Harry
Potter e a Filha do Auror
by
Talita Teixeira
Capítulo 5 ~ O incidente no telhado
Harry
acordou, no dia do seu aniversário, abrindo a janela para uma bela e
radiosa manhã de céu muito limpo.
_
Feliz Aniversário para mim... - cantarolou baixinho, já acostumado
a ser solenemente esquecido pelos Dursley. Esperou tio Válter destrancar
a porta e desceu para tomar café. Duda ainda dormia.
_
Tome seu café de uma vez, Harry! Vamos consertar ainda hoje o telhado!
Harry
olhou despreocupado para o tio. Sabia que "vamos" era demais, pois
o telhado não suportaria o peso de tio Válter, e ele certamente
atravessaria o sótão e o segundo andar antes de poder gritar por
socorro. Quem teria que fazer o serviço todo era Harry, e talvez só
por isso o tio o chamasse pelo nome. Quando Harry acabou de tomar café,
tio Válter apanhou na despensa a maior escada que possuía, e os
dois foram avaliar os estragos no telhado. Tio Válter encostou-a na parede
da casa e ainda assim Harry precisaria dar um impulso para cima para poder subir.
_
Oito telhas quebradas! Três estão fora do lugar! - Harry equilibrava-se
com cuidado enquanto gritava para o tio a extensão dos estragos.
_
OK, fique parado aí e não faça nenhuma idiotice, enquanto
vou buscar as telhas que faltam! - tio Válter gritou-lhe lá de
baixo antes de entrar no depósito.
Harry
sentou-se com as costas apoiadas na chaminé. O vento batia ligeiramente
no seu rosto, lembrando-lhe com saudade dos vôos na sua Firebolt.
_
Pegue! - Harry precisava equilibrar-se na beirada da casa para alcançar
as telhas que o tio lhe jogava. Uma a uma, foi ajeitando o telhado, e até
tio Válter parecia contente com o serviço:
_
Pelo menos alguma coisa esse menino vai poder fazer quando crescer!
Foi
na última telha que tio Válter lhe jogou que ocorreu o incidente.
Harry
sentiu que algo passara velozmente pela sua orelha esquerda quando um horrível
grito de dor veio lá de baixo. Um balaço de quadribol acertou
em cheio o nariz de tio Válter, fazendo-o espirrar sangue para todos
os lados. Enquanto o tio corria para dentro de casa, chamando aos berros pela
mulher, Harry conseguiu se desviar do balaço, que retornava enraivecido.
Seus reflexos de apanhador lhe valeram mais uma vez, e ele mergulhou atrás
da chaminé.
BAM!
Outro
balaço, ainda mais feroz do que o primeiro, acertou-lhe a nuca. Harry
rolou desajeitado pela parte de trás da casa, justamente onde a distância
entre o chão e o telhado eram maiores. Agarrou-se na calha da casa no
último minuto, ainda a tempo de ver a Sra. Figgs acompanhar a cena escorada
no muro sem sequer piscar. Ficou ainda pendurado por uns dez segundos, antes
de a calha resolver ceder ao seu peso:
_
Não, não, por favor....- Harry olhava do chão para a calha,
e desta para o chão. Pelo menos uns oito metros o separavam dos jardins
onde tia Petúnia cultivava belas tulipas coloridas que tiraram o primeiro
prêmio no Clube de Mães de Smeltings. Se não se arrebentasse
muito na queda, certamente a tia terminaria o serviço. Um a um, os pregos
que seguravam a calha foram cedendo, e Harry agora se inclinava perigosamente
para trás. Jogou o corpo um pouco para frente, e um medonho som metálico
indicava que a calha estava se separando definitivamente da casa. Harry tentou
erguer-se sobre a calha e voltar para o telhado, mas este já estava muito
afastado; ao mesmo tempo, tia Petúnia saiu gritando pela porta dos fundos,
acompanhada de um boquiaberto Duda:
_
Minhas tulipas premiadas! Você vai cair em cima das minhas tulipas premiadas!
Oh, minhas tulipas premiadas! Veja, Sra. Figgs, o que este infeliz vai fazer
com as minhas tulipas premiadas! - e, dizendo isso, agarrou com as mãos
ossudas o braço da Sra. Figgs.
Harry, que esticava-se ao máximo para alcançar o telhado, desequilibrou-se e caiu para frente, protegendo a cabeça com os braços.
_
Fratura em dois lugares, Petúnia, e cinco pontos na nuca. Olhe só
o que o menino conseguiu aprontar.
