DISCIPLINA S/ 2007
APRESENTAÇÃO
Abaixo algumas das atividades desenvolvidas
durante o primeiro semestre de 2007.
9. SOCIOLOGIA DE DURKHEIM- PROF.
DRª MARIA LÚCIA PONTUAL
ÉMILE
DURKHEIM
INTRODUÇÃO
Esse trabalho que tem
como objetivo explorar do ponto de vista teórico e
metodológico maneira de pensar as obras
durkheimianas, A Ciência Social e a Ação
Social, As regras do método sociológico, As
formas elementares da vida religiosa., Lições
de Sociologia: a Moral, o Direito e o Estado e O
suicídio.
Este estudo foi
desenvolvido durante a disciplina Sociologia de Durkheim,
ministrada pela professora Maria Lúcia, do Programa
de Graduação em Sociologia da UFF.
A escolha do resumos
desses livros como trabalho monográfico para efeito
de avaliação final, se justificou, primeiro,
pelo rigor e a maneira original que Durkheim tratou os dados
empíricos e as variáveis contidas em seus
livros.
Segundo, por se tratar
de um estudo sociológico cuja relevância
é indiscutível pois, trata-se de explicar como
a Sociologia é definida por Durkheim: Cautela,
vigilância, suspeita são marcas de seu modo de
pensar para o qual a verdade está à espera do
sujeito que se colocou a procurá-la.
Terceiro, revela uma
face não funcionalista desse autor, assim como, o
trato metodológico refinado, revelador, descritivo e
classificatório presente em suas obras.
Por último
analisar a biografia de Durkheim, bem como fazer uma
rápida descrição do período
histórico em que se processou a gênese de suas
obras que serão estudadas.
SOCIOLOGIA DE
ÉMILE DURKHEIM
Émile Durkheim
nasceu em Épinal, Departamento de Vosges, que fica
exatamente entre a Alsácia e a Lorena, a 15 de abril
de 1858. Morreu em 1917. Sua família era judia. Era
herdeiro do positivismo. Entre os seus colegas destacam-se
Jaurès e Bergson, dois grandes filósofos, que
possuíam posições adversas. Entre as
suas influências destaca-se o historiador de renome
Fustel de Coulanges, diretor da Normale. Entre os seus
mestres sobressaem os neokantianos Renouvin e Boutroux.
Durante anos ensina Filosofia, mas o seu interesse é
pela Sociologia, que se confundia com o socialismo, pois
havia uma certa concepção de que a Sociologia
constituía uma forma científica de socialismo.
É o pioneiro do desenvolvimento da Sociologia. Seu
trabalho versou sobre o determinismo social e
interação individual. É considerado um
dos fundadores da sociologia, ciências dedicadas ao
estudo dos fenômenos sociais. Foi um liberal democrata
disposto a levar à frente os ideais
revolucionários de 1789.
Na adolescência,
o jovem Durkheim presenciou uma série de
acontecimentos que marcaram decisivamente todos os franceses
em geral e a ele próprio em particular: a 1º de
setembro de 1870, a derrota de Sedan; a 28 de janeiro de
1871, a capitulação diante das tropas
alemãs; de 18 de março a 28 de maio, a
insurreição da Comuna de Paris; a 4 de
setembro, a proclamação da que ficou conhecida
como III República, com a formação do
governo provisório de Thiers até a
votação da Constituição de 1875
e a eleição do seu primeiro presidente
(Mac-Mahon). Thiers fora encarregado tanto de assinar o
tratado de Frankfurt como de reprimir os communards,
até à liquidação dos
últimos remanescentes no "muro dos federados". Por
outro lado, a vida de David Émile foi marcada pela
disputa franco-alemã: em 1871, com a perda de
uma parte da Lorena, sua terra natal tornou-se uma cidade
fronteiriça; com o advento da Primeira Guerra
Mundial, ele viu partir para o f front numerosos
discípulos seus, alguns dos quais não
regressaram, inclusive seu filho Andrès, que parecia
destinado a seguir a carreira paterna.
No entretempo,
Durkheim assistiu e participou de acontecimentos marcantes e
que se refletem diretamente nas suas obras, ou pelo menos
nas suas aulas. O ambiente é por vezes assinalado
como sendo o "vazio moral da III República", marcado
seja pelas conseqüências diretas da derrota
francesa e das dívidas humilhantes da guerra, seja
por uma série de medidas de ordem política,
dentre as quais duas merecem destaque especial, pelo
rompimento com as tradições que elas
representam.
A primeira e a chamada
lei Naquet, que instituiu o divórcio na França
após acirrados debates parlamentares, que se
prolongaram de 1882 a 84.
A segunda é
representada pela instrução laica,
questão levantada na Assembléia em 1879, por
Jules Ferry, encarregado de implantar o novo sistema, como
Ministro da Instrução Pública, em 1882.
Foi quando a escola se tornou gratuita para todos,
obrigatória dos 6 aos 13 anos, além de ficar
proibido formalmente o ensino da religião. O vazio
correspondente à ausência do ensino de
religião na escola pública tenta-se preencher
com uma pregação patriótica
representada pela que ficou conhecida como
"instrução moral e cívica".
Ao mesmo tempo em que
essas questões políticas e sociais balizavam o
seu tempo, uma outra questão de natureza
econômica e social não deixava de apresentar
continuadas repercussões políticas e o que se
denominava questão social, ou seja, as disputas e
conflitos decorrentes da oposição entre o
capital e o trabalho, vale dizer, entre patrão e
empregado, entre burguesia e proletariado. Um marco dessa
questão foi a criação, em 1895, da
Confédération Générale du
Travail (CGT). A bipolarização social
preocupava profundamente tanto a políticos como a
intelectuais da época, e sua interveniência no
quadro político e social do chamado tournant du
siècle não deixava de ser perturbadora.
