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MAL ENTENDIDO Pensar que uma mulher pode estar caminhando por um campo gramado, que esse campo será muito longe de sua casa e é parada por um homem que pergunta sobre um menino. Se viu um menino passar por ali. Louro, de cabelos compridos, olhos azuis, quatro, cinco anos.... vestido de camiseta branca e casaco azul... Não? Não viu? Tem certeza? Mas como! Ele estava agora mesmo ali atrás daquele arbusto.. brincávamos. Estava deitada na grama de costas e ele montado sobre mim. Disse que vinha fazer pipi atrás da moita... Nem cinco minutos.. Levantei-me para vir atrás... Ele deveria estar por aqui! Não ouvi nenhum barulho, nenhuma voz? É seu filho, pergunta assustada. Não. Filho de um amigo, de um grande amigo, é quase como se meu filho fosse também. De um amigo de infância. Passei na casa dele, como faço todas as semanas, e viemos brincar por aqui. Ele adora brincar no parque... A mulher olha em torno, tentando ver uma criança. Não há nenhuma por ali. Você veio por que lado, insiste o homem. Por ali, mostra. Não estava prestando atenção, mas não passou nenhum menino. Meu Deus! Não é possível! O que vou dizer ao Alberto, como alguém poderia imaginar uma coisa dessas... Ele tem de estar por aqui... Mal acaba de falar dois homens aproximam-se. Primeiro vagarosamente, esgueirando-se, depois, num bote agarram o homem jogando-o ao chão e imobilizando-º Ela nem reparou nas figuras que se aproximavam, tão entretida com o sofrimento daquele homem. Onde está ele? Pergunta um dos homens ao que está dominado, no chão. O outro agressor pisa com força o rosto do homem. Eu não sei, ele consegue responder.Chutam-lhe o rosto, quebrando dentes, cortando lábios, o sangue já escorrendo e empoçando na grama, camisa e tudo o mais. Fale! Grita o outro, dando-lhe dois chutes violentos nas costelas. A mulher não tem reação, tudo acontece rápido demais, está tentando entender o que acontece... De quem estão falando... O menino, diz ela, esse senhor está procurando um menino, deve haver algum engano, diz, angustiada, querendo que parem a agressão. Outro chute. A mulher sente vontade de correr, de fugir dali, pedir ajuda, tem medo que matem o homem. Está com ela!!! Grita ele, do chão, ainda com o pé do outro apertando sua cara ensangüentada. Ela não compreende de imediato. Um dos homens salta e a agarra com violência. Com você? – pergunta. É – começa a explicar o homem que não está mais sendo pisado, dificuldade tem agora em falar pelo sangue, pela dor, pelo inchaço que toma seu rosto. Precisei, urinar, continua ele, e deixei o menino com essa mulher que se prontificou a tomar conta dele. Expliquei que ia ali, atrás daquela moita, pedi desculpas.. era só um segundo. Enquando estava lá – cospe um pouco de sangue, saliva e catarro – ouvi passos rápidos e vozes que falavam baixo porém nervosos: toma, aqui está leva correndo. Ouvi o menino reclamando, mas os passos se apressaram. Parei minhas necessidades no meio... Vim correndo, mas levaram o garoto num carro, um carro pequeno. Ela olha abestalhada. Parece um sonho, ou pesadelo, tudo aquilo. O homem que a segura dá dois tapas violentos em seu rosto. Pra quem v. entregou o menino? Que menino pergunta ela chorando, desesperada, sem compreender o que está acontecendo. Não grita, vagabunda, que eu te mato aqui mesmo! Responde o que acabou de agredi-la. Um carro aparece no gramado e os homens jogam tanto a mulher quanto o homem no banco de trás e partem em disparada. No carro, que corre, mas não muito a mulher consegue perguntar: O que está acontecendo? Vocês estão enganados..! Eu encontrei esse homem e ele me perguntou se tinha visto um garoto... só isso. Um dos homens, que estava no banco de trás, soca mais uma vez a boca do homem. Fala filho da puta, que eu te mato! A mulher começa a chorar, o sangue do outro já suja suas roupas também... Não tinha menino lourinho nenhum... Ela chora. Viu? Consegue dizer o