Harry Potter e a Filha do Auror
by Talita Teixeira

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Capítulo 23 ~ A festa do Dia das Bruxas

Dumbledore, naquela mesma noite em que visitaram Sirius e Lupin, revelou aos alunos de Hogwarts que alguns Comensais da Morte haviam tentado assassinar Harry Potter novamente. Não citou nomes, apesar de Harry ter certeza de que fizera isso para proteger Draco Malfoy. Por todo salão ouviram-se comentários abafados e rapidamente as histórias envolvendo o suposto romance de Harry e Hermione foram esquecidas. Parecia que, quando o nome de Voldemort estava envolvido, as suposições tolas eram deixadas de lado.

A semana passou depressa e logo a Festa do Dia das Bruxas estava muito próxima, e a escola toda preparava-se para o grande evento. As aulas de Poções e Estudos Avançados de Astronomia continuaram normalmente, com Snape e Luna retornando às matérias deixadas de lado após a intervenção da professora Minerva. Um fato interessante era que nem Luna, nem Snape estavam se falando, e Harry suspeitou que Sirius estivesse envolvido. Apesar de não ter podido falar com seu padrinho desde a estranha reunião que Dumbledore realizara no esconderijo dele e de Lupin, o garoto tinha certeza de que seu padrinho resgatara o coração da bela professora.

_ Então...a Festa é daqui a três dias...já convidou alguém? - perguntou Rony, enquanto ele e Harry copiavam a matéria de Adivinhação.

Harry ainda não havia criado coragem para convidar Cho, mas sabia que teria que fazê-lo.

_ Não...e você? Pensou em alguém? - disse, enquanto a professora Sibila explicava a importância da Quiromancia.

_ Bem...pensei em convidar Mione... - falou Rony, com as orelhas muito vermelhas. Harry sentiu que seu coração despencava de uma altura considerável.

_ Não...quero dizer...será que ela vai querer ir com você? - disse, com a voz mais alta do que o habitual. Rony franziu o cenho, desconfiado:

_ E porquê ela não iria comigo? - perguntou.

Harry engoliu em seco.

_ Bem...você sabe...no ano passado, ela foi uma das suas últimas opções... - falou, sem acreditar no que dizia.

Rony desfez os vincos na testa e concordou.

_ É verdade...mas, quem sabe assim eu possa me desculpar com ela. - falou, sorrindo, e Harry sentiu um aperto no coração.

Depois que saíram da aula de Adivinhação, Harry pensou em resolver logo o problema de convidar Cho. Despediu-se de Rony e correu até o campo de quadribol, porque sabia que a Corvinal treinava nas quartas pela manhã. Além disso, tinha certeza de que a garota estaria sem as suas muitas amigas.

O coração de Harry bateu apressado enquanto ele observava Cho fazer vôos rasantes com a vassoura, treinando com o restante do time.

_ Harry! - gritou ela, quando avistou o garoto.

Harry acenou para ela e pensou consigo mesmo o quanto ela era bonita, mesmo de tão alto.

_ Posso falar com você? - berrou Harry, enquanto a menina voava em direção a ele.

_ Como você está? - falou, pousando suavemente no chão. Sorria, e suas bochechas estavam ligeiramente coradas.

- Bem... - começou Harry, sentindo seu estômago afundar - ...tudo bem...Cho eu...eu queria saber se você já foi convidada para a Festa do Dia das Bruxas...

A menina abriu um largo sorriso e ensaiou uma risada.

_ Harry... - falou, sorrindo amavelmente para o menino - ...você não precisa ter um par para ir a uma Festa do Dia das Bruxas...vamos nos encontrar lá...

Harry sentiu que seu rosto ardia, e seu estômago começou a dar voltas.

_ Oh, é claro...que cabeça, a minha...eu só...só gostaria de saber se você vai estar lá mesmo... - falou, tentando consertar sua gafe.

_ É claro que sim...irei a Festa e depois ficarei para a comemoração especial que Dumbledore falou...você sabe, apenas alunos do quarto ano para cima. - falou, com uma cara de estranheza.

Harry sorriu, sem graça, e se despediu. Sentia-se o maior tonto de Hogwarts.


_ Ei, que tal descermos logo? Estou morto de fome! - disse Rony, ajeitando na frente do espelho a gola das vestes novas que ganhara dos gêmeos.

_ Já vou...espera aí... - respondeu Harry, que decididamente se achava muito estranho dentro daquele traje de festas. Precisara ajustar com Madame Malkin as vestes que a Sra. Weasley lhe comprara no ano anterior, e agora a costura estava lhe fazendo cócegas no pescoço.