Com efeito, apesar dos
traumas políticos e sociais que assinalam o
início da III República, o final do
século XIX e começo do século XX
correspondem a uma certa sensação de euforia,
de progresso e de esperança no futuro. Se bem que os
êxitos econômicos não fossem de tal ordem
que. pudessem fazer esquecer a sucessão de crises
(1900-01, 1907, 1912-13) e os problemas colocados pela
concentração, registrava-se uma série
de inovações tecnológicas que
provocavam repercussões imediatas no campo
econômico. É a era do aço e da
eletricidade que se inaugura, junto com o início do
aproveitamento do petróleo como fonte de energia ao
lado da eletricidade que se notabiliza por ser uma energia
"limpa", em contraste com a negritude do carvão, cuja
era declinava e que, ao lado da telegrafia, marcam o
início do que se convencionou chamar de "segunda
revolução industrial", qual seja, a do motor
de combustão interna e do dínamo. Além
dessas invenções, outras se sucediam. Embora
menos importantes, eram sem dúvida mais
espetaculares, como o avião, o submarino, o cinema, o
automóvel, além das rotativas e do linotipo
que tornaram as indústrias do jornal e do livro
capazes de produções baratas e de atingir um
público cada vez maior. Tudo isso refletia um
avanço da ciência, marcada pelo advento da
teoria dos quanta, da relatividade, da radioatividade, da
teoria atômica, além do progresso em outros
setores mais diretamente voltados à
aplicação, como a das ondas hertzianas, das
vitaminas, do bacilo de Koch, das vacinas de Pasteur etc.
Não é
pois de se admirar que vigorasse um estilo de vida belle
époque, com a Exposição Universal.
comemorativa do centenário da
revolução, seguida da exposição
de Paris, simultânea com a inauguração
do métro em 1900. O último quartel do
século fora marcado, além da
renovação da literatura, do teatro e da
música, pelo advento do impressionismo, que tirou a
arte pictórica dos ambientes fechados, dos grandes
acontecimentos e das grandes personalidades da
monumentalidade, enfim para se voltar aos grandes
espaços abertos, para as cenas e os homens comuns
para o cotidiano.
Porque este homem
comum é que se vê diante dos grandes problemas
representados pelo pauperismo, pelo desemprego, pelos
grandes fluxos migratórios. Ele é objeto de
preocupação do movimento operário, que
inaugura, com a fundação da CGT no Congresso
de Limoges, uma nova era do sindicalismo, que usa a greve
como instrumento de reivindicação
econômica e não mais exclusivamente
política. É certo que algumas conquistas se
sucedem, com os primeiros passos do seguro social e da
legislação trabalhista, sobretudo na Alemanha
de Bismarck.
Mas se objetivam
também medidas tendentes a aumentar a produtividade
do trabalho, como o "taylorismo" (1912). Também a
Igreja se volta para o problema, com a encíclica
Rerum Novarum (1891), de Leão XIII, que difunde a
idéia de que o proletariado poderia deixar de ser
revolucionário na medida em que se tornasse
proprietário. É a chamada
"desproletarização" que se objetiva, tentada
através de algumas "soluções
milagrosas", tais como o cooperativismo, corporativismo,,
participação nos lucros etc. Pretende-se, por
várias maneiras, contornar a questão social e
eliminar a luta de classes, espantalhos do industrialismo.
Enfim, estamos diante
do "espírito moderno". Na École Normale
Supérieure, o jovem David Émile tivera
oportunidade de assistir às aulas de Boutroux, que
assinala os principais traços característicos
dessa época: progresso da ciência (não
mais contemplativa, mas agora transformadora da realidade),
progresso da democracia (resultante do voto secreto e da
crescente participação popular nos
negócios públicos), além da
generalização e extraordinário
progresso da instrução e do bem-estar. Como
corolário desses traços, o mestre neokantiano
ressalta as correntes de idéias derivadas, cuja
difusão viria encontrar eco na obra de Durkheim:
aspira-se à constituição de uma moral
realmente científica (o progresso moral
equiparando-se ao progresso científico); a moral
viria a ser considerada como um setor da ciência das
condições das sociedades humanas (a moral
é ela própria um fato social) ; a moral se
confunde enfim com civilização o povo mais
civilizado é o que tem mais direitos e o progresso
moral consiste no domínio crescente dos povos cuja
cultura seja a mais avançada.4
Não é
pois de se admirar que essa época viesse
também a assistir a uma nova vaga de colonialismo,
não mais o colonialismo da caravela ou do barco a
vapor, mas agora o colonialismo do navio a diesel, da
locomotiva, do aeroplano, do automóvel e de toda a
tecnologia implícita e eficiente, além das
novas manifestações morais e culturais. Enfim,
Durkheim foi um homem que assistiu ao advento e à
expansão do neocapitalismo, ou do capitalismo
monopolista. Ele não resistiu aos novos e marcantes
acontecimentos políticos representados pela Primeira
Guerra Mundial, com o aparecimento simultâneo tanto do
socialismo na Rússia como da nova roupagem do
neocapitalismo, representada pelo Welfare State.
Apesar de certa
familiaridade com a literatura filosófica e
sociológica alemã, ele não toma
conhecimento da obra de Weber e a recíproca
também acontece, apesar de serem responsáveis
pela reorientação das ciências sociais
do século XX e de ter publicado uma resenha do livro
de Marianne Weber, Ehefrau und Mutter in der
Rechtsentwicklung, publicado em 1907, onde critica o
simplismo da argumentação na tese de que a
família patriarcal determinou uma completa
subserviência da mulher. Entre 1887 e 1902 ministrou
aulas de Pedagogia e Ciência Social, criada
especialmente para ele, sendo este o primeiro curso de
Sociologia em uma universidade francesa, com grande
prestígio, pois em Bordeaux florescia um
espírito burguês e republicano,
simultâneo com a manutenção do
racionalismo cartesiano, sendo fundamental para a
produção da maioria de suas obras, inclusive
as teses de doutorado. A tese principal foi De la division
du travail social, que alcançou grande
repercussão e foi publicada em 1893, e "foi um
indicativo da vitória da nova ciência da
sociologia sobre os tradicionalistas da Sorbonne, que
tentaram - em vão - injetar uma porção
de humildade nos reclames de Durkheim para o futuro da
disciplina da sociologia. A tese complementar foi
Montesquieu et Rousseau, précurseurs de la
Sociologie. Em 1895 publicou Les règles de la
méthode sociologique, e em 1897 Le suicide.
Em1896 funda a revista
L'Année Sociologique. Sua primeira aula na
universidade versou sobre a solidariedade social, refletindo
uma preocupação muito em voga na época.
Além disso, a solidariedade constitui o ponto de
partida não apenas de sua teoria sociológica,
mas também da primeira obra estritamente
sociológica que publicou.
