"Não há uma polegada do meu caminho que não passe pelo caminho do outro."  Simone de Beauvoir                                                                                        >        Avise-nos sobre eventuais problemas                   

 

51º - A Ciência e a Hipótese (1902) - Jules-Henri Poincaré (1854-1912). Em francês, "La Science et l'Hypothèse" (Flammarion). O matemático e físico francês expõe sua visão convencionalista da ciência: teorias científicas são modos convencionais de organizar o mundo sensível e devem ser julgadas a partir de critérios de economia e simplicidade -e não de verdade última.
52º -
Apresentação de "Parade" (1913) - Guillaume Apollinaire (1880-1918). Apollinaire é o primeiro grande nome das vanguardas literárias da virada do século; próximo dos cubistas e inspirador do surrealismo, ele faz aqui uma defesa das novas formas de arte, não-representativas e não-lineares.
53º -
O Ramo de Ouro (1906-1915) - James George Frazer (1854-1941). Ed. LTC (R$ 40,40). Clássico da antropologia inglesa, cuja influência chegou à literatura; trata-se de um compêndio de crenças mágicas mundiais. Frazer introduziu as noções de tabu, contágio e magia simpática.
54º -
O Segundo Sexo (1949) - Simone de Beauvoir (1908-86). Nova Fronteira (2 vols., R$ 59,00). Manifesto pioneiro do feminismo, no qual a autora propõe novas bases para o relacionamento entre mulheres e homens, fundadas na "estrutura ontológica comum" a ambos.

55º - Liberalismo e Democracia - N. Bobbio (1909). Brasiliense (R$ 8,30). Apanhado das relações históricas entre liberalismo e democracia. O autor ocupa-se sobretudo com as lutas pelo direito ao voto na passagem do Estado liberal censitário às democracias modernas.
56º -
Descartes segundo a Ordem das Razões - Martial Guéroult. Em francês, "Descartes selon l'Ordre des Raisons" (Aubien). Ensaio e manifesto da "explicação de texto" aplicada à filosofia: o professor francês suspende seus juízos próprios para dedicar-se a uma leitura interna e minuciosa das "Meditações Metafísicas" de Descartes.
57º -
A Sociedade do Espetáculo (1967) - Guy Debord (1931-1994). Contraponto (R$ 27,00). Crítica aos rumos da democracia capitalista, convertida em consumo contínuo de imagens, ditado pelo império da mídia, e cujo resultado é a perpetuação do presente e a aniquilação da personalidade individual. Livro característico do movimento de Maio de 1968.
58º -
Principia Mathematica (1910-1913) - Bertrand Russell (1872-1970) e Alfred Whitehead (1861-1947). Em inglês, com o mesmo título (Cambridge University Press). Obra maior do programa logicista, que tentava reduzir os teoremas básicos da matemática a teoremas da lógica; para tanto, os dois autores ingleses desenvolveram boa parte da notação e do instrumental algébrico da lógica moderna.
59º -
Os Reis Taumaturgos (1924) - Marc Bloch (1886-1944). Companhia das Letras (R$ 32,00). Obra fundamental da escola historiográfica francesa reunida em torno da revista "Annales". Bloch esclarece o poder curativo atribuído aos reis franceses e ingleses, recorrendo a diversas fontes e disciplinas, numa abordagem que inspiraria toda a história das mentalidades.
60º -
Giordano Bruno e a Tradição Hermética (1964) - Frances Yates. Cultrix (R$ 34,00). Ensaio clássico de história das idéias; a autora examina as origens intelectuais do herege italiano nas tradições filosóficas e ocultistas do Renascimento.
61º -
Estudos de Estilo (1970) - Leo Spitzer. Em francês, "Études de Style" (Gallimard). Grande nome da estilística, Spitzer quer desvendar a estrutura e o sentido da obra literária a partir do exame minucioso de seu tecido verbal em seus níveis mais básicos. Alguns destes ensaios trazem a marca das leituras freudianas do autor.
62º -
Construir, Habitar, Pensar - Martin Heidegger. Em francês, no volume "Essais et Conférences" (Gallimard). Reunião de ensaios tardios do filósofo, que dão testemunho da radicalização do programa filosófico de "Ser e Tempo" e de seu envolvimento crescente com a poesia lírica, em especial a de Hölderlin.
63º -
A Obra de François Rabelais e a Cultura Popular na Idade Média e no Renascimento (1965) - Mikhail Bakhtin (1895-1975). Ed. da UnB (R$ 35,00). O crítico russo, autor de ensaios sobre Dostoiévski e a poética do romance, parte da obra de Rabelais para estudar a cultura popular medieval por meio de conceitos como paródia e carnavalização.
