Em
grego Paulos, derivado do latim Paulus, que quer dizer pequeno.
Nome do grande apóstolo dos gentios. O nome judaico anterior era Saulo; no
hebreu Shaul, no grego, Saulos; assim denominado nos Atos dos Apóstolos, mesmo
até depois da conversão de Sérgio Paulo, procônsul de Chipre, At 13: 9.
Daqui em diante, só tem o nome de Paulo, que ele a si mesmo dá em todas as
suas cartas. Não é de estranhar que alguns pensem que tomou este nome do procônsul
Sérgio. Isto, porém, não é de modo algum aceitável, tendo em vista o modo
gentil pelo qual S. Lucas o apresenta, dando-lhe o nome de Paulo, quando começou
a sua obra de apóstolo das gentes. É mais provável que, acompanhando o
costume de muitos judeus, At 1: 23; 12: 12; Cl 4: 11, e principalmente os judeus
da dispersão, o apóstolo usasse de ambos os nomes. Havia nascido em Tarso,
cidade principal da Cilícia, At 9: 11; 21: 39; 22: 3, e pertencia à tribo de
Benjamim, Fp 3: 5. Não se sabe como é que a sua família foi residir em Tarso.
Uma antiga tradição afirma que ele havia sido levado de Giscala em Galiléia,
pelos romanos, depois que tomaram este último lugar. É possível, pois, que a
família de Saulo em tempos anteriores, tivesse fixado residência em Tarso, com
alguma das colônias que os reis da Síria estabeleceram ali (Ramsay, St. Paul
the Traveler, p. 31) ou que tivesse imigrado voluntariamente, como faziam muitos
judeus por motivos de ordem comercial. Parece que S. Paulo tinha relações
familiares de alto valor e de grande influência. Em Rm 16: 7, 11, manda saudar
a três pessoas, seus parentes, das quais Andrônico e Júnias, que se haviam
assinalado entre os apóstolos e que foram cristãos primeiro que ele. Pela
leitura de At 23: 16 sabe-se que "um filho de sua irmã" que
provavelmente morava em Jerusalém com sua mãe, deu informações ao tribuno
sobre a conspiração tramada contra a vida de S. Paulo. Dá isto a entender que
este moço pertencia a alguma das famílias importantes da cidade, o que parece
confirmado pelo fato de Paulo haver presidido à morte de Estevão. É provável
que já fosse membro do concílio, At 26: 10, pois que não tardou a receber
comissão do sumo sacerdote para perseguir os cristãos, 9: 1, 2; 22: 5. Os seus
dizeres na epístola aos filipenses 3: 4-7, autorizam-nos a crer que ocupava
posição de grande influência que lhe dava margem para conseguir lucros e
grandes honras. As suas relações de família não podiam ser obscuras. Apesar
de receber uma educação subordinada às tradições e às doutrinas da fé
hebraica, e de ter pai fariseu, At 23: 6, ele era cidadão romano. Ignora-se por
que meios havia alcançado este privilégio; teria sido por serviços prestados
ao estado ou talvez por compra, e pode bem ser que o nome Paulo tenha alguma
relação com o título de cidadão romano. De qualquer modo que seja, dava-lhe
grande importância na seqüência de seu trabalho cristão, e serviu mais de
uma vez para salvar-lhe a vida. Tarso era centro intelectual do oriente onde
existia uma escola famosa e onde dominava a filosofia estóica. É possível que
Paulo crescesse ali sob estas influências. Seus pais, sendo como eram, fiéis
à lei mosaica, o mandaram logo para Jerusalém para ser educado lá. À
semelhança de outros rapazes da mesma raça, tinha de aprender um ofício, que,
no seu caso, foi o de fazedor de tendas, das que se usavam nas viagens, 18: 3.
Como ele mesmo diz, 22: 3 foi educado em Jerusalém, para onde o mandaram,
quando muito jovem. A educação consistia principalmente em fixar nele as tradições
farisaicas. "Foi instruído conforme a verdade da lei de seus pais",
ibid. Teve como preceptor, um dos mais sábios e notáveis rabinos daquele
tempo, o grande Gamaliel, neto do ainda mais famoso Hilel. Foi este Gamaliel,
cujo discurso se contém nos Atos dos Apóstolos 5: 34-39, que aconselhou o
sanedrim a não tentar contra a vida dos apóstolos. Este Camaliel possuía
alguma cousa estranha ao espírito farisaico, a qual se avizinhava da cultura
grega. O seu discurso já referido, demonstra que ele não possuía o espírito
intolerante e perseguidor, característico da seita dos fariseus. Celebrizou-se
por seus vastos conhecimentos rabínicos. A
seus pés o jovem Saulo, vindo de Tarso, recebeu as lições sobre os ensinos do
Antigo Testamento, porém já se vê, de acordo com as subtilezas e interpretações
dos doutores que acenderam no espírito ardente do jovem discípulo, um zelo
feroz para defender as tradições de seus antepassados. Assim, pois, o futuro
apóstolo tornou-se fariseu zeloso, disciplinado nas idéias religiosas e
intelectuais de seu povo. Por este
modo, as suas qualidades pessoais, o seu preparo intelectual, e, talvez ainda,
as relações de família, preparavam-lhe posição de destaque na sociedade
judaica.
Aparece no cenário da história
cristã, como presidente da execução de Estevão, o protomártir do
Cristianismo, a cujos pés as testemunhas depuseram suas vestimentas, At 7: 58,
quando ainda mocho. A sua posição neste caso, não queria dizer que estivesse
investido de funções oficiais. De acordo com os dizeres da passagem referida
acima, ele apenas era consentidor na morte de Estevão.
Contudo, vê-se claramente que perseguia com ardor os primeiros cristãos.
Sem dúvida entrava no número daqueles helenistas ou judeus que falavam o
grego, mencionados nos Atos dos Apóstolos, 6: 9, que promoveram a acusação
contra Estevão. Não erramos dizendo que o ódio de Paulo contra a nova seita já
estava aceso; não só desprezava o crucificado Messias, como considerava os
seus discípulos um elemento perigoso, tanto para a religião como para o
Estado. Não é para admirar, pois, que fosse tão feroz o seu ódio a ponto de
promover-lhes o extermínio pela morte. Logo após o martírio de Estevão,
tomou parte ativa, dirigindo o movimento de perseguição contra os cristãos,
At 8: 2, 3; 22: 4; 26: 10, 11; 1 Co 15: 9; Gl1: 13; Fp 3: 6; 1 Tm 1: 13. Fazia
tudo isto guiado por uma consciência mal informada. Era o tipo do inquisidor
religioso. Não satisfeito com a perseguição devastadora que fazia em Jerusalém,
pediu cartas ao príncipe dos sacerdotes para as sinagogas de Damasco com o fim
de levar presos para Jerusalém quantos achasse desta profissão, At 9: 1, 2. Os
romanos davam largos poderes aos judeus para exercerem a sua administração
interna. O governador de Damasco que obedecia à direção do rei Aretas, era
particularmente favorável aos judeus, 9: 23, 24; 2 Co 11: 32, favorecendo por
este modo a perseguição de Paulo aos cristãos.
Nota importante a observar, segundo o testemunho expresso de S. Lucas e do próprio
S. Paulo, é que respirava ameaças de morte contra os discípulos de Jesus até
ao momento da sua conversão, crendo que assim fazendo, prestava grande serviço
a Deus. Não tinha dúvida quanto à justiça da sua empresa, nem sentia
desfalecimento de coração para executá-la.
Foi no caminho de Damasco que se deu à repentina conversão. Paulo e
seus companheiros provavelmente iam a cavalo, como era costume nas viagens pelos
caminhos desertos da Galiléia, para a antiga cidade. Estavam perto da cidade.
Era meio-dia, o sol ardente estava no seu zênite, At 26:13. Repentinamente, uma
luz vinda do céu, mais brilhante que a luz do sol, caiu sobre eles,
derrubando-os, 14. Todos se ergueram, continuando Paulo prostrado por terra, 9:
7. Ouviu-se então uma voz que dizia em língua hebraica: "Saulo, Saulo,
por que me persegues? Dura cousa é recalcitrares contra o aguilhão", 26:
14. Respondeu ele então: "Quem és tu, Senhor?" Ele respondeu:
"Eu sou Jesus a quem tu persegues, 15. Levanta-te e vai à cidade e aí se
te dirá o que te convém fazer", 9: 6; 22: 10. Os companheiros que o
seguiam ouviam a voz sem nada ver, 9: 7, nem entender, 22: 9. Paulo sentiu-se
cego pelo intenso clarão da luz, e foi conduzido pela mão dos companheiros,
entrou em Damasco, hospedou-se na casa de Judas, 9:11, onde permaneceu três
dias sem vista e sem comer, nem beber, orando, 9, 11, e meditando sobre a revelação
que Deus lhe fizera. Ao terceiro dia, o Senhor mandou a certo judeu convertido,
chamado Ananias, que fosse ter com Paulo e impor-lhe as mãos para recobrar a
vista.
O Senhor garantiu a Ananias, o qual tinha receio de encontrar-se com o grande
perseguidor, que este quando em oração, já o tinha visto aproximar-se dele.