Para ele, o que os
sociólogos necessitavam ser regulamente informados
das pesquisas que se faziam nas ciências especiais,
história do direito, dos costumes, das
religiões, estatística moral, ciências
econômicas etc., porque é aí que se
encontravam os materiais com os quais se deveria construir a
sociologia. Em 1902 migra para Paris onde em Sorbonne
é nomeado assistente de Buisson na cadeira de
Ciência da Educação, tendo assumido a
titularidade em 1906, com a morte de Buisson e em 1910
transforma-a em cátedra de Sociologia. Suas aulas
são bastante disputadas, exigindo um grande
anfiteatro para comportar o elevado número de
ouvintes.
Ele defendeu a tese de
que a Sociologia era uma ciência essencialmente
francesa. Sua obra não se resumia apenas à
literatura e a erudição mais a Sociologia como
uma ciência, pois o método era um resumo da
prática, com o ensaio de certo número de
estudos variados.
No desenvolvimento da
Sociologia dois fatores favoreceram, como: o acentuado
enfraquecimento do tradicionalismo e o estado de
espírito nacionalista. Dentro da
tradição positivista de delimitar claramente
os objetos das ciências para melhor situá-las
no campo do conhecimento, Durkheim aponta um reino social,
com individualidade distinta dos reinos animal e mineral.
Mas esse reino não se situa à parte dos
demais, possuindo um caráter abrangente porque para
ele não existiria fenômeno que não se
desenvolvesse na sociedade, desde os fatos
físico-químicos até os fatos
verdadeiramente sociais. Ele fala também de um reino
moral, ao concluir que a vida social não seria outra
coisa que o meio moral, ou melhor, seria o conjunto dos
diversos meios morais que cercariam o indivíduo.
Aproveita então para esclarecer o que entendia por
fenômenos morais ao dizer que quando os qualificava
de morais, queria dizer que se tratava de meios
constituídos pelas idéias; eles seriam,
portanto, face às consciências individuais,
como os meios físicos com relação aos
organismos vivos.
A Sociologia
constituir-se-ia em "uma ciência no meio de outras
ciências positivas". E é por ciência
positiva que ele entende ser um estudo metódico que
conduziria ao estabelecimento das leis, mais isso seria
feito pela experimentação.
A Sociologia tem um
objeto claramente definido para Durkheim, também
teria e um método para estudá-lo. O objeto
seriam os fatos sociais; o método seria a
observação e a experimentação
indireta, em outros termos, o método comparativo. O
que faltava para ele naquela época seria
traçar os quadros gerais da ciência e assinalar
suas divisões essenciais. Para ele uma ciência
não se constituiria verdadeiramente senão
quando fosse dividida e subdividida, quando compreendesse
certo número de problemas diferentes e
solidários entre si.
A
distinção entre a ciência e a arte
é que a primeira estudaria os fatos unicamente para
conhecer sem preocupação com a
aplicação, a segunda, ao contrário,
só os consideraria para saber o que é
possível fazer com eles, em que fins úteis
poderiam ser empregados, que efeitos indesejáveis
poderiam impedir que ocorressem e porque meio um ou outro
resultado poderia ser obtido.
"As formas elementares
da vida religiosa" representa a solução dada
por Durkheim à antítese entre ciência e
religião. Descobrindo a realidade profunda de todas
as religiões, a ciência não recria uma
religião, mas dá confiança na
capacidade que têm as sociedades de produzir em cada
época os deuses de que necessitam. "Os interesses
religiosos não passam de forma simbólica de
interesses sociais e morais".
Para Durkheim, a
essência da religião é a divisão
do mundo em fenômenos sagrados e profanos. Não
é a crença numa divindade transcendente:
há religiões superiores sem Deus. A maioria
das escolas budistas não professa a fé num
deus pessoal e transcendente.
A religião
pressupõe o sagrado, em seguida a
organização das crenças relativa ao
sagrado e, por fim, ritos ou práticas derivados das
crenças, de modo mais ou menos
lógico.
O objetivo da teoria
da religião de Durkheim é fundamentar a
realidade do objeto da fé, sem admitir o
conteúdo intelectual das religiões
tradicionais, condenadas pelo desenvolvimento do
racionalismo cientifico; este permite salvar o que parece
destruir, demonstrando que os homens nunca adoraram
senão sua própria sociedade.
Através da
análise etnográfica, das religiões
primitivas, o totemismo, há um delineamento da
sociologia do conhecimento, em que havia uma
manipulação de dados, em que os homens
encarariam a realidade e construiriam certa
concepção do mundo e sua
organização hierárquica, com a clara
demonstração do processo de
indução científica.
Como ocorreu a
modernização da sociedade, segundo Durkheim o
grande desenvolvimento industrial, permitiu o aumento da
produção e conseqüentemente demanda de
novos mercados e matérias - primas, com os
avanços tecnológicos no campo da medicina e da
higiene, como na produção de alimentos,
proporcionou um crescimento demográfico. Com esse
novo processo de produção anunciava-se o
capitalismo jogando por terra o sistema feudal, mas nem tudo
é progresso, com isso vieram também
miséria, doenças, acidentes... Com essas
transformações sociais, havia homens que
procuravam e tinham vantagens de poder observar esses
acontecimentos ou fenômenos ao vivo, daí
brotaram a fonte de pensamento de Durkheim.
Para Durkheim a
sociedade é mais que a soma de indivíduos que
compõem, com ações e sentimentos
particulares. Os fatos sociais para ele só poderiam
ser explicados por seus feitos sociais, "Sociologia" trata
de conceitos não de coisas, o que existe à
observação são sociedades particulares,
que nascem, desenvolvem e morrem independentes umas das
outras. Um povo uma sociedade que substitui outro,
não é simplesmente o prolongamento do
anterior, ele é acrescido de caracteres novos com
propriedades a menos ou a mais, constituindo
individualidades, sendo heterogêneas, não
podendo se figurar, uma sociedade com uma linha
geométrica, mas sim com uma árvore cujos
galhos se dirigem em várias
direções.
A priori as
idéias estão na origem de diversas correntes,
entre as quais a vida social, por isso Durkheim afirmar que
a ciência como a sociologia deve analisar estudar os
fenômenos, por fora, pelo exterior, deixando de lado
posições e vontades, por isso, é um
trabalho esforço incessante, conclui-se que "o
caráter convencional de uma prática ou de uma
instituição não deve ser pressuposto".
Durkheim também compara a sociologia com a
psicologia, separando os fatos psíquicos como
naturais dos indivíduos, dos fatos sociais que
são mais difíceis de interpretar e mais
fáceis de atingir.
Para Durkheim, o ser
possui uma natureza de dois gêneros, uma
consciência coletiva e uma consciência
individual.
