Harry Potter e a Filha do Auror
by Talita Teixeira

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Capítulo 15 ~ O encontro no terraço

As aulas prosseguiram normalmente naquele primeiro mês em Hogwarts, mas Harry achou melhor observar cuidadosamente cada um dos professores. Depois de ter confiado no falso Moody o ano inteiro - e até o admirado

- Harry achava que deveria ser mais cauteloso. Além disso, Voldemort havia ressurgido.

Voldemort era uma ameaça sempre presente na vida de Harry, e era inevitável que o garoto não pensasse nela.

Apesar disso, procurava ir vivendo dia após dia, porque sabia que, se fosse preciso, lutaria até o fim para que Voldemort finalmente deixasse o mundo da magia em paz. Esta era uma das únicas certezas que Harry possuía: a de que o assassino dos seus pais um dia, algum dia...deixaria de ser aquela terrível sombra que pairava sobre todos.

Porém, decididamente, Voldemort não pretendia dar as caras tão cedo. Nenhuma notícia de massacres a trouxas ou mortes de bruxos chegava aos ouvidos de Harry, e, no final de Setembro, o garoto até se deu ao luxo de relaxar um pouco.

Tudo corria bem...ele logo se adequara aos horários das muitas aulas e aos treinos de quadribol...visitava Hagrid com Rony e Hermione, trocava corujas com Sirius e Lupin e somente em Poções ele se aborrecia um pouco, pois tinha que aturar Snape e Draco, e embora não tivesse sido chamado para ser cobaia de mais nenhuma poção, o professor ainda continuava pegando no seu pé.

Além disso, havia Cho.

Ele e a garota estavam agora conversando mais freqüentemente, e inclusive haviam marcado um treino juntos, pois Grifinória e Corvinal fariam um amistoso em meados de Novembro.

Havia, no entanto, algo estranho que Harry sentia, e não era por Cho.

Era pela professora de Estudos Avançados de Astronomia.

Sempre que a via, Harry sentia uma palpitação boa dentro de si, e às vezes...somente às vezes....quando estava deitado em sua cama, pensando...Harry imaginava que a professora deveria ser muito bonita....e escondia a cabeça embaixo dos travesseiros, porque imaginava a professora....

_ Sem roupa? - Harry falou, encarando o amigo.

Na sala comunal, Rony levou o indicador imediatamente aos lábios:

_ Shhh...fale baixo! Imagine se Fred ou Jorge descobrem! Estou perdido! Toda Hogwarts vai saber!

Harry então descobriu, entre chocado e feliz, que não era o único que tinha aqueles estranhos pensamentos que deixavam, ao mesmo tempo, uma sensação tensa e outra excepcionalmente boa.

Rony também sentia aquilo.

_ E o que mais você sente? - Harry perguntou, querendo saber até onde o amigo havia ido com aquelas sensações.

Rony, no entanto, ficou tremendamente vermelho e não respondeu. Harry imaginou o que o amigo sentira, mas algo lhe dizia que continuar perguntando seria desnecessário. Além disso, Harry não queria dar uma de Rita Skeeter com seu melhor amigo.

Hermione parecia suspeitar de alguma coisa, porque sempre que citava o nome da professora de Astronomia, o fazia entre risinhos abafados. No entanto, toda a Hogwarts estava encantada por Luna, desde as meninas que trançavam o cabelo com um fio dourado, até Hagrid, que confessara aos garotos que sempre a achara a garota mais bonita que já pisara na escola:

_ Não tínhamos amizade assim como eu tenho com vocês, meninos - dizia, com os olhos sonhadores - mas eu sempre a achei bonita...até no dia que a arrastaram da Floresta ela estava bonita....

Estavam na primeira semana de Outubro. Harry e Rony, que tinham ido visitar Hagrid, se entreolharam:

_ E como foi esse dia? - Rony perguntou, num tom de voz cauteloso, pois não podiam dar mostras de que estavam interessados na história da bela professora.

_ Bem...- começou Hagrid - ...foi uma coisa realmente chocante....

"...ninguém esperava que alguém saísse vivo da Floresta Proibida, nem mesmo estando com os centauros....porque alguns deles não gostam dos humanos....e houve também as buscas, eu participei de todas...acho que a menina havia se escondido muito bem....foi somente quando o professor Snape, isto é...ele ainda era um garoto...foi somente quando ele contou onde ela estava é que nós a achamos....ela estava muito magra e abatida...mas, pobrezinha...ainda assim estava tão linda..."

