A C O N T E C E U !


Cabe agora uma nova reflexão sobre a sociedade, a violência, a mídia e a governabilidade.
Há um mês atrás escrevemos um texto, violento, disseram alguns, reacionário, bradaram outros, quando falamos da necessidade de uma ação forte, violenta mesmo das forças constituídas para conter a onda devastadora da criminalidade que assola o país. Falamos ainda que, embora não fosse o ideal, o Exército deveria ser usado, como Força Ostensiva, paralelamente a preparação das polícias militares estaduais.
Pouco resta a escrever sobre a tragédia do seqüestro do ônibus no Rio de Janeiro. A Polícia agiu de forma totalmente errada e despreparada, como despreparado é o Governo que concorda com essa polícia.
O bandido/seqüestrador foi assassinado por asfixia pelos policias, matando antes (não se sabe ainda se sozinho ou com o auxílio de balas perdidas da própria polícia) a jovem que mantinha como refém.
Tragédia? Não. Despreparo. De quem? Do Governo? Da Polícia? Da Sociedade que elege seus governantes?
O Exército nas ruas, preparado somente para guerras, como insistem, agiria melhor do que os atiradores de elite da PM? Pessoalmente, creio que não agiriam melhor ali, naquele momento, mas talvez impedissem pela própria postura ostensiva que o momento trágico se consumasse.
Eu acho isso, outros acharão aquilo.
Polícia despreparada, polícia assassina do marginal, vítima morta. Esse é o fato.
O que nos resta agora, além de sofrermos todos, de nos sentirmos todos muito mal, muito deprimidos, muito responsáveis, é: o que fazer?
Porque uma coisa é certa. O que o mundo inteiro assistiu no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, repete-se milhares de vezes, com menos atenção ou oportunidade da mídia.
Não temos controle da situação. Quem deveria ter muito menos o possui. Estamos sós, abandonados.
Somos, entretanto, uma sociedade, um grupo de pessoas que vivem juntos, em comunidade, um grupo que procura dia a dia viver dignamente. Portanto, já que não podemos (e muito menos devemos) fazer justiça com nossas próprias mãos (como fizeram  os policiais asfixiando o marginal dentro do camburão), resta repensar o que desejamos para a comunidade que termina por ser o mundo. O que queremos do mundo. Que vida queremos?
Preferimos o Exército nas ruas, assustando os marginais, fazendo-os pensar duas vezes (enquanto – mais uma vez – tenta-se preparar a polícia) ou queremos o que aí está? Ou ainda: se nenhuma das alternativas acima, qual então?
Porque uma coisa é certa. Só a sociedade organizada, procurando seus representantes, seus deputados, seus senadores poderá democraticamente viver em paz. E nesse momento, tenham certeza, viver em paz é endurecer. É não admitir mais nenhuma ação criminosa, por menor que ela seja. É a famosa tolerância zero.
Já que as vítimas são inevitáveis (como ocorre diariamente), penso que é menos absurdo o risco de uma vítima inocente por ação ostensiva, violenta, mas com fins de dominar a situação de GUERRA TOTAL que impera no País, do que as vítimas eternas do desgoverno, da falta de autoridade, de preparo de todos aqueles que pagamos, com o suor do nosso trabalho para nos defender.
Repito: O que o Exército faria de pior do que a nossa “Polícia Especializada”? Nada.
A solução é o Exército? NÃO. Mas então, preparem a Polícia. Este texto roda, roda correndo atrás do próprio rabo e não apresenta uma alternativa. E essa é a situação da sociedade: roda, roda e não encontra saída.

Geraldo Iglesias

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