64º -
Um Universo Pluralístico (1909) - William James (1842-1910). Em inglês, "A Pluralistic Universe" (University of Nebraska Press). Série de conferências do psicólogo e filósofo pragmatista norte-americano: James sustenta que a variabilidade da experiência humana é irredutível e que, portanto, devemos aprender a viver num universo plural, onde fatos e valores são sempre sujeitos a revisão.
65º -
Psicanálise dos Tempos Neuróticos - Sigmund Freud. Edimax. Coletânea de textos em que Freud analisa o sentido da guerra, como em "Desilusão da Guerra" e "Introdução aos Estudos das Neuroses de Guerra".
66º -
O Mediterrâneo (1949) - Fernand Braudel (1902-1985). Ed. Dom Quixote (Portugal). Mural da Europa mediterrânea durante a segunda metade do século 16, estruturado em três níveis de ritmo histórico: o das relações entre o homem e o meio; o das estruturas sociais; e o nível dos acontecimentos singulares.
67º -
Homo Hierarquicus (1967) - Louis Dumont. Edusp (R$ 25,00). A partir do estudo do sistema de castas na Índia antiga, o autor constrói um modelo de hierarquia diverso da idéia de superposição valorativa de ordens: a relação hierárquica entre um conjunto e um de seus elementos é definida como "englobamento do contrário".
68º -
Oportunidade, Amor e Lógica (1923) - Charles Sanders Peirce (1839-1914). Em inglês, "Chance, Love and Logic - Philosophical Essays" (University of Nebraska Press). Antologia de ensaios do filósofo cuja reflexão é uma das mais completas nos Estados Unidos, abarcando diferentes questões que ocuparam o pensamento norte-americano neste século, como o pragmatismo, o empirismo lógico e a filosofia da linguagem.
69º -
A Sociedade Aberta e Seus Inimigos (1945) - Karl Popper (1902-1994). Itatiaia (R$ 35,00). Incursão do filósofo da ciência no terreno político, com uma defesa dos valores liberais, ameaçados pelos teóricos da "sociedade fechada", isto é, do autoritarismo e do totalitarismo, identificados em Platão, Hegel e Marx.
70º -
Física Atômica e Conhecimento Humano (1961) - Niels Bohr (1885-1962). Contraponto (R$ 19,00). Reflexões filosóficas de um dos pais da física quântica: seu caráter estatístico e os paradoxos envolvendo a observação dos fenômenos subatômicos permitem a Bohr desafiar as noções clássicas de determinismo e objetividade.
71º -
Teoria do Romance (1916) - Georg Lukács. Em inglês, "Theory of the Novel" (MIT Press). Nesse marco da crítica literária materialista, o autor húngaro contrapõe o romance à epopéia e vê nele a forma literária por excelência da civilização burguesa. Influenciado por Hegel, Lukács por sua vez influenciaria autores como Adorno, Benjamin e Goldmann.
72º -
Os Sertões (1902) - Euclides da Cunha (1866-1909). Leia resumo na pág. anterior (Os 10 Mais Brasileiros). O livro foi também escolhido como um dos 30 melhores de não-ficção brasileiros.
73º -
Montaillou (1975) - Emmanuel Le Roy Ladurie. Companhia das Letras (R$ 38,50). A partir da documentação de um processo de heresia em 1320, o historiador francês reconstrói integralmente a vida numa vila do sudoeste francês no começo do século 14. Um marco da história antropológica.
74º -
Manifestos do Surrealismo - André Breton (1896-1966). Ed. Salamandra (Portugal). Nessa série de panfletos programáticos, Breton apresenta as palavras de ordem centrais do movimento, como a noção de escrita automática, a recusa da lírica confessional, o flerte com o "nonsense"; ao mesmo tempo, começa sua reflexão sobre o papel do poeta na política.
75º -
Estética (1902) - Benedetto Croce (1866-1952). Em francês, "Essais d'Esthétique" (Gallimard). O filósofo e homem público italiano inspira-se em Hegel para propor uma doutrina estética em que os conceitos de intuição e expressão têm lugar de honra enquanto "formas não-conceituais" de conhecimento.
76º -
Arqueologia do Saber (1969) - Michel Foucault (1926-1984). Forense Universitária (R$ 27,00). Nesse ensaio de história das ciências e epistemologia, com forte marca nietzschiana, o pensador francês introduz a noção de "formação discursiva" para analisar a imbricação de conhecimento e poder no Ocidente. A obra inspirou todo o pensamento francês da década seguinte.
