DESTINO
- SOLIDÃO
Ana
Claudia dos Santos
Capítulo 7 - Sonserina ou Grifinória?
Fuligem estava adormecido no colo de Melissa quando uma voz ecoou pelo trem,
anunciando a chegada a Hogwarts dentro de cinco minutos. O gatinho se assustou
e pulou para o colo do dono. As outras crianças começaram a formar
um pequeno tumulto nos corredores, quase todas ansiosas e nervosas. Severus
também estava nervoso, mas já havia ouvido muito sobre Hogwarts
e de certa forma era como se já tivesse estado ali. Ao olhar para o rosto
de Lílian, notou que a menina parecia calma, talvez um pouco curiosa,
mas de uma maneira tranqüila, e na mesma hora ele também se tranqüilizou.
Ao desembarcar, em meio ao empurra-empurra, ele se perdeu de Lílian e de Remus. Tentou espichar o pescoço para localizá-los (ele também simpatizara com o menino) mas foi em vão. Logo todos ouviram a voz grave e alta do guarda-caças Rúbeo Hagrid, famoso no mundo bruxo por ter mais de três metros de altura.
- Primeiro ano, alunos do primeiro ano, venham comigo.
Severus o seguiu, tendo a seu lado Melissa e Narcisa. Quando avistaram Hogwarts o coração de Severus começou a bater mais rápido. Era uma visão deslumbrante a daquele castelo majestoso.
- Uau... - disse Melissa. - Que belezura...
Hagrid apontou para uns barquinhos explicando que chegariam à escola pelo lago. Severus estava tão embasbacado com a visão de Hogwarts que nem percebeu que havia mais um lugar no barquinho de Lílian, que foi prontamente ocupado por um menino de cabelos negros. Irritado por ter prestado tão pouca atenção, ele se contentou em ficar no mesmo barco de Melissa e um menino louro de olhos muito grandes, e Narcisa, que parecia grudada nele, também entrou no barquinho. Mas a menina também estava nervosa e fascinada, e não lhe dirigia mais os olhares de nojo que ele tanto odiava.
Ao desembarcar, o nervoso que Severus sentia foi aumentando. Hagrid bateu três vezes com o punho na porta do castelo. Quando a porta abriu, Hagrid gritou:
- Esta é a professora McGonagall. Professora, esses são os alunos do primeiro ano.
- Está bem, Hagrid, obrigada.
A porta se abriu mais e as crianças acompanharam a professora até uma salinha ao lado do saguão.
- Bom, sejam bem-vindos a Hogwarts. A maioria de vocês já ouviu falar da cerimônia de seleção, e das quatro casas de Hogwarts. Os seus acertos vão render pontos para a casa a qual pertencerão, assim como seus erros, atrasos, enfim, os seus deslizes, vão fazer a casa perder pontos, por isso é importante se comportar bem e tirar boas notas. Eu sou a diretora da Grifinória, e leciono Transfiguração. O professor McNair é o diretor da Sonserina, e dá aulas de Defesa Contra as Artes das Trevas. O professor Miller, que leciona Herbologia, é o diretor da Lufa-Lufa e, finalmente, a professora Stratas, com a qual vocês terão aulas de Poções, é quem dirige a Corvinal.
- Em alguns minutos vocês começarão a ser selecionados. Aguardem em silêncio que voltarei logo.
Severus se sentia estranho. Tinha quase certeza de que não queria mais ir para a Sonserina. Alguns fantasmas foram dar boas-vindas às crianças, mas nem isso distraiu sua mente. Sabia que a seleção envolvia um chapéu, mas não tinha muita certeza de como era a cerimônia.
Logo a professora McGonagall voltou, dizendo alto:
- Façam fila e sigam-me.
Todos caminharam devagar em direção ao salão, onde quatro mesas compridas já estavam cheias de estudantes. Pararam em frente a um banquinho com um chapéu velho em cima. De repente o rasgo junto à aba do chapéu se abriu e este começou a cantar!
Vocês me olham e não me acham bonito
Pareço apenas um chapéu feio, cheio de bolor
Como? perguntam, um trapo velho como esse
Poderá saber onde nos pôr?
Mas eu entendo e apenas digo
Que por fora posso ser rasgado,
Sujo, estranho, e maltratado,
Mas posso ler seus pensamentos,
Saber o que se passa em suas mentes,
E daqui a alguns momentos
Selarei o seu destino para sempre,
Alguns ficarão tristes
Outros ficarão contentes
Ninguém, porém, poderá fugir
À sina que eu quiser lhes infringir
É só na cabeça me colocar
Que logo, logo, eu lhes direi qual casa
Devereis durante sete anos habitar
Grifinória para os corajosos,
Aqueles que não têm medo de arriscar
Lufa-lufa para os fiéis e amistosos
Os que sempre gostam de agradar
Corvinal é um lugar para quem
Adora aprender e estudar pra valer
E Sonserina, vejam bem, é o lugar ideal
Para aqueles que almejam muito poder
Então é simples como dois mais dois
Basta me colocar e num instante vou dizer
A qual casa vocês irão pertencer!!!
Houve aplausos entusiasmados, enquanto o chapéu fazia reverências. A professora McGonagall abriu um longo rolo de pergaminho.
