudoso "Lá no Pasqualle", no Passeio Público. Destas lembranças vagas, recordo-me de que enquanto eu saboreava o famoso pastel à milaneza acompanhado de uma "Guaraná Caçulinha", ficava ouvindo com atenção as conversas que aconteciam na mesa frequentada por figuras ilustres, como Carneiro Neto e Vinícius Coelho (Vinícius, aliás, junto com Antonio Pattitucci, Ex-Presidente do Coritiba, dois dos poucos amigos coxas-brancas de Renato e seguramente os únicos com quem ele conseguia falar de futebol sem se alterar).
Antes de Renato Siqueira assumir a presidência, o seu antecessor Antonio Bittencourt de Camargo teve uma gestão dificultada por problemas financeiros, licenciou-se no meio do mandato, passando a presidência para o vice José Pacheco Neto. Mais tarde retornou, mas os problemas aumentaram e Antonio Bittencourt de Camargo renunciou, assumindo interinamente o mesmo José Pacheco Neto.
Naquela ocasião o Atlético havia tentado montar um time forte, com técnico (João Lima) e alguns jogadores vindos de outros centros (principalmente do Rio Grande do Sul) o que não era fácil nem comum para a época. Infelizmente as condições financeiras acabaram por inviabilizar a ambição rubro-negra e no final da gestão de Camargo chegou até a ocorrer uma greve dos jogadores.
Em uma reunião do Conselho no dia 20 de Agosto de 1.962, na sede da Rua Marechal Deodoro e sob uma expectativa muito grande pelo que se poderia realizar para mais uma vez salvar o Atlético, Renato Barreto de Siqueira e José Pacheco Neto foram eleitos respectivamente Presidente e Vice-Presidente do Clube Atlético Paranaense
Infelizmente os mesmos problemas continuaram e os tão esperados resultados em campo não aconteceram.
Alguns fatos importantes e outros até bastante curiosos aconteceram durante a gestão de Renato Siqueira. Para fornecer base à própria história, decidi relacionar as principais notas publicadas pelo Jornal A TRIBUNA DO PARANÁ durante o período em que meu pai presidiu o Atlético. Algumas notas vem acompanhadas de comentários, baseados em histórias que me eram contadas e pretendem ilustrar os fatos relatados. Foram omitidas as notas relacionadas com a eleição e posse, porém os recortes relativos a esses eventos podem ser vistos no
MUSEU VIRTUAL desse site.

NOTAS DO JORNAL TRIBUNA DO PARANÁ
(Curitiba- Paraná- Brasil)

01/09/1962 :Contusões de Edgard, Tuca e Wilson, preocupavam o técnico Pasqualle para o jogo contra o Seleto de Paranaguá.

01/09/1962: Arbitral dos dirigentes de clubes na Federação Paranaense de Futebol, presidida pelo Dr. José Milani, decide implantar a "LEI DO ACESSO"nos campeonatos paranaenses das séries Sul e Norte.
N. do R.: Esta mesma lei seria rasgada por Joffre Cabral e Silva, em 1.967.

03/09/1962 : ATLÉTICO 2 x 0 SELETO. Quebrada a invencibilidade do Seleto.

03/09/1962 : ATLÉTICO 6 x 0 AGUA VERDE (Juvenís)

04/09/1962 : A Diretoria do Atlético oferece um jantar no Restaurante MITÓCA Jr. aos jogadores como premio pela vitória de 2x0 sobre o Seleto e o Jornal elogia os dirigentes pela iniciativa.

10/09/1962 - Segunda Feira: IRATÍ 4 x 1 ATLÉTICO( Profissional ) e ATLÉTICO 4 x 1 CORITIBA (Juvenil)

14/09/1963 - Sexta Feira: O Capitão Passerino Moura deixa a direção de futebol do Atlético, alegando motivos pessoais, assume em seu lugar Geraldino.

15/09/1962 - Sábado: Erondí Silvério assume a presidência do Água Verde.

17/09/1962 - Segunda Feira: ATLÉTICO 2 x 0 PALESTRA, jogo na Baixada, marcaram Walter e Tião.

19/09/1962 - Quarta Feira: Alfredo Gottardi, com 17 anos, meio campo do time juvenil é elogiado pela REVISTA DO ESPORTE do Rio de Janeiro.

24/09/1962 - Segunda Feira: GUARANÍ 5 x 0 ATLÉTICO

29/09/1962 - Sábado: Atlético vende por 1 milhão de cruzeiros os jogadores Nininho e Iran ao Metropol de Criciúma.
N.do R. Mais tarde esta transação acabou não saindo.

01/10/1962 - Segunda Feira: JUVENTUS 0 x 0 ATLÉTICO (Juvenís)

04/10/1962 - Quinta Feira: Alfredo Gottardi e Amauri são escalados para jogar no time principal em um amistoso contra os "DIABOS RUBROS", timaço do MARCÍLIO DIAS de Itajaí SC no próximo Sábado.