homem que tanto apanhou? Lourinho. Ela esteve com o menino... Não! Pelo amor de Deus! Ele me disse que era um menino lourinho! Outro tapa, desta vez bem mais violento, no rosto da mulher. O carro está agora num subúrbio, está anoitecendo. A mulher chora e o homem sangra. Vocês vão falar de qualquer maneira, repete um dos homens enquanto o carro entra numa espécie de galpão em lugar ermo. Pára o carro e os dois são jogados para fora. É um lugar estranho. Imundo por fora e relativamente em ordem no interior. Como se fosse um cenário, como se a parte externa não correspondesse ao interior. Há serragem no chão. Algumas lâmpadas fracas caem do teto. Mais distante há uma escrivaninha. Atrás dela, sentado um homem aparentando poder, dinheiro. Ele é moreno, calvo, tem cavanhaque e usa um roupão. Fuma. Observa o carro parando e os dois sendo arrastados para fora. Aqui estão eles – diz um dos homens que os capturou. Não adianta, ela está negando, mas eu já contei a história toda, começa a falar com dificuldade o homem esmurrado. Essa mulher tomou conta do garoto para mim por uns segundos enquanto eu fazia xixi ali mesmo, senhor Talvane, ali mesmo, eu não me afastei nem 5 metros. Alguém levou a criança e eu não faço a menor idéia... – calou-se ao levar um pontapé no estômago. O homem atrás da escrivaninha não se abalou. Usava óculos pesados, com lentes grossas. Tragou o cigarro. Olhava fixamente para a mulher. Levantou-se. Rodeou a escrivaninha. Era patético, não fosse a situação desesperadora. O homem usava um robe de seda, não usa calças, embora esteja de sapato preto social e meias. Aproxima-se da mulher e joga fumaça em seu rosto. Minha cara senhora, diz ele com calma, não complique as coisas, por favor. Eu vou matar esse filho da puta. Olha para o outro. Ele deve ter vendido o garoto para a senhora. Não me interessa qual foi a transação. Se não vendeu, pior ainda, mais idiota ele é. Entenda que não há saída. A senhora terá que me dizer onde o menino está. Apenas isto. Me diga para onde levaram o garoto e tudo ficará mais fácil. – Sorri – Inclusive, a senhora continuará viva. Ok, ela pensa, é fundamental convencer a esse aí que é o chefão. Não parece pesadelo, parece que está acontecendo mesmo. Não sabe porque, mas pensa que não está mais com os originais que carregava. Nessa confusão a pasta se perdeu em algum lugar, com certeza ficou no jardim. Terá que voltar lá para pegar. Como explicar a perda dos originais? Estranho pensamento esse numa hora como essa, que despropósito! Respira fundo. Meu senhor. Deixe-me explicar-lhe. Procura manter a calma. Eu não sei o que está acontecendo, não sei quem quer nem porquê esse menino, mas está acontecendo um terrível engano. Talvane a observa sem expressão. Eu estava passando por um determinado local, is entregar alguns papéis, originais de uma tese a um colega meu. De repente me aparece esse homem – aponta o ensangüentado que, a despeito de tudo, parece melhor – e pergunta se vi um garotinho louro de camisa branca e casaco azul, de aproximadamente 4 anos. Digo que não. Ele me contou a mesma história, que estava brincando com o menino atrás do arbusto que o menino correu e sumiu. Eu ainda olhei, fiquei com pena, quis ajudar. Olhei em volta e tentei me lembrar se vira alguma criança, mas realmente não vira. Ele disse... que era filho de um amigo seu...Pensa rápido, como era mesmo o nome do tal amigo? Alberto, creio que Alberto. Esse Alberto era seu amigo e ele pegava sempre a criança nos fins de semana. De repente esses dois homens pularam em cima dele e o espancaram. Fiquei apavorada... Para minha surpresa o homem inventou que deixara a criança comigo... O senhor me compreende? Eu não sei nada do que estão falando, não faço a menor idéia. Posso lhe provar quem sou, para onde estava indo, o que faço na vida. Sou professora de filosofia... estou trabalhando numa tese com um aluno meu e... |
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