_ Ainda bem que você me avisou a respeito de convidar alguém para a Festa! - falou Rony, rindo - Eu não gostaria de fazer papel de bobo na frente de Mione, para ela depois ficar por aí espalhando! - Harry sorriu amarelo, intimamente lamentando-se, porque fizera papel de bobo na frente de Cho.

_ Estou pronto - disse - Vamos descer.

Os dois meninos saíram sozinhos do dormitório masculino, porque Dino, Neville e Simas já haviam descido.

_ Vamos...esperar as garotas? - falou Rony, e Harry achou muito estranho o amigo falar "garotas".

_ Por mim...mas você não disse que estava com fome? - perguntou Harry, surpreso, mas sentindo que ele mesmo queria também "esperar as garotas".

_ Eu...acho que a fome passou um pouco... - disse Rony, sorrindo e desviando o olhar.

Nesse momento, a porta do dormitório feminino se abriu e, entre risadinhas alegres, os dois rapazes viram que "as garotas" estavam prontas para descer.

Gina vinha na frente, sorrindo, e Harry decididamente reparou que ela não era mais a garotinha que ele salvara de Tom Riddle no seu segundo ano. Estava diferente, com os cabelos longos e flamejantes encaracolados nas pontas. Vestia um traje escuro e simples, porém bonito, que realçava sua pele branca. Harry sorriu, um tanto desconcertado, e reparou que Hermione e Lilá vinham atrás de Gina. Hermione sorriu para eles, e Harry sentiu seu coração parar.

Hermione estava realmente muito bonita.

Vestia um traje longo, verde claro e diáfano, que deixava um de seus ombros a mostra. Seus cabelos também estavam diferentes, muito lisos e brilhantes.

_ Ei, estavam nos esperando? - falou Hermione, sorrindo. Harry tentou falar, mas foi Rony quem respondeu.

_ Ham...isto é...acho que estávamos...não seria de bom tom que as garotas da Grifinória andassem por aí sozinhas... - falou Rony, improvisando, mas Harry percebeu que a intenção do amigo fora mesmo a de esperar as "garotas da Grifinória", e as "garotas da Grifinória" resumiam-se em...

_ Mione...como você está bonita - a voz de Neville soou atrás deles.

_ Oh...obrigada, Neville...seu rosto está bem melhor, também...- falou Hermione, enquanto Neville corava.

Dominara a técnica de fazer a barba sem se cortar há pouco menos de uma semana.

_ Ei, e eu? - perguntou Lilá, colocando as mãos na cintura.

_ Você também está bonita...muito bonita...- Rony falou, cutucando disfarçadamente Harry com o cotovelo.

_ Ah...você está muito bem, Lilá...onde está Parvati? - perguntou, tentando parecer natural.

_ Parvati foi se arrumar com sua irmã Padma. Vamos? - falou Hermione, dando o braço para Harry e ignorando o olhar surpreso de Rony. No instante em que a garota fez isso, Harry sentiu seu coração bater muito forte, e desejou poder estar sozinho com ela novamente.

Naquele ano, o salão principal estava muito mais animado que o habitual. Naturalmente, pensou Harry, seria por causa da Festa para os alunos mais velhos. Novamente, as longas mesas das casas foram substituídas por mesinhas circulares, e o banquete foi muito mais curto do que nos anos anteriores.

_ Vamos sentar ali? Falou Gina, apontando para uma mesa vazia.

_ Onde está Lilá? - perguntou Hermione, dando pela falta da menina.

_ Está com aquele pessoal da Lufa-Lufa, veja...ei...o que há com todas as garotas de Hogwarts? - disse Rony, olhando, surpreso, para as meninas que passavam por eles, sozinhas ou acompanhadas.

Harry sentou-se e começou a observar também.

_ Eu falei, Gina...eu falei...- sorriu Hermione, enquanto cruzava os braços sobre a mesa.

_ É verdade, Mione...ainda bem que viemos com o cabelo solto...- Harry observou melhor e viu então do que se tratava.

Praticamente todas as alunas de Hogwarts usavam um fio dourado nos cabelos trançados. Era a moda lançada pela professora Luna.

_ Que falta de criatividade! - disse Hermione, desdenhosa, e então Harry reparou que Luna não estava na mesa com os demais professores.

_ Onde será que ela está? - perguntou Rony, baixinho.

_ Eu não sei... - disse Harry, desejando sinceramente que a professora estivesse com Sirius. - Veja...Dumbledore vai falar.

