Harry Potter e a Filha do Auror
by Talita Teixeira

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Capítulo 21 ~ Mais esclarecimentos

_ Harry?

Harry ainda estava imerso em seus pensamentos quando olhou para Hermione, que acordara e tentava levantar-se.

_ Mione! Fique deitada! - mas a garota já erguia-se, decidida. Harry amparou-a:

_ Estou tonta...- disse, segurando-se no braço de Harry. Sirius lançou um olhar cúmplice para o afilhado. Snape também dava mostras de estar bem acordado, gemendo ocasionalmente.

_ Harry... - falou Hermione, numa voz muito enrolada.

_ Não fale nada, Mione...a professora Luna já está trazendo ajuda. - quando ouviu o nome da professora, Snape encarou Harry com dois olhos muito frios:

_ Potter...- falou, com dificuldade - ...o que...o que você estava fazendo na sala de Filch?

Harry torceu a boca com raiva. Era incrível como o professor podia ser implacável até mesmo naquele estado lastimável:

_ Eu...eu desconfiei de Filch e...

_ Não minta, menino...você estava vindo...de outro lugar. - sua voz era quase um sussurro, mas fez Harry gelar. E se o professor descobrisse que ele viera do terraço?

Sirius então ergueu-se com raiva e aproximou-se do professor; Harry jurou que seu padrinho ia-lhe chutar as costelas de novo:

_ Deixe o garoto em paz, Snape. Não vê que ele já apanhou bastante por uma noite? - falou, com os olhos injetados.

_ É bom...que ele não tenha estado onde eu penso que esteve...- disse Snape, sustentando o olhar de Sirius com frieza.

Sirius encarou o professor por alguns minutos, observando os feios hematomas que tingiam de roxo seu peito, através da camisa que Luna deixara entreaberta.

_ Como é possível você ser tão desagradável mesmo estando assim? - Sirius retrucou, olhando com desprezo para Snape, e afastou-se em seguida.

Snape calou-se.

Pouco depois, Luna voltou, em uma carruagem sem cavalos, trazendo Madame Pomfrey e a professora McGonagall. Sirius transformou-se em um grande cão preto e permaneceu ao lado de Harry enquanto Madame Pomfrey aplicava os primeiros socorros em Hermione e Snape.

_ Potter! Onde você se meteu! - ralhou a professora McGonagall, lançando um olhar preocupado para as marcas arroxeadas que Harry tinha em volta do pescoço. A professora parecia estar muito zangada com tudo o que ocorrera, mas Harry sabia que, bem no fundo, ela estava aliviada por todos estarem bem. Ela e Madame Pomfrey aproximaram-se de Snape e ambas fizeram caretas de compaixão quando viram os hematomas do professor:

_ Céus, Severo! - disse Madame Pomfrey, penalizada - você deve ter algumas costelas fraturadas aqui! É uma sorte que não tenham lhe perfurado um pulmão! Precisamos transferí-lo com cuidado, Minerva - terminou, olhando com preocupação para a professora, e afastou-se para ver Hermione.

A professora McGonagall limitou-se a olhar com repreensão para Snape, e Harry teve a impressão de que ela o observava como a um garoto de doze anos. Então, lançou um olhar de esguelha para Sirius, transfigurado em cão negro, e sorriu brevemente.

Mas Harry estava um tanto apreensivo quanto a Hermione.

_ Granger, eu gostaria que você ficasse essa noite e amanhã na ala hospitalar - disse Madame Pomfrey, observando a cabeça da menina - preciso examinar melhor essa sua pancada.

Enquanto Madame Pomfrey e a professora Minerva pensavam em como transportar Snape e Hermione da melhor maneira possível, Luna aproximou-se de Harry:

_ É... é ele? - falou baixinho, apontando com os olhos para Sirius, transfigurado em cão.

_ É. - aquiesceu o menino.

Luna então ajoelhou-se na frente de Sirius e começou a conversar com ele. Harry não pode deixar de escutar o que falavam, até porque Sirius não saia do seu lado, e o menino achou que seu padrinho queria que ele ouvisse a conversa.

_ Olhe - começou a professora - eu vou aproveitar que você está assim e não pode me interromper com seu orgulho...eu queria pedir desculpas a você por não ter aceito o seu convite para ir ao Baile de Inverno...

Sirius abanou o rabo fracamente. Luna continuou:

_ ...eu....eu não aceitei porque Severo pediu que eu não aceitasse...e eu também não quis...porque você...você partiu o meu coração quando eu tinha doze anos, batendo no meu melhor amigo...para você, era só mais uma conquista, não é? - falou, amargurada - Você era popular...vocês eram...eu era só uma garota da Corvinal, tímida, que fez amizade com um dos garotos mais impopulares da escola...mas eu gostava de você...eu sempre...gostei. - terminou, e, enquanto afagava a cabeça de Sirius, Harry notou que a professora chorava.

