Entre os precurssores estao o suiço Rudolph Töpffer, o alemão Wilhelm Bush, o francês Georges ("Christophe") Colomb, e o brasileiro Angelo Agostini, mas é comum relacionar a primeira história em quadrinhos com a criação de Richard Fenton Outcalt, The Yellow Kid, de 1896. Outcalt essencialmente sintetizou o que tinha sido feito antes dele e introduziu um novo elemento: o balão, aquele espaço onde é escrito o que os personagens dizem, e que aponta para sua boca com uma espécie de rabinho.
As bases para uma forma de arte totalmente nova foram lançadas, e a aventura comecou. Nas primeiras décadas de vida, os quadrinhos eram essencialmente humorísticos, e essa é a explicação para o nome que elas carregam ainda hoje em inglês -- comics (cômicos). Algumas histórias daquela época podem ser lidas ainda hoje, e estão entre as maiores obras da História dos quadrinhos. Little Nemo (de Winsor McCay), Mutt & Jeff (de Bud Fisher), Popeye (de E.C. Segar), e Krazy Kat (de Georges Herriman). Entretanto, existem outras denominações, como o italiano fumetti (fumaça, uma alusão à forma do balão), o francês bande dessinée (tira desenhada), o japonês manga e o português história em quadradinhos, bem mais compreensível.
O
crack da Bolsa de Valores em 1929 foi um ponto importante
na história da história em quadrinhos, e nos anos 30 eles
cresceram, invadindo o gênero da aventura. Flash Gordon, de
Alex Raymond, Dick Tracy, de Chester Gould e a adaptação
de Hal Fosterpara o Tarzan de E. R. Borroughs foram
os paradigmas para esses dias, agora conhecidos como Era de Ouro
(Golden Age). Três gêneros essenciais, a ficção
científica, o policial e as aventuras na selva espalharam seus tentáculos,
baseados em cada uma das histórias acima, respectivamente. Enquanto
o Tarzan de Foster era uma adaptação sem balões
e cheia de ação do livro de Borroughs, e o Dick
Tracy de Gould era parcialmente
inspirado
nos gangsters de Chicago (onde Gould vivia), Flash Gordon
era um produto total da imaginação de Alex Raymond,
que também nos daria o Agente Secreto X-9, Jim das Selvas
(para competir com Dick Tracy e Tarzan, respectivamente)
e Nick Holmes. Ainda nessa época foi criado o primeiro personagem
uniformizado, o Fantasma, escrito por Lee Falk e brilhantemente
desenhado por Ray Moore. Falk é um dos melhores escritores
de quadrinhos de todos os tempos e provavelmente o que permaneceu mais
tempo com o mesmo personagem -- mais de 50 anos! Falk também
criou Mandrake o mágico, com desenhos de Phil Davis.
(Por volta dessa época ja haviam ótimas histórias
em quadrinhos em outros lugares que não os EUA, como a França
e a Bélgica, mas elas eram pouco conhecidas fora de seus países
de origem. De particular interesse é o belga Tintin, de Hergé
que praticamente criou o estilo da linha clara, e teve pencas de
seguidores (e imitadores)).
A conclusão desse processo foi o nascimento de um gênero tipicamente americano: o super-herói, com o Super-Homem, de Siegel and Shuster. O Super-Homem é um marco -- para muita gente seu début marca o começo da Era de Ouro -- na História dos quadrinhos, um arquétipo perfeito, o modelo para uma série de personagens e um dos mais perfeitos mitos das eras modernas. Inúmeros estudos acadêmicos e dissecações foram feitos sobre ele em seus mais de 50 anos de vida. E muita grana, também. Seus dois criadores morreram nos anos noventa, sem sequer uma pequena parcela dessa fortuna, porque eles venderam os direitos do personagem para a DC Comics nos anos 40.
O campo evoluiu, expandindo suas fronteiras, tornando-se parte da
cultura de massa. No período de 1940-1945 foram criados aproximadamente
quatrocentos super-heróis, embora apenas uma fração
tenha sobrevivido. Dois merecem destaque: Batman, criado em 1939
por Bob Kane, uma figura sombria (inspirada na máquina voadora
de Da Vinci e no Zorro) cuja fama ultrapassaria a do Super-Homem
nos anos 80, e o Capitão Marvel, de C.C.Beck, um jovem
que ganhava poderes mágicos toda vez que falava a palavra Shazam!,
um acrônimo de nomes de deuses antigos. Vários personagens
se alistaram e foram para a II Guerra Mundial, e os quadrinhos se
tornaram armas ideológicas para elevar o moral dos soldados e do
povo. O maior ícone do período da guerra e o Capitão
América, de Jack Kirby e Joe Simon. Para dizer
o mínimo, na capa de sua primeira revista ele combatia ninguém
menos que o próprio Adolf Hitler.
Nos anos 40 o formato das revistas em quadrinhos que nós
conhecemos hoje foi criado. Além disso, nasceu um dos melhores quadrinhos
de todos os tempos, The Spirit, de Will Eisner,
um trabalho antológico que durou 12 anos com a ajuda dos ainda desconhecidos
Bob Kane, Jack Kirby e Jules Feiffer. Com apenas sete
páginas semanais, inseridas no suplemento dominical de um jornal,
Eisner criou toda uma enciclopédia dos quadrinhos, usando
cada um dos seus elementos básicos de forma nova e criativa, começando
cada história com um logotipo diferente para The Spirit,
com uso intenso da perspectiva e jogo de claro-escuro. Mais que um super-herói,
The Spirit é o ponto de partida para uma série de
contos sobre os problemas e as idiossincrasias do homem médio, assunto
comum em trabalhos posteriores de Eisner. Ao lado de Terry e
os Piratas de Milton Caniff, The Spirit é um dos
melhores quadrinhos da década (senão de todos os tempos).