Tio
Válter jogou em cima da mesa as radiografias de Harry. Tinha um grande
esparadrapo branco cobrindo o narigão. Tia Petúnia apenas balbuciava
desolada:
_
Minhas tulipas...minhas pobres tulipas....
Tio
Válter olhou penalizado para a mulher. Seus olhinhos apertaram-se na
direção do sobrinho, que afundara-se acabrunhado numa poltrona.
_
Sinceramente, você é um tremendo mal agradecido, seu moleque. Depois
de tudo o que fizemos por você, me atacar e arruinar as tulipas da sua
tia...francamente! você bem que mereceu desabar daquele jeito!
Harry
olhou para o tio por cima dos óculos consertados com esparadrapo e encolheu-se
na poltrona. Como se não bastasse ter fraturado em dois lugares o braço
direito, o tio ainda o acusava de homicida. E o pior era que tinha que permanecer
com o gesso até chegarem em Hogwarts, pois não conhecia nenhum
médico bruxo além de Madame Pomfrey. Que belo presente de aniversário
tinham conseguido lhe dar! O que mais lhe intrigava era saber de onde vieram
aqueles dois balaços, que desapareceram assim que Harry se espatifou
no chão.
_
Suba, moleque! Saia da minha frente, agora! - era evidente que tio Válter
achava que Harry acertara-lhe o nariz com uma telha.
_
Tio Válter, não fui eu....
_
Cale-se, menino! - e tio Válter, vermelho como um tomate maduro, lhe
despejava uma saraivada de cuspe ao falar - Como se não bastasse responder
aquele questionário do serviço social! Que bela encrenca você
nos arrumou, hein!
Harry
achou melhor subir para o seu quarto. Apesar de estar um tanto deprimido com
o incidente, achou tremendamente engraçado o fato do tio ter-se aborrecido
ao ser entrevistado pela assistente social. Evidentemente, o tio não
conseguia explicar o fato de um garoto de quinze anos incompletos ser obrigado
a subir no telhado, arriscando quebrar o pescoço.
Suspirando, Harry sentou-se na cama. Havia tomado alguns analgésicos e estava um tanto sonolento. O pior era o gesso, que vinha do alto do ombro até o meio da sua mão direita, dobrando-se no cotovelo. O corte na nuca incomodava-lhe também. Além disso, perderam metade do dia no hospital, pois tio Válter não convencera-se de que o acidente fora grave e só quando viu o braço de Harry tão inchado quanto uma mangueira de bombeiro é que dignou-se a levar o sobrinho ao centro de fraturas. O estômago de Harry roncou alto e ele lembrou-se das frutas secas que Sirius lhe enviara. Depois que comeu, achou melhor deitar-se, até porque os Dursley deixaram bem claro que o queriam fora do seu caminho pelo resto da semana.
Harry
demorou alguns dias para poder acostumar-se com o gesso. Não podia tomar
banho direito nem escrever, pois era destro. Lamentou-se amargamente por não
ter começado a redação de Snape antes, sabia que ele não
aceitaria suas desculpas. A parte boa era que Harry não precisava mais
ajudar tia Petúnia em coisa alguma, pois desde o acidente a tia mantinha-se
ainda em estado de choque por causa das suas tulipas premiadas.
A
semana escorreu lentamente, com Harry ingerindo analgésicos que minimizassem
a dor. O pior era que o gesso lhe incomodava tanto que ele mal podia dormir,
e seu braço coçava sem parar, deixando-o quase maluco. Finalmente,
a Quinta-feira chegou, e pontualmente às cinco horas da tarde o Sr. e
a Sra. Granger estacionaram o carro em frente à casa dos Dursley. Hermione
estava no banco de trás.
_
Harry! O que houve com o seu braço? - disse a menina, saltando para abraçar
o amigo.
Hermione
parecia um tanto formal na frente dos pais. Ela vestia-se como uma perfeita
adolescente trouxa, com jeans e camiseta justa. Harry achou que ela parecia
um tantinho diferente.
_
Depois eu conto, Mione. Olá Sra. Granger!
A
mãe de Hermione sorriu para ele. Harry achou-a bonita.
Enquanto
o Sr. Granger apressou-se para cumprimentar tio Válter, a Sra. Granger
procurou fazer o mesmo com tia Petúnia.
-
Que belo jardim que a senhora tem aqui! O que é isto, são begônias?
-
Margaridas. - tia Petúnia respondeu secamente.
Harry
achou que os Dursley poderiam se entender com os Granger, mas viu que seria
muito improvável que isto acontecesse.
Os Granger faziam o tipo de pessoas práticas, que não tinham muito
tempo para se interessar por jardinagem ou fofocas no quintal dos vizinhos.