Portanto, Ananias obedeceu. Paulo confessou a sua fé em Jesus, recobrou a
vista, e recebeu o batismo; e daqui em diante, com a energia que o
caracterizava, e com grande espanto dos judeus, começou a pregar nas sinagogas
que Jesus era o Cristo, Filho de Deus vivo, 9: 10-22. Tal é a narrativa da
conversão de Saulo de Tarso. Há três narrativas deste fato nos Atos; uma
feita por S. Lucas, 9: 3-22, outra pelo próprio S. Paulo, diante dos judeus,
22: 1-16, e outra pelo mesmo S. Paulo, diante de Festo e Agripa, 26: 1-20. As três
narrativas combinam-se entre si, posto que nem todos os incidentes se achem em
cada uma delas. Em todo caso, cada uma foi escrita com referência ao fim que o
narrador tinha em vista. Em suas epístolas, o apóstolo alude freqüentemente
à sua conversão, atribuindo-a à graça e poder de Deus, ainda que a não
descreve em minúcias, 1 Co 9: 1-16; 15: 8-10; Gl 1: 12-16; Ef 3:1-8
Fp 3: 5-7; 1 Tm 1: 12-16; 2 Tm 1: 9-11. Este fato, pois, é atestado pelo
testemunho mais forte possível. É certo também que Jesus, não somente falou
a Paulo, mas também lhe apareceu, At 9: 17, 27; 22: 14; 26: 16; 1 Co 9: 1. Não
se diz de que forma; com certeza foi de modo tão glorioso, que o apóstolo
conheceu logo no Jesus crucificado, o Cristo, Filho do Deus Vivo, que lhe
falava; e ele chama a isto, "visão celestial" At 26: 19, ou um espetáculo,
palavra esta empregada em Lc 1: 22; 24: 23, para descrever o aparecimento de
entes celestiais. Não há lugar para dizer-se que seja ilusão de qualquer espécie.
Contudo, o aparecimento de Cristo não foi à causa da conversão de Saulo, e,
sim a obra do Espírito Santo no coração, habilitando-o a receber e aceitar a
verdade que lhe havia sido revelada, Gl 1: 15. Foi o mesmo Espírito que
convenceu a Ananias e que o levou a impor as mãos e a unir à igreja nascente,
o novo convertido. Vários racionalistas pretendem explicar a conversão de
Paulo, sem tomar em conta a intervenção sobrenatural; essas opiniões são
destruídas pelo testemunho do mesmo Paulo. afirmando a sua atitude de
perseguidor, obedecia a motivos de consciência e que a sua mudança era devida
ao soberano exercício do poder de Deus e à sua graça infinita. A frase
"Dura cousa é recalcitrares contra o aguilhão", não quer dizer que
ele agia contra a sua vontade ou que já reconhecia a verdade do Cristianismo,
quer dizer antes que era insensatez resistir aos propósitos divinos. A sua vida
anterior deve ser reconhecida como um período de iniciação inconsciente para
a sua missão futura.
Os foros de cidadão romano, a
instrução recebida nas escolas, as suas qualidades pessoais, tudo isto serviu
para fazer dele um instrumento especial para a obra missionária. Há motivos
para crer que o seu espírito não tinha paz na prática do Judaísmo, Rm 7:
7-25. Se assim não fora, não chegaria a compreender claramente que a salvação
somente se alcança por meio da graça de Deus em Cristo. A sua experiência
religiosa também teve o efeito de prepará-lo para ser grande expositor da
doutrina da justificação pelos méritos de Cristo, alcançados somente pela fé.
Após a sua conversão, Paulo deu início à obra da evangelização; em parte
graças à sua natural energia, e também por haver Deus revelado que ele ia ser
vaso escolhido para levar o seu nome diante das gentes, dos reis e dos filhos de
Israel, isto é, missionário e apóstolo, At 9: 15; 26: 16-20; Gl 1: 15, 16.
Começou a sua obra nas sinagogas de Damasco com muito bom êxito, provocando
contra si a perseguição dos judeus de Damasco, auxiliados pelo governador da
cidade, 2 Co 11: 32, de modo que foi preciso fugir. Os discípulos, de noite, o
deslizaram pela muralha da cidade, metendo-o numa alcôfa,
At 9: 23-25; 2 Co 11: 33. Em vez de regressar a Jerusalém, dirigiu-se
para a Arábia e de lá voltou a Damasco, Gl 1: 17. Não se sabe em que lugar da Arábia ele esteve, nem quanto
tempo lá se demorou, nem o que foi fazer naquele lugar. Presume-se que
meditasse sobre os grandes acontecimentos de sua vida religiosa e das revelações
que Deus lhe havia feito. Três anos depois da sua conversão, determinou sair
de Damasco e ir outra vez a Jerusalém. Diz-nos ele que o principal objetivo
desta viagem foi visitar a Pedro, Gl 1: 18, 19, demorando-se com ele quinze dias
não tendo visto mais nenhum dos apóstolos senão a Tiago, irmão do Senhor. S.
Lucas menciona mais alguns particulares, At 9: 26-29. A igreja de Jerusalém
teve medo dele, não acreditando que agora fosse discípulo de Cristo. Foi
necessário que Barnabé o levasse consigo e o apresentasse aos apóstolos,
contando como havia visto ao Senhor e como depois em Damasco ele se portou com
toda a liberdade em nome de Jesus.
Diz ainda S. Lucas que Paulo pregava em Jerusalém com o mesmo desassombro como
havia feito em Damasco, empregando seus esforços para a conversão de seus
velhos amigos e compatriotas, que falavam o grego, 9: 28, 29. Como em Damasco,
estes também conspiraram contra ele. A situação ameaçadora e perigosa em que
se achava, fez com que os irmãos o conduzissem a Cesaréia e dali para Tarso,
29, 30; Gl 1: 21. Saiu mais
depressa de Jerusalém, por haver tido uma visão no templo, na qual o Senhor
lhe ordenou que sem detença se afastasse dali para ir às nações de longe, At
22: 17-21. As duas notícias sobre esta visita a Jerusalém, que se encontram
nos Atos o na carta aos Gálatas, parecem inconsistentes, porém, harmonizam-se
naturalmente. É muitíssimo provável que Paulo quisesse visitar a Pedro a fim
de que o trabalho que lhe estava destinado fosse feito em harmonia com os
primitivos apóstolos, dos quais Pedro se destacava. É igualmente provável que
os cristãos de Jerusalém, a princípio, se arreceassem dele, e que o proceder
de Barnabé, que era como Paulo, helenista judeu, fosse recebido com algumas
reservas. Além disso, quinze dias de estada na cidade, é tempo suficiente para
os acontecimentos descritos nos Atos. A ordem do Senhor para que Paulo deixasse
logo a cidade, é de fato confirmada, 22: 18. A notícia que S. Lucas dá de que
Barnabé apresentou Paulo aos apóstolos, não contradiz a afirmação de Paulo
de que somente viu a Pedro e Tiago. A recepção feita ao novo converso pelo apóstolo
S. Pedro, para não falar também de Tiago que ocupava posição quase apostólica,
Gl 2: 9, equivalia ao oficial do novo apóstolo, e é isto mesmo que S. Lucas
queria significar. É ainda digno de nota que achava completamente confirmado,
tanto por parte de S. Paulo como dos irmãos principais de Jerusalém, que o
novo converso havia sido escolhido apóstolo, e que a sua missão iria ser entre
os gentios. Nesta ocasião se cogitava das relações dos gentios convertidos
para com a lei mosaica. Ninguém poderia ainda avaliar a importância e a extensão
da obra de Paulo. Contudo foi ele reconhecido como tal e enviado a Tarso para
iniciar a seu trabalho.
A demora dele nesta cidade é quase um enigma; parece que foi de seis ou sete
anos (veja a cronologia abaixo), durante os quais se ocupou de evangelização e
provavelmente fundou as igrejas da Cilícia, incidentalmente referidas em At 15:
41. Se alguma vez sentiu a influência intelectual de Tarso, esta devia ser-lhe
muito propícia. Como já foi dito, Tarso era um dos centros da filosofia estóica.
Em seu discurso em Atenas, São Paulo faz apreciações sobre esta escola,
suficientes a satisfazer a nossa curiosidade. Ainda que em atividade, Paulo
aguardava as indicações providenciais sobre o caminho que devia tomar no serviço
do Mestre. Finalmente começaram a aparecer. Alguns dos judeus convertidos que
falavam a língua grega, que haviam saído de Jerusalém, fugindo à perseguição
que se seguiu à morte de Estevão, chegaram à grande cidade de Antioquia da Síria,
situada às margens do Orontes, ao norte da cordilheira do Líbano. Tinha sido
capital do reino e era naquele tempo, a residência oficial do governador romano
da província. Era contada entre cidades principais do império, por causa de
sua população mista e da extensão de seu comércio.
Situada fora dos limites da Palestina, e às portas da Ásia Menor, ligada também
pelo tráfego e pela política com todo o império, servia de base natural de
operações, de onde a nova fé, separada do judaísmo sairia à conquista do
mundo. Nesta cidade, os cristãos refugiados começaram a pregar aos gentios, At
11: 20. Há uma dificuldade no texto original para determinar com clareza se era
mesmo aos gentios que eles pregavam; mas no contexto não há lugar a dúvidas.
Muitos gentios se converteram ali de modo a formarem uma igreja gentílica na
metrópole da Síria.
Quando a notícia chegou a Jerusalém, enviaram lá a Barnabé para investigar o
caso. Claramente descobriu a mão de Deus neste movimento, não obstante serem
os recém-convertidos incircuncidados. Parece que ele também percebeu que Deus
estava abrindo a porta aos trabalhos de Paulo, porque dali foi buscá-lo a Tarso
e levou-o para Antioquia. Ambos trabalharam naquela cidade um ano inteiro.
Muitos outros gentios se converteram, de modo que a nova igreja, sem vestígios
de judaísmo, foi denominada dos cristãos pelos habitantes gentios da cidade.
Começaram por este modo as relações do apóstolo com Antioquia. Nas páginas
da história foi registrada a primeira igreja cristã formada de elementos gentílicos,
ponto de partida para a obra de S. Paulo no mundo pagão.
Quando S. Paulo estava em Antioquía, um profeta por nome Ágabo, vindo da Judéia,
predisse na assembléia dos cristãos, que em breve haveria uma grande fome na
terra. Serviu esta profecia de motivo para que os irmãos manifestassem o seu
extremado amor para com os cristãos da Judéia. Este fato é prova notável do
sentimento de obrigação destes gentios para com àqueles de quem haviam
recebido a nova fé, e também para mostrar quão depressa haviam sido destruídos
os muros de inimizade que separava as raças e as classes.