Os anos 50 foram
o palco para a maior caça às bruxas já sofrida
pelos quadrinhos, e uma parte do preconceito desses dias resiste ainda
hoje. O psiquiatra Frederic Wertham escreveu
um livro, A Sedução do Inocente (The Seduction
of the Innocent), onde ele acusava os quadrinhos de corrupção
e delinquência juvenis. Entre outros estranhos argumentos, ele dizia
que os quadrinhos incitavam a juventude a violência (o que já
havia acontecido com o rock'n'roll). Um Código
de Ética, para limitar e regular o que podia (e o que não
podia) aparecer nas páginas foi criado, limitando o alcance e a
maneira de enfocar os assuntos, o que acabou por destruir todos os títulos
de terror da EC Comics, exceto um, uma revista humorística,
que existe ainda hoje: Mad.
Outra
grande história que apareceu naqueles anos difíceis, uma
tira aparentemente inocente sobre um grupo de crianças: Peanuts,
de Charles M. Schulz. Charlie Brown, o personagem principal,
é um garoto de 6 anos, perdedor nato, simboliza a insegurança,
a ingenuidade, a falta de iniciativa; um eterno esperançoso. Seu
cão, Snoopy, é um beagle filosófico
em cima de sua casinha vermelha. Esta tira marca o começo da era
intelectual dos quadrinhos, com uma maior valorização do
texto sobre as imagens. O outro importante nome dos quadrinhos intelectuais
dos anos 50 é Jules Feiffer, o retratista das paranóias
e obsessões de gente compulsiva na sociedade americana com um estilo
de desenho livre e indefinido, sem fundos, principalmente em monólogos,
no Village Voice. Em tempos de liberdade de expressão reduzida,
os criadores (no teatro e no cinema tanto quanto nos quadrinhos) utilizavam
roteiros aparentemente inofensivos para dizer nas entrelinhas o que queriam.
Pogo, de Walt Kelly, que usava animaizinhos nos pântanos da Florida
para discutir política, é outro exemplo.
Na Europa, nesse periodo, é criado um dos maiores quadrinhos
do mundo, o francês Astérix, de René Goscinny
(texto) and Albert Uderzo (desenhos), na revista Pilote,
em 1959. Com um grande senso de humor, perfeita pesquisa histórica,
maravilhosos painéis, Astérix é indubitavelmente
uma obra prima. As aventuras dos habitantes de uma vila gaulesa,
em 50 a.C., juntavam ação, piadas sobre quase todos os países
europeus (e seus povos), citações em latim, caricaturas de
personalidades francesas dos anos 60 e detalhadas paisagens, de uma maneira
gostosa de se ler. Em 1977 Goscinny falece, mas a histó continua:
Uderzo seguiu escrevendo e desenhando os álbuns -- até
hoje. Astérix é o maior bestseller da França.
Nos anos 60 nós
vemos o renascimento dos super-heróis com a chegada da Marvel
Comics, por Stan Lee e Jack Kirby. Lee e Kirby
ja tinham trabalhado junto em quadrinhos e super-heróis, mas agora,
eles têm a oportunidade de criar um novo universo ficcional inteiramente
novo. A surpresa era que os personagens tinham algum tipo de fraqueza em
oposição a seus super poderes. Quarteto Fantástico,
Surfista Prateado, Thor, Hulk, X-Men, Homem
de Ferro, Dr. Estranho foram os primeiros de um império
que logo tornou a Marvel a número um no mercado. Mas o personagem
mais popular e um dos mais interessantes é o Homem-Aranha,
identidade secreta do frágil e tímido adolescente Peter
Parker.
A década de 70 nada
mais é do que uma consequência natural do que estava comecando
a acontecer. Quadrinhos underground definitivamente conquistam seu
espaco, sendo vendidos em head shops e de mão em mão.
Crumb, os Freak Brothers de Gilbert Shelton
, S. Clay Wilson, Victor Moscoso, Bill Griffin estão
entre os mais conhecidos, se é que pode-se dizer isso, do underground.
Do outro lado do oceano, alguns desenhistas franceses -- Moebius,
Phillipe Druillet, Jean Pierre Dionnet, e Bernard Farkas
--, reunidos sob a efígie Les humanöides associées,
criam em 1974 uma revista histórica, Métal Hurlant,
que chega aos EUA em 1977 como Heavy Metal. Fantasia, ficção
científica, viagens psicodélicas, rock'n'roll, corpos nus,
novas diagramações e literatura são parte do confuso
mix que fez o sucesso da revista. Da Itália vem grandes quadrinhos,
como Ken Parker, de Berardi e Milazzo,
Corto Maltese, de Hugo Pratt, e O Clic, de Milo
Manara.
No fim dos anos setenta, Will Eisner retorna
a cena, inaugurando um novo gênero, a graphic novel, com Um Contrato
com Deus. Era o primeiro de uma série de contos ambientados
no Bronx que provariam definitivamente que o mestre não tinha perdido
a mão.