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CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS O termo ‘convergência de mídias’ hoje provoca muito mais enfado ou ironia em quem ouve do que questionamento. Banalizou-se. Tudo o que se quer fazer em comunicação, tudo o que não possui um encaminhamento claro, uma linha reta de raciocínio passou a ser ‘apelidado’ de convergência. Por outro lado, o termo vem a reboque do aumento da internet, e pretendem alguns torna-lo sinônimo de modernidade, de mídia moderna. Cabe, portanto, uma reflexão bem maior, bem mais acurada sobre o que se pretende como transmissão de informação e saberes de forma moderna. Apesar dos detratores da tese, não existem dúvidas, até porque as estatísticas provam, que a rede mundial de computadores é acessada por uma parcela pequena da população mundial e ínfima pela população dos países em desenvolvimento. O que importa na rede mundial de computadores, portanto, é a possibilidade de armazenagem de saberes universais, a velocidade da informação e o acesso de todos, tornando a cultura e a notícia, bem como a possibilidade de interatividade, de criar usuários que participam diretamente de todos os fatos sem fronteiras geográficas. Eu posso visitar o Museu do Louvre, deixar um manifesto contra Bin Laden ou a favor da criação do Estado Palestino. Posso, ao mesmo tempo, reclamar junto ao vereador da minha cidade sobre determinadas ações prometidas em campanha que ele, nem de longe, cumpre. O mundo está ao alcance dos nossos dedos e nós fazemos parte desse mundo, também estamos ao alcance de qualquer um, de qualquer parte. Bem verdade que de forma virtual, mas, repito, o virtual é real, não é imaginário. O fato de trabalharmos na verdade com interfaces, ou seja, de que tudo aquilo que vemos no computador ser uma interface do binário 1 e 0 não o torna irreal, é apenas um meio. Podemos trocar o termo ‘convergência de mídias’ por ‘modernidade de informação’ ou ‘o conhecer moderno’. Tanto faz. O que importa é que essa modalidade de acesso e participação em tempo real com a informação e o conhecimento tem uma parte ligada a internet, um cordão umbilical, mas não é (por enquanto nem de longe, o todo. Possivelmente num futuro breve a rede – inteligente – será tão fundamental quanto o ar que respiramos). O que importa é que os comunicadores estão trabalhando com a possibilidade de convergir as mídias para a internet o que é impossível hoje. E, com seriedade, dá para compreendermos o assunto analisando a história recente. O rádio não substituiu a literatura. O teatro e o cinema não diminuíram a importância do rádio. A televisão aproximou o som e a imagem de todas as pessoas sem que elas abandonassem outras formas de informação, entretenimento ou estudo. Se a frase ‘um país não se faz sem livros’ é válida, importa o preço de capa de um livro, importa a quantas bibliotecas esse povo tem acesso, importa a generosidade dos cidadãos que doam livros, das empresas que os financiam, etc. Colocar, por exemplo, um computador em cada escola, não exclui a necessidade de cada uma dessas escolas ter sua biblioteca – nem sua televisão, nem seu rádio, nem a ida do alunado aos cinemas. O computador tornará esses alunos mais modernos, mais conectados com o mundo em que vivem, mais ágeis mentalmente, mais capazes de opinar, de agir, de interagir. Mais cidadãos do mundo. É perigosa a mistura de formadores de opinião sem clareza dos meios que utilizam associados a fabricantes de PCs que são, em última análise eletrodomésticos. A indústria tem que produzir computadores e as lojas precisa vende-los. Outros ramos do empresariado precisam criar as Ponto Com disponibilizando conteúdos, serviços pagos evidentemente pela comercialização do espaço. Faz parte do jogo capitalista que afinal permitiu a humanidade um acesso muito mais democrático aos bancos de dados, a correspondência e a interatividade em escala planetária. E isso é extremamente saudável. Há um ou dois anos atrás, termo da moda, politicamente correto era ‘a formação de indivíduos não passivos’. Em qualquer cartilha de esquina lia-se que ‘o telespectador tem que ser ativo, não pode ser bombardeado pela informação sem pensar, sem reagir, sem ser ativo’. Essa questão extremamente legítima não foi resolvida e ‘pulou-se’ para a questão da convergência das mídias. O aluno, o cidadão continuam passivos, continuam sem capacidade de reflexão e agora são bombardeados com as ‘convergências’. E, pior, essas convergências estão ligadas diretamente ao fato de possuírem ou não um computador. Daí, provoca-se a ansiedade do povo, dos governantes e dos formadores de opinião por não conseguirem cumprir a meta ‘um computador em cada casa’. Já conversei com jovens que declaram não terem acesso ao saber e a informação por não possuírem condições financeiras de ter o PC. Ora! Isso é mentira! Eles na verdade não têm uma boa escola, não têm professores capazes, não têm redes de televisão preocupadas com a cultura e a formação geral, não têm acesso à literatura nem ao cinema nem ao teatro. E é enganoso dizer que o computador resolveria em curtíssimo prazo essa deficiência. Claro que não. Ela é estrutural, é cultural. Na rede mundial de computadores temos acesso rápido e atualizado a todas as formas do saber humano, à informação em tempo real e a possibilidade de interagir com quer que seja (conhecidos ou desconhecidos) em qualquer parte do planeta. Temos ainda a possibilidade de entretenimento. É fato consumado que não poderíamos mais caminhar sem a internet. Ela é o grande saldo da humanidade em direção a informação. Ninguém erra ao pensar que o mundo está radicalmente divido em ‘antes e depois do advento da internet’. O desconhecimento ou a má fé será nominar de ‘CONVERGÊNCIA DE MÍDIAS’ a proposta de trazer todas as informações de todas as mídias para a internet e afirmar que só através dela o homem terá acesso ao saber. As redes de comunicação, as escolas, as universidades, as editores de discos e livros etc, na verdade deverão disponibilizar tudo na internet e, independentemente disso, divulgar nas mídias próprias e possíveis as informações de forma a que sejam rápida e facilmente absorvidas pelos grupos da sociedade em seu entorno, bem como viabilizar políticas de que essa sociedade tenha mecanismos para interagir e se manifestar e ainda, principalmente, que essa manifestação individual ou de grupos seja analisada e repensada pelo emissor original, seja ele quem for. Insistir em que a humanidade não pode prosseguir sem a internet não invalida a oralidade, o jornal impresso, os livros, as rádios, tvs, os cd roms, teatros, reuniões, grupos de discussão, escolas, bibliotecas, museus, etc, etc. Convergir as mídias significa compreender, aceitar e trabalhar para que cada grupo tenha o acesso possível através do meio que dispõe hoje. Nada mais do que isso. Geraldo Iglesias novembro de 01 |
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