Depois de terem decidido ampliar magicamente o interior da carruagem para que todos coubessem com conforto, Madame Pomfrey e a professora Minerva transferiram com cuidado as macas de Hermione e Snape. Harry sentou-se ao lado de Luna, que observava, penalizada, os feridos. Sirius contentou-se com o espaço logo abaixo da maca de Snape, agüentando heroicamente os protestos de Madame Pomfrey - que não compreendia porque aquele imenso cão tinha que permanecer ao lado deles - e o fato de ter que se acomodar embaixo da maca do odioso professor.

A curta viagem até o castelo foi pontuada pelos gemidos de Snape - que, depois de começar a tossir sangue, desmaiou novamente. Harry tentava, mas não conseguia deixar de sentir pena do professor. Quando chegaram em Hogwarts, a maioria dos alunos estava ou no campo de quadribol, ou no pátio - pois era sábado e ninguém queria ficar no castelo - e assim puderam todos ir para a ala hospitalar sem enfrentar maiores problemas. Madame Pomfrey medicou as costas de Harry, mas insistiu para que o menino permanecesse também na enfermaria, ao menos até o dia seguinte. Harry não protestou: sentia-se cansado e muito dolorido, e sorriu de orelha a orelha quando Madame Pomfrey trouxe-lhe um grande pedaço de chocolate.

Hermione, que ficou em uma cama ao lado da de Harry, também foi medicada e adormeceu instantaneamente. Snape, cuja situação era um pouco mais delicada, foi colocado desacordado em uma cama escondida por biombos, e a professora Luna, que não apresentava maiores problemas, foi logo liberada. McGonagall aproximou-se de Harry e sussurrou em seu ouvido:

_ Vou levar seu padrinho para descansar...ele precisa... - e piscou um olho para o menino, enquanto conduzia o grande cão negro que era Sirius para fora da enfermaria.
Madame Pomfrey fechou as janelas, apagou a luz e Harry adormeceu pouco depois.

 

No sonho, Harry viu um homem adulto, muito parecido com Tiago Potter. Ele estava agonizando, transpassado por uma espada esverdeada. Ao seu lado, um homem de cabelos vermelhos abraçava uma jovem mulher, que chorava muito. Harry viu quando outro homem, mais velho, apareceu e levou os dois, deixando o homem que era tão parecido com Tiago Potter sozinho, no chão. Então, o homem agonizante foi se transformando num velho de barbas brancas, e sua varinha jazia imóvel ao seu lado...

_ Você está acordado?

Harry abriu os olhos assustado. Despertava de um sonho muito ruim.

_ Rony? - disse, sem poder ver direito o amigo, pois estava sem óculos.

_ O que aconteceu ontem? - Rony perguntava, despejando sobre o colo de Harry uma boa quantidade de guloseimas: sapos de chocolate, pirulitos de sangue, feijõezinhos de todos os sabores, bolos de caldeirão... - São para você...todo mundo da Grifinória quis lhe mandar alguma coisa...estivemos hoje a tarde em Hogsmeade, na Dedosdemel...

Harry sorriu ao ver o amigo. Apanhou os óculos na mesinha de cabeceira e apoiou-se para sentar-se. Suas costas ainda doiam um pouco, mas decididamente estavam melhor.

_ Que horas são? - perguntou, vendo que já anoitecia.

_ Sete horas, acho. Mas o que aconteceu com você e Mione? - perguntou novamente Rony. - Até hoje a tarde, era só o que se falava...que vocês haviam fugido de Hogwarts para casar escondido! Você precisava ver a cara da Lilá Brown, foi ela que inventou essa história! - completou, rindo muito.

A menção do nome de Hermione, Harry despertou por completo, e então o arrependimento de tê-la beijado no túnel fez com que seu estômago afundasse.

_ Como ela está? - Harry perguntou, lançando um olhar para uma outra cama cercada por biombos e tentando parecer natural.

Rony sorriu.

_ Calma, ela está bem, mas ainda está dormindo. Parece que bateu a cabeça com muita força...espero que isso não afete o cérebro dela. - completou, ainda sorrindo. Harry tranquilizou-se com isso, e começou a explicar para Rony tudo o que acontecera desde que saíram de Hogwarts no dia anterior. Naturalmente, omitira sobre o encontro de Snape e Luna no terraço e o beijo que dera em Hermione no túnel.

_ Puxa... - falou o garoto, colocando a mão na testa - ...a professora Luna é um animago? e...e...Snape não morreu?que droga...e ainda está aqui na enfermaria? - completou, sem se dar conta de estar falando em voz alta.