_ E não poderiam ter achado ela com magia? - interrompeu Harry.

_ Não...parece que foi tentado...mas não deu certo...foi só quando Snape abriu o bico....

_ Ele dedurou ela! - disse Rony, socando a perna com a mão.

_ Não Rony... - Hagrid recomeçou - ...você não estava lá....

"...todos os professores foram interrogados...acuados...até eu fui interrogado...Bartô Crouch...ele não era flor que se cheire...e o pai dela...os dois eram farinha do mesmo saco.... Bartô Crouch anunciou que começaria a interrogar os alunos, e então Dumbledore não deixou...Hogwarts estava sendo vigiada, haviam guardas até nas salas de aula..."

_ Dementadores? - Harry perguntou, tenso.

_ Não...mas eram tão desprezíveis quanto eles....e então, quando ninguém estava mais agüentando, Snape resolveu falar...e então Pablo Palomba montou uma expedição para ir buscar a filha...eu fui junto...ela estava dormindo...tão bonitinha...queria apenas fugir...

_ E então... - disse Rony - ...tiraram ela de lá...

_ Sim...o pai dela agarrou-a pelos cabelos e a arrastou pela Floresta até chegar em Hogwarts...foi uma cena horrível...ela gritava naquela língua dela...todos achávamos que a menina tinha enlouquecido...e depois nunca mais se ouviu falar dela...

_ E Snape? - Harry perguntou.

_ Snape? Ora....ele fez bem em dizer onde ela estava...foi sensato.

Mas Harry e Rony não estavam tão convencidos disso, e, ao deixarem Hagrid, comentavam que Snape evitava o olhar da professora, assim como evitava Moody.

No entanto, aconteceu uma coisa que Harry não esperava.

Alguns dias depois de ter conversado com Hagrid, Harry estava na mesa do jantar quando viu uma coruja marrom entrar pela janela. A professora Luna não estava, e a coruja voou direto para a direção de Snape, que conversava com o professor Flitwick. Harry reconheceu ser a mesma coruja que Luna mandara na noite em que esbofeteara Snape. Intrigado, o menino assistiu o rosto de Snape mudar do pálido para uma cor vermelha muito tênue, concluindo que Luna mandara-lhe outro bilhete. Certamente, se encontrariam, e Harry pensou que deveria tentar ouvir o que diriam. Levantou-se bruscamente da mesa de jantar, e Rony, que conversava com Neville, observou-o desconfiado:

_ Onde você vai? - perguntou, encarando o amigo.

Harry considerou a situação por um momento e então falou baixinho para Rony, de modo que Neville não ouvisse:

_ Preciso sair com a capa da invisibilidade.

Rony levantou-se dum salto e falou para Harry, num sussurro:

_ Se você vai fazer alguma besteira, por favor me deixe ir junto! - referia-se, naturalmente, a conversa que tiveram alguns dias antes.

Harry agitou negativamente a cabeça:

_ Não...- apenas movia os lábios, agora - ...não vou ir ver ela....você sabe....
S-E-M...R-O-U-P-A... - soletrou devagar.

Rony tornou a sentar-se, mais calmo. Neville então falou, surpreendendo ambos:

_ Harry, eu não sei o que você vai fazer...mas não deixe a Grifinória perder mais pontos...

 

Harry sentia-se estranhamente poderoso quando saía sob a capa da invisibilidade que fora de seu pai. Brincava de imaginar quantas e quantas vezes Tiago Potter estivera sob aquela capa, sob as mais diversas situações, e ele, Harry, agora fazia o mesmo. Porque o que estava para fazer era algo muito sério. Iria, deliberadamente, bisbilhotar. Não poderia ir dormir sabendo que Luna encontrara-se com Snape...além disso, o comportamento de ambos era muito suspeito....e se Snape tivesse voltado às frentes de Voldemort? E se a estranha Luna fosse uma espiã? Harry lembrava-se claramente que Snape dissera que Luna não tinha competência para estar em Hogwarts.

Porquê dissera isso?

Agora, Harry queria chegar o mais rápido possível ao terraço. Contava com a sorte de encontrar os dois ali, e não nas masmorras ou em outro lugar. Se ao menos tivesse o mapa do maroto, poderia saber onde estaria qualquer pessoa em Hogwarts...mas contava com a sua sorte, a sua infalível sorte que já o livrara da morte inúmeras vezes....

