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  DEMOCRACIA AMEAÇADA


Está havendo uma confusão clara e, parece-me, proposital sobre segurança pública e regime ditatorial. Nossos jornalistas, intelectuais e “homens de esquerda” falam com ojeriza da Lei de Segurança Nacional e da volta do Exército às ruas como forma de coibir a bandidagem, o vandalismo extremo que assola as grandes cidades, particularmente o Rio de Janeiro.
Em nome dos ditos Direitos Humanos, ONGs e geradores de opinião fazem apologia de “reestruturação” das polícias, como se isso fosse possível neste momento, como se houvesse tempo.
O que ocorre hoje em nossas cidades é a omissão ou aceitação de um estado de desordem, de insegurança, de “lei dos mais fortes”, que, ainda que de forma velada, acaba por ser aceita por Governadores e intelectuais que se locupletam com a violência indigente instalada.
Tirou-se do cidadão a capacidade de defesa já que é ilegal andar armado. Permite-se que o bandido, o assassino, o traficante use e abuse de armas e grupos para assaltos, roubos, crimes de toda a espécie, como destruição do comércio, quebra e destruição de automóveis e tudo o mais que bem entendam desde que baderna e vandalismo.
A polícia, por este ou aquele motivo (não me falem em baixos salários, falta de preparo, de treinamento, etc. – fizessem tudo isso antes! – não é capaz de refrear a violência).
A democracia leva em seu bojo a ordem, a tranqüilidade, o direito de ir e vir do cidadão. E que direitos temos nós, cidadãos, democratas, trabalhadores, se não podemos andar na rua, se nossos automóveis são roubados, se nossos filhos são assaltados, se nossos (ainda que pequenos) empresários são seqüestrados?
É evidente, é óbvio, que neste momento, existe a necessidade da colaboração do Exército para a coerção do crime nas cidades. Possivelmente não seja esta sua clara missão, mas se não existe um inimigo externo, fronteiriço, existe um inimigo interno, inimigo este que as Polícias são absolutamente incapazes de controlar.
É ridículo tratar-se agora de “direita” ou “esquerda”. Estamos tratando de vida. Vida humana. Vida de pessoas dignas.
Por que o cidadão comum, honrado, trabalhador pode se espremer dentro de um trem, morar em condições subumanas, ganhar um salário que não permite abastecer sua família das mínimas necessidades, por que este cidadão pode ser assaltado, assassinado? Por que o empresário pode ser seqüestrado? Por que as autoridades constituídas podem ser agredidas violentamente, como governadores eleitos pelo povo, democraticamente?
A Educação e a Saúde são fundamentais sim. Mas é fundamental na mesma proporção que se preserve o patrimônio e vida das pessoas. Democraticamente.
Se, por esse ou aquele motivo, os Estados e suas polícias estão incapacitados (ainda que momentaneamente) de faze-lo, o Exército deve dar a justa e democrática proteção ao cidadão.
Paralelamente, criem-se mais Escolas, formem-se mais Professores (e paguem o preço justo por seu trabalho), aumentem-se os Postos de Saúde, Hospitais e tudo o mais que for necessário (Penitenciárias e Cemitérios).
Mas é falso, é canalha, virar as costas, fingir que não se vê o estado pós-calamitoso da Segurança.
Para que haja trabalho, estudo e saúde é preciso que as pessoas possam ir até aos hospitais e as escolas, possam transitar livremente. Hoje isso não é mais possível.
Líderes dizem abertamente que não querem mais apenas a reforma Agrária, querem a reforma – pela força – do Estado, do estado de direito. Querem renegar tudo o que foi feito democraticamente até agora. Querem anular nosso direito de votar, portanto.
E quem assegura que, isto sim, não é extremismo, radicalização e violência.
Estamos numa guerra, basta ler qualquer jornal. Uma guerra dentro de nossas fronteiras, é verdade, mas uma guerra! E quem garante a manutenção da cidadania, do direito de viver em paz (ainda que mal)?
Existe um clamor da sociedade por segurança. Quem vira as costas a esse apelo em nome do “não ao retrocesso”, os que acham que isso é andar “com o relógio para trás”, compactuam com a desordem, o crime organizado. É preciso dar um basta ou não haverão mais cidadãos para exercerem a cidadania e a democracia.

Geraldo Iglesias

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