_ Isso mesmo, Weasley. - Harry e Rony gelaram quando ouviram a voz do professor, vinda de algum lugar da enfermaria - e são dez pontos a menos para a Grifinória pela sua petulância.

Harry e Rony se entreolharam, com raiva. Como era possível o professor ser tão insuportável até mesmo deitado em um leito hospitalar? Rony torceu a cara, contrafeito, e Madame Pomfrey apareceu momentos depois:

_ Weasley, esses doentes precisam de repouso! Você terá que voltar outra hora para ver os seus amigos! - disse, enxotando o garoto como só ela sabia fazer.

Harry então lembrou-se de algo muito importante e, chamando Rony, falou-lhe algo ao ouvido. O menino franziu as sobrancelhas, mas concordou com a cabeça. Depois que ele saiu, Harry apanhou um sapo de chocolate e desceu da cama, sentindo ainda as costas doerem. Aproximou-se do leito de Hermione, também cercado por biombos; a amiga tinha a cabeça enfaixada e dormia profundamente, com um grande esparadrapo cobrindo seu nariz e um olho roxo. Sua aparência era péssima, mas Harry sabia que os cuidados médicos de Madame Pomfrey eram tão eficientes que a garota iria despertar totalmente refeita no dia seguinte. Observando Hermione dormir, Harry sentiu-se mais uma vez péssimo por tê-la beijado. Como pudera fazer aquilo? Então, ocorreu-lhe que talvez Snape tivesse sentido o mesmo quando beijara a professora Luna, pois ambos haviam sido, por incrível que possa parecer, amigos. Harry voltou para a sua cama, espiando ocasionalmente para ver se Rony chegava. Alguns minutos depois, o trinco da porta da enfermaria girou suavemente e o garoto entrou, sorrateiro, entregando o que Harry pedira.

_ Boa sorte. - sussurrou, virando-se para sair.

Harry então engoliu em seco, deu dois passos e voltou. Talvez fosse melhor se levasse alguma coisa. Um sapo de chocolate? Não...sapos de chocolate eram bons demais...bolos de caldeirão?hum...talvez, mas não haviam muitos...por fim, decidiu-se pelos feijõezinhos de todos os sabores, porque havia um sortimento tão grande de sabores estranhos que seria uma ótima vingança se o primeiro que o professor mordesse fosse o de alfafa.

Respirando fundo, Harry caminhou pela enfermaria até o leito de Snape, e abriu lentamene as cortinas do biombo:

_ Com licença. - falou, ao mesmo tempo em que observava, admirado, que o professor já estivesse tão bem, e pensou que Rony estaria decepcionado se pudesse ver Snape recostado na cama, sem nem mesmo parecer que fraturara as costelas algumas horas atrás. Também era muito estranho não vê-lo nas suas tradicionais vestes negras, mas sua pele era tão branca quanto o pijama que vestia.

Snape ergueu os olhos, encarando Harry com frieza:

_ O que você quer, Potter? - e seu olhar denunciava desprezo pela presença do menino. Harry pensou seriamente se aquilo fora uma boa idéia.

_ Eu...só queria saber como o senhor estava. - começou Harry, corajosamente.

_ Agora que já viu, pode ir embora... - falou, levantando o braço para apontar a saída, mas abaixando-o em seguida com um gemido de dor.

_ Quer que eu chame Madame Pomfrey? - Harry disse, mas arrependeu-se, porque a cara que o professor fez foi mais terrível do que o gemido de dor.

_ Vá...embora...Potter... - falou, com dificuldade.

Mas Harry não foi. Esperou que o professor se recuperasse e permaneceu em pé ao lado da cama.

_ Eu trouxe uma coisa para o senhor... - disse, estendendo o saquinho com feijõezinhos de todos os sabores e deixando na mesa de cabeceira. Snape sequer olhou. Harry engoliu em seco mais uma vez, sentia que era atravessado e virado do avesso sempre que o professor o encarava com aqueles olhos frios e vazios como túneis escuros.

_ Saia daqui, Potter. - repetiu, no seu tom de voz mais perigoso.

Mas Harry não saiu.

_ Eu...tenho outra coisa aqui... - disse, estendendo as fotografias que encontrara no álbum - ...acho que são do senhor...

Snape apanhou as fotografias e seus olhos brilharam estranhamente.

_ O que essas fotografias estavam fazendo com você, Potter? - continuou, gelado.

_ Eu as encontrei no meu álbum! Foi Pettigrew quem roubou da sua sala e... - indignou-se Harry, mas o professor já o interrompia:

_ Como Pettigrew teria entrado na minha sala, se eu lacro ela com feitiços que só um bruxo experiente poderia saber? - falou, com os olhos injetados.