Segundo Durkheim, do
ponto de vista biológico, o que é normal para
o selvagem não é para o civilizado, e
vice-versa. A sociologia deveria ter por objetivo comparar
as diversas sociedades, classificando as espécies
sociais, ele considera que a evolução da
sociedade foi a partir da horda, ou seja, tribos selvagens
nômades. Durkheim é considerado um positivista
metódico com postura empírica, procura
explicar a evolução da sociedade pelas leis
gerais, pelos mecanismos de coerção,
organização social, educação,
família e religião, fazendo interface entre o
geral e o particular harmonicamente, acredito por isso,
Durkheim ser um constante objeto de interesse da sociologia
contemporânea.
O crime que antes,
apenas era designado como criminologia (clínica),
fica evidente que faz parte do meio social, com isso,
apareceu a sociologia criminal também como um ramo da
sociologia. O tratamento do crime como fato social, de
caráter normal e até necessário para
análise do indivíduo e do coletivo, e nos
fatores externos da sociedade, como ampla raiz de
imputação social; o crime é produzido
pela sociedade, é determinado por um membro da
sociedade que não aderiu a ordem social. Os crimes
mais graves são, os que colocam em perigo o conjunto
da coletividade.
O Estado para
Durkheim, acredito que é a relação de
crime com a sociedade, é a igualdade do
indivíduo perante a lei onde o Estado tem o poder da
força.
"O suicídio"
que é um fenômeno especificamente individual,
apesar de apresentar relações com a
coletividade, trata-se do ato provocado pelo individuo
contra sua própria vida, sendo concluído com a
morte. O suicídio segundo Durkheim está
relacionado com as causas psico-sociais, sendo assim parte
do estudo da sociologia, o individuo acredita que
está agindo livremente, se levar em conta que a vida
é uma questão de posição. O
suicídio realmente é individual, e não
tem relação com fator hereditário, com
distúrbios psico-orgânicos, alcoolismo e
fatores metereológicos.
O livro que Dukheim
escreveu sobre o problema do suicídio está
estreitamente ligado ao estudo da divisão do
trabalho. Ele observa que o homem não se sente
necessariamente mais feliz com sua sorte nas sociedades
modernas, e registra, de passagem, o aumento do
número dos suicídios, expressão e prova
de certos traços, talvez patológicos, da
organização atual da vida coletiva. Durkheim
fala da "anomia", ausência ou
desintegração das normas sociais, conceito que
vai ter um papel predominante no estudo do suicídio.
Passa em revista certos fenômenos, como as crises
econômicas, a inadaptação dos
trabalhadores as suas ocupações, a
violência das reivindicações dos
indivíduos com relação á
coletividade.
O estudo do
suicídio trata de um aspecto patológico das
sociedades modernas, e revela do modo mais marcante a
relação entre o indivíduo e a
coletividade. Durkheim quer mostrar até que ponto os
indivíduos são determinados pela realidade
coletiva.
Durkheim define
três tipos de suicídio: o egoísta, o
altruísta e o anômico.
No suicídio
egoísta é analisado graças á
correlação entre a taxa de suicídio e
os contextos sociais integradores, a religião e a
família, esta última considerada sob o duplo
aspecto de casamento e prole.
No suicídio
altruísta que comporta dois exemplos principais: o
primeiro, em sociedades arcaicas, a viúva indiana
aceita ser colocada na fogueira que deve queimar o corpo do
marido morto.
O segundo, é o
suicídio no exército, praticado por
militares.
No suicídio
anômico, o mais característico da sociedade
moderna, ocorre nos períodos de crises
econômicas, como também nos períodos de
grande prosperidade. Sua freqüência também
aumenta paralelamente ao aumento do número de
divórcios.
A Sociologia é
dividida por Durkheim em duas partes: a Estática e a
Dinâmica sociais. A Estática que estudaria as
sociedades consideradas fixas num momento de sua
evolução e pesquisa as leis de seu
equilíbrio, onde mostra os laços de
solidariedade e suas conexões, apesar da
coesão social quer seja na religião, na moral,
na arte etc. A Dinâmica, consideraria as sociedades na
sua evolução e se empenharia em descobrir a
lei de seu desenvolvimento, pois a Sociologia por ser uma
ciência positivista, não se limitaria a um
só problema e sim as diferentes partes dos diversos
aspectos da vida social e seus diferentes fatos sociais.
No estudo da sociedade
devemos observá-las pelo seu aspecto exterior, pela
distribuição, composição,
territórios, suas dimensões, que servem de
substrato. O estudo dessa ciência social chama-se
Morfologia Social e tem por objeto a forma exterior e
material da sociedade. Para Durkheim a sociedade não
deveria se limitar apenas a uma análise descritiva,
mas explicativa. Ao lado dela há a Fisiologia Social
que estudaria as manifestações vitais da
sociedade. O estudo da Religião (crenças,
dogmas, ritos, mitos) é abrangido pela Sociologia e
se constituiria objeto da Sociologia Religiosa.
As idéias
morais e os costumes formariam uma outra categoria, distinta
da precedente, e por ser um fenômeno social seria
objeto da Sociologia Moral. A Sociologia Jurídica
estudaria o caráter social das
instituições jurídicas, apesar da
estreita relação com a Sociologia Moral, pois,
as idéias morais são a alma do direito.
O objeto da Sociologia
Econômica são as instituições
econômicas. Ao procurar conhecer a vida social, uma
das preocupações de Durkheim era avaliar qual
método permitiria fazê-lo de maneira
científica, superando as deficiências do senso
comum. Sua conclusão foi de que, em busca da
objetividade, ele deveria assemelhar-se ao adotado pelas
ciências naturais, mas nem por isso, ser o seu
decalque, porque os fatos que a Sociologia examina pertencem
ao reino social, tem peculiaridades que os distinguem dos
fenômenos da natureza. Tal método deveria ser
estritamente sociológico. Os cientistas sociais
investigariam possíveis relações de
causa e efeito e regularidade com vistas à descoberta
de leis e mesmo de "regras de ação no futuro",
observando fenômenos rigorosamente definidos. Para ele
primeiro deveriam estudar a sociedade no seu aspecto
exterior. Considerada sob esta perspectiva, ela surgiria
como que constituída por uma massa de
população, de certa densidade, disposta de
determinada maneira num território, dispersa nos
campos ou concentrada nas cidades, etc.onde ocuparia um
território mais ou menos extenso, situado de
determinada maneira em relação aos mares e aos
territórios dos povos vizinhos, mais ou menos
atravessado por cursos d'água e por diferentes vias
de comunicação que estabeleceriam contato,
mais ou menos íntimo, entre os habitantes. Este
território, as suas dimensões, a sua
configuração e a composição da
população que se movimentariam na sua
superfície são naturalmente fatores
importantes na vida social; seria o seu substrato e, assim
como no indivíduo a vida psíquica variaria
consoante a composição anatômica do
cérebro que lhe está na base, assim os
fenômenos coletivos variariam segundo a
constituição do substrato social.