77º -
Vigiar e Punir (1975) - Michel Foucault. Vozes (R$ 20,00). Análise das origens da prisão moderna e das práticas disciplinares associadas a ela. O interesse do autor é revelar a abrangência e o funcionamento desse poder difuso, diverso em seu "modus operandi" do poder estatal.
78º -
Problemas da Poética de Dostoiévski (1963) - Mikhail Bakhtin. Forense Universitária (R$ 27,00). A fim de capturar os traços distintivos dos grandes romances de Dostoiévski, Bakhtin introduz a noção capital de "romance polifônico" -aquele em que não há narrador ou personagem encarregado de explicitar o sentido ou a "moral" da trama.
79º -
Outras Inquisições (1952) - Jorge Luis Borges (1899-1986). Em espanhol, "Otras Inquisiciones" (Alianza Editorial). Coleção de ensaios que pode ser vista como a contrapartida ensaística dos contos de "Ficções"; ao longo de textos sobre os temas mais díspares, o escritor argentino desenvolve suas idéias sobre o conto, a literatura fantástica, o tempo e os labirintos.
80º -
Ritos de Passagem (1909) - Arnold van Gennep (1873-1957). Em inglês, "The Rites of Passage" (University of Chicago Press). Análise dos ritos que marcam o momento de transição, social e culturalmente definido, de um indivíduo ou grupo de um estado para outro. A elaboração dos ritos varia de acordo com a sociedade, mas sua estrutura envolve sempre três fases: separação, latência e agregação.
81º -
Ideologia e Utopia (1929) - Karl Manheim (1893-1947). Guanabara-Koogan (R$ 28,10). Livro dedicado à sociologia do conhecimento, que propõe critérios próprios para a análise dos discursos utópicos (projeção de um ideal de sociedade) e ideológico (idealização do presente), de modo a fornecer novos valores e interpretações do mundo em momentos de crise.
82º -
A Estrutura da Ação Social (1937) - Talcott Parsons (1902-1979). Em inglês, "The Structure of Social Action" (Free Press). Clássico da teoria sociológica que parte de uma fina análise da obra de Weber, Durkheim, Pareto e Marshall para propor uma "teoria geral da ação", modelo analítico que sintetiza o conhecimento sociológico acumulado sobre o tema.
83º -
O Estado da Produção e o Estado das Artes Industriais (1914) - Thorstein Veblen (1857-1929). Em inglês, "The Instinct of Workmanship and the State of the Industrial Arts" (Transaction Pub.). Depois de sua polêmica "Teoria da Classe Ociosa", o dublê de economista e sociólogo põe-se a refletir sobre o futuro da inovação técnica no capitalismo monopolista.
84º -
O Teatro e Seu Duplo (1938) - Antonin Artaud (1896-1948). Martins Fontes (R$ 15,50). Ensaios de crítica ao "teatro psicológico" tradicional, em nome de um "teatro da crueldade", capaz de lidar com matérias míticas a fim de trazer à tona as forças inconscientes que ligam o homem ao cosmo.
85º -
O Existencialismo É um Humanismo (1946) - Jean-Paul Sartre. Em francês, "L'Existencialisme Est un Humanisme" (Gallimard). Escrito logo após a guerra, esse manifesto procura defender o existencialismo da crítica de anti-humanismo que lhe dirigiam autores cristãos e marxistas. Tornou-se uma espécie de cartilha daquela corrente filosófica.
86º -
Linguística e História Literária (1955) - Leo Spitzer (1887-1960). Em espanhol, "Linguistica e Historia Literaria" (Ed. Gredos). Coleção de ensaios de análise literária em que Spitzer faz a apologia da estilística: a interpretação da obra literária não pode prescindir da análise cuidadosa de suas texturas verbais mais básicas -sob pena de desconsiderar justamente o caráter literário da obra.
87º -
Idéias sobre uma Fenomenologia (1913) - Edmund Husserl (1859-1938). Em Portugal, "A Idéia da Fenomenologia" (Ed. 70). Autocrítica em que o autor alemão procura livrar-se do lastro kantiano: a fenomenologia deve livrar-se da distinção entre fenômeno e coisa-em-si.
88º -
A Filosofia das Formas Simbólicas (1923-1929) - Ernst Cassirer (1859-1938). Em francês, "La Philosophie des Formes Symboliques" (Minuit). Filósofo e historiador da filosofia, Cassirer alarga seu horizonte para propor uma filosofia da cultura humana a partir dos tipos de simbolismo que definem suas três grandes fases: o mito, a linguagem, a ciência matemática.