Harry balançava a cabeça, olhando contrafeito para o professor:

_ Eu não sei como ele entrou, está bem? Ele é um animago, deve ter se transformado em rato e entrado por algum buraco, sei lá! A única coisa é que eu encontrei essas fotografias escondidas no álbum que Hagrid me deu, só isso! - disse, atirando-se na poltrona ao lado da cama do professor.

Depois de alguns minutos tensos de silêncio, Harry ouviu novamente a voz do professor, num sussurro desagradável:

_ Então dessa vez você não estava mentindo, Potter, quando disse que viu Pettigrew e Filch saindo da minha sala... - Harry levantou a cabeça, ainda indignado:

_ Porque o senhor nunca acredita no que eu falo? Eu não tenho culpa de tudo o que acontece! - disse Harry, com ferocidade.

_ É claro que não, Harry... - E então o menino virou-se, surpreso, e viu a cabeça da professora Luna apontar pelas cortinas do biombo, sorrindo:

_ Ah, Severo...feijõezinhos de todos os sabores! Você lembra quando comemos um saco desses inteiro para ver quem agüentava mais tempo? - falou, enquanto rasgava o pacote e comia um - Que sorte....peguei um de berinjela.

Snape estava sério, embora Harry percebera que o professor ensaiara um sorriso muito torto quando Luna entrou.

_ O que vocês estavam falando? Era sobre Pettigrew? - Harry assentiu com a cabeça, enquanto Luna estendia um papel para Snape - Você reconhece?

Snape apanhou o papel com desconfiança.

_ É a prova de Potter, que apliquei ontem na aula de Poções. - falou, com desdém.

_ Não. É uma chave de portal. - disse a professora, sentando-se na cama, sem perceber os dois pares de olhos surpresos que pertenciam a Harry e Snape.

_ Como? - perguntou o menino, e Snape então começou a observar melhor a prova.

_ É simples...foi Moody quem descobriu tudo...você sabe como ele é experiente para descobrir esse tipo de coisa, Severo... mas, antes de vir para cá, eu fui falar com Filch. Ele está sinceramente arrependido...

_ Arrependido de quê? - Snape falou, desconfiado.

_ Calma, Severo...o pobre zelador, como você mesmo sabe, é um aborto - falou a professora, olhando para Harry - você sabe o que é um aborto, não sabe, Harry? Bem...há mais ou menos uns três ou quatro anos, Filch enfiou na cabeça que podia aprender magia...até matriculou-se no Feiticexpresso...mas, é claro, não obtinha resultado nenhum...

_ E então...deve ter encontrado Avery... - começou Snape, com uma cara de quem havia compreendido tudo -... que deve ter-lhe prometido como tornar-se um bruxo...e o imbecil acreditou...

_ Ele foi enganado, Severo - censurou a professora - enganado...porque Lúcio tinha planos de que você...de que você....voltasse a ser um...um...

_ Ele sabe. Um Comensal da Morte. - completou Snape, amargo, olhando de relance para Harry. O menino ensaiou um meio sorriso de solidariedade para Snape, porque imaginava que deveria ser duro para qualquer um admitir que havia estado ao lado de Voldemort.

_ Isso...- disse a professora, desviando o olhar - ...e, para isso, ele queria que você matasse Harry...para que Você-sabe-quem lhe aceitasse.

Os três ficaram em silêncio por alguns minutos.

_ E o que a prova de Potter tem haver com tudo isso? - perguntou Snape, quebrando o silêncio.

Luna levantou o olhar para ele, disfarçando algumas lágrimas:

_ O zelador esteve enfeitiçado...foi enfeitiçado com a Imperius...esteve em Hogsmeade na tarde de ontem e trouxe de lá Avery e Pettigrew...dentro daquela caixa de madeira, a mesma com que nos seqüestrou... Ele disse a Hagrid que eram encomendas para a Festa do Dias das Bruxas e levou os dois para a sala dele. Lá, Avery executou a poção polissuco e se transformou em Filch, enquanto o verdadeiro Filch levava Pettigrew até a sua sala, Severo...eu acho que Filch sabia que você não estava por lá...- falou, lançando a Snape um olhar cúmplice.

_ Então...Filch deve ter andado espionando...- falou Snape, corando levemente.

_ Não, ele esteve sob a Imperius. Moody já fez um interrogatório no pobre homem, ele não sabia o que estava fazendo.

_ Mas a senhora disse que a minha prova era uma chave de portal... - perguntou Harry, desviando o assunto.

_ Bem, Harry...Pettigrew entrou na sala do professor Snape para enfeitiçar a sua prova...para torná-la uma chave de portal que levasse vocês dois...

