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Pronunciamento de Maria Auxiliadora Bezerra Borba

ADEUS AO MESTRE

Soubesse eu escrever poemas ou sonetos, certamente hoje, um deles, o faria, isto porque nesta hora, a minh'alma cresce de emoção para dizer adeus.

Este símbolo de despedida para quem parte, é deveras cruel para quem fica, sobretudo se o que fica tem pouca fé e esperança num Deus trino e criador.

Refiro-me ao adeus que ora faço a ser um humano, criado, gerado sob concepção do SER e que tão bem soube dignificar o tripé da fé, da esperança e da caridade.

Sem se preocupar com o TER de forma individual, usou a sua capacidade de ser pensante para criar com a parceria de alguns colegas da Faculdade de Direito do Recife, oportunidade de alfabetizar jovens pobres.

A sua fé foi tão esfuziante que contagiou o grupo ficando fortalecido pela esperança de propiciarem aqueles jovens dos tempos idos da década de 40, a oportunidade de terem um futuro melhor.

Bacharelou-se em Direito mas, a chama do ideal de educador sempre esteve acesa. Viu o seu projeto crescer e tomar corpo. Criou então a Campanha Nacional de Educandários Gratuitos.

Bateu em várias portas, do letrado ao afortunado. Criou sócios, quase uma confraria. Queria ajuda para poder desenvolver o seu sentido de caridade, o mesmo que embasou a sua fé no trabalho e a sua esperança na mudança da condição de vida do homem nordestino.

Sim, porque ele no Nordeste nasceu. Filho natural do curimataú paraibano, de pequenina cidade de Picuí, encravada no solo seco deste estado da Paraíba.

Encontrou-se com as águas do rio Capibaribe que lhe ofereceu, certamente, a inspiração para criar um projeto cristalino e caudaloso como a correnteza da água que cumpre o seu trajeto e, anonimamente, a tantos beneficia.

Falo do emérito professor e comendador Dr. Felipe Tiago Gomes. Por mais adjetivo que eu busque para descrevê-lo não encontro um só que corresponda aos meus anseios. Valho-me de alguns para aproximar-me do conceito que pretendo trazer ao público, sobre este grande cidadão brasileiro, nesta hora de dor e de saudade.

Foi um cidadão! Os seus méritos o fizeram ser contemplado com muitos títulos pelo Brasil afora.

Foi um apóstolo! Assim o viam, os ministros de estado, alguns presidentes de Nações, seus colegas do antigo Conselho Federal de Educação e os educadores que mais de perto o conheciam.

Foi também um peregrino! Partiu pelo Brasil e fez o seu projeto crescer, a luz dos frutos trazidos pelas gerações que dele se beneficiaram neste meio século de funcionamento. A Campanha Nacional de Educandários Gratuitos passou a denominar-se Campanha Nacional de Escolas da Comunidade. A sigla da CNEC foi consolidada.

Onde faltasse o ensino público ou quando a comunidade não pudesse viabilizar a educação dos seus filhos, ali chegava sutil e simples, uma escola cenecista para atender as necessidades.

De norte a sul e de leste a oeste, Dr. Felipe se fez conhecer por sua obra, por sua bravura e por sua simplicidade.

Hoje, ele deixa este solo pátrio. A grandeza do seu imenso coração tão cheio de virtudes e emoções, chegou a explodir. A comunidade chora a dor da separação. Vai-se o criador, fica a obra.

Quis a Providência Divina que tombasse esta grande figura que tanto semeou o bem e que tanta sombra pôde trazer aos menos favorecidos, exatamente no dia 21 de setembro, data em que se comemora o "dia da árvore". Caiu a árvore mas não secou. E oxalá que os frutos que dela ficaram possam se reproduzir na espécie humana.

Parte o Mestre, ficam os discípulos, o seu legado de obstinação, honestidade e justiça, junto ao seu espírito empreendedor de luta, coragem e bravura, permanecerão entremeando os que aqui ainda labutam.

Leve, Dr. Felipe, a sua fé, esperança e caridade, e dos píncaros da glória, devolva a esta entidade que você criou, o mesmo ânimo e amor que sempre alimentaram o seu ideal.

A CNEC não pode morrer, você a eternizou, disto pode ter certeza. No Brasil, atualmente, começa a surgir expectativas de um modelo de ensino comunitário enquanto o seu ensaio está presente há mais de meio século sem nenhum obscurantismo.

Você foi um pragmático! Criou modelo, deu substância, gerou metodologia. Os que aqui ficam não esquecerão jamais este exemplo, nem tampouco a sua célebre frase: "A vocação da CNEC é a luta".

Foi lutando até o último momento de sua existência que você tombou na sua sala de trabalho, na Administração Nacional, em Brasília, como se de lá estivesse olhando e se despedindo das 1.002 escolas com 390.621 alunos e cinco faculdades fincadas por você, no solo brasileiro. E não podia ser diferente. Por coincidência, você nasceu no "dia do trabalho", por isso, fez dele a sua oração.

A sua equipe, os presidentes, superintendentes, diretores, professores, funcionários, alunos, ex-alunos, doravante, serão batalhadores e guardiões do acervo material e intelectual que se imortalizará neste país.

Os seus amigos e educadores de outras nações ocidentais, por onde você percorreu e, também os que aqui estiveram para conhecer sua obra já a reverenciam.

Parta convicto de que foi um missionário na fé, na esperança e na caridade. Muitas gerações lhe agradecem pelo ontem e pelo hoje, enquanto caminharão para um amanhã fortalecidos pelo seu exemplo de mestre, apóstolo, amigo e benfeitor. Despeço-me do ser humano FELIPE TIAGO GOMES, vivenciando o espírito Cenecista com a frase ADEUS, SEJA FELIZ...

Pronunciamento feito na reunião do Conselho Estadual da Paraíba, em João Pessoa, no dia 26/09/1996



Maria Auxiliadora Bezerra Borba