O diretor erguia-se. Snape e McGonagall estavam ao seu lado, o professor de cara amarrada, nas habituais vestes negras, e McGonagall num vestido roxo antiqüíssimo. Hagrid acenou para eles.

_ Meus caros alunos - começou Dumbledore.

"Peço que desfrutem esta festa da melhor maneira possível. O jantar será servido e, logo após, a festa continuará para os demais alunos do quarto ano para cima. Ratnaj o odivres ajes euq!" - e, ao dizer isso, os pratos preencheram-se com as mais variadas iguarias. Rony e Harry atiraram-se com tudo no jantar, enquanto Hermione e Gina apenas beliscavam:

_ Não estamos com fome... - falou Gina, sorrindo, para Harry, e o garoto achou que, decididamente, as duas meninas estavam muito diferentes.

Terminado o banquete, os monitores começaram a conduzir os alunos do primeiro, segundo e terceiro ano para os dormitórios, e o salão foi ficando mais vazio. Os pratos simplesmente desapareceram das mesas, sendo substituídos por uma abóbora recortada, tendo no seu interior uma vela. A claridade que iluminava o salão foi, também, esmaecendo, e em pouco tempo só restavam as velas nas mesas dos alunos, que criavam um efeito bem interessante de sombras e luz.

_ O que será que vai acontecer? - perguntou Neville, que também sentara-se com eles, e apontava para um lado do salão. Harry e Rony olharam, surpresos, e viram Nick Quase-Sem-Cabeça e mais uma dezena de fantasmas aprontando-se.

_ Será que eles vão encenar alguma peça? - considerou Rony.

_ Acho que não, Rony - falou Hermione - veja...eles tem instrumentos. - apontou Hermione. Realmente, Nick e seus demais amigos fantasmas estavam munidos dos mais diversos instrumentos: rabecas, cítaras, flautas e até um piano...mas também haviam serrotes, garrafas, xícaras e talheres. Nick acenou e veio flutuando até eles:

_ Olá senhores e senhoritas! - estava muito animado - Dentro em pouco nossa orquestra vai se apresentar!

_ Você canta em uma orquestra, Nick? Eu não sabia! - exclamou Harry, surpreso.
_ Não exatamente, Harry - continuou, desfazendo o sorriso - ...na realidade eu toco cítara...você não sabe, mas eu tive um tio que era menestrel...bem...minha mãe obrigou-me a aprender a tocar cítara quando eu era jovem, porque, porque...

_ Porque? - encorajou Hermione.

_ Bem...porque talvez, se eu não tivesse muito sucesso como nobre, eu poderia andar por aí de cidade em cidade procurando algum cavaleiro que me deixasse cantar ao seu lado, só isso.... - falou, sorrindo sem graça - essa noite, iremos apresentar diversos números...a Dama Cinzenta cantará, e até a Murta-que-geme concordou em participar...bem...até mais! - disse, afastando-se.

_ Até mais! - falou Rony, sorrindo. - Uau, eu quero mesmo ouvir essa orquestra!

_ Vamos até o banheiro? - perguntou Hermione para Gina.

_ Vamos. - e as duas se foram, deixando Harry, Rony e Neville sozinhos na mesa.

_ Onde será que a professora Luna está, Harry? - perguntou Rony - Será que está com...

_ Acho que sim...espero que sim... - falou Harry, sorrindo. - Veja a cara do Snape.

Sentado na mesa dos professores, Snape tinha a cara mais azeda impossível, e Harry perguntava-se intimamente como a bela professora Luna pudera beijá-lo...então, Dumbledore ergueu-se e anunciou que a orquestra de Nick iria começar a tocar em breves momentos.

_ Rony...Mione e Gina estão demorando...acho que vou chamá-las para que não percam o início do concerto... - falou Harry, levantando-se rapidamente para não dar a Rony oportunidade de resposta. Queria dar uma boa olhada no salão para ver se avistava Cho. A garota estava conversando com suas amigas da Corvinal, e sorriu quando Harry passou por ela. Estava muito bonita, num traje cinza, e seus cabelos estavam arrumados num penteado alto e diferente. Assim como Hermione e Gina, não usava o fio dourado entremeado aos cabelos.

Harry caminhou sorrindo até os corredores que davam acesso aos banheiros, trombando com Malfoy, que vinha sozinho:

_ Potter! Olhe por onde anda! - e empurrou Harry para o lado. Parecia muito aborrecido, e Harry especulou sobre o que teria acontecido.