_ Então, ele enfeitiçou a prova de modo que, quando eu a entregasse a Potter...você está dizendo que o feitiço não funcionaria sozinho, é isso? - falou Snape, interrompendo a professora. Harry tinha lembranças muito amargas de chaves de portais, e não quis tocar na prova quando a professora a estendeu para ele.

_ Isso mesmo...vocês dois seriam transportados para outro lugar, e provavelmente seria aquele poço do esquecimento. Só que aconteceu um imprevisto, quando Harry surpreendeu Pettigrew e Filch saindo da sua sala...e então...você surpreendeu Harry e Hermione... - nesse ponto, a professora desviou o olhar. Snape voltou a ficar muito levemente corado.

_ Eu estava...estava vindo do terraço - falou Snape, olhando Harry pelo canto dos olhos - quando vi os seus calcanhares por baixo daquela capa da invisibilidade...é claro que você deveria estar em mais uma das suas incursões pelo castelo, não é? - falou, com um sorriso desagradável no rosto.

Harry assentiu com a cabeça.

_ Eu...eu estava vindo da cozinha...é isso. - falou, sem esperar que os dois professores acreditassem no que dizia.

_ Eu também vi quando você saiu da sala comunal da Grifinória arrastando a Srta. Granger... - Harry sentiu as faces arderem, mas o professor não se referiu às suas primeiras desconfianças sobre ele e Hermione - ...e então vi quando você estuporou o zelador.

_ De qualquer forma - recomeçou a professora - Harry frustrou os planos deles...mas eles o levariam de qualquer jeito. Eu e Hermione estávamos, no entanto...na hora errada, e no lugar errado...quando penso no que poderia ter acontecido a você e a ela, Harry... - falou Luna, cobrindo a boca com as mãos.

Outro silêncio tenso se seguiu. A professora então reparou nas fotos que Harry trouxera:

_ O que é isso? - perguntou, enquanto Snape tentava escondê-las embaixo do lençol.

_ Fotografias antigas, que Pettigrew roubou da sala do professor Snape há muito tempo atrás e escondeu no meu álbum - Harry falou, encarando Snape, que lhe fulminava com o olhar.

_ Como pode ser isso? Pettigrew aqui em Hogwarts? aliás, eu gostaria muito de saber como o terrível Sirius Black pode ter aparecido ontem para nos ajudar, se ele deveria estar foragido... - falou, com um sorriso maroto no rosto.

Harry então, sob o olhar raivoso de Snape, começou a explicar resumidamente toda a história envolvendo a traição de Pettigrew a seus pais e como Sirius foi envolvido, sendo enviado para a prisão de Azkaban injustamente. Na hora em que contou sobre os dementadores e sobre como Lupin o ensinou a enfrentá-los, Harry aproveitou para incluir alguns lances dramáticos, na esperança de que a professora começasse a odiar Snape.

_ ...e então, depois que Pettigrew escapou, ele voltou para o lado de Vold...isto é...de Você-sabe-quem, e o meu padrinho teve que se esconder. - terminou, achando que a professora ficava bonita mesmo zangada, como agora.

_ Severo... - começou, encarando friamente o professor - ...como você pôde fazer isso com Sirius? Francamente, querer que um dementador executasse um beijo nele...

Harry não poderia pensar em vingança melhor contra Snape do que contar todos os dramas que vivenciara no seu terceiro ano em Hogwarts, pontuando com momentos aventurescos em que Sirius e Lupin eram os personagens principais. Além disso, o garoto pretendia que a professora se entendesse com seu padrinho, também. Apesar disso, Harry sabia que ter tido a cara-de-pau de entregar todas as maldades que o professor lhe impingia desde o seu primeiro ano em Hogwarts poderia custar caro (como detenções limpando tripas de iguanas, por exemplo), mas ele francamente não se importava. Ver a cara que Snape fazia quando a professora o encarava era o melhor prêmio que ele poderia receber.

_ Todos podem se enganar, Srta Palomba...- acentuou o professor, e Harry achou que a conversa poderia ficar perigosa - ...até mesmo o seu pai, quando me prendeu durante uma festa...naturalmente, ele não sabia que eu estava com Dumbledore...mas seus métodos foram tão...sutis...que fui obrigado a revelar algumas coisas que eu não queria... - Harry engoliu em seco, lembrando que vira, através da Penseira, Dumbledore inocentar o professor, na frente de Bartô Crouch, durante o julgamento de Karkaroff.

Outro silêncio constrangedor se fez, e então Harry achou que deveria ir embora. Mas a professora Luna o reteve:

_ Espere, Harry...vamos ver melhor essas fotos...- falou, fazendo um sinal para que o menino permanecesse sentado. - Você poderia explicá-las para nós, Severo? - terminou, erguendo uma sobrancelha. Harry achou que ela ficava muito bonita assim.

