CARNE...
         (inédito)

Não posso ser carne
Na carne não posso amar
Oiço apelos de jardins proíbidos
Frases e melodias encantadas
E minha alma esfomeada e sedenta
Esquece por um momento sua prisão de carne
Seduzida pelo cântico e as asas do passáro...
De cansaço, não avanço nem recuo
Fico paralizada
Os braços se estendem me chamando
Hipnotizada, a alma dança e canta
E as vozes me vencem
Como se já estivesse na morte
Onde só nela anseio Vida (...),
E levanto-me, cabeça de carne sem medo
E avanço, de tímidos passos caminho...
Acendo luzes, sorrisos
Paixões, desejos
Onde a sensualidade espreita
Nas ausências da razão (...),
E neles vibro
Como se Desejo fosse
E ergo os braços ao céu
De agradecimento, de alegria...
Mas... Quando "julgo" que são estrelas
São apenas "mirones" na carne
E cada luz, cada sorriso, cada paixão
É passageiro e vão
Coberto de grades de prisão
E de novo fico paralizada...
E o cenário se estende
Nos ciclos do "déjà vu" repetidos...
Todos querem me agarrar
Um a um me separando
Um a um me isolando
Aos quatro cantos do vento
Deixando-me apenas a boca
Que de beijos não tem direito
Senão de gesticular e até de gritar
Silêncios de dores acumuladas...
Esqueceram-se de levar meus desejos
Moribunda rezei por olhos
E encontrei-me a olhar
Com olhos de carne, na carne
Murmurando:
Esta carne dói-me
Esta carne não pode desejar
Esta carne é algema que me rasga
Que nem esconde a agonia...
Senhor!!! Aquando o amor?
Aquando a Terra Prometida?
E... Na Espera... Me ajoelho!...


Manuela Pittet (Suiça)
Poema 4
para Existência
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