_ Mione? Gina?- chamou, baixinho, na porta do banheiro, exatamente o mesmo onde ele e Rony haviam enfrentado o trasgo, no primeiro ano deles em Hogwarts. Não houve resposta. "Vai ver elas já foram", pensou, mas, quando virava-se para sair, pressentiu que alguém dobrava o corredor. Em uma fração de segundos, decidiu que não seria interessante ser visto por quem quer que fosse na porta de uma banheiro feminino, como se estivesse saindo dele, e resolveu entrar em um dos boxes e subir no vaso sanitário. Seus reflexos eram muito rápidos, e ele conseguiu fechar a porta sem que as garotas que entravam percebessem que havia mais alguém além delas no banheiro:

_ EU NÃO ACREDITO! - falou com uma voz esganiçada Pansy Parkinson.

_Calma, Pansy... - consolou a voz de Emília Bulstrode - ela deve ter usado alguma poção, sei lá...vamos entregá-la para o professor Snape e....

_ CALE A BOCA, EMÍLIA! Ou você viu a Rita Skeeter por aí? - falou Pansy, abrindo a torneira.

Harry achou a conversa muito estranha, mas estava decididamente interessante.

_ Também...você praticamente se oferecendo...francamente, Pansy...nenhum menino gosta disso...- continuou Emília.

_ Você... não....está...ajudando...muito... - e caiu no choro. - ...e aquilo que ele falou...aquilo que ele falou... - balbuciava Pansy.

_ Você ouviu o que ele falou: "Eu não quero nada com você, Pansy...você nem ao menos sabe se arrumar direito! Olhe só para a Granger! Até a Weasley está mais bonita do que você! Francamente, uma sangue ruim e uma pobretona!" - terminou Emília, e Harry percebeu que ela não estava ajudando ou consolando Pansy Parkinson nem um pouco ao dizer aquilo.

_ NÃO FIQUE ME LEMBRANDO O QUE ELE FALOU! - disse Pansy, assoando o nariz com papel higiênico.

_ Tudo bem, tudo bem...vai ver ele gosta dela e...

PÁ! Harry percebeu que Pansy Parkinson acertara um tapa em Emília Bulstrode.

_ Meu nariz! Você vai ver! - esganiçou-se Emília, e Harry podia ouvir agora as duas meninas rolando no chão e, pelos gritos, Pansy Parkinson levava a pior. Logo, outros passos assomaram a porta, e Harry ficou receoso de ser descoberto. Seria uma situação muitíssimo constrangedora ser visto no banheiro feminino.

_ O que está havendo aqui? - a voz da professora Luna chegou aos seus ouvidos, e as duas meninas pararam imediatamente de brigar. _ Bulstrode! Parkinson! Olhem o estado lastimável que estão as suas vestes! Bulstrode, seu nariz! Vamos! Vou chamar imediatamente o professor Snape.

_ O quê...n-não...vamos perder a ... - tentou argumentar Pansy, mas foi interrompida pela professora Luna:

_ A-GO-RA. Katie, por favor, chame o professor Snape.

Harry engoliu em seco. Sabia que, se fosse encontrado por Snape ali, o professor faria questão de envolvê-lo na briga das duas meninas.

_ Porque estavam brigando? - Luna perguntou, com seu sotaque espanhol levemente acentuado.

_ Granger! Hermione Granger é a culpada de tudo! - falou Pansy, despeitada, e Harry não compreendia o que

Hermione teria haver com tudo aquilo.

_ Vocês duas estão muito encrencadas...e eu não vejo Hermione Granger aqui. - falou a professora Luna, calmamente.

Snape chegou em seguida e Harry pode ouvir sua voz soar muito fria e cortante:

_ O que está havendo? - perguntou.

_ Professor...professor - começou Emília, numa voz muito trêmula, e Harry teve certeza de que Snape conseguia amedrontar os alunos da sua própria Casa - foi Hermione Granger, ela...ela...deu em cima de Draco Malfoy, é isso...e Pansy é a namorada de Draco e...e...e Pansy veio para cá arrasada com isso. - Harry crispou os punhos com raiva: sabia que Hermione jamais daria em cima de Malfoy, e escutara claramente que Pansy oferecera-se para o garoto.

_ Hum...Granger está envolvida? Sugiro uma detenção para as três, então... - começou Snape, e Harry pode imaginar o professor com sua cara muito branca, nariz de gancho e pele macilenta sorrir muito desagradavelmente.

_ Não diga tolices, Severo! - falou a professora Luna, zangada - Você vê Hermione aqui? Ela estava envolvida na briga? Estou muito mais certa de afirmar que foi Draco Malfoy quem deu em cima dela! - terminou, e Harry compreendeu tudo, mas não queria acreditar. Fora por isso que Malfoy trombara com ele próximo ao banheiro, e por isso o menino estava tão aborrecido: fora desprezado.

