Algumas vezes, indicamos um coisa,
descrevendo o que a rodeia.
Quando dizemos "Sat-chit-ananda"
(Existência-Conhecimento-Felicidade)
estamos indicando, simplesmente,
a idéia de um indescritível Mais Além.
Nem, ao menos, podemos dizer *isto é*,
porque isso também é relativo.
Qualquer imaginação, qualquer conceito é vão;
*neti-neti*, (não é isso; não é isso) é tudo quanto
podemos dizer, porque até o pensar significa limitar
e, desse modo, perder o sentido de totalidade.
Os sentidos enganam dia e noite.
A Vedanta falou disso, faz muito tempo;
a ciência moderna,
agora está descobrindo a mesma coisa.
Uma tela só tem altura e largura e o pintor copia
o engano da natureza, dando, artificialmente,
a aparência de profundidade.
Não existem duas pessoas que vejam o mesmo mundo.
O mais elevado conhecimento lhes dirá
que não há movimento nem mudança em nada;
que só esta idéia já é Maya.
    Estudem a natureza como um todo,
ou seja, estudem o movimento.
Nem a mente nem o corpo são nosso Ser Real;
ambos pertencem à natureza, porém,
eventualmente, poderemos conhecer *a coisa em si*.
Assim, havendo transcendendo corpo e a mente,
tudo o que eles representam, desaparece.
Quando vocês anularem, inteiramente, o que sabem
sobre o mundo, então, realizarão o Atman.
Tudo o que precisamos é anular o conhecimento relativo.
Não há mente infinita, nem infinito conhecimento,
porque tanto a mente
como o conhecimento, são limitados.
Vemos  agora, através de um véu; depois,
alcançaremos o *X*, a incógnita, que é a Realidade
de todo o nosso conhecimento.
    Se olharmos um quadro, através de um buraco
feito com a ponta de um alfinete, numa tela,
adquirimos uma noção completamente errada;
no entanto, o que vemos é, realmente, a figura.
À medida que aumentamos o furo,
vamos tendo uma idéia mais clara.
Da Realidade, extraímos os mais diversos
pontos de vista, de acordo com nossas
incorretas percepções de *nome e forma*.
Quando retiramos a tela, vemos o mesmo quadro,
mas agora o vemos tal qual ele é.
Nós lhe atribuímos todas as qualidades, todos os erros,
sem que, por isso, o quadro se tenha alterado.
Isto acontece porque o Atman
é a Realidade de Tudo; tudo o quanto vemos,
é Atman, mas não o vemos tal qual Ele é,
mas com *nome e forma*;
essas coisas, constituem o véu de Maya.
    São como manchas na lente de um telescópio;
sem dúvida é a luz do sol
que nos mostra essas manchas.
Não poderíamos ver, nem mesmo a ilusão,
a não ser pelo contraste
com a Realidade que é Brahaman.
O Swami Vivekananda, é a mancha
que se acha sobre lente; Eu sou Atman,
real, imutável, e só essa realidade
me permite ver o Swami Vivekananda.
Atman é a essência de toda a alucinação;
porém o sol nunca se identifica com as manchas
que existem sobre o cristal do telescópio;
ele só nos faz ver.
Nossas ações, conforme sejam boas ou más,
só fazem aumentar ou diminuir estas manchas,
porém nunca afetam ao Deus que há em nosso interior.
Se limparmos perfeitamente essas manchas mentais,
imediatamente vamos ver que "Eu e meu Pai somos um só".
Nós percebemos primeiro e raciocinamos depois.
Devemos ter essa percepção como um fato
e a isto se chama religião, realização.
Não importa que alguém nunca tenha ouvido falar
de credo, de profeta ou livro, desde que adquira
esta realização, não precisará de mais nada.
Limpemos a mente; nisto consiste toda a religião,
e até que nós mesmos limpemos todas as manchas,
não poderemos ver a Realidade tal qual ela é.
   Uma criança não vê pecado,
porque não tem dentro de si, a medida deles.
Livrem-se dos defeitos de dentro de si mesmos
e já não poderão vê-los do lado de fora.
Uma criança assiste a um roubo,
sem que aquilo tenha nenhum significado para ela.
    Uma vez que tenham visto a figura oculta
num quebra-cabeças a verão sempre, depois;
da mesma forma, quando se tornam livres
e imaculados, só poderão ver liberdade
e pureza  no mundo que os rodeia.
Neste momento, todos os nós do coração
são desatados, tudo que é torto se torna reto
e esse mundo se desvanece como um sonho;
e quando despertamos, como nos admiramos
de termos podido sonhar tão disparatados sonhos.
    Adquirido isso, nem uma soma de sofrimentos
tão grande como uma montanha,
tem o poder de comover a alma.
    Com a arma do conhecimento, despedacem as rodas:
o Atman permanece livre,
embora a força do movimento adquirido faça girar,
ainda, a roda da mente e do corpo.
A roda, que agora só pode andar em reta,
só poderá fazer o bem.
Se esse corpo faz algum mal,
saibam que o homem não é *jivanmukta*,
e que mente se afirma isso.
Porém, apenas quando as rodas atingiram
o movimento reto e bom (pela limpeza da mente),
se pode usar a arma.
Toda  ação purificadora dá, consciente
ou inconscientemente, golpes sobre a ilusão.
Chamar o outro de pecador é pior coisa que há a fazer.
A ação boa, feita ignorantemente, produz
o mesmo resultado e ajuda a romper os grilhões.
Identificar o sol com as manchas que possam
haver na lente do telescópio, é o erro fundamental.
Saibam que tanto o Sol como o EU, nunca são afetados
por coisa alguma, e dediquem-se a limpar as manchas.
O homem é o ser mais elevado que jamais pode existir.
O culto mais elevado, é adorar o homem,
como Krishna, Buddha e Cristo.
Criamos o que desejamos.
Liberem-se dos desejos !