Então para
Durkheim na observação dos fatos sociais seria
fundamental considerá-los como coisas e seus
corolários seriam: "afastar sistematicamente as
prenoções; definir previamente as coisas de
que trata por meio de caracteres exteriores que lhe
são comuns; considerá-las independentemente de
suas manifestações individuais, da maneira
mais objetiva possível".
As coisas sociais,
então, só se realizariam através dos
homens, ou seja, seriam produtos da atividade humana, pois
se constituiriam na realização de
idéias, inatas ou não, que trazemos em
nós, na realização das
relações dos homens entre si.
Uma das bases da
objetividade de uma ciência da sociedade é
libertar-se das falsas evidências e das
prenoções ou noções vulgares,
considerando que se acha diante de coisas ignoradas,
não deixar influir seus sentimentos e paixões
pelos objetos morais que examina.
A toda maneira de agir
fixa ou não na sociedade, ou, quase todos os
fenômenos que se passam no interior da sociedade, de
forma a exercer sobre o indivíduo uma
coerção exterior para Durkheim seria
denominada de "fato social". Nem todos os fenômenos
que tenham algum interesse social como comer, beber, dormir
poderia ser considerado como fato social, apesar de serem
essenciais ao ser humano, e não seriam objetos da
Sociologia por se tratarem de fenômenos com caracteres
nítidos, objeto de outras ciências da natureza,
pois, a sociologia deveria ser uma ciência social e
não natural. Os fatos sociais são
crenças, tendências, práticas de grupo
tomadas coletivamente, ou seja, são formados pelas
representações coletivas, isto é, "como
a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a rodeia".
Os fatos sociais
só poderiam então ser explicados por meio de
seus efeitos sociais. A divisão do trabalho, por
exemplo, é um fato social cuja origem não se
encontraria nos interesses ou motivações
individuais, mas em fenômenos sociais, como o volume e
a densidade material e moral da sociedade.
A sociedade é
"o mais poderoso feixe de forças físicas e
morais cujo resultado a natureza nos oferece. Em nenhuma
parte encontra-se tal riqueza de materiais diversos levado a
tal grau de concentração. Não é
surpreendente, pois, que uma vida mais alta se desprenda
dela e que, reagindo sobre os elementos dos quais resulta,
eleve-os a uma forma superior de existência e os
transforme." Durkheim afirma:" Na verdade, porém,
há em toda a sociedade um grupo determinado de
fenômenos com caracteres nítidos, que se
distingue daqueles estudados pelas outras ciências da
natureza." Os fatos sociais possuem três
características, a saber:
A primeira
característica dos fatos sociais é a
Coerção Social, que é a
imposição das regras da sociedade em que
vivem, pois, quando nascemos nos deparamos com uma
infinidade de instituições que nós
não criamos, como, por exemplo, as práticas
seguidas na profissão.
O grau de
coerção torna-se evidente pelas
sanções a que o indivíduo estará
sujeito quando tenta se rebelar contra elas. As
sanções podem ser legais ou espontâneas.
Legais são as sanções prescritas pela
sociedade, sob forma de lei, nas quais se estabelece a
infração e a penalidade subseqüente.
Espontânea seriam as que aflorariam como
decorrência de uma conduta não adaptada
à estrutura do grupo ou da sociedade à qual o
indivíduo pertence, como exemplo a vingança, o
ostracismo, etc.. Diz Durkheim, exemplificando este
último tipo de sanção:
"Se sou industrial,
nada me proíbe de trabalhar utilizando processos e
técnicas do século passado; mas, se o fizer,
terei a ruína como resultado inevitável."
"Estamos, pois, diante de maneiras de agir, de pensar e de
sentir que apresentam a propriedade marcante de existir fora
das consciências individuais".
A
educação, para Durkheim, expressa uma doutrina
pedagógica, que se apóia na
concepção do homem e sociedade. O processo
educacional emerge através da família, igreja,
escola e comunidade. Fundamentalmente, Durkheim parte do
ponto de vista que o homem é egoísta, que
necessita ser preparado para sua vida na sociedade.
A ação
exercida pelas gerações adultas sobre as que
ainda não estão maduras para a vida social,
tem por objetivo suscitar e desenvolver na criança
determinados números de estados físicos,
intelectuais e morais que dele reclamam, por um lado, a
sociedade política em seu conjunto, e por outro, o
meio especifico ao qual está destinado.
È justamente a
educação um dos exemplos preferidos por
Durkheim, para mostrar o que é um fato social. O
individuo, segundo ele, não nasce sabendo previamente
as normas de conduta necessária para a vida em
sociedade. Por isso, toda a sociedade tem que educar seus
membros, fazendo com que aprendam as regras
necessárias à organização da
vida social. As gerações adultas transmitem as
crianças e aos adolescentes aquilo que aprenderam ao
longo de sua vida em sociedade. Com isso, o grupo social
é perpetuado, apesar da morte do
individuo.
As crianças
aprendem na escola Idéias, sentimentos e
hábitos que ela não possui quando nasce, mas
que são essenciais para a vida em
sociedade.
A linguagem, por
exemplo, é aprendida, em grande medida na escola.
Ninguém nasce conhecendo a língua de seu
país. È necessário um aprendizado, que
começa já nos primeiros dias de vida e se
prolonga no decorrer de muitos anos na escola, para que a
criança consiga se comunicar de maneira adequada com
seus semelhantes. Sem o aprendizado da linguagem, a
criança não poderia participar da vida em
sociedade.
A
educação - entendida de forma geral, ou seja,
a educação formal e a informal - desempenha
uma importante tarefa nessa conformação dos
indivíduos à sociedade em que vivem de modo
que as regras se transformam em hábitos.
"É
principalmente através da educação que
os fatos sociais, que são externos e coercitivos, se
impõem a nós." Na verdade a
educação é o mecanismo através
do qual deixamos de ser individual para sermos sociais e
é fundamental para nos tornarmos agentes sociais.