Pansy recomeçou a chorar, e Harry considerou que a Murta-que-geme era menos desagradável.

_ Bulstrode e Parkinson...detenção na ala hospitalar, agora.- falou Snape, numa voz contrafeita, e Harry teve certeza de que as duas sonserinas foram mandadas para a detenção somente para impressionar a professora Luna. - E podem ficar por lá para ajudar Madame Pomfrey.

As duas meninas saíram, xingando uma a outra e Snape e Luna ficaram sozinhos.

_ Bem...era só isso...então...como está o seu amigo foragido? - perguntou Snape, numa voz carregada de sarcasmo.

_ Porque você quer saber? - vociferou a professora Luna. - Está pensando em ir visitá-lo? - parecia muito contrariada.

Harry então ouviu Snape caminhar lentamente:

_ Sinto muito importuná-la...mas avise-me quando for mudar-se para o esconderijo do seu antigo namorado... - falou Snape, num tom de zombaria.

PÁ!

Era o segundo tapa que Harry ouvia em menos de vinte minutos.

_ Porque você tem que ser sempre tão desagrádavel, Severo? - falou a professora, com uma voz descontrolada, e desandou a chorar.

Após um breve momento, Harry ouviu os passos do professor afastando-se no corredor. A professora Luna chorava, pronunciando palavras em espanhol, mas decididamente seu choro era muito mais agradável do que o de Pansy Parkinson. Depois de alguns minutos, ela se recompos e caminhou lentamente pelo corredor. O banheiro estava vazio. Harry desceu do vaso sanitário e abriu a porta com cautela. Tudo limpo.

_ Harry? o que você está fazendo aqui? - Hermione surpreendeu-o quando o garoto chegava a porta. Tremia muito levemente.

_ Mione! Hum...o que houve com você? - perguntou, surpreso.

_ Vamos sair daqui, precisamos conversar.- falou Hermione, puxando Harry por um braço.

_ Mione...- começou Harry, quando chegaram no corredor - ...eu ouvi Pansy Parkinson e Emília Bulstrode falarem umas coisas sobre você e Malfoy...

_ Eu não quero saber como você ouviu o que elas falaram, Harry. - interrompeu Hermione, um pouco zangada - Não sabia que espionar garotas dentro de um banheiro era coisa que você fizesse!

Então, as mesmas sensações estranhas que assaltaram Harry no túnel voltaram com toda a força, mas o menino não teve coragem de se aproximar de Hermione.

_ Mione... - falou, pegando na mão da amiga - ...eu...

_ Harry...- recomeçou ela, mais calma - ...não vou dizer a você o que Malfoy queria comigo. Ponto final. Vamos voltar para o salão agora?

Mas Harry continuou segurando a mão da menina.

_ Você está muito bonita...eu só queria que você soubesse disso... - falou, desviando o olhar e soltando a mão de Hermione. A garota sorriu, sem jeito, e fez um afago no rosto de Harry:

_ Eu também queria dizer uma coisa a você...- começou ela - ...eu não fiquei zangada por você ter me beijado lá no túnel...eu...eu...eu gostei...gostei muito...mas acho que deveríamos ser somente amigos...

Harry olhou para ela e sorriu também. Seu coração batia muito forte, e sentia a dor intensa e boa percorrer-lhe novamente o baixo ventre. Hermione também parecia respirar com dificuldade, e Harry reparou que seu peito subia e descia como se ela tivesse feito exercícios físicos.

_ Mione...- começou Harry, enlaçando a garota pela cintura, mas ela foi mais rápida e afastou-se bruscamente.

_ Vamos, agora...- falou, puxando Harry pela mão. Os dois voltaram para o salão principal, que estava muito animado: a orquestra de Nick tocava uma música agitada e alegre, misturando o som das rabecas com o dos talheres, enquanto que muitos alunos e alunas dançavam no centro do salão. Hagrid bebia cerveja amanteigada com a professora Sprout, e os dois riam muito, enquanto Dumbledore dançava com a professora Sinistra.

_ Onde vocês estavam? - berrou Rony, com um copo de vinho de abóbora na mão.

_ Depois eu falo para você! - respondeu Harry, sentando-se. Hermione sentara-se ao lado de Gina e as duas cochichavam.

_ Veja a cara do Malfoy! - apontou Rony, e Harry viu que, de uma mesa próxima, Draco encarava Hermione com desprezo. - Porque será que ele está com aquela cara?

