POR UMA TV PÚBLICA EM TEMP0 REAL



  Aproveito-me de um ensaio de Pierre Bourdieu, em “Sobre a Televisão” para falar um pouco da televisão aberta ao vivo.
Existe uma divisão clara na questão da transmissão ao vivo. Primeiro, tudo era ao vivo por falta de vídeo tape e o preço elevado, bem como a morosidade da película.
Depois as transmissões ao vivo passaram a ser segmentadas para determinado tipo de programação em que se entendia que deveria ser AO VIVO como o caso dos telejornais (nem todo o tempo é ao vivo), os jogos e desfiles de escolas de samba, por exemplo ou outros tipos de campeonato.
Alguns tipos de programa de entrevistas ainda ensaiaram uma tentativa de manterem-se ao vivo, mas não deu muito certo e mesmo assim em poucos canais.
Posteriormente, com o advento da interatividade, deu-se novamente preferência a alguns programas transmitidos em tempo real o que permitia receber telefonemas “no ar”. O espectador de alguma forma interagia com o programa.
Hoje em dia já se tem clareza que a interatividade não é mais medida apenas pelo número de telefonemas que determinado programa recebe, a interatividade é feita na realidade na Internet, ou seja o programa para ser interativo tem que fazer parte de um projeto, tem que ter uma home page que receba todas as opiniões, que dê liberdade e permita que qualquer cidadão acesse aquele produto e emita sua opinião.
De alguma maneira ainda os programas deverão sempre agregar saber a quem os assiste e este saber não pode estar preso ao tempo em que o programa está no ar e sim às necessidades desse espectador.
Deve, portanto, existir sempre o espaço de discussão que torne o tão falado espectador crítico, num formulador de opinião e num cidadão capaz de ter acesso às mesmas fontes do saber que antes eram privilégios de uma elite.
Entretanto, a televisão não perde o seu papel. Ao contrário. Ainda que, com as novas tecnologias, ela venha a se unir de forma definitiva a Internet, ainda assim a Tv não será descartada nem mesmo diminuída.
E neste momento, quando alguns profissionais prevêem um futuro difícil para a TV, acredito que a mesma terá cada vez mais papel fundamental na educação, na difusão da cultura e do entretenimento do cidadão.
Trago à discussão a TV ao vivo. A televisão que tenha sua transmissão em grande parte dedicada ao debate, à discussão de idéias, à segmentação de assuntos, à difusão de saberes, de novas tecnologias, de psicologia à culinária, essa televisão estará prestando um serviço essencial à população de seu país e, aí sim, agregada à Internet, serviço ao mundo, tornando-o cada vez mais “próximo”, mais “acessível”.
A Televisão feita ao vivo é muito mais democrática, muito mais participativa, muito mais próxima do que nós, seres humanos, a fazemos com o vídeo tape. Chegou-se a um nível tal de tecnologia que uma das missões da televisão, principalmente de uma televisão pública, é dar possibilidade à sua comunidade, ao seu país, de se expressar com ela e através dela.
Os programas onde homens possam trazer seus conhecimentos, abrirem-se para debates onde não haja censura nem mesmo os tradicionais “cortes de edição” que se, por um lado enfeitam, por outro “desumanizam” o que é dito, dificultam a  verdadeira troca de saberes é um caminho moderno e democrático.
Sempre haverá espaço para os filmes, para os documentários, interprogramas culturais e demais programas montados e editados.
Devemos, entretanto, repensar na participação do homem, do verdadeiro criador de toda essa tecnologia, de toda a ciência e de toda a cultura. Esse homem (moderno, com certeza) não deveria mais ser “editado”. Pelo menos, numa televisão com missões tão claras como uma televisão pública.



Geraldo Iglesias

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