Em Antioquia fizeram-se logo contribuições para aliviar as necessidades
dos irmãos da Judéia enviadas por mão de Barnabé e de Saulo, At 11: 29, 30.
Esta visita de S. Paulo a Jerusalém deveria ser no ano 44, ou pouco antes, e a
ela não se refere na sua epístola aos Gálatas, talvez por não ter visto
nenhum dos apóstolos. Alguns
escritores tentaram identificar esta visita com a que se acha mencionada em Gl
2:1-10; porém deu-se esta depois de discutida a circuncisão dos gentios, como
se depreende de At 15: 1. O propósito de S. Paulo, na epístola aos Gálatas,
foi o de contar de novo às oportunidades que ele havia tido, de obter a
confirmação de seu evangelho pelos apóstolos mais velhos, e se nesta ocasião,
como diz S. Lucas, ele encontrou somente os anciãos da igreja, a sua rápida
visita era de simples caridade, o seu argumento na carta aos Gálatas não
exigia menção desta viagem. Barnabé e Paulo voltaram novamente a Antioquia,
levando consigo a João Marcos, 12: 25.
Havia chegado o tempo de iniciar
a história missionária da evangelização dos gentios, indicada pelo Espírito
aos profetas pertencentes à igreja de Antioquia, At 13: 1-3, os quais, por
ordem divina separam a Barnabé e a Paulo esta obra a que Deus os havia chamado.
Obedecendo à direção divina e sob os auspícios da igreja de Antioquia, o apóstolo
principiou a primeira viagem missionária, sem podermos determinar a data, que
deveria ser entre 45 e 50, ou 46 e 48, e sem sabermos quanto tempo durou. Barnabé
que era o mais velho, dirigia o movimento, mas Paulo, em breve, ocupou o
primeiro lugar por causa de seus dotes oratórios. João Marcos entrou nesta
comissão. Saíram de Antioquia para Selêucida, situada na foz do Orontes e
dali para Chipre, pátria de Barnabé. Desembarcando em Salamina, na costa de
Chipre, começaram a trabalhar, como de costume, nas sinagogas. Percorreram toda
a ilha até chegarem a Pafos na costa sudoeste. Neste lugar, despertaram a atenção
de Sérgio Paulo, procônsul romano. Saiu-lhes ao encontro, com violenta oposição,
um feiticeiro judeu, chamado Barjesus, também conhecido por Elimas, o mago que
previamente havia conseguido a proteção do procônsul, At 13: 6, 7. Paulo
resistiu-lhe indignado e repreendeu-o severamente, e feriu-o de cegueira.
Resultou disto a conversão de Sérgio Paulo, 8-12. Partindo de Chipre, o grupo
de missionários de que Paulo era agora o chefe, 13, navegaram para a Ásia
Menor e chegaram a Perge na Panfília. Ali João Marcos, por motivos ignorados,
deixou os seus companheiros e regressou a Jerusalém. Os dois, Paulo e Barnabé,
não se detiveram em Perge, dirigiram-se para o norte, chegaram a Frígia e
foram até Antioquia da Pisídia.
Esta era a cidade principal da província romana de Galácia. Entraram na
sinagoga judaica, e a convite dos chefes da sinagoga, proferiu o grande
discurso, registrado, em At 13: 16-41, primeira espécime de sua pregação de
que há notícia. Depois de narrar a missão dos chefes de Israel, com vistas ao
Messias, que tinha de vir, falou do testemunho de João Batista e do modo por
que Jesus foi rejeitado pelos judeus; declarou que Deus o havia ressuscitado
dentre os mortos, cumprindo na sua pessoa as promessas feitas a Israel pelos
antigos e que, somente pela fé nele, os homens podem ser justificados.
Admoestou os judeus a não repetirem o crime cometido pelas autoridades de
Jerusalém. Este discurso fomentou a odiosidade dos judeus, mas impressionou a
alguns outros e ainda mais aos gentios que já estavam sob a influência da
sinagoga e formavam o laço de união entre esta e o mundo gentílico para o
trabalho de S. Paulo. No sábado seguinte deu-se o rompimento entre a sinagoga e
os missionários cristãos, de modo que estes passaram a dirigir-se aos gentios.
O povo da cidade, excitado pelos judeus, levantou-se contra Paulo e Barnabé e
os lançaram fora, At 13: 50.
De Antioquia passaram a Icônio, outra cidade da Frígia, onde uma copiosa
multidão de judeus e de gregos se converteu à fé, 51. Aqui também
encontraram forte resistência da parte dos judeus incrédulos, irritando os ânimos
dos gentios contra seus irmãos. Daqui passaram para Listra e Derbe, cidades
importantes da Licaônia, 14: 1-6. Em Listra, o apóstolo S. Paulo curou um
homem coxo desde o ventre materno. O povo tendo visto o milagre, levantou a voz
dizendo:
"Estes, são deuses que baixaram a nós em figura de homens;
chamavam a Barnabé, Júpiter e a Paulo Mercúrio". Este fato ocasionou o
segundo discurso feito por S. Paulo, registrado nos Atos, 15-18, no qual pós em
evidência a estultícia da idolatria. É quase certo que a conversão de Timóteo
se deu em Listra, At 16: 1; 2 Tm 1: 2; 3: 11. A popularidade de Paulo durou
pouco. Irrompeu nova perseguição, instigada pelos judeus, At 14: 19,
apedrejando-o e lançando-o fora da cidade como morto, At 14: 19. Rodeando-o os
discípulos, e levantando-se ele, entrou na cidade e no dia seguinte partiu com
Barnabé para Derbe, limite provável da província da Galácia a sudeste, 20.
Seria possível aos dois missionários atravessar a cordilheira indo a Cilícia
e passando por Tarso, irem diretamente de regresso a Antioquia da Síria.
Fizeram um novo círculo; não quiseram voltar antes de consolidar a existência
das novas Igrejas. Portanto, passaram de Derbe a Listra, de Listra a Icônio, de
Icônio a Antioquia da Pisídia, de Antioquia a Perge, organizando igrejas e
animando os discípulos. Nesta cidade pregaram o Evangelho que parece não
haviam feito na primeira visita; dirigiram-se ao porto de Atalia e dali
regressaram a Antioquia da Síria, At 14: 21-26. E assim terminou a primeira
viagem missionária do apóstolo. Esta viagem compreendia todas, as regiões
para o lado do ocidente, já ocupadas pelo Evangelho. O método de trabalho
consistia em oferecer em primeiro lugar a salvação aos judeus e depois aos
gentios. Encontrou o apóstolo grande número deles influenciados pelo judaísmo,
e portanto, em condições de receber a nova doutrina. O seu objetivo consistia
em formar igrejas nas cidades principais. As boas estradas de rodagem abertas
pelo governo romano, entre os postos militares, contribuíram muito para
facilitar as viagens missionárias. A língua grega, por ser geralmente falada,
serviu de veículo à pregação da verdade. A Providência havia por este modo
preparado o caminho para a difusão do Evangelho no mundo. Sobre as viagens
missionárias, podem os leitores consultar Conybeare e Howson que escreveram
sobre a primeira viagem de S. Paulo, Life and Epistles of St. Paul; e
especialmente, em referência à primeira viagem, a primeira parte da obra de
Ramsay, Church in the Roman Empire.
Os grandes resultados da obra de
S. Paulo entre os gentios, provocaram sérias controvérsias dentro da igreja.
Certo número de cristãos, vindos do judaísmo, foram de Jerusalém para
Antioquia, ensinando ali que não poderiam ser salvos os gentios convertidos a
menos que fossem primeiramente circuncidados, At 15: 1. Alguns anos antes, Deus
havia revelado à igreja por meio do apóstolo S. Pedro, que os gentios deviam
ser recebidos na igreja sem a observância das leis de Moisés, At 10: 1 até
cap. 11: 18. Porém os fariseus restritos, convertidos ao Cristianismo, 15: 5, não
se podiam conformar com esta doutrina vencedora na igreja da Antioquia, e de tal
maneira perturbaram a consciência dos irmãos, que eles resolveram mandar Paulo
e Barnabé, acompanhados de outros irmãos a Jerusalém, para consultarem os apóstolos
e os anciãos sobre este assunto. Esta viagem é a que vem descrita no cap. 15
dos Atos e em Gl 2: 1-10. Ambas estas descrições são inteiramente acordes,
posto que feitas sob pontos de vista diferentes. S. Paulo diz que foi lá em
conseqüência de uma revelação divina, Gl 2: 2. A situação era delicada e
muito crítica. O futuro da nova religião dependia de uma resolução sábia.
Dela resultou a vitória da lealdade cristã e da caridade. Paulo e Barnabé
mostraram à igreja mãe o que Deus havia feito por intermédio deles. Diante da
oposição dos elementos judaicos reuniu-se um concílio dos apóstolos e dos
anciãos, At 15: 6-29, S. Pedro recordou o fato da conversão de Cornélio;
Paulo e Barnabé relataram os fatos que se deram em sua viagem missionária;
Tiago, irmão do Senhor, fez lembrar a profecia, anunciando a vocação dos
gentios. Resolveram então aceitar como irmãos os conversos não circuncidados,
exortando-os apenas a se absterem de certas práticas altamente ofensivas aos
judeus. Diz o apóstolo na carta aos Gálatas, que ele advertiu a igreja de
Jerusalém contra os falsos irmãos, e também que Tiago, Pedro e João lhe
haviam dado as mãos em sinal de companhia para que ele fosse aos gentios e eles
aos judeus. Deste modo, o apóstolo manteve as relações com os outros apóstolos,
continuando livremente o seu trabalho missionário para o qual havia sido
divinamente destinado. O quanto esta controvérsia acirrou os ódios do judaísmo,
pode ver-se na subseqüente perseguição contra Paulo. A sua vitória nesta
questão serviu para conservar a unidade da igreja e garantir a liberdade dos
gentios.
