OS LIVROS E OS PERIÓDICOS


Já falamos aqui exaustivamente sobre as novas tecnologias, sobre a importância da mídia na comunidade e todas as possibilidades que os novos meios permitem, com substancial relevância para a informática.
Cabe agora fazer uma reflexão pequena sobre o que se poderia chamar de “o outro lado da moeda”. Sobre o que achamos que está “ficando para trás”.
E aí, existem dois meios que são fundamentais: os livros e os periódicos (jornais e revistas). Neste texto, trataremos dos livros.
Devemos antes disto, fazer uma avaliação mais clara de que estamos falando. Estamos pensando na verdade em cultura, em aprofundamento, em estudo.
Dia desses, conversava com um poeta amigo e ele me falava francamente da dificuldade em encontrar determinados verbetes, determinadas informações na Internet ou mesmo em Cds de enciclopédias. E para isso devemos ter clareza e despojamento. Não estamos tratando apenas de velocidade e atualização, estamos falando de conhecimento.
Se você vai a um site de procura e digita, por exemplo, a palavra sexo, aparecem imediatamente milhares de caminhos opcionais onde v. encontrará coisas, fatos, fotos, artigos de fetiche, etc. que, de alguma forma, relacionem-se com sexo. Indo a um dicionário tradicional, brochura, ou a uma enciclopédia (por mais humilde que ela seja), você terá uma descrição clara e objetiva do que é “sexo”.
Experimente procurar um ensaio brilhante sobre Elias Canetti, como o de José Guilherme Merquior em sua “Crítica – 1964-1989- Ensaios sobre Arte e Literatura”. Você simplesmente não vai encontrar. Mas está lá, no livro supracitado. Entre outras coisas, entre a análise freudiana e junguiana, entre a comparação a Kafka e Borges, você percebe a importância de Massa e Poder e não apenas do Auto-de-Fé, sacralizado pelos intelectuais de plantão.
A brilhante (fundamental) Introdução aos Ensaios Reunidos de Otto Maria Carpeaux, a aula sobre o mestre, escrita por seu aluno, admirador e pesquisador Olavo de Carvalho está no livro  e não disponível no ciberespaço. (E, se estiver, quero ver você achar).
“O último jornal a surgir no Rio em 1821 foi A MALAGUETA. Tratava-se de um periódico em que o estilo e a personalidade do redator eram tão característicos e predominantes que Luis Augusto May passara, daí em diante, a ser mais conhecido como “o Malagueta”. May não era brasileiro. Nascera em Lisboa em 1782”. Onde você encontra essa fundamental informação sobre a cultura e a história da nossa imprensa? Em que site? Em que arquivo? No livro INSULTOS IMPRESSOS de Isabel Lustosa que nos conta tudo sobre “a guerra dos jornalistas na Independência – 1821-1823”.
Para finalizar vamos a Eugênia Moreira. Quantas feministas de carteirinha pregam o aborto, o casamento entre homossexuais e não sabem quem foi Eugênia? Considerada a primeira repórter brasileira, vestia-se de forma livre e libertária. Fumava charutos dentro de um educandário de freiras, casou-se com o escritor Álvaro Moreira tendo 6 filhos. Nunca falou em dupla jornada de trabalho, nem ficava em casa quatro meses a cada filho. Trabalhou (com êxito) para libertar Anita Leocádio Prestes da garra nazista, fundou a União Feminina do Brasil, foi Presidente da Casa dos Artistas 1936-38) e foi candidata a deputada. Fonte? Dicionário Mulheres do Brasil. Nada nos sites de busca.
Seria absurdo pensar que estou aqui indo de encontro a todas as facilidades que as novas tecnologias, principalmente a informática (de quem sou usuário e entusiasta). Mas sempre é bom refletirmos com tranqüilidade sobre o que desejamos de fato e o que os meios disponíveis são capazes de proporcionar.

Geraldo Iglesias
Novembro de 2000
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