MEIOS DE EDUCAÇÃO

O economista Cláudio de Moura Castro escreve coluna interessante na Veja n° 1669, que deve ser motivo de reflexão nos profissionais do ensino. Fala dos critérios adotados para ensino, os títulos de Doutor que são exigidos em detrimento da prática.
Embora uma coisa não tenha nada a ver com a outra, lendo o referido artigo reflito sobre o discurso dos educadores sobre as novas tecnologias. Em todos eles fala-se muito da internet como meios de difusão do ensino, suporte, etc. É regra falar do telespectador cidadão, crítico que atua sobre o meio, influenciando-o.
O discurso é coerente, lógico, mas não (por enquanto) verdadeiro. Não passa de um texto já decorado por todos os grupos interessados, discurso esse repetido à exaustão nas re                  professores, de produtores de tv, de educação a distância, nos chás de fim de semana e nos intervalos entre simpósios; tema ainda de inúmeras monografias, teses e tudo o que se possa imaginar. Não passa de discurso, não acontece na prática. A verdade é que os professores continuam atrasados, continuam com os livrinhos didáticos e mais nada. Quantos usam o vídeo e a internet  como meio de  aprofundamento e pesquisa?                                                                São despreparados para o uso das possibilidades que se apresentam, são renitentes, duvidam do que pregam. Quem menos usa as novas tecnologias é a área de educação.
  O que tenho visto nos últimos dez anos de convívio com professores é uma choradeira sem fim, uma lamúria profunda, uma revolta muitas vezes justa, mas que não ajuda a alterar o processo. É conhecido o discurso do professor que alega não se atualizar, não acessar os novos meios “já que faltam apagadores e giz, faltam carteiras e melhores salários...”
Ora, o que tem uma coisa com a outra? O único resultado claro dessa discussão é que, na prática, temos a cada dia alunos mais informados e professores menos preparados. Alunos que se informam via TV, via Internet, revistas, livros etc. Hoje os meios de comunicação fornecem um número inalcançável de cultura, informações, estatísticas e tudo o mais que se precisa saber. Na verdade, se procuramos, existe uma quantidade tal de informação que, ao contrário, temos de selecioná-la para dar conta. A informação disponível é em quantidade muito maior do que nossa capacidade de assimilação.
O jovem estudante é bombardeado dia e noite com todo esse material. Muitas vezes nem mesmo ele está percebendo a carga cultural que está absorvendo. Torna-se, automaticamente, crítico, astuto e de bom gosto. Automaticamente, repito. Esse discurso repetitivo da necessidade dos meios se preocuparem em formar “espectadores críticos” é, a meu ver, ultrapassado. Não há como o jovem não se tornar senhor do meio, não escolher aquilo que melhor atende as suas necessidades. Existem, evidentemente, como em tudo, as exceções, as pessoas que procuram tudo aquilo que é ruim, deletério, marginal. São ricos e pobres que, independentemente das suas necessidades imediatas, estão em busca do irresponsável, do leviano, da ignara, do vil. Esse tipo de pessoa, de homem, ou jovem estudante é delinqüente e precisa de apoio específico, qualificado, não faz parte da grande massa de educandos.
Na classe média principalmente, é comum encontrar alunos muito mais informados do que os seus mestres. São jovens que vão ao cinema, conversam com amigos, vão a museus, pesquisam na internet e vêem muita televisão. Eles têm acesso a tudo isso!
As classes dominantes! – gritarão os de sempre. É verdade. As classes dominantes. Mas temos também as classes menos favorecidas, que não têm como participar de todo esse processo, estão excluídas de, no mínimo, metade dos meios. Trabalham, não vão a museus, não compram livros e não têm estímulo em casa para a leitura.
Ainda assim, essa classe tem acesso a televisão (e, portanto, ao de bom que a televisão proporciona), tem acesso à escola e à internet hoje uma realidade nos colégios estaduais e municipais, bem como em centros comunitários, stands, etc. O jovem que deseja se informar e se educar hoje já é plenamente consciente dos meios que tem a seu dispor, sabe acessa-los e procura pela curiosidade, pela ânsia natural de quem quer saber, sem proselitismos, ideologias, mágoas ou culpas.
O professor, se quiser, pode fazer o mesmo. Não o faz por covardia, para fazer pressão contra governos ou empresas privadas. Fala do “giz e cuspe” como uma bandeira (infelizmente rasgada pelas novas formas de administração e pelas novas tecnologias).
Existe ainda tempo para os professores que ficaram em segunda época, para os que não percebem que o mundo mudou, que o alunado não é mais o mesmo, que o quadro negro pode ter um tubo por trás. Existe ainda espaço para a lousa tradicional, para os livros (sempre haverá) e para o lápis e o papel. Só não existe mais tempo é para choradeira mesquinha nem para usar o poder de “mestre” em favor de classicismos xiitas, braço oportuno de partidarismos extremados de desagregação do Estado através da juventude que é o mais tênue, mais frágil e, ao mesmo tempo, mais importante instrumento da dignidade futura do mundo.
Seria oportuno fazer mais e falar menos em “cidadão crítico”, “em novos meios”, pois desse discurso, a sociedade já é farta.  Sobre o tema em questão, livros, debates e polêmicas já tiveram seu tempo e esgotaram-se em si mesmo. As tecnologias estão aí, o conhecimento está disponível, as possibilidades são infinitas. Falta vontade da classe responsável em utilizar-se delas para o ponto fundamental que passa muito longe dos discursos ultrapassados e radicais: o professor como formador, como fomentador da curiosidade, do prazer do saber, enfim educador do povo.

Geraldo Iglesias
Outubro de 2000

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