Um sábio ajustamento de idéias, de resultados práticos, conciliou os prejuízos
razoáveis dos judeus, ao mesmo tempo que o caminho para a evangelização dos
gentios em todas as direções, ficou aberto e livre das cerimônias judaicas.
Na carta aos Gl 2: 11-21, existe rápida alusão a uma controvérsia sobre o
assunto em Antioquia, de que não há registro. Pedro tinha ido lá, e, estando
de pleno acordo com as idéias de Paulo, mantinha livres relações com os
gentios; mas, chegando ali alguns judeus de Jerusalém, Pedro e Barnabé, como
que haviam cortado relações com os gentios. Esta maneira de proceder repreensível
foi severamente condenada por S. Paulo, que ao mesmo tempo esboçou a doutrina
da justificação pela fé sem as obras da lei, porque, dizia ele, eu estou
morto à lei pela mesma lei, querendo com isso dizer que pela morte de Cristo
ficaram prejudicadas todas as obrigações, impostas pela lei cerimonial. A única
condição para se tornarem discípulos de Cristo, era crer nele para a salvação.
Vê-se pois, que os direitos dos gentios na igreja cristã eram para o apóstolo,
mais do que uma questão de unidade: envolvia um princípio essencial do
Evangelho. Na defesa deste princípio, tanto como pela sua obra missionária, S.
Paulo foi o principal agente para se estabelecer o Cristianismo universal.
O concílio de Jerusalém se efetuou no ano 50. Não muito depois, S. Paulo propôs
a Barnabé uma segunda viagem missionária, At 15: 36. Nesta ocasião não quis
que João Marcos fosse com eles, ficando desde aí separados os dois grandes
missionários. Desta vez acompanhou-o Silas. Primeiro visitaram as igrejas da Síria
e da Cilícia; depois passaram para os lados do norte, atravessaram as montanhas
do Tauro e passaram às igrejas que Paulo havia fundado na sua primeira viagem.
Foram a Derbe e a Listra. Nesta última cidade, determinou levar a Timóteo, e o
circuncidou por causa dos judeus que lá havia, impedindo por este modo que eles
se escandalizassem, porque sua mãe era judia. Por este modo mostrou ele desejos
de conciliar os prejuízos judaicos e ao mesmo tempo não cedendo uma linha em
questão de princípios. De Listra passou para Icônio e para Antioquia da Pisídia.
Neste lugar encontrou a oposição dos filósofos. Diz Ramsay, e com ele outros,
que ele seguiu diretamente para o norte, quando deixou Antioquia da Pisídia,
atravessando a província romana da Ásia, porém sem pregar ali, por haver sido
proibido pelo Espírito Santo, At 16: 6, e tendo chegado à Mísia, intentavam
passar à Bitínia, 7, mas foram de novo proibidos de pregar ali. Passando
depois à Misia, voltaram-se para o ocidente, e foram para Trôade. A opinião
mais comum é que eles, de Antioquia da Pisídia passaram para nordeste e foram
para Galácia própria; nesta viagem Paulo adoeceu, aproveitando esta
oportunidade, apesar de enfêrmo, para pregar na Galácia e fundar igrejas, Gl
4: 13-15; que este movimento ao nordeste foi por causa de terem sido proibidos
de pregar na Ásia; que terminado que foi o trabalho na Galácia própria,
tentaram entrar na Bitínia, sendo outra vez proibidos. E assim, adotando a
primeira teoria, o apóstolo voltou para o ocidente para Trôade. Todo este período
é rapidamente descrito por S. Lucas. O Espírito estava dirigindo os missionários
para a Europa. A narração dos Atos assim o indica.
Em Trôade apareceu a visão do homem de Macedônia, At 16: 9. Obedecendo a esta
chamada, os missionários juntamente com S. Lucas, dirigem-se para a Europa e
desembarcando em Neápolis, seguem logo para a importante cidade de Filipos. Ali
fundaram uma igreja, 16: 1-40, que sempre foi cara ao coração de Paulo, Fp 1:
4-7; 4: 1, 15. Aqui também, pela primeira vez, entrou em conflito com os
magistrados romanos, servindo-se dos seus direitos de cidadão romano em favor
de seu trabalho, At 16: 20-24, 37-39. De Filipos, onde Lucas ficou, Paulo, Silas
e Timóteo foram para Tessalônica. A deficiência de informações sobre o
trabalho neste lugar, At 17: 1-9, é suprida pelas alusões que a ele fazem as
duas epístolas àquela igreja.
Alcançou grandes resultados entre os gentios e lançou com grande cuidado os
alicerces da igreja, servindo-lhe de exemplo de indústria e sobriedade,
provendo pelo trabalho manual, o seu sustento e o de seus companheiros enquanto
ali esteve a serviço do evangelho, 1 Ts cap. 2, etc. Veio a perseguição
instigada pelos judeus, e por isso os irmãos enviaram Paulo para a Beréia;
deste lugar, após valiosos resultados, até mesmo dentro da sinagoga, seguiu
para Atenas.
A sua estada nesta cidade foi
sem resultados. O que de mais importante se deu, foi o brilhante discurso por
ele proferido no Areópago em presença dos filósofos gregos, At 17: 22-31, no
qual o apóstolo fez apreciações sobre as verdades que o Evangelho continha em
comum com o estoicismo, e ao mesmo tempo proclamando a seu auditório os deveres
que tinha para com Deus e o que deveriam crer a seu respeito. Em Corinto, onde
se deteve dezoito meses, ao contrário de Atenas, seus trabalhos surtiram efeito
admirável. Travou relações com
Áquila e Priscila e hospedou-se em sua casa, 18: 1-3. A princípio pregava na
sinagoga, depois, por causa da oposição dos judeus, passou a pregar em casa de
certo Tito Justo, próximo à sinagoga, 5-7. Tanto no livro dos At 18: 9, l0,
como na 1 Co 2: 1-5, encontram-se alusões à grande ansiedade com que o apóstolo
prosseguia na sua missão em Corinto, e o seu desejo ardente de proclamar o
evangelho na Grécia e em outros lugares. Na 1º aos coríntios refere-se aos
bons resultados de seus trabalhos e às muitas tentações a que a igreja de
Corinto estava exposta e que desde o princípio ocasionou cuidados especiais da
parte do apóstolo. As necessidades de outras igrejas também serviam de objeto
a seus constantes cuidados. De Corinto escreveu as duas epístolas aos
Tessalonicenses, com o propósito de advertir os irmãos contra certas doutrinas
e práticas nocivas que ameaçavam a igreja. As hostilidades dos judeus
continuavam. Por ocasião da chegada a Corinto do procônsul Gálio, acusaram a
Paulo de violar a lei. O procônsul
decidiu que a questão devia ser resolvida pelo pessoal da sinagoga, que o apóstolo
não havia violado lei alguma que exigisse a sua intervenção. Nesta época, o
império romano defendia os cristãos das violências dos judeus,
identificando-os com eles e deste modo, o apóstolo podia continuar o seu
trabalho sem embaraço algum. A missão de Paulo em Corinto é uma das mais frutíferas
que a história da igreja primitiva registra. Finalmente, o apóstolo volta-se
outra vez para o oriente. De Corinto vai para Éfeso, onde não se demorou, e
segue para Cesaréia indo apressadamente para Jerusalém. Havendo saudado a
igreja desta cidade, voltou a Antioquia, de onde havia partido, At 18: 22. Assim
terminou ele a segunda viagem missionária de que resultou o estabelecimento do
Cristianismo na Europa. A Macedônia e a Acaia estavam evangelizadas. O
Evangelho havia dado grande passo para a conquista do império romano. Depois de
algum tempo em Antioquia, o apóstolo S. Paulo, talvez no ano 54, deu início à
sua terceira viagem. Primeiro atravessou a região da Galácia e da Frígia a
fim de fortalecer os discípulos, 23, depois vai a Éfeso. Parece que a anterior
proibição de pregar o evangelho na Ásia, havia sido removida. Éfeso era a
capital da Ásia e uma das cidades de maior influência no oriente. Permaneceu
três anos estabelecendo ali o centro de operações, 19: 8, 9; 20: 31. Durante
três meses ensinava na sinagoga, 18: 8, e depois durante dois anos na escola de
certo Tirano, 9. O seu trabalho nesta cidade notabilizou-se pela riqueza de
instrução, 20: 18-31, pela operação de portentosos milagres, 19: 11, 12,
pelos resultados obtidos, porque todos que habitavam na Ásia ouviram a palavra
do Senhor, 10, e até mesmo alguns dos principais da Ásia eram seus amigos, 31,
também pela constante e feroz perseguição, 23-41; 1Co 4: 9-13; 15: 32, e
finalmente pelo cuidado que tinha de todas as igrejas, 2 Co 11: 28. Este período
da vida do apóstolo é rico em incidentes. Muitas cousas se deram que não se
encontram nos Atos. Em Corinto, o apóstolo soube dos ataques que lhe faziam e
à sua doutrina os mestres judaizantes da Galácia, o que deu origem à epístola
aos Gálatas, na qual defende a sua autoridade apostólica e
os primeiros ensinos formais sobre a doutrina da graça. O estado da
Igreja de Corinto também lhe deu motivo a constantes aflições. Em resposta às
perguntas que a igreja lhe fez, escreveu uma carta que se perdeu, a respeito das
relações dos crentes com a sociedade pagã, 1 Co 5: 9. Notícias posteriores dão
a entender que haviam surgido dificuldades mais sérias. A primeira epístola
aos Coríntios foi escrita de modo a mostrar a sabedoria prática do apóstolo;
no modo de instruir e disciplinar as igrejas nascentes. Apesar disso, os
elementos sediciosos da igreja de Corinto, continuaram em ação. Pensam alguns
que depois de haver enviado a carta, ele próprio foi a Corinto apressadamente
para corrigir os crentes indisciplinados, cp. 2 Co 12: 14; 13: 1.