Harry deu de ombros. Estava sentindo-se novamente muito mal por causa de Hermione.

_ Vou buscar uma cerveja amanteigada, você quer? - falou, levantando-se, enquanto Rony negava com a cabeça, apontando para o vinho de abóbora:

_ Isto é muito melhor, experimente! - e Harry achou que o amigo já estava bastante alegre.

Harry caminhou pelo meio do salão, trombando aqui e ali com os dançarinos, e finalmente pode alcançar a barrica de vinho de abóbora. Uma garota da Lufa-lufa estava servindo, e deu uma piscadela muito suspeita quando estendeu um caneco para o garoto. Harry sorriu, sem graça, e bebericou um pouco do vinho de abóbora.

_ Hum...bom... - falou para si mesmo, entornando o restante de um gole só. Tinha um sabor levemente adocicado no começo e denso no final. Encheu mais um caneco e virou-se para voltar, escolhendo um caminho onde não houvessem pessoas com as quais pudesse trombar, o que seria extremamente desastroso.

_ E então, gostou? - berrou Rony, sorrindo.

_ É muito bom, mas ainda prefiro cerveja amanteigada! - falou Harry, sem estar muito certo de que o amigo o ouvira. _ Onde estão Mione e Gina?

_ Mione foi ao banheiro de novo, eu acho. - respondeu Rony, que mais compreendera quando Harry lhe apontou os lugares vazios antes ocupados pelas duas meninas.- Veja o Neville!

Harry olhou na direção que o amigo apontara e viu Neville Longbotton dançando animadamente com Gina, que parecia um pouco relutante em se deixar levar pelo amigo. Sorrindo, Harry sentou-se ao lado de Rony.

_ Você vai tirar alguém para dançar? - berrou para o amigo, mas Rony parecia muito mais interessado no vinho de abóbora. Fred e Jorge apareceram também, meio que carregando Lino Jordan:

_ Bebeu demais - falou Fred, colocando o garoto em uma cadeira.

_ Muito vinho de abóbora - disse Jorge, tirando o caneco da mão de Rony, que começou a protestar.

Rindo muito, Harry olhou para o lado onde Draco estivera sentado e viu que o lugar também estava vazio. Apenas Crabbe e Goyle ainda permaneciam lá, entornando canecos de vinho. A suspeita de que Draco tivesse saído atrás de Hermione martelou dentro da sua cabeça com muita força.

_ Vou pegar uma cerveja amanteigada, está bem? - disse Harry, levantando-se depressa. Queria, na realidade, uma desculpa para ir ao jardim procurar Hermione. De repente, começava a preocupar-se muito com o que Draco poderia querer com a menina. Caminhou depressa pelo salão, apanhou uma garrafa de cerveja amanteigada e saiu para o jardim. Apesar da leve aragem que soprava no pátio externo de Hogwarts, haviam muitos alunos lá fora.

Harry caminhou por entre os passeios ajardinados e procurou Hermione avidamente por cerca de vinte minutos. Começava a ficar cheio de maus pressentimentos e então, próximo a cabana de Hagrid, ouviu a voz da professora Luna:

_ Eu sinto muito...não posso...simplesmente...não posso. Por favor...faça o que pedi... - e saiu do meio das folhagens correndo em direção ao lago. Harry nunca a havia visto tão bela, seus longos cabelos brilhavam como seda, e estava vestindo um traje longo e vermelho. Ficou observando a professora, um tanto quanto bestificado, tentando compreender o pouco que ouvira. De quem ela fugia? Só poderia ser de Snape. O professor tinha o condão de afastar as pessoas da sua volta, e Harry trincou os dentes com raiva lembrando-se das muitas vezes em que vira ou ouvira Snape humilhando a professora. Bem, havia sido esbofeteado, e isso fora ótimo, mas Harry sabia que palavras como "incompetência" deveriam ser muito ofensivas para uma mulher como Luna.

_ Não, Malfoy...não! Eu já disse antes a você! - Harry virou-se, surpreso, e deparou-se com Hermione, que caminhava com Draco às suas costas. A garota estacou quando o viu, e fez um ligeiro sinal para que ele se escondesse nas sombras. Um sentimento estranho de ciúme e raiva apoderou-se do garoto, mas ele conteve-se.

_ É a melhor coisa que você poderá ter, Granger! - falou Draco, exasperado, parando a alguns passos de Hermione, sem notar Harry. - Considere melhor!

_ Você não sabe nada de mim, Malfoy. - falou Hermione, calmamente. Harry resolveu sair das sombras e encarar Draco.