Harry subiu apressado, mas sem fazer barulho algum, as escadas que levavam ao terraço onde tinham aula de Astronomia. O céu estava límpido, cheio de estrelas brilhantes, e um vento muito frio o cortava ao meio, mas ele não estava sozinho....a professora Luna observava as estrelas sentada em um banquinho alto. Snape ainda não chegara.

Harry aproximou-se, tentando vê-la melhor. Suas vestes eram azuis escuras e a capa diáfana farfalhava ao vento. Harry sentiu um estremecimento na região do baixo ventre, e, por um breve momento, entendeu tudo.

O modo como a professora segurava o telescópio, o jeito como se sentava, os cabelos sedosos que voavam revoltados para trás, tudo isso deixava em Harry uma sensação que o aquecia muito lentamente....e ele não sabia explicar, e se odiava por isso....

...estava apaixonado, era esta a única explicação. Mas também estava gostando de Cho há muito tempo. Por mais que tentasse raciocinar...sentia pela professora um estranho ímpeto, um calor bom...ao mesmo tempo, pensava que gostaria de estar segurando a mão de Cho e caminhando em volta do lago, como seus pais talvez um dia tenham feito...

Harry foi interrompido em seus pensamentos pela presença de Snape, e assustou-se mais uma vez, pois o professor mirou primeiro com os olhos frios o lado onde ele estava, e depois a professora. Snape pigarreou alto e Luna virou-se, surpresa:

_ Severo...nem vi você chegar...

Snape não se movera um centímetro. Seu rosto estava endurecido quando falou:

_ Então? O que a senhorita quer dessa vez? Dizer-me o quanto o céu está estrelado? - falou, num tom frio e amargurado.

Luna virou-se para ele, estava mais bela do que nunca. Snape recuou um passo e pareceu desconcertado quando a professora falou:

_ É exatamente isso.

Harry também abriu a boca, surpreso, quando Luna aproximou-se de Snape e o puxou pela mão:

_ Quero lhe mostrar uma coisa...

O professor deixou-se levar sem protestos. Luna o fez sentar no banquinho e mandou-o olhar pelo telescópio:

_ Veja...o céu está quase igual ao daquela vez...só que, agora, Marte aparece para conjurar a guerra.... - disse, seus olhos brilhando sonhadoramente em direção ao céu.

Snape então engoliu em seco e Harry pensou que não se tratasse da mesma pessoa que lhe ensinava Poções há cinco anos, pois segurou a mão de Luna e perguntou numa voz carregada de tristeza:

_ Porque você fugiu para a floresta aquela vez, Luna? Muitas coisas poderiam ter sido diferentes...

A professora fechou os olhos e duas grossas lágrimas mancharam o seu rosto bonito. Harry presentiu que um grande segredo seria revelado:

_ Meu pai...naquele dia em que executamos o Fidelius, meu pai havia me enviado uma coruja...eu teria que...teria que fazer uma coisa horrível....uma coisa que meu pai acreditava ser muito importante para mim...porque todas as bruxas da família Palomba...de geração em geração...faziam...era tradição....

Snape levantou-se e encarou a professora:

_ E o que era? - perguntou, e seu rosto magro entortou-se estranhamente.

_ Eu teria que participar de um....sabá...uma missa negra....

Snape levou uma das mãos a boca. Harry não sabia o que significava sabá, mas imaginou que o professor conhecia muito bem as Artes das Trevas para tapar a boca com a mão, e não deveria ser algo nada, nada bom.

_ Mas as Missas Negras estão proibidas há muito tempo....desde o século quinze... - Snape falou, e seus olhos demonstravam desconfiança - ...quem seria o oficiante?

_ Meu pai...ele...ele seria o oficiante da cerimônia...ele...que sempre fingia que combatera as Artes das Trevas...um hipócrita....e eu teria que matar...matar...uma criança trouxa...um bebê, Severo...com as minhas próprias mãos...porque eu seria a rainha do sabá...eu não consumei a Missa Negra...eu nem poderia...eu nem conseguiria...então meu pai internou-me por dois anos no Hospital Saint Mungus...eu quase enlouqueci de verdade por lá...depois, fui estudar em Beuaxbatons, sempre vigiada pelo meu pai, que passou a me desprezar acima de tudo... - e prorrompeu em lágrimas sentidas, que Harry achou que estavam reprimidas há muito tempo, afastando-se de Snape, que apoiara-se novamente no parapeito do terraço e apertava fortemente o braço onde estava tatuada para sempre a Marca Negra.

