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NEM TUDO....
“AS EMISSORAS DE TV CONDUZEM UM MONÓLOGO EM QUE O TELESPECTADOR É O ÚLTIMO A SER OUVIDO E O PRIMEIRO A SER DESRESPEITADO” Marta Suplicy
Encontrei essa frase, em negrito, no livro “Almanaque da TV”, de Rixa. Revi o texto umas três vezes sem acreditar muito no que estava lendo. Embora não simpatize com as idéias petistas, levo em conta a liberdade de pensamento de cada um e não vejo em cada petista um imbecil. Uma das pessoas que considero importantes no bom sentido dentro dos quadros do PT é justamente Marta Suplicy. Muito provavelmente votaria nela, se fosse paulista. Considero-a uma pessoa informada, culta e atenta o bastante às necessidades políticas e sociais de nossas cidades e do país. Por tudo isso, a frase retirada do livro meu causou espanto e decepção. Não há rubrica de quando o pensamento foi formulado nem em que circunstância foi colocado, mas não me parece um texto “pinçado” de um pensamento maior em que o autor quisesse dizer, na verdade, outra coisa. É uma frase inteira, coerente, fechada. Um raciocínio, uma idéia, um conceito. Não posso deixar de lamentar meu engano quanto à capacidade da Sra. Marta Suplicy em analisar o mundo a sua volta e, principalmente, o mundo midiático, o mundo do entretenimento, da informação e cultura que é a televisão. A frase é simplista, desinformada, populista, desqualificada de qualquer raciocínio mais arguto ou, no mínimo, mais atento ao processo televisivo. Processo esse com inúmeros problemas, erros, falhas graves, mas muitos acertos. A Sra. Suplicy parou no tempo ao imaginar, longe que seja, que a TV “desenvolve um monólogo em que o espectador é o último a ser ouvido”. Em que planeta ela vive? Como pode querer ser prefeita da maior cidade do Brasil se desconhece minimamente o maior meio de comunicação mundial do seu país que é a televisão? A televisão, mais do que os políticos, ouve cada vez mais, em grande proporção a voz de seus espectadores, não só fazendo pesquisas cada vez mais qualificada como usando a interatividade através de telefone, fax, cartas, e-mail e suas home-pages. O público espectador além do poder de fogo concedido pelo controle remoto (que permite que ele mude de canal e diminua substancialmente o faturamento da emissora de tv que não o agrada), escreve, telefona, participa ativamente dos debates, das atitudes de todos os envolvidos na programação, escolhendo muitas das vezes aquilo que deseja ver, quem quer ver, que assunto, etc. o espectador não é aquele ser “coitadinho”, passivo, “primeiro a ser enganado” de que fala a equivocada Sra. Suplicy. Ele é um sujeito atuante, que participa, questiona e reconhece a televisão como concessão pública que está ali principalmente para transmitir entretenimento saudável e informação verdadeira. Há equívocos, é claro. Existem apresentadores que não pensam na responsabilidade que têm ao trazer determinados temas, fazer determinadas “brincadeiras”, etc. Faz parte do jogo. Mas o público aprende, cada vez mais a diferenciar o que é bom do que é inaceitável. Há discursos, entretanto, enganadores na TV. Aparecem pessoas dizendo coisas, colocando-se de uma forma, quando na verdade, não são nada daquilo. Há que se aprender. Eu mesmo fui vítima dessa possibilidade ao ver o discurso da Sra. Suplicy na TV e ler sua declaração. Mas não devo rotular que tudo o que aparece na TV é um Suplicy.
Geraldo Iglesias Outubro 2000 |
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