ALGUMAS PROPOSTAS DE CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS
                                   (PARTE I)


Os anos de 1999 e 2000 foram de grandes decepções para todos aqueles que, impregnados pelos futuristas, perceberam que a convergência das mídias, bem como o “saber universal” não estavam tão perto e muito menos eram tão fáceis como tanto se escreveu.
     Na verdade, o papel continuou com seu poder universal, a televisão e o rádio continuaram sozinhos a exercer o papel aglutinador da opinião pública.
Percebemos que um artigo publicado num jornal tem um poder de fogo infinitamente maior do que o mesmo texto exposto na Internet. Uma declaração feita numa televisão, ainda que local, atinge um número enorme de pessoas e esse número cresce exponencialmente.
A cultura, entendida amplamente, continua guardada em todos os livros e não na Internet.
Isso é fato.
O que aconteceu então com aquele mundo interligado numa grande rede onde todos se comunicariam, receberiam as informações necessárias, trabalhariam em casa e etc? Por que a maioria dos investidores da Rede faliram? E o ensino básico teve auxílio pífio, ou mesmo nenhum, das novas tecnologias?
Existem várias explicações, várias versões e creio que em todas encontraremos um pouco de verdade e um pouco de desinformação.
Acredito que tenhamos dois problemas básicos, pelo menos no Brasil: a falta de dinheiro (e, portanto de educação) e a crença tola de que a televisão deveria ser abandonada como meio.
Hoje, percebo com clareza que a televisão (nem o rádio) não poderão ser dispensados de maneira alguma, não deverão ceder um milímetro em suas propostas de divulgação da cultura ( e vejo aí a cultura como formadora de opinião, agente que viabiliza o acesso ao conhecimento, a informação e ao entretenimento. A televisão, como sabemos, está em todas as casas do mundo e o veículo de transporte de dados (os satélites) possibilitam essa “aldeia global” praticamente a custo zero.
A Internet que, como se sabe, era uma experiência militar continua engatinhando porque não dispões de tecnologias baratas nem de longo alcance em curto prazo. Depende de cabos, linha telefônica e, principalmente um elemento absolutamente novo e caro: banda larga.
Para um aproveitamento oportuno dos recursos que ora dispomos é fundamental ter claro que os livros, as revistas, os jornais, as televisões, os rádios e a internet devem formar um só campo, um só time. Cada um dos elementos desse time tem e continuará tendo por muito tempo seu papel fundamental no conjunto de opções que o homem necessita para viver com a informação que o tornará digno. Até porque, é através desse conjunto, que opera a própria espiritualidade, o conceito de uma coisa maior, de um poder supremo, de Deus, que eu mesmo há tempos atrás confundi com o poder da virtualidade.
Hoje em dia creio mais do que nunca que, para o aprendizado, por exemplo, nós precisamos da forma presencial, do mestre, desse “indicador” de caminhos. Ele, por mais bem formado e informado, poderá em alguns casos buscar sua orientação em outros meios, mas não a criança (por enquanto).
E esse homem, esse mestre deve ter uma sintonia fina com o meio circundante, com a família, a sociedade e com o divino, com Deus. Esse homem síntese do equilíbrio entre todas as coisas, esse ser que lê (logo existe), que busca, que tem seu espírito aberto é o ponto de equilíbrio social e, portanto, o mestre dos pequenos.
É importante voltar a frisar que esse composto de mídias não pode ser pensado com uma finalidade: são várias e uma está subordinada à outra até o infinito. Você não pode pensar em educação a distância se na ponta não há energia elétrica, se os professores de lá não sabem nada, não são informados. Você não pode pensar em informar as pessoas se estas não têm condições espirituais e materiais de absorver essa informação.
Apenas como exemplo e simples, eu diria que uma pessoa que vive alcoolizada, que não tem fé, cultura nem informação, não se beneficiará de nada nesse sentido que lhe seja apresentado. O homem tem que ser lapidado para depois receber aquilo que a sociedade construiu. E essa lapidação passa pela lei, pela ordem, pelo respeito e pela crença num mundo melhor, portanto um ser espiritual.