_ E então...foi por isso que você quis fugir... - Snape recomeçou, olhando para o céu... - não foi...por minha causa....

Luna derramava copiosas lágrimas, e seu rosto, normalmente moreno, parecia translúcido:

_ Não...eu nunca teria partido de Hogwarts....eu jamais quis deixar você...ou Lúcio...ou mesmo aqueles garotos encrenqueiros da Grifinória...e Lílian...

Harry quase se revelou quando ouviu o nome de sua mãe, seu coração batia muito forte. Naturalmente, imaginava que os "garotos encrenqueiros" da Grifinória seriam Aluado, Almofadinhas, Rabicho e Pontas.

_ Eu nunca tive amigos como os que fiz aqui em Hogwarts, Severo...foi por isso que confiei a você o fiel do segredo de onde eu estava escondida...porque eu nunca quis ser quem eu era...eu nunca quis ser Luna Palomba...eu nunca quis ver meu pai maltratar a minha mãe até ela morrer de desgosto....e eu nunca...eu nunca deveria ter me afastado de você.... - Luna disse, olhando para o chão. Snape continuava impassível, de costas para ela.

"Diz alguma coisa, diz alguma coisa" Harry pensava, enquanto observava o professor permanecer em silêncio, como se considerasse alguma coisa muito importante que devesse dizer ou fazer.

Longos minutos se passaram, e Luna virou-se para descer as escadas.

_ Porque você disse que me odiava? - Snape virou-se para ela, e sua voz tornara a ser dura.

Luna parou na beira das escadarias. Voltou-se lentamente para Snape. Já estava recomposta:

_ Eu disse que odiava você porque você me traiu...- começou ela - ...porque você me entregou ao meu destino...porque a única coisa que eu queria era observar as estrelas...e você estragou tudo...com a sua voz fria...com o seu veneno...com essa sua pose toda...com as suas malditas ambições...você... - e as lágrimas haviam retornado - ...conseguiu acabar com muito mais do que esperava....você acabou com a nossa amizade....
E então a professora sentou-se nas escadarias de pedra e curvou a cabeça sobre os joelhos. Snape a observou por um minuto e parecia hesitar. Decidiu-se, por fim, e aproximou-se dela, dizendo:

_ Também quero lhe mostrar uma coisa.... - sua voz tinha uma nota de melancolia quando ajoelhou-se ao lado da professora.

E Harry assistiu, mais uma vez, o professor levantar a manga das vestes e mostrar corajosamente a Marca Negra.

A professora Luna levantou-se aos tropeções e recuou, assustada, contra o parapeito do terraço.

_ Então você...você é um Comensal da Morte... - disse, com a voz trêmula.

E Snape aproximou-se dela, seus profundos olhos negros brilhando estranhamente:

_ Sim...como você suspeitou naquela noite em que seu pai me prendeu...e me espancou, como rezava a cartilha de Bartô Crouch...eu fui um Comensal da Morte, eu e tantos outros...porque quando eu era um jovem tolo...o Lord das Trevas era muito poderoso, e eu me deixei levar por tudo o que ele oferecia...eu fui um fraco em não resistir...como...Potter... - e Harry reconheceu um tom de amargura na voz do professor.

Luna o observava, pálida:

_ Mas você não morreu, Severo....

Snape evitou o olhar da professora por alguns breves momentos:

_ Eu morri em parte, sim, Luna... - falou, tornando a encarar novamente a professora - ....porque, embora eu já estivesse com Dumbledore há algum tempo...quando o Lord das Trevas foi derrotado por Harry Potter naquela noite...eu morri um pouco também...porque eu acreditava nele...porque eu partilhei de todo aquele imenso poder com ele e com os outros Comensais...

Luna apertava o ombro de Snape:

_ Mas você voltou atrás...não traiu seus princípios....

Agora o rosto de Snape era duro e impenetrável:

_ Não...mas, como você, eu não gostaria de ter perdido os meus amigos...

Luna abraçou-se em Snape, as lágrimas voltando a correr pelos seus olhos. Snape a abraçou também, alisando seus longos cabelos escuros.

E então se beijaram, um beijo longo e sentido, onde amigos deixavam de ser apenas amigos...um beijo que Harry percebeu que estivera reprimido há muito, muito tempo.

 


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