Snape olhou com ferocidade para Harry, mas não teve outro remédio que não fosse comentar as fotografias. Já estava convencido de que o professor só tolerava a sua presença ali por causa de Luna.

_ Esse menino sou eu... - começou, apontando o garoto que se escondia embaixo da cama do homem morto.

_ Que bonitinho que você era - falou Luna, olhando por cima do ombro do professor, e Harry duvidou muito do gosto da professora para achar crianças bonitas.

_ ...e este é o meu avô. - concluiu, azedo.

Harry então, lembrando-se de que Pettigrew dissera-lhe que havia colocado as fotografias no seu álbum para esclarecer o motivo que levava Snape a odiá-lo tanto, criou coragem e perguntou:

_ Ele...ele...está morto?

Snape lançou um olhar raivoso a Harry, mas respondeu:

_ É o que parece, não é, Potter?

Tanto Harry quanto a professora acharam melhor não perguntar como o avô de Snape havia morrido.

_ Meu Deus... - Luna olhava para a fotografia em que ela mesma aparecia ao lado de Snape e Malfoy - ...eu me lembro bem desse dia...meu pai não havia me dado permissão para visitar Hogsmeade, e então eu fugi...- sorria, surpresa.

_ Pettigrew aproximou-se de nós nesse dia...- começou Snape, também olhando a fotografia - ...fazia muitas perguntas, insistiu para sentar conosco...veio sem seus amiguinhos, naturalmente...- e Harry nem se deu ao trabalho de ver que Snape fazia cara de desprezo ao se referir a seu pai, a Sirius e a Remo.

_ Eu tomei minha primeira cerveja amanteigada nesse dia...não vou esquecer nunca... - falou a professora, em tom nostálgico - ...você já tomou uma cerveja amanteigada, Harry?

O garoto assentiu com a cabeça, um pouco envergonhado.

_ ...eu não tinha nenhum galeão...nem mesmo um nuque sequer...mas você pagou para mim, lembra, Severo? - e, falando isso, pegou, distraída, na mão de Snape. O professor engoliu em seco e Harry começou achar a situação toda muito divertida. - Puxa...acho que foi um dos melhores dias da minha vida...depois...depois fomos na Dedosdemel...e você e Lúcio compraram para mim um monte de doces...
Harry sorria, enquanto Snape lançava olhares raivosos para o seu lado, certamente envergonhado de ter suas memórias expostas para o aluno que mais desprezava.

_ Muito bem, Srta. Cortazar - falou, cortando o assunto - acho que já está tarde para a senhorita voltar sozinha pelos corredores até os seus aposentos...

_ Não! Deixe-me ver essa última foto...oh! - Harry se supreendeu quando a professora tomou das mãos de Snape a fotografia onde sua mãe aparecia, mas não se surpreendeu quando Luna soltou um oh! de exclamação. Qualquer um se surpreenderia vendo Severo Snape e Lílian Potter numa fotografia, juntos.

_ Essa é a minha...mãe. - falou Harry, tímido.

A professora observou a fotografia por um minuto e sorriu:

_ Aposto como você nunca esperaria ver uma foto dessas, não é Harry? - falou, encarando o menino com um olhar divertido - acho que seu pai ainda não namorava a sua mãe nessa época. Eu não os conhecia muito bem ainda, porque eu estava no primeiro ano. Mas eu me lembro bem desse concurso...seria interessante se o promovessem de novo, não acha, Severo?

Snape olhava para o lado, contrafeito.

_ É, é. - falou, azedo.

_ Porque você convidou Lílian, Severo? - perguntou a professora, com um olhar desconfiado, e Harry momentaneamente horrorizou-se em pensar que talvez Snape gostasse de sua mãe no segundo ano, e por isso a convidou.

O professor cruzou os braços e sorriu de uma forma desagradável.

_ Lílian Evans, na época, tinha um pequeno talento para poções, nada mais - e Harry percebeu que o professor mentia, pois lembrava-se de que Sirius e Hagrid haviam lhe dito que seus pais foram excelentes alunos - Infelizmente, depois que teve o mau gosto de se aproximar de Potter, perdeu o pouco talento que lhe restava - concluiu, com desprezo, e a professora lançou-lhe um olhar muito perigoso.

_ Pare de mentir, Severo...você está falando de Lílian Potter...só o fato dela ter conseguido salvar a vida de Harry a qualifica como uma grande bruxa. - falou a professora, e Harry achou que as chances de Snape com ela diminuiriam consideravelmente depois dessa observação.

O professor limitou-se a sorrir, desagradável, e Harry concluiu que era a hora de voltar para o seu leito.

_ Bom...vou indo - disse, levantando-se - tchau, professora.

_ Cuide-se, Harry - disse ela, dando um beijo sobre a cicatriz do menino, o que o deixou sensivelmente mais leve.