São conjuntos, são motivos e necessidades que se aglutinam uma interpondo outra, ao mesmo tempo em que busca uma terceira. Falando assim parece uma cadeia infinita e, portanto, impossível, mas não é. Estamos tratando de cidadania, ética, amor, educação, informação e cultura. Estamos falando ainda de espiritualidade e engenharia. De livros e informática. Estamos, repito, falando de um conjunto de coisas, ações, crenças, atitudes e trabalhos que possibilitem uma racionalização do nosso trabalho que é a difusão da educação e, portanto, da cultura pela Internet.
Não me resta dúvida de que o processo parece confuso e trabalhoso. Trabalhoso sim, confusa poderá ser, no máximo, a exposição. Afinal, estamos tratando de quase uma revolução ou, pior, de uma nova abordagem para uma revolução anunciada há quatro anos e que, infelizmente não deu certo.
Entre os motivos que propiciaram a falência da tentativa, creio que vale ressaltar dois aspectos: a falta de “cabeamento” mundial (principalmente nos países não desenvolvidos) e a expectativa de que a Internet, sozinha fosse capaz, no momento, de solucionar o caos cultural, estética e mesmo ético da população. Pelo contrário: vê-se que na Rede somente um tipo de coisa da certo e prolifera exponencialmente: a pedofilia, a pornografia e coisas afins. O homem paga para ter acesso a um site pornográfico, mas jamais pagará por um site cultural. Isso demonstra a incapacidade básica cultural e ética para tratar com qualquer tecnologia, muito mais esta que pode propiciar o prazer sexual na mais absoluta intimidade, da forma mais secreta, algo como o pensamento.
A despeito de tudo, terminamos por entrar em outro terreno, o terreno do prazer orgiástico, orgástico, atávico que, por sua vez, precisa de orientação psicológica profissional, na medida em que o mundo - com o progressivo abandono do sagrado, da religiosidade - terminou por mergulhar. Aquilo que mulheres e homossexuais acreditam terem conquistado, na verdade, tratou-se de uma anticonquista, de um retrocesso cultural e ético.
As regras morais amparadas na religião, de alguma maneira tornaram o homem diferente dos animais irracionais enquanto que as conquistas pós-modernas, as liberações de todos os freios do instinto, bestializaram o homem a ponto de hoje, com as novas tecnologias, ele estar muito mais propenso a freqüentar um site erótico do que um cultural. Portanto, demos passos para trás nos anos 50, 60 e 70 e agora temos que recuperar a humanidade, a ética e o bom senso para podermos então fazer uso apropriado das tecnologias que se nos apresentam.
Como se vê, muitos foram os motivos que levaram ao fracasso imediato do que se poderia ter levado de bom das tecnologias possíveis.
    Não é motivo para desanimar e sim para compreender o que aconteceu e continua acontecendo.
Nesse ponto somos obrigados a repensar a industria fonográfica, que livros se editam (e estimulam à leitura pelos jovens), ao nível da programação na televisão e no rádio e assim por diante. A Internet, a Grande Rede está presa numa rede invisível de atraso espiritual, de recrudescimento ético e estético do homem. Não podemos ter, por exemplo, sucesso nos prognósticos do poder de difusão do saber através de novas tecnologias se não temos o conceito de família, de dever, de ordem revisto. 
Já tive oportunidade de escrever como a virtualidade permite ao homem uma sensação (e mesmo um poder de semideus). Entretanto, se ele não percebe sua diferença para o verdadeiro Deus, desorienta-se.
Mas voltemos ao ponto fundamental para não divagarmos demais neste momento (teremos de faze-lo a posteriori):
1. O Homem tem que abdicar de algumas coisas que considerou “conquistas” no campo das liberações.
2. Os sistemas de comunicação (redes de televisão e outras mídias) precisam ser mesmo censurados já que seus dirigentes não têm escrúpulos.
