Harry
Potter e a Filha do Auror
by
Talita Teixeira
Capítulo 20 ~ Esclarecimentos
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a Hogwarts pelos escuros túneis da antiga rede de esgoto não foi
nada fácil, pois Hermione e Snape não estavam em condições
de caminhar, e Sirius e Luna estavam muito esgotados para conjurar e manter
flutuando macas por muito tempo. Harry se sentia um completo inútil,
mas estava feliz por ninguém ter morrido daquela vez.
_
Vamos parar um pouco! - falou Luna, pousando suavemente no chão a maca
em que Snape estava deitado.
Sirius,
que caminhava a frente do cortejo, fez um barulho de impaciência com a
boca:
_
Assim não vamos conseguir chegar em Hogwarts hoje, senhorita Cortazar.
- falou, com amargura, enquanto deitava a maca de Hermione no chão também.
Harry
preferiu continuar calado. Às vezes, Sirius lhe assustava um pouco, e
ele estava decidamente azedo por Snape ter deixado Malfoy, Avery e Rabicho escaparem.
Além disso, estava tratando a professora Luna com declarada hostilidade.
_
Olhe, Sirius, eu não sei porque você está me tratando assim,
mas saiba que eu não tenho culpa de estarmos aqui! - Luna falou, e Harry
concordou com a professora. Sirius não respondeu.
Luna
abaixou-se para ver como Snape estava, e Sirius levantou-se e caminhou um pouco
mais a frente deles. "Ele está com ciúmes!" Harry concluiu,
intimamente.
_
Harry, traga o archote aqui, por favor. - disse Luna, e Harry caminhou até
onde eles estavam.
Snape
ainda estava inconsciente. Luna começou a desabotoar as vestes do casaco
negro do professor.
_
Vamos ver a extensão dos estragos....oh, pobrecito! - disse, tapando
a boca com a mão.
Harry
não precisava compreender espanhol para entender que Luna estava com
pena do professor. Os vários chutes e pontapés que levara de Malfoy
produziram hematomas imensos e arroxeados, que contrastavam violentamente
com a pele muito branca de Snape. Intimamente, Harry se esforçava para
não sentir compaixão também, mas era difícil porque
a cena era terrível: deveriam haver, pelo menos, umas três ou quatro
costelas fraturadas ali.
_
Vamos trocar. - Sirius falou, aproximando-se. - Hermione é mais leve,
talvez você canse menos.
Harry
sabia o quanto era penoso para Sirius carregar uma maca onde Snape estivesse
deitado, porque provavelmente preferiria tê-lo deixado por ali mesmo.
Com um movimento da varinha, Sirius levantou a maca de qualquer jeito e começou
a caminhar novamente na dianteira.
_
Orgulhoso como sempre! - Luna falou, baixinho, enquanto erguia a maca de Hermione
com cuidado. Harry lançou um olhar para a amiga, que lentamente abria
os olhos. Seu estado também não era dos melhores: um grande hematoma
na testa e sangue seco por todo o rosto a deixavam com uma aparência assustadora.
Harry segurou a mão de Hermione levemente e sentiu os dedos da menina
exercerem uma suave pressão sobre os seus; por baixo do sangue do rosto,
ela sorria e voltava novamente a fechar os olhos.
Por
quase uma hora eles caminharam, parando ocasionalmente porque Luna precisava
descansar. O túnel foi ficando cada vez menos escuro e, quando dobraram
uma curva, finalmente avistaram uma claridade forte que vinha de uma abertura
circular estreita.
_
Hogwarts. - Sirius falou, ainda azedo, enquanto observava o imenso castelo do
outro lado do lago, e Harry nunca pensou que fosse se alegrar tanto em vê-lo.
Mas havia um problema.
Não
poderiam chegar em Hogwarts daquele jeito, com o temível Sirius Black
carregando Snape numa maca. E seria um espetáculo estranho e comentado
que Luna, Harry, Hermione e Snape fossem vistos saindo de uma boca de esgoto.
_
Você precisa ir chamar alguém. Não podemos desaparatar e
aparatar em Hogwarts.- disse Sirius, encarando com dois olhos frios a professora
Luna.
Luna
devolveu-lhe o olhar frio e foi dar uma última espiada em Snape, que
emitia agora fracos gemidos de dor, deitado na maca longe deles.
_
Espero não demorar muito. - e, dizendo isso, transfigurou-se numa coruja
parda pouco menor que Edwiges, voando pela abertura do esgoto em direção
a Hogwarts. Harry, que já estava acostumado a assistir seres humanos
transfigurando-se em animais, surpreendera-se muito mais por descobrir que a
professora também era um animago do que pela transfiguração
em si.
Harry
sentou-se no chão ao lado da maca de Hermione, enquanto Sirius sentou-se
um pouco mais a frente dele. Não haviam trocado uma única palavra
desde quando Rabicho os surpreendera no túnel. Harry achou que era hora
de quebrar o silêncio:
_
Porque você está assim? - perguntou, um tanto inseguro. - Eu sei
que não é só por causa de Malfoy, Avery e Rabicho terem
escapado.