89º -
Palavra e Objeto (1960) - Willard Quine (1908). Em inglês, "Word and Object" (MIT Press). Fortemente influenciado pelo pragmatismo, o lógico norte-americano propõe uma teoria radical da linguagem e da ciência: negando a "pureza" dos enunciados lógico-matemáticos, Quine sugere que todo o conhecimento humano está sujeito à revisão da experiência.
90º -
O Mito de Sísifo (1942) - Albert Camus (1913-1960). Guanabara-Koogan (R$ 16,90). Ensaio filosófico mais importante do romancista de "O Estrangeiro". A indiferença do mundo aos desejos e aspirações humanas faz nascer a experiência do absurdo, diante da qual a revolta se impõe como único ato genuinamente humano.
91º -
O Gene Egoísta (1976) - Richard Dawkins (1941). Itatiaia (R$ 15,80). O biólogo reformula o darwinismo ao sustentar que não é o indivíduo, mas o gene, como unidade hereditária auto-suficiente e auto-replicativa, que constitui o verdadeiro "alvo" da seleção natural.
92º -
Literatura Européia e Idade Média Latina (1948) - Ernst Robert Curtius (1886-1956). Edusp (R$ 60,00). Nesse ensaio monumental, que suscitou as críticas de Spitzer e Auerbach, Curtius mobiliza enorme quantidade de material para traçar a continuidade da tradição literária européia da Antiguidade ao século 19 por meio do rastreamento de "lugares-comuns" persistentes.
93º -
A Sociedade Feudal (1940) - Marc Bloch (1886-1944). Ed. 70 (Portugal). Última grande obra do historiador francês, que morreria nas mãos dos nazistas em 1944; Bloch analisa a formação da sociedade feudal européia a partir do fim do mundo antigo, num ensaio de história de "longa duração".
94º -
Fala, Memória (1951) - Vladimir Nabokov (1899-1977). Em inglês, "Speak, Memory" (Everyman's Library). Peças autobiográficas soltas em que o escritor rememora sua infância na Rússia imperial e a experiência do exílio, com o lirismo e a verve que se conhece de "Lolita" e "Fogo Fátuo", dois de seus principais romances.
95º -
O Ouriço e a Raposa (1953) - Isaiah Berlin (1909-1997). Em inglês, "The Hedgehog and the Fox" (Ivan R. Dee, Inc.). O ensaísta britânico de origem russa, autor de "Quatro Ensaios sobre a Liberdade", une crítica literária e história das idéias para traçar o perfil dos dois grandes nomes do romance russo oitocentista: Tolstói (a "raposa") e Dostoiévski (o "ouriço").
96º -
Mitologias (1959) - Roland Barthes (1915-1980). Bertrand Brasil (R$ 21,50). Primeira obra de impacto do crítico francês, que reformula a noção de ideologia por um viés semiótico para analisar momentos e imagens da vida cotidiana. Ao longo dos anos 60, com a ascensão do estruturalismo, Barthes viria a se distanciar do estilo e da liberdade desses ensaios.
97º -
Metafísica, Materialismo e Evolução da Mente - Charles Darwin (1809-1882). Em inglês, "Metaphysics, Materialism and Evolution of Mind" (Britton Booksellers). Coletânea de escritos, publicados neste século, do formulador da teoria da evolução das espécies.
98º -
Gramática da Política (1925) - Harold Laski (1893-1950). Em inglês, "A Grammar of Politics" (London, Allen and Unwin). Reunião de ensaios em que, a partir do ideário liberal, propõe-se um programa de reformas políticas e sociais para se chegar a uma sociedade baseada na justiça e no pluralismo.
99º -
Estrutura da Lírica Moderna - Hugo Friedrich. Duas Cidades (R$ 18,90). Outro grande nome dos estudos literários na Alemanha, ao lado de Auerbach, Curtius e Spitzer; o livro oferece um quadro sinóptico das transformações da lírica entre o final do século 19 e a primeira metade do século 20.
100º -
Diferença e Repetição (1968) - Gilles Deleuze (1925-1995). Paz e Terra (R$ 32,50). Representante típico do grupo de pensadores que emerge com Maio de 68, Deleuze inspira-se em Nietzsche para praticar uma espécie de anarquismo filosófico; nesse livro, vale-se da noção de uma "diferença" irredutível para criticar as pretensões.

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