3. As comunidades precisam de líderes, tanto legais quanto espirituais.
4. Ao contrário do que se diz, o “saber” não está hoje na Internet. Poderá estar, mas não está.
5. As novas tecnologias devem ser repensadas como meios de educação de massa e a distância com algum relativismo, valorizando-se primeiro a moral comunitária e o mestre. Depois, gradativamente, poderemos fazer uso das tecnologias.

Acredito, em suma, que toda a formação social deva ser repensada. Que a estrutura de formação individual deve estar centrada nos meios tradicionais de divulgação como Tv e periódicos e que, aí sim a Internet pode ser forte, deve acontecer uma reconstrução. Uma reconstrução de bases de acesso à informação e interpretação da mesma, principiando por meios políticos e filosóficos.
Embora este texto não tenha caráter político é importante dizer que, de alguma forma, tudo é política e deveríamos então desconstruir os conceitos arraigados pelo poder das esquerdas instituídas, a começar pelo pernicioso “politicamente correto”.
Devemos esquecer os conceitos de hoje em dia, essa verdadeira lavagem cerebral de que quem não é comunista, por exemplo, é um nazi-facista.
Entender que os conceitos de ordem, respeito, hierarquia, bom senso etc. devem voltar a reger nossas condutas. Depois se pode mesmo repensar se estão havendo exageros pelo outro lado, mas compreender que, desta forma não há como pensar informação e muito menos educação.
O conceito de ordem e respeito, adotado, não pode ser considerado “de direita”, como mesmo a palavra direita não pode ter o caráter viciado e falso que hoje tem arraigado no povo através dos intermináveis discursos políticos da esquerda que há tanto fazem parte do nosso inconsciente e mesmo do inconsciente coletivo.
A palavra, portanto, seria reconstrução.
Reconstrução da sociedade, da moral, dos costumes, da vontade de saber (não confundir com Vontade de Poder).
Por todos esses processos passa a educação a distância. Pela reforma social, moral e ética da civilização.
Mas não creio que baste o discurso, político da atuação. Existe uma parte prática, como disse acima, que deverá ter uma atuação imediata.
Dessa parte prática, devemos levar em conta que a informação e o saber que desejamos passar deve ele todo estar na Internet e não na televisão. Televisão hoje em dia é anacrônica para a divulgação correta dos saberes. O veículo é a Internet. Lá, através de textos, exposições, links complementares etc. podemos tratar os assuntos com a calma e o espaço que necessitam. Temos ainda a possibilidade de interatividade daquele que transmite o saber com o outro que o recebe e, muitas vezes, transmite outros saberes, como no caso, por exemplo, do professor da cidade e o aluno do campo, ou mesmo o aluno ou grupo de pessoas que trazem para quem ensina a sua cultura local.
Ainda acima falei de lugares que não tem sequer luz elétrica (e esses lugares existem aos montes no Brasil). Essas pessoas não têm nenhum acesso a educação, falam quase por dialeto.
Nesse caso não vejo oportunidade no momento para investimentos em curto prazo de novas tecnologias. Esse grupo social está fora do contexto civilizado pelo menos no contexto mais próximo de uma cultura efetiva.
Evidentemente os homens do campo são os homens do campo, não vai aí discriminação de espécie alguma e sim constatação simples e óbvia.
Mas ainda dentro deste grupo aparentemente excluído existem os que freqüentam a escola, os que viajam em lombo de burro ou canoas para chegar ao local onde existe alguma fonte de instrução, alguma escola. Os professores sabem algo a mais do que os alunos, mas, de uma maneira geral, são basicamente tão ignorantes quanto eles.
Esses pontos já podem ser objeto da reciclagem VIA TELEVISÃO. E nesses pontos já se pode pensar em trabalhar a médio prazo com novas tecnologias.

Geraldo Iglesias
jane 2001

Não deve restar dúvida de que este é o início de um pensamento e que, portanto, terá novos capítulos e desdobramentos até mesmo para uma conclusão o mais realista possível
Principal