''... a educação tem justamente por objetivo
formar o ser social...A pressão de todos os instantes
que sofre a criança é a própria
pressão do meio social tendendo moldá-la
à sua imagem, pressão de que tanto os pais
quanto os mestres não são senão
representantes e intermediários."
A Segunda
característica dos fatos sociais é que eles
existem e atuam sobre os indivíduos independentes de
sua vontade ou de sua adesão consciente, ou seja,
são exteriores ao indivíduo. As regras
sociais, os costumes, as leis, já existem antes do
nascimento das pessoas, são a elas impostas por
mecanismos de coerção social, como a
educação. Portanto, os fatos sociais
são ao mesmo tempo coercitivos e dotados de
existência exterior as consciências individuais,
ou seja, ele existe independentemente das formas individuais
que toma ao se difundir. "...é incontestável
que a maioria de nossas idéias e tendências
não são elaboradas por nós, mas nos
vêm de fora, conclui-se que não podem penetrar
em nós, senão, através da
imposição."
A terceira
característica é a generalidade. É
social todo fato que é geral, que se repete em todos
os indivíduos ou, pelo menos, na maioria deles. Por
essa generalidade, os fatos sociais manifestam sua natureza
coletiva ou um estado comum ao grupo, como as formas de
habitação, de comunicação, os
sentimentos e a moral.
"O fato social
é reconhecível pelo poder de
coerção externa que exerce ou é
suscetível de exercer sobre os indivíduos; e a
presença deste poder é reconhecível,
por sua vez, seja pela existência de alguma
sanção determinada, seja pela
resistência que o fato opõe a qualquer
empreendimento individual que tenda a
violentá-lo."
Partindo da
afirmação de que fatos sociais devem ser
tratados como coisas, forneceu uma definição
do normal e do patológico. "A ciência vai das
coisas às idéias não das idéias
às coisas."
Ele construiu a forma
mais acabada da distinção entre normalidade e
patologia. Toda a linha do seu pensamento pauta-se na
premissa fundamental de que, a partir da
observação, a sociedade "... confina duas
ordens de fatos bastante diferentes: aqueles que são
os que devem ser e aqueles que deveriam ser diferentes
daquilo que são, os fenômenos normais e
patológicos."
Ele considera que
tanto os fenômenos biológicos quanto os
sociológicos podem ser reduzidos a dois tipos
básicos: aqueles que são comuns a toda
espécie e "... encontram-se senão em todos os
indivíduos, pelo menos na maior parte deles e
apresentam variações de um sujeito para o
outro compreendidas entre limites muito próximos" e
os fenômenos excepcionais, que, "...além de
surgirem em minorias, muitas vezes chegam a durar a vida
inteira dos indivíduos."
Os três
critérios para distinguir o normal do
patológico são os seguintes formulados por
Durkheim:
1º - Um fato
social é normal para um tipo social determinado,
considerado numa fase determinada de desenvolvimento, quando
se produz na média das sociedades desta
espécie, consideradas numa fase correspondente de
desenvolvimento;
2º - Os
resultados do método procedente podem verificar-se
mostrando que a generalidade do fenômeno está
ligada às condições da vida coletiva do
tipo social considerado;
3º - Esta
diversificação é necessária
quando um fato diz respeito a uma espécie social que
ainda não cumpriu uma evolução
integral.

CONCLUSÃO
Durkheim provou que a
sociologia, não é anexa a nenhuma outra
ciência, mas que ela própria é uma
ciência distinta e autônoma, pois toda
ciência deve ter uma personalidade independente,
somente assim ela terá uma razão de ser, e a
sociologia a partir de Émile Durkheim adquiriu essas
características, estabelecendo-se como uma
ciência.
Embora o método
positivista abraçado por Durkheim em seu
esforço de construir uma Sociologia dotada de
sólidas bases empíricas tenha por vezes
confundido analistas mais apressados que o identificaram com
as tendências conservadoras do pensamento
político e social da época, Durkheim esteve
atento para o surgimento de novas crenças, ideais e
representações, gerados em períodos
revolucionários ou de grande intensidade da vida
social, capazes de extinguir o "frio moral" pelo qual
passavam as sociedades industriais. Seriam esses, momentos
de exaltação da vida moral, quando
forças psíquicas recém-nascidas
permitiriam aos homens recuperar o vigor de sua fé no
caráter sagrado de suas sociedades e transformar seu
meio, atribuindo-lhe a dignidade de um mundo ideal. Por
outro lado, a profunda fé mantida por Durkheim na
capacidade de convivência entre indivíduos
idiossincráticos, possa por em risco a
existência da vida social. Ele atesta a sua
sensibilidade para as tendências de mudança,
embora de caráter pacífico e mesmo reformista,
assim como sua esperança no exercício da
liberdade responsável.
O sociólogo
francês Émile Durkheim representa, na
Sociologia, uma transição na maneira de
conceber e praticar os estudos relacionados a essa
ciência: afinal, ao mesmo tempo que defende um
posicionamento conservador, ao analisar a importância
da sociedade sobre o indivíduo, avança em
direção ao Positivismo, propondo a
objetividade e o empirismo nos estudos humanos. Seus
postulados sociológicos, guardadas as devidas
proporções, também foram aplicados no
estudo da História no século XIX e no
início dos anos XX. Trata-se de um pensador ligado a
correntes conservadoras do estudo social, defensor da
visão de que a sociedade é mais importante e
forte que os interesses individuais, de uma ordem social
coesa baseada na integração entre os humanos
constituindo sociedades e grupos sociais fortes, nos quais
exista uma complementaridade entre as partes formadoras
desse todo.
Durkheim nega as
correntes individualistas do pensamento sociológico,
que pregam a noção de indivíduo como
objeto de devoção e destaque para a
compreensão da evolução história
e social de uma sociedade. Nessa perspectiva, o ser
individual é aquele surgido com o Iluminismo no
século XVIII: racional, livre dos dogmas religiosos
que limitavam sua ação, capaz (ele por si
próprio e de acordo com sua vontade e capacidade
exclusivamente) de transformar as sociedades e a Humanidade.
Portanto, para o Individualismo o indivíduo é
o elemento a ser destacado; não se nega a
existência da sociedade e de suas
relações, mas coloca estas abaixo do ser
individual. Este último seria o conceito mais
importante e principal transformador da sociedade. E
é esta visão que Durkheim vai combater ao
longo de seus estudos e vida.