Tio Válter ainda trocou duas palavrinhas com o Sr. Granger sobre o tempo,
e Duda espiava pelo vidro da janela.
_
Então aquele é o seu primo? - Mione apontou com os olhos para
Duda.
_
O próprio, em carne, ossos e banha.
Hermione
riu distraidamente e Harry achou que a mudança nos dentes fizera um bem
enorme à amiga.
Logo, o malão de Harry, que já estava pronto há dias, foi
colocado por tio Válter dentro do porta-malas do carro dos Granger. Edwiges
estava em sua gaiola, e Harry certificou-se mentalmente de não ter esquecido
de nada. Píchi há dias já havia voado de volta para A Toca.
_
Bem...então, até o ano que vem.
Tio
Válter deu um meio sorriso sem graça e gaguejou um cuide-se que
soou muito falso. Tia Petúnia levantou frouxamente a mão esquerda,
num tchau bastante fajuto. Harry acenou com a mão boa para o primo e
sentou-se no banco traseiro do carro ao lado de Hermione, enquanto o Sr. e a
Sra. Granger se despediam alegremente dos Dursley.
_
E então, Mione, como foram as suas férias?
_
Ah, foram muito boas! Sabia que Vítor Krum me escreveu?
Harry
sentiu uma pontinha de despeito.
_
Não...não sabia...pensei que você não quisesse nada
com ele...
_
Ora Harry - Mione fingiu estar brava - ainda podemos ser amigos, sabia?
Os Granger entraram no carro e Hermione fez um sinal de não-fale-nada -agora-sobre-isso-está-bem para Harry.
A
viagem até a casa de Hermione foi tranqüila, com os Granger fazendo
perguntas ocasionais sobre o acidente no telhado. Como o Sr. e a Sra. Granger
conversavam muito entre si, Harry pode falar a Hermione sobre as fotografias.
_
Hum...muito estranho....você tem essas fotografias aqui? Gostaria de poder
dar uma olhada nelas.
_
Claro, estão na mochila que Sirius me deu. - Harry apanhou na mochila
o álbum de fotografias - Veja, o garotinho está se escondendo!
Hermione
franziu a testa.
_
Não vejo garotinho nenhum!
_
Ele está escondido embaixo da cama. Acho que não quer ser visto
chorando.
Hermione
observou atentamente a fotografia, e então o menino levantou timidamente
a colcha da cama para esconder-se rapidamente em seguida.
_
Parece familiar, não acha?
_
Sim...eu gostaria de poder vê-lo melhor...coitadinho.....
Hermione
suspirou e Harry teve que concordar que era realmente uma cena muito triste.
Resolveu mostrar as outras fotos para a amiga, inclusive aquela que Lupin lhe
enviara.
_
Oh, Harry...veja o seu pai...que bonitinho que ele era......
Harry
enrubesceu. Olhou distraído para a paisagem. Hermione continuava observando
as outras fotografias.
_
Que estranho essas outras duas...não sabia que o Snape era popular....
_
Isso eu acho que ele nunca foi. Ele deve ter enfeitiçado a minha mãe
para participar do concurso, só pode. - Harry parecia levemente ultrajado
ao falar isso.
_
E quem será essa garota? Como ela é bonita!
Harry olhou mais uma vez para a fotografia onde Snape, Malfoy e Pettigrew apareciam
jovens e sorridentes.
Realmente, Hermione tinha razão: a menina da Corvinal era muito bonita.
Ele
rodaram por mais meia hora até chegarem na casa de Hermione. Era uma
casa branca bonita, sem grandes detalhes, que parecia ser bastante prática,
assim como seus moradores. Bichento os esperava sentado na soleira da porta.
_
Olá Bichento! - Harry cumprimentou.- o gato ronronou, preguiçoso,
e saltou para o jardim.
_
Venha Harry, vamos subir. Mamãe quer que eu prepare o seu quarto e o
de Rony antes do jantar.
Harry
acompanhou Hermione pela casa. Não poderia ajudar muito, com o braço
naquele estado, mas achou que a amiga queria ficar a sós com ele para
poderem conversar melhor.
_
É aqui! - Hermione apontou o arejado quarto de hóspedes no segundo
andar. - Rony e você vão dormir aqui. Gina ficará no quarto
comigo. Deixe-me apanhar as roupas de cama.
Harry
observou Hermione abrir um guarda-roupas e tirar de lá de dentro lençóis
e fronhas muito brancas. Hermione estava feliz, e Harry achou-a bonita assim.
Definitivamente, ela estava mudada.