É certo, porém, que antes de sair de Éfeso enviou Tito a Corinto, talvez
levando instruções sobre o caso de um membro refratário da igreja. Tito
deveria encontrar-se outra vez com o apóstolo em Trôade.
Falhando este encontro, Paulo passou para a Macedônia, muito ansioso,
aonde haviam chegado Timóteo e Erasto, At 19: 22.
Finalmente, Tito chegou ao encontro desejado, 2 Co 2: 12-14; 7: 5-16,
levando boas notícias: a igreja havia obedecido às instruções do apóstolo e
permanecia fiel. Isto deu assunto para escrever a segunda epístola, a que contém
as mais completas notas biográficas, e em que ele se regozija pela obediência
dos irmãos, e dá instruções sobre o serviço das contribuições destinadas
aos santos da Judéia; mais uma vez defende a sua autoridade apostólica. Da
Macedônia seguiu para Corinto, onde foi passar o inverno do ano 57-58. Durante
a sua estada, completou o serviço de organização e regulou a disciplina da
igreja. Foi ainda memorável a visita que ele fez a Corinto, porque nessa ocasião
é que ele escreveu a epístola aos romanos, em que expõe com toda a clareza a
doutrina referente à salvação da alma. Evidentemente, considerava a cidade de
Roma como o ponto culminante de suas operações mas não podia ir já, porque
tinha necessidade de voltar a Jerusalém para levar as ofertas das igrejas dos
gentios à igreja mãe. O trabalho cristão Já havia sido iniciado em Roma, e
continuava a ser feito pelos amigos de Paulo, cp.
Rm 16.
Enviou a epístola escrita em Corinto para que os cristãos
da capital possuíssem instruções completas sobre o Evangelho que ele pregava
em todo o mundo. Agora inicia a sua última viagem a Jerusalém, acompanhada de
amigos, representantes das várias igrejas dos gentios, At 20: 4. O trabalho do
apóstolo entre os gentios sofreu grande oposição da parte dos judeus e até
mesmo de cristãos vindos do judaísmo que tentavam desprestigiá-lo. Resultou
daí o plano de provar a lealdade das igrejas dos gentios, induzindo-as a enviar
ofertas liberais aos pobres da Judéia. Foi para este fim que ele e seus amigos
saíram de Corinto com destino a Jerusalém. O seu primitivo plano era de
navegar diretamente para a Síria, mas uma conspiração dos judeus, o obrigou a
voltar pela Macedônia, 20: 3. Demorou-se em Filipos enquanto que seus
companheiros caminhavam para Trôade. Depois da festa da páscoa ele e Lucas
foram para Trôade, 5, onde os companheiros o esperavam e onde se demoraram sete
dias, 6. Havia lá uma igreja. Lucas dá-nos interessante notícia do que se
passou nas vésperas da partida do apóstolo, 7-12. De Trôade caminhou Paulo
para Assôs que ficava distante cerca de vinte milhas, para onde haviam
embarcado seus companheiros, 13. Deste porto, navegaram para Mitilene, que
ficava na costa oriental da ilha de Lesbos, e costeando pela banda do sul,
passaram entre a terra firme e a ilha de Quios; no dia seguinte aportaram em
Samos e no outro, chegaram a Mileto, 14: 15.
Esta cidade estava a 36 milhas de Éfeso, e, como Paulo tivesse pressa,
resolveu não ir lá, e, por isso, mandou chamar os presbíteros da igreja. Em
Mileto fez as suas despedidas de modo muito emocionante, como se lê em At 20:
18-35. Não havia palavras capazes de exprimir mais vivamente a dedicação pela
sua obra e o amor que votava a seus irmãos convertidos. Partindo de Mileto, o
navio seguiu diretamente a Cós, At 21: 1, nome de uma ilha situada a 40 milhas
para o sul; no seguinte dia, chegaram a Rodes, distante 50 milhas de Cós; de
Rodes passaram a Pátara, nas costas da Lícia, At 21:1. Encontrando um navio
que passava à Fenícia, entraram nele, e fizeram-se à vela. Depois de estarem
à vista de Chipre deixando-a a esquerda, chegaram a Tiro, 3, onde se demoraram
sete dias. Inspirados pelo Espírito Santo, os discípulos instavam com Paulo
para não ir a Jerusalém, 4. Depois de uma afetuosa despedida, partiram para
Ptolemaida, que hoje se chama Acre, 5, 6, e no seguinte dia chegaram a Cesaréia,
7, 8, aboletando-se em casa de Filipe, o evangelista. Aqui também o profeta Ágabo,
que tempo antes havia profetizado a fome, 11: 28, tomando a cinta de Paulo, e
atando-se os pés e as mãos, disse: "Assim atarão os judeus em Jerusalém,
ao dono deste cinto e o entregarão nas mãos dos gentios". A despeito
destas alarmantes predições e das lágrimas dos irmãos, ele seguiu viagem,
21:11-14, acompanhado dos irmãos, e assim terminou a terceira viagem missionária.
Em breve se cumpriram as
palavras de Ágabo. A princípio foi bem recebido pelos irmãos. No seguinte dia
à sua chegada, foi à casa de Tiago, irmão do Senhor, onde se haviam
congregado os anciãos, aos quais contou todas as cousas que Deus tinha feito
entre os gentios por seu ministério. Ouvindo isto, engrandeceram a Deus. Ao
mesmo tempo disseram-lhe os irmãos que muitos dos judeus que estavam entre os
gentios, haviam dado más notícias a seu respeito, que punham em dúvida a sua
fidelidade às leis de Moisés. Era
necessário, pois, que ele desse provas visíveis que o justificassem.
Aconselharam-no a que tomasse consigo a quatro varões que tinham voto sobre si,
que os levasse ao templo, que se santificasse com eles e fizesse as despesas da
cerimônia. A isto Paulo acedeu de bom grado porque era seu desejo agradar aos
judeus. A cerimônia era pouco mais
do que a que havia feito em Corinto, 18: 18. Conquanto o apóstolo insistisse em
que os gentios não eram obrigados às cerimônias judaicas, e nenhum dos cristãos
vindos do judaísmo não mais estava na obrigação de observá-las, ele contudo
reserva-se o direito de praticar, ou não, certas cerimônias de acordo com as
circunstâncias. Este ato, portanto, não era inconsistente com o seu proceder
em outras ocasiões. Mas o expediente tomado não surtiu efeito. Certos judeus
da Ásia o viram no templo e deram alarma. Acusaram-no de haver introduzido
gentios no templo, amotinaram todo o povo dizendo que havia profanado o lugar
santo, 21: 27-29. Seguiu-se um tumulto. O povo arrastou a Paulo para fora do
templo e o teriam assassinado, se o tribuno Cláudio Lísias não tivesse
corrido para o lugar do conflito, arrebatando a Paulo das mãos do povo e
fazendo-o liar com cadeias o meteu na prisão. Paulo, com permissão do tribuno,
pondo-se em pé sobre os degraus, fez sinal ao povo com a mão, para falar. O
tribuno pensou a princípio que ele era certo egípcio que tempo antes havia
dado muito trabalho ao governo. Quando Paulo contou que era judeu de Tarso,
consentiu que falasse ao povo, o que ele fez em língua hebraica, 22: 2. Contou
a história do seu nascimento, da sua vida e da sua conversão, até ao ponto em
que falou em nações de longe, quando romperam em gritos para que o matassem.
Neste ponto o tribuno o mandou recolher à cidadela, e que o açoitassem e lhe
dessem tormento. Tendo-o liado com umas correias, disse Paulo a um centurião:
"É-vos permitido açoitar um cidadão romano e que não foi
condenado?", 25. Sabendo disto, Lísias, o mandou desatar, ordenando que e
conselho dos sacerdotes tomasse conhecimento do caso. O comparecimento de Paulo
perante o conselho provocou novo tumulto, At 23: 1-10. O apóstolo estava agora
defendendo a vida, não podia esperar justiça. Se fosse condenado, o tribuno Lísias
entregá-lo-ia para ser executado. Com muita habilidade dividiu a opinião de
seus inimigos; dizendo que professava ser fariseu, e queriam condená-lo por
pregar a ressurreição dos mortos. Isto era verdade e, até certo ponto,
prestava-se aos fins em vista. O ódio entre fariseus e saduceus era mais forte
do que os dois juntos contra Paulo. As duas seitas tomaram posições opostas. O
tribuno, receando que Paulo fosse trucidado entre as duas facções, mandou que
os soldados o arrebatassem das mãos da multidão e o metessem na prisão.
Naquela noite, o Senhor apareceu a Paulo em visão, dizendo-lhe: "Coragem!
porque assim como deste testemunho em Jerusalém assim importa que também o dês
em Roma", At 23: 11. A morte de Paulo estava decretada devendo efetuar-se
de modo inesperado. Alguns dos judeus combinaram em pedir ao tribuno que mais
uma vez mandasse vir o prisioneiro perante o concílio. Um filho da irmã de
Paulo soube do plano e informou a seu tio, que por sua vez, mandou o pequeno dar
notícia ao tribuno, 12-22. Por este motivo, Lísias mandou aprontar forte
contingente de tropas para conduzir Paulo a Cesaréía, com uma carta ao
presidente Félix, para que ele resolvesse o caso. Quando Félix soube que o
acusado era da Cilícia, determinou que se esperasse a vinda dos acusadores.