Snape o encarou com olhos desdenhosos, mas o garoto não se importava, não naquele momento. Estava muito satisfeito consigo mesmo por ter conseguido livrar a cara do seu padrinho na frente de sua namorada de vinte anos atrás, e, de lambuja, entregar Snape como a criatura detestável que era.

 

No sonho, ele estava correndo. Corria pela sua vida, corria para se salvar. Não. Voava. Voava sem tocar as nuvens, mas voava. Isso era certo. Corria e voava. No chão, as pessoas iam se tornando pequeninas enquanto ele corria e voava. Enquanto ele se tornava grande, o restante das pessoas se tornavam pequenas. Mas havia a dor, uma dor estranha, que começava na cicatriz e acabava no peito, dentro do coração. Do alto, ele via que alguém estava se aproximando. Alguém que lhe dava medo, alguém que vinha brandindo uma espada esverdeada.
Harry abriu os olhos, sonolento. Quantas horas havia dormido? Sentia o pijama grudando no corpo suado. Ainda estava na ala hospitalar, mas suas costas estavam perfeitamente recompostas. Apanhou os óculos na mesa de cabeceira e espiou para fora das cortinas do biombo.

Vazio, exceto pelas duas outras camas ocupadas por Hermione e Snape. Naturalmente, deveriam ainda estar se recuperando.

_ Potter! Como se sente? - Harry virou-se e viu Madame Pomfrey caminhando em sua direção, sorridente. - Acredito que seu amigo Weasley já esteve aqui e deixou-lhe, como pedi, algumas roupas para você trocar. Ou será que você prefere ir de pijama almoçar no salão principal? - falou, brincando.

_ Como está Hermione? - Harry perguntou, ansioso.

O sorriso de Madame Pomfrey diminuiu um pouco, mas nada que pudesse indicar que algo de grave acontecera com a menina.

_ Não se preocupe, Potter...Granger está bem. Acho que o nariz já voltou ao normal, e a cabeça, também. Ela terá alta nesta tarde. Já o professor Snape... - o sorriso esmaeceu por completo, e Harry teve esperanças de que Snape jamais pudesse tornar a sair da ala hospitalar - ...creio que poderá voltar a dar aulas somente depois de uns dois ou três dias.

Decepcionado, Harry lembrou-se de uma coisa muito importante:

_ Obrigado...será que eu poderia tomar um banho? - perguntou.

_ É claro...mas é melhor você tomar um banho aqui mesmo, assim se sentirá mais disposto. - disse, estendendo ao menino uma toalha branca. Harry agradeceu e dirigiu-se ao banheiro, um amplo aposento hexagonal com azulejos brancos e azuis. Haviam duas banheiras redondas e dois chuveiros dourados, e o menino escolheu o banho de chuveiro porque queria descer logo e encontrar Rony.

Harry abriu o chuveiro e ensaboou-se com gosto. Tomar banho era uma coisa que trouxas e bruxos faziam praticamente iguais, exceto pelo fato de que, no mundo dos bruxos, o sabonete - qualquer que fosse - produzia grandes bolhas perfumadas, quer eram muito divertidas de se ver. Harry sempre achou que lembrassem espelhos distorcidos, e fazia caretas que ficavam muito engraçadas refletidas nas bolhas.

Naquele momento, porém, a imagem que ele viu foi a de um garoto que estava crescendo. Não era só na altura, não era só nos pêlos estranhos que se espalhavam pelo seu corpo, nem muito menos na voz, que ele decididamente começara a achar diferente há duas semanas. Alguma coisa mudara nele desde que beijara Hermione. Ainda sentia-se mal com tudo aquilo, um tanto envergonhado até, mas não parecia tão terrível agora...pensou em Cho e em como deveria ser estar com ela...tocar seu rosto e ...beijá-la. Harry sentiu um formigamento estranho e bom, seguido de um calor que o envolvia completamente. Sim...convidaria a menina para ser seu par na Festa do Dia das Bruxas... Sorrindo, fechou a torneira e enxugou-se, vestindo as roupas que Rony lhe trouxera.

Harry saiu do banho sentindo-se totalmente refeito, achando que a água que vertia do chuveiro deveria ser - assim como os remédios de Madame Pomfrey - encantada. Certamente, não haviam banhos mais renovadores em Hogwarts quanto aqueles da ala hospitalar. Ainda sorrindo, passou pelos biombos que escondiam a cama de Snape e reparou numa pequena brecha nas cortinas que deixavam ver que o professor não estava sozinho. A mão morena e delicada da professora Luna contrastava com a mão muito branca de Snape. Desfazendo o sorriso na mesma hora, Harry aproximou-se lentamente para poder ver melhor. Tanto Snape quanto a professora pareciam estar imersos num sono profundo, ela dormindo sentada na poltrona, com a cabeça apoiada num ombro e ainda vestindo a mesma roupa da noite anterior.

