VIVER
RAIMUNDO CORREIA
Viver! Eu sei que a alma chora
E a vida é só dor ingrata,
Pranto, que a não alivia,
Olhos, que o estão a verter...
Sofra o coração embora!
Sofra! Mas viva! Mas bata
Cheio, ao menos, da alegria
De viver, de viver!
ÚLTIMA ESPERANÇA
STECCHETTI
Trad. de Carlos Sá
- "Por que tanta tristeza e tanta dor?"
Ao coração eu perguntei um dia.
E ele, em resposta: - "Já morreu o amor".
Ao coração eu perguntei um dia:
- "Por que esperar se já morreu o amor?"
E ele: - "Sem esperança eu morreria".
O CORAÇÃO HUMANO
THÉOPHILE GAUTHIER
Trad. de Afonso Celso
O humano coração de olvido é cheio.
É qual
Uma águia que se agita e não guarda sinal.
A erva menos depressa entre os sepulcros cresce
Que n'alma um novo amor. A lágrima que desce
não precisa secar, para que o riso assome
Do coração no livro inscrevendo outro nome.
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Resumos Literários
Nótulas diversas
Quem anda pelas lágrimas perdido,
É quem ficou do mundo redimido,
É quem entrou por todas as batalhas
Quem florestas e mares foi rasgando
Foi-se-me pouco a pouco amortecendo
Em se ela anuviando, em a não vendo,
Alma gêmea da minha, ingênua e pura
Não sei se me voou, se ma levaram;
"Deixa-me, fonte!" Dizia
"Deixa-me fonte, deixa-me, fonte!"
E a fonte, rápida e fria,
"Ai balanços do meu galho,
Chorava a flor, e gemia,
"Adeus, sombra das ramadas,
"Carícias das brisas leves,
As correntezas da vida
Recorda-te de mim quando eu embora
Quando não mais puderes, hora a hora,
No entanto, se algum dia me olvidares
Um resto houver do afeto que em mim viste,
Vozes do mar, das árvores, do vento!
Verbo crepuscular e íntimo alento
Um espírito habita a imensidade:
E eu compreendo a vossa língua estranha
Tens, às vezes, fogo soberano
Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza
És samba e jongo, xiba e fado, cujos
E em nostalgias e paixões consistes,
Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
Já não serei tão só, nem irás tão sozinha:
- Não importa o que foi.
Ele fez uma pausa
Vive a tua hora
Ele calou, com o ar sublime dos que
Sobe às vezes meu ser. De arremesso a arremesso,
Fim, qual deles será? Qual deles é começo?
Ante o perpétuo sim, e ante o perpétuo não,
Trad. de Ary de Mesquita
Vais me dizer, querida, se é verdade
A sós contigo tu disseste assim:
Muito te enganas, meu amor, somente
e por força do muito imaginar
Tal e qual se estivesses ao meu lado,
Não tive ontem saudades, companheira:
Os milhões de áureos lustres coruscantes
As vastíssimas ondas arrogantes,
O vil mosquito, a próvida formiga,
E para crer num braço autor de tudo,
Cajueiro pequenino,
Tu és um sonho querido
Que prazer quando encontrei-te
Cresceste... Se eu te faltasse,
Cresceste... Crescemos ambos...
Quando em casa me batiam,
Após as dores... me vias
Mas um dia.. me ausentaram...
Agoro volto, e te encontro
Em sórdida masmorra aferrolhado,
Os membros quase nus, o aspecto honrado
O penetrante, o bárbaro instrumento
Inda assim não maldiz a iníqua sorte,
Sobretudo ser bom. Na áspera e crua
Este cria, este gera ódios que, sufocados
Espera, homem! Não é em vão que à porta bates
No impaciente corcel enterra os acicates
Ah! tudo tem o seu desenlace e seu termo,
E continua a ser o que era ou foi na Terra,
NOS BALDÉRIOS, SINCRÉTICOS ADABALNOS,
JUNIBÓTICO, AIROSO, PANATEMA,
ANCHO, BALEZÉTICO, GRÁFICO,
MANETOSO, DOLENTE, QUIPOLGENO,
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Poetas
Espaço reservado para
Notas Biográficas
(*********)
TRIUNFO SUPREMO
CRUZ E SOUSA
Sonâmbulo dos trágicos flagelos,
É quem deixou para sempre esquecido
O mundo e os fúteis ouropéis mais belos!
Expurgando dos vícios mais singelos
E disse a tudo o adeus indefinido
E desprendeu-se dos carnais anelos!