Entretanto, conservou-o em segurança no palácio de Herodes, que servia de pretório,
ou residência do procurador. Passaram-se
dois anos de prisão em Cesaréia. Quando os judeus compareceram perante Félix,
fizeram uma acusação em termos gerais, dizendo que Paulo era sedicioso, que
havia profanado o templo, e queixaram-se da violência com que o tribuno Lísias
o havia arrebatado das suas mãos, At 24: 1-9. A isto, Paulo respondeu com
formal negação apelando para o testemunho de seus acusadores, 10-21. Félix
estava perfeitamente informado, e sabia que Paulo não havia cometido nenhum
crime que merecesse a morte. Despediu os acusadores adiando o julgamento para
quando chegasse o tribuno Lísias. E mandou a um centurião que o tivesse em
custódia sem tanto aperto e sem proibir que os seus o servissem.
Passados alguns dias, vindo Félix com sua mulher Drusila, que era judia, mandou
chamar a Paulo e o esteve ouvindo falar da fé que há em Jesus Cristo, 24. O apóstolo
parece ter exercido estranha fascinação sobre o procurador que tremeu na sua
presença, prometendo ouvi-lo de novo quando tivesse tempo. Esperava também que
Paulo lhe desse algum dinheiro em troca de sua liberdade, 25: 26. O apóstolo não
quis subornar o procurador, que adiou o julgamento. Dois anos depois, veio Pórcio
Festo substituí-lo no governo, e Paulo ainda estava na prisão, 27. Os judeus
esperavam que o novo governador lhes fosse mais favorável do que o tinha sido Félix.
Festo recusou-se a enviar Paulo a Jerusalém para ser julgado; que estando preso
em Cesaréia partiria para lá dentro de poucos dias, a fim de tomar
conhecimento das acusações, At 25: 1-6. Ainda desta vez nada puderam provar.
Paulo continuava afirmando a sua inocência, 7, 8. Festo, querendo agradar aos
judeus, perguntou a Paulo se queria ser julgado em Jerusalém. Sabendo que a sua
vida corria perigo se fosse ali julgado, serviu-se de seus privilégios de cidadão
romano e apelou para César, 9-11. Por este modo o julgamento escapou das mãos
do procurador, e o prisioneiro tinha de ser remetido para Roma. Antes da saída
de Paulo, Agripa II e sua irmã Berenice vieram visitar a Festo talvez por
motivo de sua nomeação.
O novo procurador que não era muito versado em controvérsias judaicas, e como
tinha de enviar ao imperador um relatório de informações sobre o caso, contou
a Agripa o caso de Paulo. Por sua vez, o rei mostrou desejos de saber o que o
prisioneiro dizia em defesa. Arranjaram-se as cousas de modo que Paulo
comparecesse a uma assembléia destas notáveis personagens. Agripa era versado
em casos de doutrina e poderia servir de muito para instruir o relatório que o
procurador tinha de mandar para Roma, 12-27. A defesa de Paulo perante o rei
Agripa, é um dos seus mais notáveis discursos. Nele revela as qualidades de
homem de elevada educação, a eloqüência de orador e firmeza de cristão.
Passa revista ao seu passado a fim de provar que em todos os seus atos procurou
sempre servir a Deus, e que a sua carreira como cristão, não só obedecia a
uma direção divina, como ao cumprimento das profecias, At 26:1-23. Quando
Festo o interrompeu, exclamando: "Tu estás louco, Paulo", apelou
energicamente para Agripa. Porém o rei estava disposto a ser simples observador
e crítico do que ele julgava ser um novo fanatismo, e respondeu com uma frase
de desprezo: "Por pouco me persuades a me fazer cristão", 28. Contudo
estava convencido de que Paulo não tinha crime e que poderia ser posto em
liberdade se não tivesse apelado para César, 31, 32. No outono do mesmo ano
60, Paulo foi enviado para Roma, confiado juntamente com outros presos ao
cuidado de um centurião chamado Júlio, da coorte Augusta. Lucas foi seu
companheiro juntamente com Aristarco de Tessalônica, 27: 1, 2. Lucas é quem dá
o relatório desta viagem com minúcias muito particulares e admirável exatidão.
Veja James Smith, Voyage and Shipwreck of St. Paul. O apóstolo
foi tratado com muita cortesia pelo centurião. Embarcando em um navio de
Adrumete, chegaram a Sidom, donde partiram para a Mirra na Lícia. E achando ali
o centurião um navio de Alexandria que fazia viagem para a Itália, embarcaram
nele. Os ventos não eram favoráveis, e por isso foram obrigados a navegar
lentamente e apenas puderam avistar a Cnido na costa da Cária. Tomando o rumo
sul, foram costeando a ilha de Creta, junto a Salmona com dificuldade ao longo
da costa, abordaram a um lugar a que chamam Bons Portos, At 27: 3-8. Havia
passado o jejum do décimo dia do mês de Tisri, o dia da expiação 9, quando
chegaram ao termo da viagem. O tempo continuava ameaçador. Paulo mostrou a
inconveniência de continuar a viagem, mas o centurião deu mais crédito ao
mestre e ao comandante do navio que eram contrários e desejavam chegar a Fênix
e invernar ali por ser porto de Creta, onde havia bom ancoradouro, 9-12. Mas
logo que largaram de Bons Portos veio contra a ilha um tufão e vento, chamado
Euro-aquilão, que arrojou a nau para o sul, indo dar a uma pequena Clauda (a
moderna Gozzo). Alijada que foi a carga, e os aparelhos do navio, correram assim
durante catorze dias à mercê dos ventos para os lados do ocidente. Paulo
mostrava-se animado e animava os companheiros, porque o Senhor lhe havia
revelado em sonhos que nenhum deles havia de perecer, 13-26. Lançando eles a
sonda, perceberam que estavam perto de terra, e, lançando as quatro âncoras,
esperavam que viesse o dia. Como tivesse aclarado o dia, não conheceram a
terra: somente viram uma enseada que tinha ribeira, na qual intentavam encalhar
o navio. Pelo que, tendo levantado âncoras, se entregaram ao mar, e se
encaminharam à praia, 27-40. O navio deu numa língua de terra; a proa afincada
permanecia imóvel, ao mesmo tempo em que a popa se abria com a força do mar.
Todos se lançaram às ondas; e, como Paulo havia dito, nenhum deles
pereceu, 41-44.
Nesta emocionante aventura, que
Lucas descreve com tanta minúcia, o proceder de Paulo ilustra muito bem a
coragem de um cristão e a influência que um homem de fé exerce sobre os
outros indivíduos, em tempos de perigo. A terra a que haviam chegado era a ilha
de Melita, que hoje se apelida Malta, situada a 58 milhas ao sul da Sicília,
cujos habitantes receberam os náufragos com muita cordialidade. O procedimento
maravilhoso de Paulo ganhou para ele multa honra e simpatia, At 28: 1-10. Três
meses depois, embarcaram em um navio de Alexandria que tinha invernado na ilha,
no qual arribaram em Siracusa, onde ficaram três dias.
De lá, correndo a costa, foram a Régio, e depois dias mais, apartaram a
Potéoli, a sudoeste da Itália. Ali, Paulo encontrou irmãos em cuja companhia
se demorou sete dias, 11-14. Entretanto a notícia chegou a Roma.
Os irmãos vieram encontrá-lo à Praça de Ápio e às Três Vendas,
nomes de dois lugares distantes de Roma, 43 e 33 milhas, respectivamente. O
centurião entregou os prisioneiros ao capitão da guarda, que era o prefeito da
guarda pretoriana, cargo este exercido nesta ocasião, A. D. 61, pelo célebre
Burro. Mommsen e Ramsay pensam que os prisioneiros foram entregues ao capitão
de outro corpo a que o centurião Júlio pertencia, cujo ofício consistia em
superintender o transporte dos cereais para a capital e outros encargos
policiais. Realmente não sabemos quem foi que tomou sobre si a guarda
de Paulo. O que se pode dizer é que ele ficou sob a guarda de um soldado com
licença de habitar onde quisesse, 28: 16; Fp 1: 7, 13. As apelações para César
eram atendidas com muita morosidade. Dois anos inteiros permaneceu Paulo em um
aposento que alugara, onde recebia a todos que o queriam ver, 28: 30. E assim
termina a narrativa da primeira detenção de Paulo em Roma. Os Atos dos Apóstolos
concluem dizendo que, passados três dias, convocou Paulo os principais dos
judeus para informá-los dos motivos de sua prisão na capital, tendo-lhe
aprazado dia para dar testemunho do Reino de Deus, convencendo-os a respeito de
Jesus, pela lei de Moisés e pelos profetas, desde pela manhã até à tarde.
Como não o quisessem crer, declarou mais uma vez que aos Gentios era enviada
esta salvação. A prisão não o impedia de exercer a sua atividade missionária,
28: 17-31. As epístolas que ele escreveu neste período, iluminam mais de perto
esta faze de sua história: são as epístolas aos Colossenses, a Filemom, aos
Efésios e aos Filipenses.
As primeiras três foram provavelmente escritas no princípio deste período, e
a última no fim. Por elas se vê que o apóstolo tinha muitos amigos fiéis em
Roma trabalhando com ele, entre os quais se contam: Timóteo, Cl 1: 1; Fp 1: 1;
2: 19; Fm 1: 1; Tíquico, Ef 6: 21; Cl 4: 7; Aristarco, Cl 4: 7, 10; Fm 24; João
Marcos Cl 4: 10; Fm 24, e Lucas, Cl 4: 14; Fm 24. Estes amigos tinham livre
acesso à sua pessoa e operavam como mensageiros para as igrejas e como
cooperadores em Roma. Paulo na prisão era o centro de onde irradiava a luz do
Evangelho para todo o império. As epístolas citadas põem em relevo a
atividade pessoal do eminente apóstolo. Com grande zêlo e apreciáveis
resultados, apesar das suas cadeias, pregava o Evangelho: estando em cadeias
fazia o ofício de embaixador, Ef 6: 20. Pedia a seus amigos que orassem a Deus
para que se lhe abrisse a porta da palavra para anunciar o mistério de Cristo,
Cl 4: 3. Em Onésimo, escravo fugido, vemos um exemplo vivo do fruto de seu
trabalho, Fm 10. À medida que o tempo corria, aumentava também o seu trabalho.
