Lula
Sim, Lula Não
A inflação mensal caiu de 3%
para 0,3%. O dólar declinou de R$3,60 para R$2,90. O risco Brasil
despencou de 1600 pontos para 530 pontos. O saldo positivo da balança
comercial pulou de R$11 bilhões para R$22 bilhões. A taxa
básica de juros reduziu-se de 25% para 16%. Números
alentadores - diga-se. As finanças do País
(interna e externa) equilibraram-se. Os mercados comemoram. O FMI está exultante. São os créditos do primeiro ano do governo Lula.
É Lula Sim.
Mas a dívida subiu (passou de 55,5% para 58,1% do PIB), apesar do
superávit
primário, cujo objetivo
declarado é diminuir a dívida. Com isso, o efeito desse
superávit não teria sido anulado? Ou o alvo real de tal
saldo positivo não seria mesmo elevar a dívida?
Débitos
Mas
o povo tem o que festejar? Bem, o drama do desemprego
cresceu. Os milhões de empregos prometidos estão muito longe
de serem obtidos. A violência está maior. A reforma agrária andou
mais devagar. A previdenciária pegou os inativos do serviço
público pelo pé, taxando-os. A fiscal deu uma mexida geral,
deixando tudo na mesma na prática, com mais impostos. A
incrível CPMF segue. Os salários mantêm-se achatados. A inflação
real, como sempre, é maior que a
oficial. São, entre outros, débitos do governo Lula,
porque não há créditos sem débitos, com certeza. É Lula Não.
O pagamento dos juros da cavalar dívida
interna e a meta do superávit primário não deixaram recursos para criar os empregos
necessários, e geraram desemprego e violência como a bananeira
produz bananas..
Paralisia
Agora, o governo está em crise. Paralisado -- dizem -- promete
reagir com a criação, inclusive, de mais ministérios. Ora, se
pouco ou nada fazem é porque falta o dinheiro que as dívidas
comem. Certamente, já tem ministros demais. Mas deve faltar
ainda o Ministro das vilas, o dos povoados, o dos sítios e o de
coisa nenhuma. Mais ministros, mais despesas, mais tempo com
reuniões e menos realizações, é claro.
Vira-casaca
Lula,
com certeza, virou a casaca. Certo ou
errado, está fazendo um governo na contramão de sua geografia
política de mais de 20 anos. É o que se supõe. Ele mudou porque é muito
natural as pessoas mudarem --
diriam. Entende-se a naturalidade. Apenas não se compreende porque não avisou em tempo quando trocou de camisa (só
se não deu tempo). Muita gente votou nele com base em suas palavras. Não ter
avisado na campanha foi seu erro, embora se saiba que, nesses
eventos como em guerras, mentiras voem por ar
e por terra. Afinal, Lula, se correta a suposição feita, não foi o primeiro nem será o último
vira-casaca na política.
Sem
oposição
Se Serra tivesse ganho, estaria,
certamente, fazendo um governo muito parecido com o
de Lula, com uma diferença básica: teria uma oposição competente, a do
PT. Afinal, PSDB e PFL ficaram na moita porque, no geral, foi feito o que
FHC queria fazer. O PMDB aderiu. O mais é perfumaria. Oposição
mesmo só a dos quatro gatos pingados do PT, que foram expulsos. Há
quem creia ainda em nova virada de mesa Mas -- repita-se --
Lula, mesmo ficando onde está, pode está certo. Nesse caso, errados
poderiam estar os milhões de desempregados e trabalhadores mal
pagos, que, impacientes,
não saberiam esperar.
Controle externo é para todos
Se o Poder Executivo tem controle externo, por que o Legislativo e o Judiciário não o têm?. Os três são mantidos, igualmente, com dinheiro público. Não deve haver distinção nesse particular, salvo
juízo diferente.
Essa história de que esse controle pode ferir a independência do
poder é papo furado. O Legislativo faz, há muitos anos, o
controle externo do Executivo e, nem por isso, este teve
alguma vez sua autonomia ferida.
Olhos do dono
O controle externo é a vista do povo, que paga as contas, a identificar defeitos e a buscar correção. Ora, os três poderes estão sujeitos a falhas e podem funcionar melhor em benefício da população. Onde haja gerência de coisa
pública deve haver esse tipo de controle para informar aos donos do dinheiro usado. .
Aplicações
Nas S.A.
abertas esse controle é uma exigência legal. Isso porque os
acionistas não dirigentes precisam saber como anda o uso de grana sua. Na
democracia -- repita-se -- o controle externo, em absoluto, não altera a independência dos três poderes. Ela continua intocável. Alguma mudança, acaso necessária, será feita no palco apropriado. Como já se disse, esses poderes dependem, sob aspecto financeiro, da população a que servem, a qual não pode fechar os olhos a sua atuação. Depois, o Brasil pode ser tido como uma grande S.A com mais de 170 milhões de acionistas.
Outro departamento
Em cada caso, quem vai fazer e como vai ser feito o controle
externo é outra história, mas que ele tem de ser realizado não há a menor
dúvida para que haja democracia não apenas no papel.
Desemprego
- Segundo o IBGE, o desemprego passou de 10,5% (em dezembro de
2002) para 12,9% (em outubro de 2003) da
população em idade de trabalhar. São, por baixo, 10 milhões de
pessoas sem ocupação certa.
Superávit
primário - superávit
total do setor público em certo exercício, excluídos os juros
pagos. No fundo, é a diferença entre a arrecadação e os
gastos públicos normais. Para os credores é a capacidade de
pagamento do governo, ou seja, o que sobra para pagar
dívidas, velhas e novas. Daí os cortes de despesas nos acordos com o FMI, para
reduzir os gastos públicos e aumentar o superávit primário.
Diz-se que o objetivo desse superávit é diminuir a dívida.
Será?
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