08/10/1962 - Segunda Feira: ATLÉTICO 5 x 0 MARCÍLIO DIAS na Baixada. Os jogadores são premiados com 1.000 cruzeiros pela vitória e Renato Siqueira pede à Federação Paranaense a liberação dos jogadores Iran e Nininho da Seleção do Paraná para que possam jogar o próximo amistoso contra o mesmo MARCÍLIO DIAS, agora em Itajaí. A presença do time completo faz parte do contrato do jogo.
N. do R.: Mais uma vez um tema bem atual, a liberação de jogadores convocados para seleções. O que surpreende é o pagamento de bicho para um jogo amistoso, mostrando que estas partidas eram muito valorizadas.

10/10/1962 - Quarta Feira: Renato Siqueira dá um prazo de 8 dias para João Lima, representante do Metropol de Criciúma definir a compra de Nininho e Iran.

11/10/1962 - Quinta- Feira: A direção do Atlético resolve abrir mão da presença de Nininho e Iran no amistoso de Itajaí, cedendo-os à Seleção.

15/10/1062 - Segunda Feira: MARCÍLIO DIAS 3 x 0 ATLÉTICO, jogo amistoso em Itajaí com renda de 150.000 cruzeiros.
N. do R.: Sobre este jogo, meu pai contava uma história muito curiosa: O jogo foi duro (apesar do placar aparentar facilidade) e no final do jogo a torcida de Itajaí começou a apedrejar o banco do Atlético, onde estava o Presidente Siqueira, contando o dinheiro "vivo" proveniente da parte do Atlético na renda. Para sairem do Estádio os atleticanos tiveram que ser protegidos pelo próprio presidente do Marcílio Dias. Anos mais tarde quando estávamos passando férias em Camboriú-SC, Renato Siqueira precisou realizar um saque em dinheiro no Banco do Estado do Paraná e a agência mais próxima ficava em Itajaí (naquela época ainda não havia caixas automáticos e interligação nos bancos). Ao solicitar a presença do gerente, Renato reconheceu o mesmo homem que anos atrás o havia protegido do "masacre". O gerente quebrou mais uma vez o galho para Renato Siqueira e a transação pode ser feita sem que ele tivesse que ir até Curitiba.

22/10/1962 - Segunda Feira: AGUA VERDE 4 x 0 ATLÉTICO

05/11/1962 - Segunda Feira: ATLÉTICO 4 x 0 BLOCO MORGENAU. Jogo tumultuado em que foram expulsos 2 atleticanos e 3 jogadores do Bloco. O Atlético acabou por perder os pontos pelo fato do técnico João de Pasqualle ter feito 4 substituições sendo que só 3 eram permitidas.
N. do R.: Absolutamente INCRÍVEL

07/11/1962 - Quarta Feira: Pasquale sai do comando técnico, assumindo a Direção de Futebol. Geraldino,o antigo Diretor assume o cargo de técnico.

12/11/1962 - Segunda Feira: ATLÉTICO 1 x 1 FERROVIÁRIO, O Ferroviário empatou no último segundo com um gol de cabeça de Demeterco.

12/11/1962 : ATLÉTICO 3 x 2 BLOCO MORGENAU (Juvenís)

13/11/1962 - Terça Feira: Ainda o interesse do Metropol por Nininho, quer pagar 400.000 cruzeiros.

19/11/1962 - Segunda Feira: ATLÉTICO 0 x 2 SEL. PARANAENSE, amistoso que serviu de treino para a Seleção.
N. do R.: Na época existia o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais que movimentava um grande interesse no público, além de ser uma chance rara de promover o nosso futebol no eixo mais importante do futebol brasileiro. Os campeonatos estaduais eram total ou parcialmente interrompidos para que a atenção se voltasse aos jogos deste campeonato. No ano de 1.962 o Campeonato Brasileiro de Seleções foi interrompido, reiniciando em 1. 963.

24/11/1962 - Sábado: Diretoria do Atlético anuncia que Nininho é inegociável.
N. do R.: A novela continua

28/11/1962 : Atlético oferece 40.000 cruzeiros e um emprego para o técnico João Lima voltar.
N. do R.: Isto caracteriza bem o semi-amadorismo de nosso futebol naquela época. Que emprego seria este?
O salário mínimo vigente em 1.962 era de 13.440 cruzeiros.

29/11/1962 - Quinta Feira: Atlético pretende gastar 10.000.000 de cruzeiros para montar um super time em 1.963. Renato Siqueira e outros diretores viajam à São Paulo para tratar do lançamento da campanha de venda de títulos patrimoniais para levantar o montante.

04/12/1962 - Terça Feira: Walter fora do Atlético. O jogador tem o passe posto a venda por indisciplina. Renato Siqueira anuncia que o preço do passe do jogador para times da Capital é de 1 milhão de cruzeiros e para outros clubes o preço é de 2 milhões de cruzeiros.
N. do R.: Curioso o preço menor para transação entre clubes locais. Creio que hoje aconteceria justamente o contrário.

11/12/1962 - Terça Feira: Atlético ainda manifesta interesse por João Lima já que o técnico Geraldino deverá sair em 1.963.