As mãos e os pés e o flanco ensangüentando,
Amortalhando em todas as mortalhas.
E entre raios, pedradas e metralhas,
Ficou gemendo, mas ficou sonhando!
A VIDA
JOÃO DE DEUS
A luz que nesta vida me guiava,
Olhos fitos na qual até contava
Ir os degraus do túmulo descendo.
Já se me a luz de tudo anuviava;
Despontava ela apenas, despontava
Logo em minha alma a luz que ia perdendo.
como os anjos do céu (se o não sonharam...)
Quis mostrar-me que o bem, bem pouco dura!
Nem saiba eu nunca a minha desventura
Contar aos que ainda em vida não choraram...
CAIR DAS FOLHAS
VICENTE DE CARVALHO
A flor, tonta de terror.
E a fonte, sonora e fria,
Cantava levando a flor.
Dizia a flor a chorar:
"Eu fui nascida no monte...
Não me leves para o mar."
Com um sussurro zombador,
Por sobre a areia corria,
Corria levando a flor.
Balanços do berço meu!
Ai claras gotas de orvalho
Caídas do azul do céu!"
Branca, branca de terror,
E a fonte, sonora e fria,
Rolava, levando a flor.
Cantigas do rouxinol!
Ai, festa das madrugadas,
Doçuras do por do sol!
Que abrem rasgões de luar...
Fonte, fonte, não me leves,
Não me leves para o mar!..."
E os restos do meu amor
Resvalam numa descida
Como a da fonte e da flor...
REMEMBER
CHRISTINA ROSSETTI
Trad. de Manuel Bandeira
For para o chão silente e desolado;
Quando eu não tiver mais a meu lado
E sombra vã chorar por quem me chora.
Falar-me do futuro que hás sonhado,
Ah de mim te recorda e do passado,
Delícia do presente por agora.
E depois te lembrares novamente,
Não chores: que se em meio aos meus pesares
- Melhor é me esqueceres mas contente
Que me lembrares e ficares triste.
REDENÇÃO
ANTERO DE QUENTAL
Quando às vezes, num sonho doloroso,
Me embala o vosso canto poderoso,
Eu julgo igual ao meu vosso tormento...
O suspiro do mundo e o seu lamento?
Uma ânsia cruel de liberdade
Agita e abala as formas fugitivas.
Vozes do mar, da selva, da montanha...
Almas irmãs da minha, almas cativas!
MÚSICA BRASILEIRA
OLVAO BILAC
Do amor: encerras na cadência, acesa
Em requebros e encantos de impureza,
Todo o feitiço de pecado humano.
Dos desertos, das matas e do oceano.
Bárbara paracé, banzo africano,
E soluços de trova portuguesa.
Acordes são desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos:
Lasciva dor, beijo de três saudades,
Flor amorosa de três raças tristes.
DUAS ALMAS
ALCEU WAMOSY
entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
vives sozinha sempre, e nunca foste amada...
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho
se banhem no esplender nascente da alvorada.
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!
Há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...
CICATRIZES NAS ÁRVORES
FILIPE D'OLIVEIRA
Não importa o que será.
Fixa a imagem do teu instante
na superfície ou no coração da vida
e esquece o tempo.
Embora ao nascer contenha todo o teu universo,
a tua verdade desta hora
não corresponde à tua verdade da hora vindoura.
e continuou:
como se gravasse o teu nome
na epiderme de um tronco novo.
Mas não voltes mais tarde para junto
dessa árvore,
porque podes não reconhecer o teu nome
nas cicatrizes das velhas letras.
ainda definem e aconselham.
e eu não falei,
por achar inútil revelar-lhe
que a culpa é apenas da árvore.
O BEM E O MAL
EMÍLIO DE MENEZES
Tomba àz vezes meu ser. De tropeço a tropeço,
Unidos, alma e corpo, ambos rolando vão.
É o abismo, e eu não sei se cresço ou se decresço,
à proporção do mal, do bem à proporção.
Unidos, esto e pulso, ambos fogem ao chão
E eu ora encaro a luz, ora à luz estremeço
E não sei aonde o mal e o bem me levarão.
Prêmio, qual deles é? Qual deles é expiação?
Por qual deles ventura ou castigo mereço?
Do bem que sempre fiz - nunca busquei o preço,
Do mal que nunca fiz - sofro a condenação.
