Poesias - Sonetos

VIVER
RAIMUNDO CORREIA

Viver! Eu sei que a alma chora
E a vida é só dor ingrata,
Pranto, que a não alivia,
Olhos, que o estão a verter...
Sofra o coração embora!
Sofra! Mas viva! Mas bata
Cheio, ao menos, da alegria
De viver, de viver!

ÚLTIMA ESPERANÇA
STECCHETTI
Trad. de Carlos Sá
- "Por que tanta tristeza e tanta dor?"
Ao coração eu perguntei um dia.
E ele, em resposta: - "Já morreu o amor".
Ao coração eu perguntei um dia:
- "Por que esperar se já morreu o amor?"
E ele: - "Sem esperança eu morreria".

O CORAÇÃO HUMANO
THÉOPHILE GAUTHIER
Trad. de Afonso Celso
O humano coração de olvido é cheio.
É qual
Uma águia que se agita e não guarda sinal.
A erva menos depressa entre os sepulcros cresce
Que n'alma um novo amor. A lágrima que desce
não precisa secar, para que o riso assome
Do coração no livro inscrevendo outro nome.


Poetas
Espaço reservado para
Notas Biográficas

Resumos Literários

Nótulas diversas
(*********)

 
TRIUNFO SUPREMO
CRUZ E SOUSA

Quem anda pelas lágrimas perdido,
Sonâmbulo dos trágicos flagelos,
É quem deixou para sempre esquecido
O mundo e os fúteis ouropéis mais belos!

É quem ficou do mundo redimido,
Expurgando dos vícios mais singelos
E disse a tudo o adeus indefinido
E desprendeu-se dos carnais anelos!

É quem entrou por todas as batalhas
As mãos e os pés e o flanco ensangüentando,
Amortalhando em todas as mortalhas.

Quem florestas e mares foi rasgando
E entre raios, pedradas e metralhas,
Ficou gemendo, mas ficou sonhando!

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  A VIDA
JOÃO DE DEUS

Foi-se-me pouco a pouco amortecendo
A luz que nesta vida me guiava,
Olhos fitos na qual até contava
Ir os degraus do túmulo descendo.

Em se ela anuviando, em a não vendo,
Já se me a luz de tudo anuviava;
Despontava ela apenas, despontava
Logo em minha alma a luz que ia perdendo.

Alma gêmea da minha, ingênua e pura
como os anjos do céu (se o não sonharam...)
Quis mostrar-me que o bem, bem pouco dura!

Não sei se me voou, se ma levaram;
Nem saiba eu nunca a minha desventura
Contar aos que ainda em vida não choraram...

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  CAIR DAS FOLHAS
VICENTE DE CARVALHO

"Deixa-me, fonte!" Dizia
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava levando a flor.

"Deixa-me fonte, deixa-me, fonte!"
Dizia a flor a chorar:
"Eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar."

E a fonte, rápida e fria,
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.

"Ai balanços do meu galho,
Balanços do berço meu!
Ai claras gotas de orvalho
Caídas do azul do céu!"

Chorava a flor, e gemia,
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.

"Adeus, sombra das ramadas,
Cantigas do rouxinol!
Ai, festa das madrugadas,
Doçuras do por do sol!

"Carícias das brisas leves,
Que abrem rasgões de luar...
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar!..."

As correntezas da vida
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...

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  REMEMBER
CHRISTINA ROSSETTI
Trad. de Manuel Bandeira

Recorda-te de mim quando eu embora
For para o chão silente e desolado;
Quando eu não tiver mais a meu lado
E sombra vã chorar por quem me chora.

Quando não mais puderes, hora a hora,
Falar-me do futuro que hás sonhado,
Ah de mim te recorda e do passado,
Delícia do presente por agora.

No entanto, se algum dia me olvidares
E depois te lembrares novamente,
Não chores: que se em meio aos meus pesares

Um resto houver do afeto que em mim viste,
- Melhor é me esqueceres mas contente
Que me lembrares e ficares triste.

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  REDENÇÃO
ANTERO DE QUENTAL

Vozes do mar, das árvores, do vento!
Quando às vezes, num sonho doloroso,
Me embala o vosso canto poderoso,
Eu julgo igual ao meu vosso tormento...

Verbo crepuscular e íntimo alento Não serás tu, queixume vaporoso,
O suspiro do mundo e o seu lamento?

Um espírito habita a imensidade:
Uma ânsia cruel de liberdade
Agita e abala as formas fugitivas.

E eu compreendo a vossa língua estranha
Vozes do mar, da selva, da montanha...
Almas irmãs da minha, almas cativas!

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  MÚSICA BRASILEIRA
OLVAO BILAC

Tens, às vezes, fogo soberano
Do amor: encerras na cadência, acesa
Em requebros e encantos de impureza,
Todo o feitiço de pecado humano.

Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza
Dos desertos, das matas e do oceano.
Bárbara paracé, banzo africano,
E soluços de trova portuguesa.

És samba e jongo, xiba e fado, cujos
Acordes são desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos:

E em nostalgias e paixões consistes,
Lasciva dor, beijo de três saudades,
Flor amorosa de três raças tristes.

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  DUAS ALMAS
ALCEU WAMOSY

Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
vives sozinha sempre, e nunca foste amada...

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplender nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...

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  CICATRIZES NAS ÁRVORES
FILIPE D'OLIVEIRA

- Não importa o que foi.
Não importa o que será.
Fixa a imagem do teu instante
na superfície ou no coração da vida
e esquece o tempo.
Embora ao nascer contenha todo o teu universo,
a tua verdade desta hora
não corresponde à tua verdade da hora vindoura.

Ele fez uma pausa
e continuou:

Vive a tua hora
como se gravasse o teu nome
na epiderme de um tronco novo.
Mas não voltes mais tarde para junto
dessa árvore,
porque podes não reconhecer o teu nome
nas cicatrizes das velhas letras.

Ele calou, com o ar sublime dos que
ainda definem e aconselham.
e eu não falei,
por achar inútil revelar-lhe
que a culpa é apenas da árvore.

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  O BEM E O MAL
EMÍLIO DE MENEZES

Tomba àz vezes meu ser. De tropeço a tropeço,
Unidos, alma e corpo, ambos rolando vão.
É o abismo, e eu não sei se cresço ou se decresço,
à proporção do mal, do bem à proporção.

Sobe às vezes meu ser. De arremesso a arremesso,
Unidos, esto e pulso, ambos fogem ao chão
E eu ora encaro a luz, ora à luz estremeço
E não sei aonde o mal e o bem me levarão.

Fim, qual deles será? Qual deles é começo?
Prêmio, qual deles é? Qual deles é expiação?
Por qual deles ventura ou castigo mereço?

Ante o perpétuo sim, e ante o perpétuo não,
Do bem que sempre fiz - nunca busquei o preço,
Do mal que nunca fiz - sofro a condenação.

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  UMA CANÇÃO DE AMOR
FRIEDRICH RÜCKERT

Trad. de Ary de Mesquita Vais me dizer, querida, se é verdade
Que ontem à noite, cheia de saudade,

A sós contigo tu disseste assim:
"Como saudoso ele há de estar de mim!"

Muito te enganas, meu amor, somente
Se tem saudades de quem anda ausente,

e por força do muito imaginar
Chego a te ver, e chego a te escutar,

Tal e qual se estivesses ao meu lado,
Eis por que, muito embora apaixonado,

Não tive ontem saudades, companheira:
- Estiveste comigo a noite inteira.

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  DEUS
BARBOSA DU BOCAGE

Os milhões de áureos lustres coruscantes
Que estão da azul abóbada pendendo,
O sol, e a que ilumina o trono horrendo
Dessa que anima os ávidos amantes;

As vastíssimas ondas arrogantes,
Serras de espuma contra os céus erguendo,
A leda fonte humilde o chão lambendo,
Lourejando as searas flutuantes,

O vil mosquito, a próvida formiga,
A rama chocalheira, tronco mudo,
Tudo que há Deus a confessar me obriga;

E para crer num braço autor de tudo,
Que recompensa os bons, que os maus castiga, Não só da fé, mas da razão me ajudo.

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  CAJUEIRO PEQUENINO
JUVENAL GALENO

Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor,
À sombra das tuas folhas
Venho cantar meu amor,

Acompanhado somente
Da brisa pelo rumor,
Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor.

Tu és um sonho querido
De minha vida infantil,
Desde esse dia... Me lembro...
Era uma aurora de abril,

Por entre verdes ervinhas
Nasceste todo gentil
Cajueiro pequenino,
Meu lindo sonho infantil.

Que prazer quando encontrei-te
Nascendo junto ao meu lar!
- "Este é meu, este defendo,
Ninguém mo venha arrancar!"

Bradei, e logo, cuidoso,
Contente fui te alimpar,
Cajueiro pequenino,
Meu companheiro do lar.

Cresceste... Se eu te faltasse,
Que de ti seria, irmão?
Afogado nestes matos,
Morto à sede no verão...

Tu que foste sempre enfermo
Aqui neste ingrato chão!
Cajueiro pequenino,
Que de ti seria, irmão?

Cresceste... Crescemos ambos...
Nossa amizade também.
Eras tu o meu enlevo.
O meu afeto o tem bem:

Se tu sofrias, eu triste,
Chorava como... ninguém!
Cajueiro pequenino,
Por mim sofrias também!