    Os anjos e os mortos estão todos aqui,
vendo este mundo como céu.
O mesmo *X*, é visto por todos,
de acordo com sua disposição mental.
A melhor visão que alguém
pode ter de *X*, é aqui, nesta terra.
Nunca procurem ir ao céu, essa é a pior das ilusões.
Mesmo aqui, a excessiva riqueza e a aniquiladora
pobreza são limitações que nos separam da religião.
Três grandes dons, nós possuímos:
primeiro, um corpo humano.
(A mente humana é o reflexo mais imediato de Deus;
nós somos a *sua própria imagem*).
Segundo, o desejo de sermos livres.
Terceiro, a ajuda de uma alma nobre que já cruzou
o oceano da ilusão, e nos serve de Mestre.
Se possuem essas três coisas, bendigam ao Senhor;
podem estar seguros de que são livres.
    Aquilo que é alcançado, apenas intelectualmente,
pode ser destruído por um novo argumento;
porém aquilo que realizaram, será seu para sempre.
Falar e falar de religião é de muita pouca utilidade.
Ponham Deus por trás de todas as coisas, homens,
animais, alimento, trabalho; façam disto um hábito.
Ingersoll me disse, certa vez:
"Creio que o máximo que podemos fazer neste mundo,
é espremer a laranja, até que ela fique seca,
porque esse mundo é o único do qual estamos seguros".
Eu lhe respondi:
"Conheço uma forma melhor do que a sua de espremer
a laranja deste mundo e conseguir mais suco.
*Sei* que não posso morrer,
por conseguinte, não me apresso;
*sei* que não há nada a temer
e assim, tiro prazer do fato de espremê-la.
Não tenho deveres; nenhum laço de esposa,
filhos ou propriedades;
posso amar a todos os homens e mulheres.
Cada um deles é Deus para mim.
Sintam a alegria de amar ao homem como a Deus.
Espremam suas laranjas deste modo
e obterão mil vezes mais suco.
Não perderão nem uma só gota".
    Aquilo que parece ser a vontade, é o Atman
  que está atrás dela e Ele é, realmente livre.
 

Segunda - à tarde
 

    Jesus foi imperfeito porque não viveu completamente
seu próprio ideal e, sobretudo,
porque não deu à mulher, um lugar igual ao do homem.
As mulheres fizeram tudo por ele, porém estava
tão influenciado pelos costumes judáicos,
que nenhuma foi chamada para serseu apóstolo.
Não obstante, Cristo foi o maior homem,
depois de Buddha,que, por sua vez,
não foi inteiramente perfeito.
Buddha, sem dúvida, reconheceu que os direitos
da mulher eram iguais, em religião, ao do homem,
e seu primeiro e um dos seus mais importantes discípulos,
foi sua própria esposa, que chegou a ser a cabeça
de todo o movimento budista, entre as mulheres da Índia.
Porém não devemos criticar a esses grandes homens,
devemos considerá-los somente como muito superiores a nós.
Por outro lado, não devemos depositar nossa fé
em nenhum homem, por maior que ele seja;
nós devemos tratar de ser, também, Buddhas e Cristos.
    Nenhum homem deve ser julgado por seus defeitos.
As grandes virtudes que um homem tem,
são suas, enquanto que seus erros,
são parte da debilidade comum à humanidade,
e nunca deveriam ser tomados em conta,
ao estimar seu caráter.
    *Vira* é a palavra sânscrita equivalente a heróico;
ela é a origem da palavra virtude, porque,
nos tempos antigos, o melhor lutador era considerado
como o homem mais virtuoso.