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 | A mídia    Num acontecimento como esse ataque aos EUA, a mídia é de extrema importância. Através dela vemos o mundo, e tudo o que temos para acreditar é o que elas nos mostram. Passar informação é um dever e um privilégio. Mas requer ética, requer imparcialidade, e esses valores estão em falta. As grandes empresas (televisivas principalmente) manipulam a verdade, e direcionam as opiniões dos espectadores de acordo com seu interesse. Isso não é uma suspeita, é fato provado. Você nunca ouviu falar, logicamente, porque elas mesmas não vão divulgar. Mas com meios de comunicação de massa nas mãos do povo, como a Internet, alguns informados têm a oportunidade de mostrar a verdade a um número cada vez maior de pessoas. As empresas televisivas nacionais e internacionais pecaram seriamente. De forma covarde, ela separou agressores e vítimas como BEM X MAL. Apontaram o coitado e sofrido povo americano como o BEM, como a justiça e fraternidade, como os defensores do bem mundial, e jogaram sobre os povos muçulmanos a máscara do MAL. O Oriente Médio nunca foi tão mal-visto. Pior que isso, toda a religião islâmica teve sua imagem manchada. De acordo com a mídia, o islamismo era uma religião de terroristas. Formaram uma inverdade: os terroristas eram muçulmanos então os muçulmanos são terroristas. 
 Foi com profunda e ainda sim crescente indignação que li a revista Veja do dia 19 de setembro. Desde a Carta ao Leitor, de modo parcial, preconceituoso e mentiroso, os textos levavam a acreditar no BEM X MAL acima descrito. Vou detalhar adiante. Não copiarei inteiramente a Carta ao Leitor. Vale a pena comprar a revista, porque a imparcialidade e preconceito se espalham pela revista inteira, e não apenas por um ou dois textos. A segunda frase diz que “O atentado foi cometido contra um sistema social e econômico que, mesmo longe da perfeição, é o mais justo e livre que a humanidade já conseguiu fazer funcionar ininterruptamente até hoje”. Ora, agora o Capitalismo é justo, e gera liberdade. Onde está a justiça no Capitalismo? Esse sistema político e econômico mundial é o maior gerador de diferenças sociais. A cada dia o número de miseráveis aumenta. Milhares de pessoas nascem diariamente com a vida já perdida, sem expectativa alguma de ascensão social. Toda a miséria mundial tem como causa esse sistema, que, de acordo com o texto, é JUSTO. Adiante temos: “Não foi um ataque de Davi contra Golias. Nem um grito dos excluídos do Terceiro Mundo que, de modo trágico mas efetivo, se fez ouvir no império. Foi uma agressão perpetrada contra os mais caros e mais frágeis valores ocidentais: a democracia e a economia de mercado.” Para início de conversa, os excluídos não são os terceiro-mundistas (aliás, o termo Terceiro Mundo já não é mais empregado), eles estão em qualquer lugar, e mesmo os tão desenvolvidos Estados Unidos abrigam alguns milhões de excluídos. Esses excluídos não surgiram por mágica: eles são resultado da “justiça” do capitalismo. Pergunte a algum intelectual ocidental se ele se orgulha da democracia e da economia de mercado desse lado do mundo. Você se orgulha? Os, de acordo com a Veja, “mais caros e frágeis valores ocidentais” são a vergonha do Ocidente. As democracias por aqui não funcionam, e as economias de mercado são completamente desprovidas de compaixão, ética ou justiça. “O que realmente incomoda a ponto da exasperação os fundamentalistas, apontados como os principais suspeitos de autoria dos atentados, não é só a arrogância americana ou seu apoio a Israel.” Palestinos e israelenses guerreiam a anos. Os israelenses com tanques e armas modernas e pesadas, fornecidas pelos EUA, e os palestinos com paus, pedras e homens suicidas. Em seu mandato, Bill Clinton tinha uma visível preocupação com esse assunto, e freqüentemente estava entre os dois lados para tentar encontrar uma solução. Mas desde que George W. Bush assumiu, não houve uma sequer tentativa de paz naquela região. A prepotência e egoísmo do caubói texano tiveram como resultado os atentados às torres gêmeas e ao pentágono. A ajuda dos EUA à Israel (pateticamente visível na saída da Conferência de Durban), somada ao descaso americano com relação aos conflitos árabes versus israelenses, resultou numa indignação enorme dos, supõe-se, palestinos, e, cena de filme americano, ´se o problema dos conflitos não era de interesse americano, agora é´. “O que os radicais não toleram, mais que tudo, é a modernidade. É a existência de uma sociedade onde os justos podem viver sem ser incomodados e os pobres têm possibilidades reais de atingir a prosperidade com o fruto de seu trabalho.” Agora os muçulmanos são seres atrasados que abominam a tecnologia? São pró-regresso, e querem voltar no tempo através da destruição do presente? O Capitalismo gera uma sociedade justa? No mundo onde você vive, os pobres têm possibilidades reais de prosperidade? Se alguém souber de onde saem tantas mentiras patéticas, por favor me diga por e-mail, porque ainda estou chocado. E, para o grande final: “[os terroristas que atacaram os Estados Unidos] são enviados da morte, da elite teocrática, medieval, tirânica que exerce o poder absoluto em seus feudos. Para eles, a democracia é satânica. Por isso tem de ser combatida e destruída”. Incrível, não? Num texto extremamente piegas e apelativo, o autor (obviamente, que não se identificou) aponta descaradamente os muçulmanos como ´enviados da morte´, medievais, e diz que o sistema vigente no Oriente Médio é o feudalismo; diz que, para eles, a democracia é coisa do Diabo. Essa bela e justa democracia defendida pela Veja é a causa da miséria oriental. Olhe países como Paquistão, Afeganistão etc. Tudo que se pode ver é miséria, é dor, é condição desumana de existência. Isso é justiça? Passeatas já foram organizadas, livros já foram lançados, mártires já surgiram, e nada muda. Os poderosos mantém-se no poder, e os miseráveis reproduzem-se e multiplicam-se. O texto da (respeitada) Revista Veja não pode ser definido como outra coisa senão patético. É um absurdo que uma via de informação tão influente e conceituada consiga compactuar com tamanhas inverdades, levando ignorância e erro à massa. No texto da página 48 para a página 50 da mesma revista Veja, encontramos uma declaração do subsecretário de defesa americano, Paul Wolfowitz, que diz: “É preciso também eliminar os santuários, os sistemas de apoio e acabar com os Estados que patrocinam o terrorismo.” Se essa frase fosse verdadeira, a solução seria um suicídio americano. Ora, os EUA, como explicado em outro capítulo, são os maiores patrocinadores do terrorismo mundial. Na página 56, a foto e a legenda demonstram como a Veja quer apontar os palestinos como o MAL. A foto mostra vários palestinos comemorando, um deles um adolescente empunhando uma arma de fogo, e a legenda diz: "A FAVOR DO TERRORISMO: Palestinos comemoram atentados contra os americanos em um campo de refugiados no sul do Líbano: alegria com a desgraça do “grande Satã”". Pessoalmente: sou assinante Veja, e sempre admirei a Revista pela imparcialidade e seriedade. Esperei a revista dessa semana, aguardando alguma informação útil que pudesse ser exposta nesse site, mas confesso que fiquei extremamente desapontado e ainda estou indignado.É necessário cada vez mais que as pessoas tenham senso crítico, e possam perceber a imparcialidade. A mídia tem o papel de informar, e não de formar opinião. “A mídia deve sentenciar verbos e substantivos, não adjetivos.” |