Hermione,
Rony e Harry eram amigos desde o primeiro ano em Hogwarts. Eram inseparáveis,
e já haviam enfrentado muitas coisas juntos. No ano passado, quando todos
ficaram contra Harry - inclusive Rony - Mione permanecera ao seu lado. Está
bem, ser amigo de Rony era mais divertido, mas Mione era uma grande amiga, e
sem a sua ajuda ele não poderia jamais ter passado pelo Rabo Córneo
Húngaro, na sua primeira tarefa do torneio Tribruxo.
_
Deixe que eu ajudo.... - Harry puxou um lençol da mão da amiga.
Haviam duas camas no quarto.
_
Coloque então a fronha no travesseiro.
Harry
sentou-se para arrumar o travesseiro. Agora sentia-se muito inútil com
aquele seu braço imprestável.
_
Quando é que Rony e Gina vão chegar?
_
Hoje mesmo. Virão através da rede de Flu.
Harry
parou o que estava fazendo. Lembrava-se vivamente do incidente na lareira dos
Dursley.
_
Mione, seus pais sabem que eles vão sair da lareira?
_
É claro que sabem! - ela pareceu muito ofendida - eu tento explicar a
eles algumas coisas sobre o nosso mundo.
Harry
não achou isso muito prudente.
_
Você falou até sobre Voldemort e sobre mim?
Hermione
olhou-o com indignação:
_
É claro que não, Harry! Sabe, meus pais são pessoas modernas,
eles aceitam muitas coisas, mas não acho que preciso contar tudo para
eles!
Harry
sentiu-se um tanto infeliz.
_
Desculpe, Mione. É que a convivência com os Dursley me faz pensar
que todos os trouxas são realmente trouxas.
Hermione
desfez a cara de indignação e sentou-se ao lado de Harry, passando
um braço pelas costas do garoto. Harry paralisou-se por um instante.
_
Não se chateie, Harry, um dia você se livra deles - e, dizendo
isso, deu um sonoro beijo na bochecha do menino.- Ei, o que você tem aqui?
Harry
apalpou-se com a mão boa e imediatamente sentiu seu rosto queimar. Um
pêlo espetado e duro brotava de sua pele.
_
Harry, você tem barba! - Hermione sorria-lhe, divertida.
O
menino sentiu-se muitíssimo encabulado.
_
Ham...eu....não sei....
De
fato, até aquele momento, nunca havia reparado nisso antes. É
claro que, há mais ou menos um ano ou dois, seu corpo enchera-se de pêlos
nos mais estranhos lugares, mas Harry acostumara-se a isso. Agora, aquele fio
pontiagudo que ele apalpava definitivamente não estivera ali nas últimas
semanas.
Querendo
mudar de assunto, Harry começou a fingir que seu braço doía.
Hermione compadeceu-se dele:
_
Não se preocupe, Madame Pomfrey vai cuidar de você!
_
É, mas até lá vou ter que ficar com esse gesso malcheiroso,
a não ser que você conheça alguém que restaure ossos
em minutos aqui no mundo dos trouxas!
Hermione
acertou fracamente um travesseiro na cabeça de Harry.
_
Harry....eu gostaria de lhe entregar o seu presente de aniversário antes
que o Rony chegasse.
Harry olhou, surpreso, para a amiga:
_
Tudo bem...isto é...porque?
_
Você já vai ver - e, dizendo isso, entrou no quarto em frente ao
que estavam e voltou em menos de um minuto com um embrulho na mão.
_
O que é? - Harry perguntou, quando a garota entregou-lhe o embrulho.
_
Abra - Hermione deu-lhe um sorriso tímido.
Harry
rasgou o papel e deparou-se com uma goles de quadribol autografada.
_
Nossa...- dizia o menino, surpreso e feliz - como você conseguiu os autógrafos
do time da Bulgária inteiro ?!
Hermione enrubesceu.:
_
Eu não...isto é....escrevi a Vítor dizendo-lhe que eu era
muito fã de todo o time da Bulgária...e...e...ele...bem....me
mandou alguns presentes....
Harry
olhou, sorrindo, para Hermione. Sabia que a amiga tivera um ligeiro envolvimento
com Vítor Krum, o famoso apanhador do time da Bulgária, durante
a realização do torneio Tribruxo, no quarto ano deles em Hogwarts.
Harry sabia - confiando na palavra de Hermione - que nem ela, nem Vítor,
estavam namorando. Mas podiam ser amigos, é claro.
_
Não precisa ficar envergonhada, Hermi-o-ni-ni! - disse Harry, imitando
o jeito como Krum pronunciava o nome de Hermione.
Hermione,
rindo, atirou-lhe outro travesseiro, e os dois começaram uma divertida
guerra.
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