Escreveu aos Fp 1: 12, 13, que todas as cousas que lhe tinham acontecido haviam
contribuído para proveito do Evangelho, de maneira que as suas prisões se
tinham feito notícias em Cristo por toda a côrte do Imperador e em todos os
outros lugares. Enviou saudações dos que eram da família de César. Ao mesmo
tempo sofria oposição até mesmo de alguns dos crentes, provavelmente do tipo
judaico, 1: 15-18, e que ele enfrentava com ânimo sereno, esperando ser em
breve livre das prisões, Fp 1: 25; 2: 17, 24; Fm 22.
A detenção de Paulo serviu nas mãos de Deus para habilitá-lo a exercer com
mais precisão o ofício de embaixador de Cristo. Finalmente, as epístolas
provam que o apóstolo superintendia a todas as igrejas espalhadas pelo território
do grande império. Na Ásia surgiram novas heresias. Nas epístolas que
escreveu na prisão, forneceu as mais preciosas instruções acerca da pessoa de
Cristo e dos eternos propósitos de Deus revelados no Evangelho, e ao mesmo
tempo as direções práticas que elas contém descobrem a largueza do círculo
em que exercia a sua atividade, e o fervor de sua vida cristã.
O livro dos Atos termina deixando a Paulo na prisão em Roma. Existem abundante
provas que nos levam a crer que ao cabo de dois anos foi solto, continuando as
suas viagens missionárias. As provas referidas podem ser condensadas da
seguinte forma: (1) Os vv. finais dos Atos acomodam-se melhor com esta idéia,
do que pensando que a prisão do apóstolo terminou pela condenação e morte.
Lucas dá relevo ao fato de que o apóstolo pregava o Reino de Deus e ensinava
as cousas concernentes ao Senhor Jesus Cristo com toda a liberdade e sem proibição,
dando-nos a entender que o fim de sua atividade não estava próximo. (2) Na epístola
aos Fp 1:25; 2:17, 24, em Fm 22, diz claramente que cedo ficaria livre. Esta
esperança encontra apoio no tratamento que havia recebido dos oficiais romanos.
Deve-se notar que as perseguições de Nero contra os cristãos ainda não
haviam começado; que se o apóstolo fosse condenado, seria um ato sem
precedentes nas relações do governo com os cristãos; que em face das leis do
império, sendo os cristãos tidos como seita judaica, eram garantidos no exercício
de suas crenças.
É provável também que na acusação contra Paulo entrasse algum crime contra
as leis romanas. Contudo, o relatório
enviado por Festo nada continha que o desabonasse, At 26: 31, nem parece que os
judeus tivessem mandado algum acusador a Roma, 28: 21. (3) Afirma a tradição
que Paulo foi solto e reassumiu a sua atividade missionária sendo mais tarde
novamente preso. Clemente de Alexandria A. D. 96, dá a entender claramente que
o apóstolo chegou a ir à Espanha, quando diz que em suas viagens
"chegou ao extremo ocidente". Este fato é confirmado pelo
Fragmento Muratório, A. D. 170. Com isto concorda a história de Euzébio, A.
D. 324, onde se diz que, segundo a tradição comum, depois que Paulo saiu da
prisão, tendo feito a sua defesa, se entregou de novo ao ministério da pregação,
e mais uma vez foi a Roma, onde sofreu o martírio. É admissível que esta evidência
tradicional não seja suficientemente forte para uma demonstração
absolutamente exata; porém, pertence a uma época remota e é em si mesma
bastante forte para confirmar a evidência contra a qual não se pode opor
nenhuma outra. (4) Ninguém pode contestar que as epístolas a Timóteo e a Tito
não sejam genuínas em razão da evidência interna e externa a seu favor. Ora,
nenhuma delas é mencionada na história de Paulo, como a dá o livro de Atos.
Logo, devem pertencer a uma época posterior, o que nos leva a aceitar a tradição
referida por Euzébio. Devemos, pois, acreditar que o apelo feito do tribunal de
Festo para o de César, deu em resultado a sua liberdade. Os trabalhos subseqüentes
somente poderão ser avaliados pelas alusões que se encontram nas epístolas a
Timóteo e a Tito e pelo testemunho da tradição.
Podemos supor que depois de solto, seguiu para a Ásia e Macedônia como
desejava, Fp 2: 24; Fm 22. Pelo que se lê, era 1 Tm 1: 3, sabe-se que ele
deixou a Timóteo encarregado de cuidar das igrejas em Éfeso, indo para a Macedônia.
Onde se achava, quando escreveu a sua primeira carta a Timóteo, não é fácil
saber, mas ele esperava regressar brevemente a Éfeso, I Tm 3: 14. Pela carta a
Tito, sabe-se que havia confiado a ele o cuidado das igrejas de Creta e que
esperava passar o inverno em Nicópolis, Tt 3: 12.
Havia três cidades com este nome, a que se pode aplicar esta referência,
uma na Trácia perto de Macedônia, outra na Cilícia e a terceira, no Epiro; de
modo que não podemos dizer a qual delas se refere o apóstolo. É provável,
porém, que fosse a do Epiro. Se aceitarmos o que diz a tradição sobre a ida
de S. Paulo à Espanha, é lícito supor que só poderia ser depois de haver
estado na Ásia e na Macedônia; e que, depois de regressar da Espanha, é que
ele se demorou em Creta, onde deixou a Tito, voltando para a Ásia, de onde
provavelmente escreveu a carta a Tito. Sabe-se mais pela leitura da segunda
carta a Timóteo, 4: 20, que ele passou pela cidade de Corinto e por Mileto, uma
na Grécia e outra na Ásia. Ignora-se se realizou o intento de invernar em Nicópolis.
Muitos são de parecer que ele seguiu para Nicópolis do Epiro e que ali foi
novamente preso e enviado para Roma. Apesar de serem muito incertos os
movimentos do apóstolo durante o final de sua existência, as epístolas neste
período, dizem o bastante para sabermos que empregava a sua atividade,
evangelizando novas regiões e fundando igrejas nos moldes das já existentes,
perfeitamente organizadas. Sabia que pouco lhe restava de vida e que as igrejas
ficariam expostas a novos perigos, tanto internos como externos. Daqui vem que
as epístolas pastorais, como são chamadas, serviam de veículo para levar às
igrejas as instruções apostólicas necessárias à consolidação de sua fé e
equipando-as praticamente para a obra do futuro.
O livramento de Paulo, quando
foi preso a primeira vez, deu-se pelo ano 63; a sua subseqüente atividade durou
quatro anos. Segundo Euzébio a morte de Paulo deu-se no ano 67, e segundo S.
Jerônimo, no ano 68. Qual foi o motivo de ser outra vez preso não se sabe. Na
segunda epístola a Timóteo, escrita de Roma pouco antes de morrer,
encontram-se alguns indícios. Devemos recordar que a perseguição de Nero aos
cristãos explodiu no ano 64, seguida de outras em várias províncias do império,
1 Pe 4: 33-19. Pode bem ser, como alguns presumem, que o apóstolo foi apontado
como o chefe da nova seita pelo Alexandre por ele mencionado na carta a Timóteo,
2 Tm 4: 14. Seja como for, foi preso e remetido para Roma a fim de ser julgado,
ou por que tenha apelado para César, como fez antes, ou por ser acusado de
algum crime cometido na Itália, talvez de cumplicidade no incêndio de Roma ou
ainda por causa da oficiosidade de algum procurador
provincial que desejava gratificar a vaidade do tirano, enviando-lhe tão
preciosa presa. Somente o seu amigo Lucas se achava com ele, quando escreveu a
carta a Timóteo, 2 Tm 4: 11. Alguns o haviam abandonado, 1: 15; 4: l0, 16 e
outros se haviam ausentado para lugares diferentes, 10: 12. A primeira vez que
compareceu ao tribunal, foi absolvido, 17, continuando na prisão por algum
motivo diferente. Quem sabe se, tendo sido absolvido por algum crime, ficou na
prisão por ser cristão. Fala de si como prisioneiro, 1: 8, e em cadeias, 16,
como malfeitor, 2: 9, e estava a ponto de ser sacrificado, 4: 6-8. É certo que
afinal foi condenado à morte simplesmente por ser cristão, de acordo com a política
de Nero iniciada no ano 64. Diz a tradição que foi decapitado, sendo cidadão
romano, na via Óstia.