UMA CANÇÃO DE AMOR
FRIEDRICH RÜCKERT
Que ontem à noite, cheia de saudade,
"Como saudoso ele há de estar de mim!"
Se tem saudades de quem anda ausente,
Chego a te ver, e chego a te escutar,
Eis por que, muito embora apaixonado,
- Estiveste comigo a noite inteira.
DEUS
BARBOSA DU BOCAGE
Que estão da azul abóbada pendendo,
O sol, e a que ilumina o trono horrendo
Dessa que anima os ávidos amantes;
Serras de espuma contra os céus erguendo,
A leda fonte humilde o chão lambendo,
Lourejando as searas flutuantes,
A rama chocalheira, tronco mudo,
Tudo que há Deus a confessar me obriga;
Que recompensa os bons, que os maus castiga,
Não só da fé, mas da razão me ajudo.
CAJUEIRO PEQUENINO
JUVENAL GALENO
Carregadinho de flor,
À sombra das tuas folhas
Venho cantar meu amor,
De minha vida infantil,
Desde esse dia... Me lembro...
Era uma aurora de abril,
Nascendo junto ao meu lar!
- "Este é meu, este defendo,
Ninguém mo venha arrancar!"
Que de ti seria, irmão?
Afogado nestes matos,
Morto à sede no verão...
Nossa amizade também.
Eras tu o meu enlevo.
O meu afeto o tem bem:
Contava-te o meu penar;
Tu calado me escutavas,
Pois não podias falar;
Brincando, ledo e feliz,
O tempo-será e outros
Brinquedos que eu tanto quis!
Fui obrigado... parti!
Chorando beijei-te as folhas...
Quanta saudade senti!
Carregadinho de flor!
Mas ainda tão pequeno,
Com muito mato ao redor...
EM SÓRDIDA MASMORRA...
BARBOSA DU BOCAGE
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por línguas impostoras criminado:
Por vil boca, e vil mão, roto e cuspido,
Sem ver um só mortal compadecido
De seu funesto, rigoroso estado:
De atroz, violenta, inevitável morte
Olhando já na mão do algoz cruento:
Inda assim tem prazer, sossego, alento,
O sábio verdadeiro, o justo, o forte.
SER BOM
FARIA NEVES SOBRINHO
luta pela vida,
não basta ao vencedor ter coragem, ter
força, ter vontade,
ânimo varonil; é-lhe mister, na febre da
investida,
no ardor de combater, revestir a vitória
de bondade.
Quase no passo extremo, ouçam-me os
caros filhos o conselho
que o espírito deduz das frases que, ao
sabor de prece ou rogo,
lhes diz o coração de um pai cansado,
combalido e velho:
- Não colhe fruto são quem tudo quer
levar a ferro e a fogo.
raiva acesa em chama alcança!
o que ela poderá causar de dor, de
mágoa e sofrimento.
Não, meus filhos, ouvi-me: Uma só
coisa existe neste mundo,
que nos conforta e anima e fortalece e
excita e nos dá tom:
A alegria vivaz, o inefável prazer, o
o júbilo profundo de ser bom.
IMORTALIDADE
LUIS MURAT
De quem, por muito amar, abjuraste e ofendeste!
Resiste, com vigor, aos últimos embates
E acusa no Pretório o que ontem defendeste.
E, lançan-o aos galões, sobre o píncaro agreste,
Verás que já não são tão rudes os combates,
Nem tão revolto o mar, nem tão frio o nordeste.
E o que rolou na arena, ou definhou num êrmo,
Não se transforme em pó, ergue-se e volve à luta,
Ganga que o outro contém, húmus que a flor encerra,
E a vida, palmo a palmo, à podridão disputa.
O INDELÉVEL
ANORATO KALISTRATO AFRABUNDO
Criação de Ernandes N. Oliveira
Versos abstratos(?) da vida estudantil
EXECRÉGIOS, EPITÉTICOS, ACROSSINTOS,
LADIPANOS; JUNIRÓSIO, FURIOSO E ZALMO,
FAMILÉGIO, SUGADINOTONO E SUSCINTO.
SUFETÍLEO, GELICÓTEO, APÁGIO,
LANIROSO, EUFÔNICO, IPANEMA,
MICROZÉBIO, FILÂNCIO, OPILÁGIO.
RIBALÉTICO, XERIDONTE, EDONIL,
ZUFUTÉRIO, PERNOTICONDO, INCATO.
ANIFÁSIO, PAFIROSO E GUAPO,
INCONSTITUCIONALISSIMAMENTE AGIU.
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