Sirius virou-se para Harry, e, pela primeira vez naquelas longas horas, sua expressão descongestionou-se do ódio
intenso
que sentia. Ao invés de responder, no entanto, Sirius preferiu ventilar
outro assunto:
_
Eu percebi que o que você estava fazendo lá no túnel...
- disse, sorrindo, para Harry, e o menino desviou o olhar,
muito encabulado - ...foi o seu primeiro beijo.
Harry
assentiu com a cabeça, sem olhar para seu padrinho. Sirius prosseguiu:
_
Não sei se você sabe - começou, num tom nostálgico
- mas eu e a sua professora...ficamos...quando éramos garotos, ainda...
Harry
sabia, porque ouvira a conversa de Snape e Luna no terraço, muitas e
muitas horas atrás.
_...
e que eu...por causa dos meus malditos impulsos...por agir sem pensar....coloquei
tudo a perder quando bati nele...- disse, olhando para Snape com desprezo -
...eu não sabia que eles eram tão amigos....
Harry
sorriu, encorajando o padrinho. Sabia o quanto era doloroso para ele falar sobre
aqueles assuntos de amizade e traições.
_
...eu confundi tudo...- prosseguiu, com uma expressão triste - ...quando
os vi conversando no jardim....você sabe, Harry, como eu sou impulsivo...mas
eu estava apaixonado, ela era a garota mais bonita de Hogwarts e...e...ela também
gostava de mim...oh, droga...Remo ainda tentou me convencer de que eles eram
apenas amigos, mas eu não quis acreditar...então eu e Snape brigamos
depois da aula de Herbologia, pergunte a professora Sprout, ela ainda deve se
lembrar, porque destruímos uns cactus muito valiosos da Tasmânia...ele
levou a pior...e então ela afastou-se de mim...acho que ficou magoada...tentei
conversar com ela, pedir desculpas, mas ela não aceitou...no quinto ano,
eu a convidei para o Baile de Inverno, mas ela foi com Malfoy...acho que foi
Snape quem falou para ela ir com Malfoy, porque ela pediu um tempo para pensar
quando eu a convidei....e, depois, aconteceu todo aquele horrível incidente
na Floresta, e mais tarde eu descobri que o pai dela era um auror....e eu nunca
mais a encontrei. - terminou, olhando para o chão.
Alguns
minutos de silêncio se passaram e Harry achou prudente não falar
por enquanto. Sirius encolhera-se, segurando os joelhos e apoiando a cabeça
neles como uma criança:
_
Eu não sabia que ela também era um animago...- recomeçou
Sirius - ...deve ter começado a tentar aqui em Hogwarts e finalmente
conseguido em Beauxbatons...
_
Será que Snape sabia? - perguntou Harry.
_
Não...acho que não - falou Sirius, endurecendo levemente as feições
Então
Harry lembrou-se que já havia visto a professora transfigurada em coruja
em duas oportunidades, entregando bilhetes a Snape, e o professor os recebera
sem nem mesmo reparar na coruja que os entregara. Dumbledore, sim...pois o menino
lembrava-se perfeitamente de ter visto o diretor acompanhar com muita curiosidade
o vôo da coruja sobre a mesa dos professores.
_
Sirius - começou Harry - como você sabia onde nos encontrar?
Sirius
ergueu a cabeça e encarou Harry, sorrindo:
_
Dumbledore. E o Mapa do Maroto, também.
_
Como? - perguntou Harry, surpreso.
_
Bem...você sabe que Dumbledore está empenhado num tratado de paz
com os gigantes...no entanto, ele não quis abandonar Hogwarts e você
de qualquer jeito, ainda mais quando soube que você sofreu um atentado
durante as férias...então, naquela mesma semana em que vocês
três estiveram em Hogsmeade comigo e com Lupin,
ele nos procurou para conversar.
_
E ? - Harry acompanhava com muita atenção.
_
E - continuou Sirius - propôs que nos escondêssemos em...Hogwarts.
_
O quê? - falou Harry, estufato - Vocês estão morando em Hogwarts?
Como?
_
Eu e Lupin aceitamos, e estamos ocupando uma parte desativada do castelo. É
claro que precisamos ter muita cautela, principalmente por causa das transformações
de Lupin, mas....não podíamos recusar...Lupin sempre teve problemas
quanto a moradia, e eu...bem...meu último endereço conhecido é
Azkaban...e aquela caverna já estava ficando desconfortável. -
concluiu, sorrindo.
Harry
processava todas as informações que obtivera, e então lançou
mais perguntas, que se atropelavam em sua mente:
_
E onde está Lupin, agora? Mais alguém sabe sobre vocês?
E quanto ao Mapa do Maroto?
Sirius
esticou as pernas e recomeçou a falar:
_
Vamos por partes, Harry. Você não reparou que ontem era lua cheia?