O pensador
francês parte do princípio que a sociedade
precede o indivíduo, ou seja, já existe antes
de que o ser individual seja concebido. Muito antes de essa
definição surgir com o Iluminismo, os humanos,
desde seu surgimento, foram organizando-se e regendo as
ações e relações que
desenvolviam entre si por meio de normas e leis (formando,
dessa maneira, sociedades). Portanto, a noção
de organização social entre os homens sempre
existiu, constituindo o que Durkheim chama de
consciência coletiva, que é exatamente essa
visão de um todo social, a
complementação necessária e existente
entre os humanos. Não existe indivíduo
separado de uma noção coletiva e social,
afirma o pensador; para se afirmar no mundo e sentir-se como
um humano, ele precisa enxergar-se nos outros, ter contato
com os que lhe são semelhantes. O conceito de
indivíduo seria uma criação do modelo
filosófico moderno, mas não se pode esquecer
que foi criado pela própria sociedade, pelos seres
que a formam. Isso comprova que a noção
coletiva, ou seja, a organização social
existia antes mesma do conceito de indivíduo surgir.
Durkheim deixa isso claro no Método para determinar a
função da divisão do trabalho: os
indivíduos necessitam de relacionamentos sociais
porque, sozinhos, são incompletos. Não
há humano que baste a si mesmo, sendo completo: ele
cumpre uma determinada função na sociedade,
mas necessita de outros humanos para complementar as
funções que não exerce. Daí a
divisão do trabalho por ele analisada: a
complementação de deveres sociais interliga e
aproxima os indivíduos, faz com que constituam entre
si relações de solidariedade bem como uma
coesão social. Cada ser conhece seu papel e procura
desempenhá-lo da melhor forma, para que depois possam
compartilhar seus esforços, solidarizá-los. E
isso se estende não só no campo do trabalho,
mas para todas as esferas da vida social. Como diz no
Método, "os indivíduos são ligados uns
aos outros (...) em vez de se desenvolverem separadamente,
eles ajustam seus esforços; são
solidários, por meio de uma solidariedade que
não age somente nos curtos períodos em que
trocam serviços, mas que se estende muito
além". Essa coesão social deve ser regida por
leis, ou seja, pelo Estado de Direito, de modo a assegurar a
boa ocorrência dessas relações. A vida
social exige uma padrão de organização,
ou seja, certas regras a serem cumpridas para garantir a
permanência de sociedades baseadas na solidariedade.
"A vida geral da sociedade não pode se desenvolver
num certo ponto sem que a vida jurídica se desenvolva
ao mesmo tempo e no mesmo sentido" (Durkheim, 1975,
pág.67). A aceitação das regras implica
na integração individual à sociedade,
ao abandono dos interesses particulares para aceitar a
visão de todo social, ou seja, assumir sua
função social e complementar-se com os outros
seres. Já o não-cumprimento das mesmas
acarreta punições a quem não procura
integrar-se. O papel das leis, então, é
impedir que as relações sociais, calcadas
basicamente na solidariedade, tornem-se frágeis e, em
vez de contribuir para a verdadeira coesão social,
não passem de laços intermitentes e
frágeis. A lei é, pois, a
aplicação das relações sociais,
o elemento fundamental para a perfeita
integração entre os homens. No entanto, em "O
que é fato social", Durkheim mostra que a
organização e coesão sociais não
são somente regidas pelas leis do Direito. Ele
introduz a questão dos costumes e hábitos, que
também são elementos chaves para reger as
sociedades. Da mesma forma que nos sentimos integrados
quando cumprimos as leis, ao seguir os costumes considerados
válidos pela sociedade nossa integração
é facilitada. Isso contribui para reforçar a
coesão social. No entanto, se não levamos em
conta tais hábitos sociais, não nos integrando
a eles, seremos punidos pela mesma sociedade, não
pelas regras do Direito, mas com a exclusão, o
deboche, a sátira etc.
Durkheim, no texto
citado acima, diz: "Se não me submeto às
convenções mundanas (...) o riso que provoco,
o afastamento em que os outros me conservam, produzem,
embora de maneira mais atenuada [que o Direito] os mesmos
efeitos que uma pena propriamente dita" (Durkheim, 1975,
pág.02). Portanto, não somente a mão
estatal, baseada na lei, age como força repressora de
quem foge da ordem; a própria sociedade tem seus
meios coercitivos. Coerção esta imposta, como
se disse, quando as regras estabelecidas não
são seguidas, tendo o objetivo principal de manter as
relações de solidariedade e a coesão
social.
Torna-se claro que,
para Durkheim, a aceitação das regras sociais
para uma perfeita integração é
fundamental para o indivíduo ser livre dentro da
sociedade, ou seja, ter capacidade de agir dentro da mesma.
O contrário disso (o desrespeito) implicará em
sua tiranização: ele pode ser dominado por
outros e punido coercitivamente. Não há
indivíduo livre fora das organizações
sociais, prega o Conservadorismo.
Mas como tomamos
contato com essas regras, como as incorporamos e seguimos o
comportamento considerado ideal? Aqui entra o conceito de
fato social de Durkheim. Para ele, o fato social é
"toda forma de agir fixa ou não, suscetível de
exercer sobre o indivíduo uma coerção
exterior" (Durkheim, 1975, pág.11). Nessa
definição entram os costumes e hábitos
sociais, bem como a legislação vigente; desde
cedo, somos guiados e orientados a seguir um comportamento
correto para vivermos em sociedade. Esse comportamento
implica no conhecimento e incorporação das
leis e hábitos dessa sociedade; são estes que
nos darão a base para que entremos no rol da
solidariedade e das relações com nossos
semelhantes e permitirão a nossa
aceitação no meio social. Durkheim deixa claro
que esses hábitos e leis têm poder de
coerção e são externos ao
indivíduo, ou seja, já existem antes mesmo de
seu nascimento e continuarão existindo mesmo
após a sua morte, pois estão
institucionalizados pela sociedade como formas fundamentais
para sua organização e
estruturação. Dessa maneira, o
indivíduo tem de aceitar tal funcionamento, pois
senão enfrentará a força coercitiva do
sistema para ser integrado. São, pois, nossos atos e
idéias incorporados externamente e que guiam nosso
comportamento social que se denominam fatos sociais. Devem
ser estudados como "coisas, ou seja, objetos do conhecimento
que a inteligência não penetra de maneira
natural(...) seu estudo deve ser abordado a partir do
princípio de que se ignora o que são, e de que
suas propriedades características (...) não
podem ser descobertas nem mesmo pela mais atenta das
introspecções" (As regras do Método
Sociológico - Prefácio à segunda
edição, pág.21). Seu estudo, portanto,
deve ser mais atento e dedicado, visto que implica na
percepção de conhecimentos impostos de alguma
forma e que acaba por criar em nós o hábito de
segui-lo. Vale a afirmação de Durkheim: "(...)
a maioria de nossas idéias e tendências
não são elaboradas por nós, mas nos
vêm de fora(...) não podem penetrar em
nós senão através de uma
imposição". Nós não participamos
da elaboração das normas e leis, mas já
as encontramos prontas.