_ Você anda vendo coisas demais, Harry. - falou-lhe uma voz muito conhecida, e o menino virou-se na mesma hora.

Dumbledore sorria suavemente, enquanto o observava por cima dos óculos de meia lua.

_ Eu, eu...professor Dumbledore... - Harry estava entre a alegria de ver o diretor de Hogwarts e a vergonha de ter sido surpreendido espiando Snape e Luna.

_ Não repreenda a amizade do professor Snape com a professora Luna, Harry...- começou, falando baixinho - ...são duas pessoas que sofreram muito por causa de suas escolhas...mas eu acho que agora você compreende bem isso, não é? - disse, lançando um olhar que deixou as faces de Harry ardendo, e o menino perguntou-se até onde o diretor saberia sobre seus passeios noturnos e sobre seu envolvimento com Hermione.

_ Eu...acho que sei...- começou Harry, tímido.

_ Pois bem...fico feliz que o senhor saiba...e fico feliz também que ninguém tenha se ferido gravemente nesta estranha situação que ocorreu aqui em Hogwarts...agora, acho que a senhorita Granger deverá estar acordada e desejando falar com algum amigo...- disse o diretor, piscando um olho para Harry. - E deixe-me ver como está o professor Snape, também - terminou, pigarreando alto, e Harry pode ouvir a voz da professora Luna, soando como se fosse surpreendida namorando no jardim:

_ Hum...oh...bom dia, professor Dumbledore..eu...ham...acho que adormeci aqui...

_ Diretor? - a voz de Snape, já de manhã, soava fria. - Não deveria estar...

_ Não, não deveria estar, Severo. - falou, com a voz grave - Meu lugar é em Hogwarts. Agora, contem-me detalhadamente tudo o que se passou na minha ausência.

Como Dumbledore poderia saber tanto do que ia pelo coração das pessoas?

_ Harry?

A voz de Hermione chamou Harry para a realidade. Engolindo em seco, o menino aproximou-se lentamente do leito cercado por cortinas:

_ Mione? Como você está? - e sentiu sua voz soando muito vacilante.

Hermione sorriu-lhe timidamente, já sem a bandagem no nariz e na cabeça. Estava um tanto abatida, mas estava bem.

_ Está tudo bem comigo...e com você? - perguntou, sem encará-lo.

_ Eu...comigo também... - falou, e Harry sentia-se muito sem-graça agora que estava falando com Hermione depois do que ocorrera no túnel.

_ Ham...Snape morreu? - perguntou ela, decididamente sem assunto.

_ Não...infelizmente não. - e Harry sabia que o principal assunto entre eles não deveria ser esse. Resolveu abordá-lo logo, antes que desistisse - Mione, eu...

_ Não fale nada, Harry...vamos fazer de conta que nada aconteceu lá no túnel, certo? - e sua voz era insegura.

Harry aproximou-se do leito de Hermione e obrigou-a a encará-lo:

_ Eu queria lhe pedir desculpas, Mione...não sei o que aconteceu comigo...eu...- começou.

_ Eu só quero dizer que a nossa amizade não vai mudar nada por causa disso, está bem? - disse, segurando a mão de Harry, e o menino sentiu-se muito inseguro quanto aquilo tudo.- Eu vou continuar sendo a chata das revisões, a chata das provas...

_ Não, Mione...eu não acho que você seja chata...- disse Harry, sorrindo.-...exagerada, talvez...

_ Talvez... - disse ela, tímida.
Um minuto tenso de silêncio passou, e Harry sentiu que gostaria de poder beijar Hermione novamente.

_ Acho que você precisa ir embora...- falou, com a voz insegura - ...mas....

_ Mas...o quê? - e Harry sentiu seu coração batendo muito forte.

_ Não vamos contar nada ao Rony, está bem? Eu acho...eu acho que ele não compreenderia...- falou, e Harry assentiu na mesma hora. Rony jamais entenderia, não se gostasse de Hermione como Sirius falara.

Dando um sorriso trêmulo, Harry virou-se para sair. Lembrou-se, porém, de algo importante e criou coragem para perguntar:

_ Mione...ham... - começou, com as faces ardendo.- posso...posso fazer uma pergunta para você?

_ Pode, Harry...é sobre...sobre...
_ Eu...você já havia beijado alguém antes? - perguntou, se sentindo muito estúpido.

Hermione sorriu e desviou o olhar, tímida:

_ Bem...sim....Victor Krum...

Harry sorriu para a amiga.

Acabara de descobrir o porquê dela não querer participar do Verdade ou Conseqüência.


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