_ O que foi, Malfoy? O que você quer com Hermione? - disse Harry, sentindo muita raiva. De repente, começava a entender tudo.

_ Ah...Potter...você nunca me surpreende...sempre ouvindo por detrás das portas, bisbilhotando... - falou Draco, sorrindo cinicamente, e Harry levou a mão a varinha.

_ Harry...- começou Hermione - ...eu já terminei minha conversa com Malfoy...

_ Não me importa! Ele está querendo alguma coisa com você! - gritou Harry, furioso, e apanhou a varinha. Pela sua cabeça, passavam os piores feitiços que poderia lançar em alguém, mas...

_ Expelliarmus! A varinha de Harry voou para a mão de Snape.

_ Professor! - falou Hermione, virando-se, surpresa. Harry e Draco olharam também. Nenhum dos três havia percebido que o professor também estava por ali.

_ Dez pontos a menos para a Grifinória por esta tentativa de atacar um aluno da Sonserina, Potter. - falou Snape, numa voz fria. - Agora, expliquem-se!

Draco encarou friamente Hermione e a garota falou, olhando para o chão:

_ Bem...Malfoy...e...e eu... - começou, insegura.

_ O quê? - interrompeu Harry, surpreso, olhando de Hermione para Draco.

_ Ora, ora, ora...- falou Snape, sorrindo desagradavelmente - Você está com ciúmes, Potter?

Harry encarou Hermione e Draco, mas não podia acreditar. Havia algo que não se encaixava na história. Então, do meio das folhagens, um grande cão negro veio calmamente caminhando na direção deles e sentou-se ao lado de Harry. Snape olhou com muita raiva para Sirius, e, entregando a varinha para Harry, encarou Hermione e Draco:

_ Vocês dois...podem continuar passeando...Potter não irá interrompê-los...- falou, desviando os olhos para Sirius.

_ Mas professor, nós... - começou Hermione, num tom nervoso.

_ Agora, Senhorita Granger. - falou o professor, em seu tom de voz mais letal - ou serão cinqüenta pontos a menos para a Grifinória. Hermione não teve outra saída e virou-se, furiosa, caminhando em direção ao castelo. Draco seguiu atrás, e Harry ainda pode ouví-los discutindo. Sirius tornou à forma de homem e encarou Snape, abatido.

_ Você não deveria ter feito isso. - falou, um tanto desanimado, para Snape. O professor o observou com muita desconfiança:

_ E você não deveria perambular pelo castelo...acho que o diretor vai gostar de saber disso...- disse Snape, com uma voz perigosa.

_ Escute...- começou Sirius -...não quero brigar com você hoje...Luna...

_O que tem ela? - interrompeu Snape, num tom de voz preocupado.

_ Ela vai embora. - terminou Sirius, desviando o olhar. Harry estava surpreso. - Vai embora amanhã. Já falou com Dumbledore.

Os três ficaram em silêncio por alguns minutos. Muitos pensamentos confusos passaram pela mente de Harry naquele momento.

_ É melhor mesmo que ela vá embora. - concluiu Snape, numa voz rancorosa.

Sirius então ergueu o olhar e avançou para Snape, segurou o professor pelos ombros e o sacudiu com raiva. Harry acompanhava a cena, mudo de surpresa:

_ Acorde, homem! Deixe o orgulho de lado! Nenhum de nós quer que ela vá embora! - e largou Snape, que afastou-se, parecendo considerar o que Sirius lhe dissera.

_ Onde ela está? - perguntou o professor, após breves segundos de reflexão.
Sirius encarou Snape com olhos que expressam muito mais do que ciúme, raiva, tristeza ou mesmo decepção.

_ Acho que ela ainda está na beira do lago. - falou Sirius, finalmente, e Snape virou-se, caminhando apressado em direção ao lago. Sirius começou a rir, baixinho. Harry não conseguia compreender o que estava acontecendo.

_ O que...o que foi, Sirius? Eu não acredito no que você fez! - falou Harry, estupefato - porque você fez isso? Porque você ajudou Snape?

Sirius sentou-se, ainda rindo, e fez sinal para que Harry sentasse também:

_ Isso é para você. - falou, entregando ao afilhado um envelope. - foi Luna quem pediu para que lhe entregasse. Abra depois.

Harry apanhou o envelope com surpresa e o guardou nas vestes.

_ Você tem uma cerveja amanteigada aí? - perguntou Sirius, e Harry estendeu para o padrinho a garrafa que trouxera do salão.