- Eu vou chamar vocês por ordem alfabética. Assim que ouvirem seus nomes vocês sentarão no banquinho e colocarão o chapéu.
Severus olhou para o chapéu, sentindo um pouco de medo. Então aquele chapéu lia pensamentos? Muito bom... para não dizer o contrário.
- Adams, Edward - disse McGonagall.
O rapaz de cabelos louros e olhos grandes e esbugalhados se adiantou, sentou-se no banquinho e colocou o chapéu:
- CORVINAL! - berrou o chapéu.
Todos sentados na mesa da Casa Corvinal aplaudiram, e Edward foi se sentar junto à uma moça parecida com ele, provavelmente sua irmã.
- Austin, Sarah.
- GRIFINÓRIA - gritou o chapéu.
- Black, Sirius.
O chapéu demorou um pouco mais de tempo com o menino. Era um rapaz vistoso, de belos olhos azuis e cabelos negros, e um jeito auto-suficiente, meio metido. Parecia zombar um pouco do fato de estar com um chapéu velho na cabeça.
- GRIFINÓRIA!
Os grifinórios acolheram o tal Sirius Black com entusiasmo.
- Carter, Steve.
- SONSERINA.
- Cheetham, Silvia.
- LUFA-LUFA!
- Dean, Patrick.
- LUFA-LUFA.
Severus foi ficando mais e mais nervoso. Qual seria o sobrenome de Lílian? E de Remus? Mas suas dúvidas foram logo esclarecidas.
- Evans, Lílian.
Lílian estava muito pálida quando colocou o chapéu. Severus teve vontade de gritar que tudo estava bem, que ela não precisava ter medo. O chapéu também demorou com Lílian. Parecia estar em dúvida. Severus rezou para que ela fosse para a Sonserina, embora no fundo de seu coração ele soubesse que isso era meio difícil de acontecer.
- GRIFINÓRIA! - finalmente berrou o chapéu.
Pronto, estava decidido. Lílian ia ser da Grifinória e parecia bastante alegre com isso.
- Lupin, Remus.
Remus foi parar na Grifinória também.
- Lupin, Rômulo.
Um rapaz muito parecido com Remus caminhou em direção ao chapéu. Pela idade devia ser irmão gêmeo de Remus.
- CORVINAL.
E a seleção prosseguiu. A certa altura Malfoy, naturalmente, foi escolhido para a Sonserina. Já Julie Mallowan foi parar na Corvinal, assim, como Lucas McGregor. Pedro Pettigrew foi acolhido na Grifinória, e, logo depois, Tiago Potter também se juntou a ele. "Gryffindor... Como não poderia deixar de ser", pensou Severus*, observando que os gritos e aplausos para Tiago foram os mais fortes. O nome Potter tinha um significado especial para Hogwarts.
Melissa agora estava ao seu lado, suando frio.
- Severus, eu acho que esse chapéu sabe tudo sobre a gente. Estou com medo...
O menino se limitou a balançar a cabeça, pois estava também muito nervoso.
- Smethley, Melissa.
O chapéu demorou tanto com Melissa que Severus pensou que tinha ocorrido algum problema. Pelo rabo do olho viu Lílian conversando com uma menina da Grifinória, a tal Sarah Austin.
- SONSERINA.
Melissa arregalou os olhos. Severus podia ver que ela estava bastante desapontada. Veronica, na mesa da Corvinal, parecia perplexa. Mas Snape não teve muito tempo para pensar pois logo seu nome era anunciado:
- Snape, Severus.
Enquanto caminhava para o banquinho ele pensou que talvez, quem sabe, ele não poderia ficar na Grifinória? Se Melissa foi parar na Sonserina ele podia muito bem ir parar na Grifinória. Sentou-se com relutância no banco, e mal aproximou o chapéu de sua cabeça, ouviu o grito:
- SONSERINA.
Sem conseguir esconder sua decepção, ele foi se arrastando para a mesa da Sonserina, no mesmo momento em que Stewart, Narcisa era anunciada. E mais uma vez o chapéu gritou "Sonserina". Narcisa veio gingando, com um sorriso enigmático e um olhar mais enigmático ainda dirigido para Severus, sentando-se ao lado dele.
Ao término da cerimônia, começou o banquete, mas Severus não estava com fome. Sentia uma tristeza amarga, uma melancolia fraquinha, e de vez em quando dava uma olhadinha para tentar avistar Lílian. De todos ali naquela escola, ela era a única que ele gostaria de conhecer melhor, de tentar manter uma amizade. Nunca ele tivera uma empatia tão grande com alguém. Se eles tivessem ficado na mesma casa essa amizade talvez pudesse se realizar. Agora, era quase impossível.
- Ei, seboso, passa o purê de batatas, por favor?
Severus olhou tão fundo nos olhos de Narcisa, com tanto ódio, que ela finalmente deu um risinho sem graça.
- Brincadeirinha...
Ele passou o purê de batatas, não sem antes jurar para si mesmo
que um dia faria a menina engolir todas as ironias e todos os olhares sarcásticos
dirigidos a ele.
*
A casa Grifinória em inglês é
chamada de Gryffindor, mesmo nome de um dos fundadores
de Hogwarts, Godric Gryffindor.
(continua)
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