Quando em casa me batiam,
Contava-te o meu penar;
Tu calado me escutavas,
Pois não podias falar;

Mas no tem semblante, amigo,
Mostravas grande pesar,
Cajueiro pequeninho,
Nas horas do meu penar!

Após as dores... me vias
Brincando, ledo e feliz,
O tempo-será e outros
Brinquedos que eu tanto quis!

Depois cismando a teu lado
Em muitos versos que fiz...
Cajueiro pequenino,
Me vias brincar feliz!

Mas um dia.. me ausentaram...
Fui obrigado... parti!
Chorando beijei-te as folhas...
Quanta saudade senti!

Fui-me longe... Muitos anos
Ausente pensei em ti...
Cajueiro pequenino,
Quando obrigado parti!

Agoro volto, e te encontro
Carregadinho de flor!
Mas ainda tão pequeno,
Com muito mato ao redor...

Coitadinho! não cresceste
Por falta do meu amor,
Cajueiro pequenino,
Carregadinho de flor.

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  EM SÓRDIDA MASMORRA...
BARBOSA DU BOCAGE

Em sórdida masmorra aferrolhado,
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por línguas impostoras criminado:

Os membros quase nus, o aspecto honrado
Por vil boca, e vil mão, roto e cuspido,
Sem ver um só mortal compadecido
De seu funesto, rigoroso estado:

O penetrante, o bárbaro instrumento
De atroz, violenta, inevitável morte
Olhando já na mão do algoz cruento:

Inda assim não maldiz a iníqua sorte,
Inda assim tem prazer, sossego, alento,
O sábio verdadeiro, o justo, o forte.

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  SER BOM
FARIA NEVES SOBRINHO

Sobretudo ser bom. Na áspera e crua
luta pela vida,
não basta ao vencedor ter coragem, ter
força, ter vontade,
ânimo varonil; é-lhe mister, na febre da
investida,
no ardor de combater, revestir a vitória
de bondade.
Quase no passo extremo, ouçam-me os
caros filhos o conselho
que o espírito deduz das frases que, ao
sabor de prece ou rogo,
lhes diz o coração de um pai cansado,
combalido e velho:
- Não colhe fruto são quem tudo quer
levar a ferro e a fogo.

Este cria, este gera ódios que, sufocados vão explodir depois. E ai! dos que a
raiva acesa em chama alcança! sede de vingança,
o que ela poderá causar de dor, de
mágoa e sofrimento.
Não, meus filhos, ouvi-me: Uma só
coisa existe neste mundo,
que nos conforta e anima e fortalece e
excita e nos dá tom:
A alegria vivaz, o inefável prazer, o
o júbilo profundo de ser bom.

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  IMORTALIDADE
LUIS MURAT

Espera, homem! Não é em vão que à porta bates
De quem, por muito amar, abjuraste e ofendeste!
Resiste, com vigor, aos últimos embates
E acusa no Pretório o que ontem defendeste.

No impaciente corcel enterra os acicates
E, lançan-o aos galões, sobre o píncaro agreste,
Verás que já não são tão rudes os combates,
Nem tão revolto o mar, nem tão frio o nordeste.

Ah! tudo tem o seu desenlace e seu termo,
E o que rolou na arena, ou definhou num êrmo,
Não se transforme em pó, ergue-se e volve à luta,

E continua a ser o que era ou foi na Terra,
Ganga que o outro contém, húmus que a flor encerra,
E a vida, palmo a palmo, à podridão disputa.

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  O INDELÉVEL
ANORATO KALISTRATO AFRABUNDO
Criação de Ernandes N. Oliveira
Versos abstratos(?) da vida estudantil

NOS BALDÉRIOS, SINCRÉTICOS ADABALNOS,
EXECRÉGIOS, EPITÉTICOS, ACROSSINTOS,
LADIPANOS; JUNIRÓSIO, FURIOSO E ZALMO,
FAMILÉGIO, SUGADINOTONO E SUSCINTO.

JUNIBÓTICO, AIROSO, PANATEMA,
SUFETÍLEO, GELICÓTEO, APÁGIO,
LANIROSO, EUFÔNICO, IPANEMA,
MICROZÉBIO, FILÂNCIO, OPILÁGIO.

ANCHO, BALEZÉTICO, GRÁFICO,
RIBALÉTICO, XERIDONTE, EDONIL,
ZUFUTÉRIO, PERNOTICONDO, INCATO.

MANETOSO, DOLENTE, QUIPOLGENO,
ANIFÁSIO, PAFIROSO E GUAPO,
INCONSTITUCIONALISSIMAMENTE AGIU.

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E-mail - selerd@ultranet.com.br
Última atualização da página: Sábado, Julho 5, 2025.

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