15/12/1962 - Sábado: O Atlético despreza o Torneio Extra, pelo qual jogaria contra o Palestra em virtude de um amistoso tratado no mesmo dia contra a Seleção de União da Vitória. Os titulares seguiram para União da Vitória enquanto para o jogo contra o Palestra ficaram os "cabeça de bagres".
N. do R.: Duas coisas: Primeiro, o velho problema do calendário. Este Torneio Extra foi concebido para manter os times ativos durante o Campeonato das Seleções. Foi um fracasso enorme e acabou sendo interrompido.
Além disso e agora relacionado com o comportamento da imprensa da época, o fato de que o jornal usou com todas as letras o termo "CABEÇA DE BAGRES" para qualificar o time reserva do Atlético.

17/12/1962 - Segunda Feira: PALESTRA 3 x 0 ATLÉTICO, pelo Torneio Extra.
N. do R.: O jornal tinha razão

18/12/1962 - Terça Feira: O Diretor da Federação Paranaense de Futebol, Mario de Barros é convidado para ser diretor do Atlético e aceita.
Marco Aurélio, goleiro do Atlético, recebe proposta para jogar no San Lorenzo da Argentina e deverá aceitar.
ATLÉTICO 3 x 1 Sel. UNIÃO DA VITÓRIA.

19/12/1962 - Quarta Feira: A Diretoria do Atlético oferece hoje às 12h00 uma churrascada à imprensa e aos atletas antes de liberar os jogadores para as férias. O local é o Bosque do Estádio Joaquim Américo e o churrasco será preparado pelo Alberto.
N. do R.: O Bosque do Joaquim Américo era constituído de algumas araucárias e ficava onde hoje existe o lance de arquibancadas do gol de fundos.

29/12/1962: Renato Siqueira, José Pacheco Neto e Júlio Gomel vão à São Paulo para tratar dos lançamentos dos títulos patrimoniais. VEJA O RECORTE
N. do R.: A campanha tinha como objetivo mais uma vez estruturar patrimonialmente o Atlético. A matéria do Jornal termina dizendo que existe a diretoria deseja transformar a Baixada em um monumento do esporte paranaense.
37 ANOS DEPOIS OS GESTORES MARIO CELSO PETRÁGLIA, ADEMIR ADUR E ÊNIO FORNÉA, REALIZARAM ESTE SONHO

09/01/1963 - Quarta Feira: José pacheco Neto assume inteirinamente a presidência. Renato Siqueira se afasta por estar adoentado.

16/01/1963 - Quarta Feira: Coritiba oferece muito dinheiro para ter o goleiro juvenil do Atlético, Raul.

17/01/1963 - Quinta Feira: Renato Siqueira, José Pacheco Neto e Júlio Gomel vão imediatamente à casa do goleiro Raul, onde se soube que o pai do atleta, Sr. Willy, estava acertando com diretores do Coritiba a transferência do goleiro. Ao chegarem à residência encontram o Sr. Miguel Chechia do Coritiba e houve grande troca de acusações. O Coritiba ofereceu ao goleiro mais de 500.000 cruzeiros pelo passe.
N. do R.: este foi um dos episódios que mais contrariaram Renato Siqueira durante a sua gestão. O pai de Raul, que nada menos é do que RAUL PLASSMANN, ex goleiro do Cruzeiro, Campeão Mundial pelo Flamengo e da Seleção Brasileira, hoje comentarista de futebol, acabou assinando o contrato com o Coritiba (Raul era então menor de idade) e tirou o grande goleiro do Atlético. Apesar disso Renato Siqueira permaneceu com um bom relacionamento com o Sr. Willy, tornando-se inclusive um cliente habitual dos Restaurantes e Buffets de propriedade deste senhor.

18/01/1963 - Sexta Feira: Renato Siqueira renuncia. Abílio Ribeiro é consultado para substituí-lo.

21/01/1963 - Segunda Feira: Atlético conquista o BI- CAMPEONATO JUVENIL, no Estádio Loprete Frega, vencendo o Clube Atlético Primavera por 1 x 0. O Time Campeão contou com: Raul, Adilson, Paulo, Amauri, Osvaldo e Júlio César, Anélio, Alfredo, Iratí, Juarez e Motorzinho.
N. do R.: A faixa de Bi- Campeão Juvenil 62-63 era uma das principais lembranças da passagem de RENATO BARRETO DE SIQUEIRA pela PRESIDÊNCIA DO QUERIDO CLUBE ATLÉTICO PARANAENSE.

RENATO SIQUEIRA FALECEU EM CURITIBA, NO DIA 24 DE ABRIL DE 1992 .
ATENDENDO A UMA VONTADE SEMPRE MANIFESTADA EM VIDA, A BANDEIRA RUBRO- NEGRA FOI TRAZIDA PELO AMIGO ANTONIO CARLETTO SOBRINHO E COLOCADA SOBRE A SUA URNA FÚNEBRE PELOS SEUS FILHOS SERGIO, MARCOS e ANA LÚCIA

Assine o Livro de Visitas Veja as mensagens

Visite o especial ATLÉTICO 80 ANOS no site FURACAO.COM