- Era verdade. Harry lembrava-se, perfeitamente, de ter visto a lua cheia do
terraço. - Bem...a essas horas, Remo deve estar se recuperando... - continuou
Sirius, olhando para a parede - ...sabe, eu tenho muita pena dele...não
sei como ele consegue suportar essa situação...mas quanto ao Mapa
do Maroto...Dumbledore nos entregou o mapa antes de partir, isto é, ontem...porque
o mapa seria muito útil para localizar você, Harry, caso acontecesse
alguma coisa...e foi ali que eu vi o que estava acontecendo...
Harry
então arregalou os olhos para o padrinho:
_
Você...você viu... - começou, encabulado.
Sirius
o encarou com um olhar que era, ao mesmo tempo, tímido e acusador:
_
Sim...eu vi quando você saiu da sala comunal e foi até o terraço...e
eu sei que eles estavam lá...imaginei que você estivesse sob a
capa da invisibilidade... - falou Sirius, olhando de relance para Snape - ...depois,
vi quando você desceu até o corredor da cozinha e encontrou Filch
e Rabicho saindo da sala de Snape....tudo aconteceu muito rápido...eu
temi pela sua segurança, mas você estava invisível...e então
você voltou para a sala comunal e levou Hermione junto...vocês estavam
invisíveis...
_
Não... - interrompeu Harry - ...eu deixei a capa da invisibilidade no
dormitório masculino...porque eu havia esquecido a varinha...Mione estava
acordada e quis vir junto...
_
...de qualquer maneira - recomeçou Sirius - vocês estavam correndo
um grave risco quando desceram a sala de Filch...porque eu vi que Avery estava
esperando Rabicho e Filch lá...
Harry
espalmou as pernas com as mãos:
_
É claro, a poção polissuco! Eu só desconfiei que
alguém estivesse se passando por Filch através da poção
polissuco quando estuporei o verdadeiro Filch...mas então...se ele levou
Rabicho até a sala de Snape...ele deve ser um traidor.... - concluiu
Harry, com um sorriso enigmático no rosto.
_
Acho que você está enganado, Harry - Sirius falou, com uma expressão
de dúvida no olhar - Filch deveria estar sob a Imperius...mas, quando
eu vi vocês correndo para a sala dele, eu arrisquei tudo e saí,
transfigurado em cachorro...quase topei com Snape na escada, e vi quando Rabicho
acertou um jarro na cabeça dele...isso foi bem feito...
Harry
sorriu. Decididamente, Sirius estava recuperando o bom humor.
_
Então...achei prudente esperar, até porque eu estava sozinho...resolvi
seguí-los de longe, e também vi quando eles nocauteram Luna com
o elmo de uma armadura e a jogaram dentro daquela caixa de madeira...e então,
quando Rabicho parou em frente ao bebedor de água do segundo andar...
_
O quê? - Harry não podia acreditar.
_
Isso mesmo - Sirius continuou, sorrindo, para o afilhado - o bebedor do segundo
andar é uma velha passagem secreta que eu, Tiago, Remo e o próprio
Pedro tantas e tantas vezes percorremos, e que dá acesso ao antigo sistema
de esgotos de Hogwarts. Depois que vocês entraram, eu continuei a seguí-los....
Harry
ia perguntar "porquê você não chamou alguém?",
mas a pouca convivência que tivera com seu padrinho revelara-lhe que ele
era um homem bastante orgulhoso.
_...e,
depois de algum tempo, encontrei vocês dois. - concluiu, com um sorriso
maroto, enquanto Harry olhava para o outro lado. - Você quer falar sobre
isso?
Harry
considerou por breves momentos se devia conversar com seu padrinho sobre o seu
primeiro beijo, mas ele não esperou a resposta do menino.
_
Harry - começou, encarando o garoto - eu ouvi você pedindo desculpas
a Hermione....
Harry
engoliu em seco e lançou um olhar para ver se Hermione estava ouvindo,
mas a menina dormia, de pura exaustão.
_
Foi porque...eu...eu não sei porque fiz aquilo...- falou Harry, sem encarar
o padrinho.
_
Eu entendo, Harry...às vezes, fazemos coisas que não sabemos o
motivo...eu só queria lhe dizer para não magoá-la...e nem
ao Rony.- completou Sirius, num tom de voz afetuoso.
A
menção do nome de seu amigo, Harry encarou Sirius:
_
Porque...porque você diz isso? - perguntou, mas desconfiava sinceramente
de qual era a resposta.
Sirius
parecia considerar se iria responder ou não, mas por fim decidiu-se:
_
Harry...está claro que Rony gosta de Hermione...e eu acho que ele ficaria
muito magoado com você se soubesse que você ficou com ela... - falou,
sorrindo, para Harry.
_
Mas eu...eu não gosto de Mione desse jeito! Eu gosto de Cho Chang, uma
garota da Corvinal...De Mione eu gosto como...como amiga! - Harry falou, e agora
também duvidava de que isso fosse verdade.
Alguns
minutos depois, Sirius falou, e sua voz soou distante e sonhadora:
_
Às vezes, Harry, a amizade se transforma em amor...e isso pode ser muito
bom ou muito ruim.
E então calou-se, mas suas palavras continuaram ecoando na mente de Harry.
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