_ Muito bem, Sirius...o que aconteceu? E sobre Hermione...ela e...e Malfoy... - começou Harry, e Sirius ria baixinho, sorvendo um gole de cerveja.

_ Harry... - falou, calmo - ...não é nada do que você está pensando...eu os vi conversando antes, e sei bem o que Malfoy quer com Hermione...

_ E o que ele quer? - perguntou Harry, sentindo raiva e ciúme ao mesmo tempo.

_ Ele quer atrair Hermione para Voldemort. - falou, com clareza.

Harry abriu e fechou a boca, surpreso:

_ Mas...mas...Mione nasceu trouxa...isto é...Malfoy fica o tempo inteiro chamando-a de sangue-ruim e... - começou, sem entender muito bem o que o padrinho falara.

_ Harry - virou-se para ele Sirius - preste bem atenção ao que eu vou lhe falar: Voldemort não se importa, realmente, com a pureza do sangue. Ele mesmo é mestiço, e o que lhe interessa é o potencial que cada bruxo ou bruxa pode lhe oferecer.

_ Então Mione e Malfoy...- recomeçou Harry.

_ Não, Harry, não. Você está agindo como eu...um tolo ciumento...Malfoy deve ter sido incumbido pelo pai para se aproximar de Hermione...Rabicho pode ter visto o beijo de vocês no túnel, e agora Lúcio Malfoy sabe que a garota é importante para você...mas Hermione é muito inteligente também, e isso interessa, e muito para Voldemort... muitos bruxos como ela foram para o lado das trevas....veja Severo Snape...- terminou, um tanto amargurado.

Harry estava surpreso, mas agora via as coisas de uma maneira diferente. Sirius bebeu outro gole de cerveja e passou a garrafa para Harry:

_ Sirius... - começou Harry - ...e...e quanto a Luna?

Sirius sorriu, olhando para o céu estrelado.

_ Acho Harry...- falou, após alguns minutos - ...sinceramente acho...que...que entre eu e ela...que é o começo de uma bela amizade...

Então, Harry compreendeu tudo. Luna amava mesmo...

_ ...Snape? Como ela pode? - perguntou Harry, chocado.

_ Não sei, Harry...- disse, sorrindo, Sirius - ...o coração das pessoas funciona de uma maneira muito estranha... mas eu não quero que ela vá embora....e nem ela quer...agora, espero que Snape faça a coisa certa...ei, tem alguém ali... - terminou, apontando para uma garota que saía do castelo. - Você conhece?

Harry olhou na direção que seu padrinho apontara e viu que se tratava de Cho Chang.

_ É Cho...Cho Chang. - falou, um tanto inseguro.

_ Porque você não vai falar com ela? veja...ela está sozinha - sorriu Sirius, tomando mais um gole de cerveja amanteigada.

Harry corou violentamente mas levantou-se, decidido.

_ Cuide-se... - falou para o padrinho. Rapidamente, deu a volta por onde estavam e aproximou-se de Cho. A garota estava parada sob um poste de luz, e virou-se surpresa para o garoto:

_ Harry...como você está? - falou, sorrindo. Harry sentiu seu estômago dar voltas, mas uma estranha vontade de conversar com a garota o impelia. Sua cabeça também girava um pouco, e - apesar das novidades que soubera há poucos minutos sobre Malfoy, Luna, Snape, Sirius e Hermione - ele estava sentindo os efeitos do vinho de abóbora e da cerveja amanteigada. Estava ficando um tanto...alegre:

_ Você...quer dar uma volta por aí? - perguntou, duvidando da própria coragem.

_ É claro...deixe-me apanhar meu casaco lá no salão... - falou Cho, e Harry sentiu-se muito feliz. Quando a garota virou-se para voltar, Harry lembrou-se do envelope que Sirius lhe dera. Apanhou-o nas vestes e trouxe-o à claridade da luz do poste:

Querido Harry

Desculpe não entregar isto para você pessoalmente, mas achei que seu padrinho seria a melhor pessoa para fazê-lo.
Luna

Surpreso e desconfiado, Harry abriu o envelope.

Era outra fotografia. No entanto, aquela era uma fotografia que ele nunca esperaria ver na vida.

Nela, Lílian, Luna e Snape acenavam, sorrindo, de algum lugar que parecia ser as arquibancadas do campo de quadribol. Tinham, no máximo, treze ou catorze anos, e pareciam muito felizes.

Realmente, a amizade é uma coisa muito estranha...pensou, enquanto Cho retornava vestindo um casaco e Hermione observava, sorrindo, nos portões do castelo.

 

FIM.


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