É para Durkheim
função de a Sociologia estudar os fatos
sociais e as relações de solidariedade e
complementaridade existentes nas sociedades, pois é
por meio deles que se entende as formas de
organização e coesão das mesmas,
mantidas por processos de coesão externos que
são incorporados ao indivíduo desde cedo e que
minam suas tentativas de emancipação pessoal,
ou seja, viver de acordo com sua conduta pessoal.
São, pois objetos sociológicos porque
determinam a constituição das diferentes
sociedades, suas normas de manutenção e
até mesmo como se renovam (quando os hábitos e
leis vão tornando-se arcaicos, dando espaço ao
crescimento no seio social de condutas não
concebidas; quando estas tornam-se dominantes, constitui-se
o que Durkheim chama de "estado anômico", aquele com
uma organização social baseada em
práticas não-regidas pelas leis. Para impedir
isso, deve o Estado perceber as transformações
sociais a tempo e mudar a lei para incorporar as
práticas antes não legais à lei),
permitindo assim seu entendimento e estudo.
Mas como incorporamos
as leis e os hábitos? Por meio do contato com a
legislação, a família, os
órgãos estatais, mas principalmente por meio
da educação. A escola é, para Durkheim,
a mais importante e poderosa instituição capaz
de preparar as crianças e jovens para a sociedade,
impondo-lhes o comportamento mais correto e a visão
da consciência coletiva. É na escola que as
crianças aprendem que se deve negar a vontade pessoal
e sacrificar-se em função do todo social; que
terão uma função a cumprir na
sociedade, e que para complementarem-se terão de se
relacionar com os seus semelhantes. Ou seja, a escola deve
internalizar a sociedade no indivíduo, impor-lhe
padrões de conduta que o impeçam de seguir
suas próprias tendências e regras que possam
quebrar a coesão social.
Cabe à escola,
portanto, preparar as futuras gerações a
seguir a moral social mais correta e aceita, sabendo que a
sua transgressão e contestação implica
em punições. "Toda a educação
consiste num esforço contínuo para impor
às crianças maneiras de ver, sentir e agir
às quais elas não chegariam
espontaneamente(...) a pressão de todos os instantes
que sofre a criança é a própria
pressão do meio social tendendo a moldá-la
à sua imagem, pressão que tanto os pais quanto
os mestres não são senão representantes
e intermediários" (Durkheim, 1975, pág.05),
afirma o pensador francês.
Nesta última
afirmação, Durkheim define as
funções do educador e da família no
processo de integração das crianças
à sociedade. São estes porta-vozes que apenas
transmitem as regras sociais válidas; não
podem emitir nenhum juízo de valor pessoal a respeito
das mesmas. Aqui Durkheim mostra seu lado positivista, ou
científico. As regras sociais, ao serem ensinadas,
devem falar por si mesmas, mostrar espontaneamente às
crianças sua força e a necessidade de sua
obediência. Dispensam a intervenção
pessoal dos transmissores; pelo contrário, esta
é totalmente descartada. Com isso, Durkheim procura
estudar a Sociologia como se fosse uma ciência pura e
exata, ou seja, que contenha verdades absolutas em seu
próprio conhecimento, dispensando juízos
particulares. Seria estudar os fatos sociais como um
químico realiza experimentos: as fórmulas que
este último chega falam por si, o químico
não coloca seus valores na experiência; ele
apenas a comprova e a apura.
O sociólogo
deve agir da mesma forma: comprovar os fatos e nada mais. O
mesmo se espera do educador e da família:
transmissão dos valores que mantém a sociedade
em coesão e nada mais. Eles ensinam o que deve ser
seguido ou não por si mesmos.
Toda a teoria
sociológica de Durkheim pretende-se demonstrar que os
fatos sociais têm existência própria e
independem daquilo que pensa e faz cada indivíduo em
particular. Embora todos possuam sua "consciência
individual", seu modo próprio de se comportar e
interpretar a vida pode-se notar, no interior de qualquer
grupo ou sociedade, formas padronizadas de conduta e
pensamento. Essa constatação está na
base do que Durkheim chamou de consciência
coletiva.
Para ele, a
possibilidade de coesão na sociedade moderna se
dá, principalmente, através da divisão
do trabalho, quando a consciência comum perde seu
lugar para a consciência individual exaltando, assim,
as diversidades humanas e o individualismo.
Com essa
divisão e especialização do trabalho, a
sociedade perde o controle das funções dos
seus membros; é aí que entra o direito, como
regulador das atividades humanas, utilizando-se da
criação de leis e órgãos cada
vez mais eficazes a fim de evitar que a coesão social
seja fragilizada, assegurando, dessa forma, a ordem e o
estado de paz na sociedade.

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS:
DURKHEIM, É. A
Ciência Social e a Acção Social Trat.
Inês D. Ferreira. São Paulo.
Difel,
1975.
DURKHEIM, Émile
- "A função da divisão social do
trabalho [Capítulo 1: Método
para
determinar essa função]" in Os Pensadores.
São Paulo: Abril Cultural, 1983.
DURKEIM, É. As
regras do método sociológico. Trad. Maria
Isaura P. Queiroz. São
Paulo: Editora
Nacional, 1974.
DURKHEIM, E. As formas
elementares da vida religiosa. Coleção Os
Pensadores.
São
Paulo: Abril Cultural. Introdução e
Conclusão
DURKEIM, É.
Lições de Sociologia: a Moral, o Direito e o
Estado. , T.A.
Queiroz/EDUSP,
1983.
DURKEIM, É. O
Suicídio: estudo de sociologia/ Émile
Durkheim. Trad. Mônica
Stahel. -
São Paulo: Martins Fontes, 2000.
|