Dando o esboço biográfico do apóstolo, referimo-nos ao testemunho dos Atos e
das epístolas. Não devemos contudo, ignorar que muitos outros fatos se deram
durante a sua carreira ativa e fecunda. A alguns destes fatos, encontram-se alusões
em várias epístolas, Rm 15: 18, 19; 2 Co 11: 24-33. Os fatos bem averiguados
da sua vida, conforme o testemunho das epístolas, revelam claramente o caráter
do grande apóstolo e o valor supremo de sua obra. É difícil esboçar todas as
linhas de seu caráter versátil. Era por natureza intensamente religioso: a sua
natureza obedecia inteiramente a esta influência quando fariseu, e muito mais
depois da sua conversão. Dotado de alto vigor intelectual, apreendia todo o
valor da verdade e logicamente obedecia a todas as suas injunções. A verdade
dominava-lhe o coração e a mente. As emoções que ele produzia eram tão
ardentes quanto vigorosos os processos lógicos de seu raciocínio. Ao mesmo
tempo, os aspectos práticos da verdade, ele os via com a mesma nitidez como o
seu teórico. Se por um lado tirava conclusões lógicas das suas idéias
doutrinais, por outro, aplicava o Cristianismo à vida prática com a sabedoria
e compreensão de um homem de negócios. Era intensamente afetivo e às vezes
estático em suas experiências religiosas, sempre progressivo nas suas exposições
da verdade, capaz de remontar-se às mais elevadas culminâncias do pensamento
religioso e de vida e movimento à verdade pela qual se batia. A flexibilidade
de caráter, a intensidade de espírito, a pureza de sentimentos, a vida
espiritual, o vigor mental, dotes estes governados pelo espírito de Deus,
habilitaram o apóstolo para a obra que a Providência Divina lhe havia
destinado. Esta obra consistia em interpretar ao mundo gentílico por meio da
palavra e escrita, e por atos sobrenaturais, a missão de Cristo e a mensagem de
salvação que ele trouxe. O modo prático de realizar esta obra encontra-se bem
descrito nos Atos dos Apóstolos. Por meio de sua ação inteligente,
estabeleceu-se no mundo a catolicidade do Cristianismo, independente do
ritualismo judaico e adaptável a todo o gênero humano, como bem o confirma a
história. Outros obreiros colaboraram neste mesmo trabalho, porém só ao apóstolo
S. Paulo foi divinamente confiada esta missão especial; a ele, mas do que a
qualquer outro se devem às conquistas do Evangelho. É verdade que tudo isto se
efetuou de acordo com os propósitos divinos. Mas os que estudam a história do
Cristianismo devem reconhecer na pessoa de Paulo o agente desta grande obra. Por
outro lado, as epístolas de S. Paulo expõem de modo claro a palavra do Cristo,
dão-nos a interpretação doutrinal e ética das doutrinas e das obras por ele
realizadas e a que seviram ao grande apóstolo para auxiliá-lo no exercício de
sua grande atividade; sem isto, o Cristianismo não teria existência permanente
nem exerceria tão profunda influência. É pois, ao apóstolo das gentes que
devemos admirar como grande teólogo. A sua teologia reflete a experiência
peculiar de sua conversão. Por meio da repentina transição que se operou na
sua vida religiosa, chegou a conhecer que era impossível salvar-se por si
mesmo, e que o pecador depende exclusivamente da graça soberana de Deus, e da
obra redentora de Jesus, o Filho de Deus, por meio de sua morte e ressurreição.
Segue-se daí que, somente pela união com Cristo por meio da fé, é que o
pecador poderá ser salvo. A salvação consiste na justificação do pecador
que só Deus faz, baseada na obediência de Cristo, participando de todos os
benefícios espirituais, tanto internos como externos, no céu e na terra,
adquiridos para ele. O Espírito Santo deu a Paulo intuição necessária para
lançar como fundamento de todo o seu trabalho, a verdade e a pessoa de Cristo.
Nas epístolas aos Gálatas e aos Romanos, o meio de salvação acha-se
plenamente elaborado, nas epístolas que escreveu nas prisões, encontram-se a
exaltação da dignidade de Cristo e a inteira e completa demonstração dos
fins e propósitos divinos em referências à igreja de Cristo. Além destes
assuntos fundamentais, ele traça as linhas características do dever e da
verdade cristã. A sua teoria predileta é a que fala da graça, cujas
profundezas ilumina; interpreta o Messias hebreu ao mundo gentílico; ergue-se
para explicar a doutrina do Salvador, em que ele creu e a obra redentora por ele
realizada. Paulo teve a primazia como professor de teologia, e ao mesmo tempo
salientou-se como o mais agressivo de todos os missionários. É impossível
compreender o Cristianismo, sem os ensinos e as obras de Cristo e a interpretação
fornecia pelo apóstolo S. Paulo. Cronologia da vida de S. Paulo. Conquanto a
ordem dos acontecimentos da vida de S. Paulo e as datas relativas das suas epístolas
sejam em grande parte bem claras, existem contudo algumas divergências quanto
aos anos em que se deram os fatos e em que foram escritas as epístolas. Nos
Atos dos Apóstolos existem duas datas rigorosamente exatas, que são a data da
ascensão de Cristo no ano 30, (posto que alguns dizem que é 29), e da morte de
Herodes Agripa, At 12: 23, que todos admitem ter sido no ano 44. Contudo nenhuma
delas serve para determinar com absoluta certeza a cronologia da vida de Paulo,
que depende principalmente de assinalar a data da posse do procurador Festo no
governo da Judéia. Segundo a opinião mais geralmente aceita, que é a mais
provável, Festo tomou posse do governo no ano 60, 24: 27. Josefo diz que quase
todos os acontecimentos que se deram na Judéia durante o governo de Félix, se
efetuaram no reinado de Nero, que começou em outubro do ano 54. S. Paulo em sua
defesa perante Félix diz: "Sabendo que tu és juiz desta nação muitos
anos há, com bom ânimo satisfarei por mim", 10. Em vista do que, a prisão
de Paulo quando compareceu diante de Félix, não podia ser antes do ano 58.
Paulo esteve dois anos na cadeia de Cesaréia, e por isso a substituição de Félix
deveria ter sido no ano 60 e não depois, porque no ano 62 o procurador Festo
era substituído por Albio, sendo certo, pois, que ele governou mais de um ano.
Se Festo tomou posse do cargo no ano 60, Paulo deveria ter seguido para Roma no
outono desse ano, chegando a Roma na primavera do ano seguinte depois de passar
o inverno em viagem. Portanto a narrativa final dos Atos e o provável
livramento de Paulo, quando pela primeira vez esteve em Roma devem ser datados
do ano 63, 28: 30. Os acontecimentos da vida de Paulo, anteriores a esta data,
precedem ao governo de Festo começado no ano 60. Sendo assim, a prisão de
Paulo deu--se no ano 58, dois anos antes, At
24: 27, isto é, no fim da terceira viagem missionária. O inverno que
precedeu a sua prisão, passou-o ele em Corinto, 20:3, e o outono anterior, na
Macedônia, 2, e antes desta época demorou-se três anos em Éfeso, 31, para
onde havia ido, quando deixou Antioquia, depois de uma rápida excursão pela
Galácia e pela Frígia, 28: 23. Conclui-se pois, que na terceira viagem gastou
quatro anos. Se ele foi preso em Jerusalém na primavera do ano 58, segue-se que
começou esta viagem na primavera do ano 54. A terceira viagem foi iniciada
pouco depois da segunda, 23, talvez dois anos e meio, visto que ele se demorou
dezoito meses em Corinto, 11, e que os fatos precedentes teriam consumido mais
um ano, 15: 36 até cap. 17: 34. Portanto, se a segunda viagem terminou no
outono de 53, provavelmente começou na primavera de 51. A segunda viagem começou
alguns dias, 15: 36, depois do concilio de Jerusalém que se efetuou no ano 50.
A primeira viagem missionária não poderia realizar-se senão entre o ano 44,
em que morreu Herodes, cap. 12, e o ano 50, em que se deu o concílio, cap. 15.
Poder-se-á, pois, dar-se o período de 46-48, não sendo provável que gastasse
tanto tempo.
Para determinar a data da conversão de Paulo, precisamos combinar os cálculos
acima referidos com o que diz a epístola aos Gálatas.
Diz ele no cap. 2: 1: "Catorze anos depois subi dali, outra vez a
Jerusalém com Barnabé". Esta visita não pode ser outra senão a que ele
fez para assistir ao concílio no ano 50. Mas desde quando começou ele a contar
estes catorze anos? Segundo alguns comentadores, devem ser calculados desde a
data de sua conversão, mencionada em Gl 1: 15, no ano 36 ou 37, segundo o modo
de contar os catorze anos, incluindo ou excluindo o primeiro deles. Mas em Cl 1:
18, Paulo nota que ele visitou Jerusalém três anos depois de ser convertido.
É mais lógico datar os catorze anos, mencionados em Gl 2: 1, desde fim dos três
anos prévios. Neste caso, de qualquer modo que se faça o cálculo, a conversão
deu-se no ano 33 ou 35. Está mais de acordo com o sistema hebraico de calcular
e incluir o ano anterior, e por isso podemos dizer que a conversão se deu no
ano 35 e que sua primeira visita à cidade de Jerusalém, Gl 1: 18, foi no ano
37, e que os catorze anos depois, 2: 1,vão ao ano 50. Como já dissemos, todas
estas datas são discutidas. Alguns dão o ano 55 para a posse de Festo, e,
portanto alteram todas as outras datas em cinco anos menos. Outros críticos
divergem em certos pontos especiais, como por exemplo, a respeito da morte do apóstolo,
dizendo que foi no ano 64, supondo ter sido no primeiro ano da perseguição de
Nero. Contudo, as datas que acima demos, parecem aproximar-se muito da verdade e
podem ser vistas na seguinte:
TÁBUA CRONOLÓGICA
Morte, ressurreição e ascensão
de Cristo A. D. 30
Conversão de S. Paulo
A. D. 35?
Primeira visita subseqüente a
Jerusalém, Gl 1: 18
A. D. 37
Paulo em Tarso
A. D. 37-43
Visita a Jerusalém, levando
ofertas de Antioquia, At 11: 30
A. D. 44
Primeira jornada missionária
A. D. 46-48
Concílio de Jerusalém
A. D. 50
Segunda jornada missionária
A. D. 51-53
1 e 2 aos
Tessalonicenses A. D. 52
Terceira jornada missionária
A. D. 54-58
Gálatas
A. D 55
1 Coríntios
A. D.56 ou 57
2 Coríntios
A. D.57
Romanos
A. D. 57-58
Prisão de Paulo
A. D. 58
Encarceramento em Cesaréia
A. D. 58-60
Festo sob ao poder
A. D. 60
Paulo chega a Roma
A. D. 61
Colossenses,
Filemom, Efésios A. D. 61 ou 62
Filipenses
A. D. 62 ou 63
Absolvido em primeiro julgamento
A. D. 63
1 Timóteo
A. D. 64 ou 65
Tito
A. D. 65 ou 66
Hebreus
(se foi de Paulo) A. D. 66 ou 67
2 Timóteo
A. D. 67
Morte de Paulo
A. D. 67
G. T. P.
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