NEW AGE
O
termo Nova Era
Origem
tem
sua origem na astrologia,. Esta ciência do horóscopo e dos signos do zodíaco
acredita que aproximadamente a cada mil anos muda a configuração dos astros
que influenciam na vida humana.
Histórico
:
A Primeira Era teria sido touro ( 4304 a 2154 a.C) , e possibilitou o
domínio egípcio . A Segunda Era foi de Capricórnio ( 2154 a 4 a.C) , e tornou
possível a ascensão da religião judaica. A relação está em que o capricórnio
é um animal da família do cordeiro , utilizado na ceia pascal dos judeus.
Com
o nascimento de Cristo , começou a Era de peixes ( 4 a.c a 2146 d.C) . Os
astrológos evocam o fato de que o peixe foi um dos primeiros símbolos
utilizados pelos cristãos para representar a pessoa de Cristo . Segundo os
adeptos da New Age , a Era de Peixes teria sido a era Cristã . agora estaria
chegando o momento de uma nova mudança de Era. Termina a Era de Peixes e começa
a de Aquário ... a Nova Era.
Filosofia:
Os adeptos postulam o fim do cristianismo em favor de uma religião mundial. Teríamos
uma só religião , um só governo , um só sistema financeiro unificado. Essa
mundialização é a conclusão que a Nova Era tira de um princípio chamado
Holismo.
Os
Adeptos militantes acreditam que cada Era tem seu mesias ou avatar. A Nova Era
também espera o seu messias. Ela é conhecido por nomes como Saint Germaim ou
Lord Maitreya. Alguns chegam a afirmar que esse messias já teria nascido em
1982.
Influências:
A Nova Era não é uma seita organizada , é uma rede de idéias heterogêneas
que caminham paralelas . Usam da simbologia mística para vender alguns perfumes
, brinquedos , CDs ...
As
simbologias estão por toda parte:
Arco-Ïris
- a luz divina que se vai irradiando e faz ponte entre o céu e a terra ou entre
os seres terrstres e os extraterrestres.
Yin-yang-
antiga figura oriental , originária do taioísmo , que lembra o equilíbrio das
forças cósmicas positivas e negativas.
Cruz
de Nero: traz paz e é usada em brincos e pirâmides.
Pirâmides:
Ë tida como elemento que capta a energia cósmica e beneficia as pessoas.
Uma chave para entender a "Nova Era" (New Age)
Teresa
Osório Gonçalves
Quem se
aproxima das diversas expressões culturais, religiosas, terapêuticas e artísticas
que usam o símbolo "Nova Era" ou "Era de
Aquário", com o intento de captar aquilo que as une, pode experimentar um
sentido de desorientação como se entrasse num labirinto. Não existe uma
estrutura unificada nem um centro inspirador único daquilo que, contudo,
apresenta um ar familiar e tem comuns expressões públicas de promoção,
ligadas por uma complexa "network" de dimensões planetárias.
Como ponto de partida, poderíamos definir "Nova
Era" (em inglês "New Age") como uma corrente cultural, enraizada
no esoterismo ocidental do século XIX e vulgarizada na segunda metade do século
XX, que se apresenta sob o sinal do mito astrológico do Aquário. A idéia
central, escreve Jean Vernette, é que, na vigilia do ano 2000, a humanidade está
a entrar numa nova era, de tomada de consciência espiritual a nível planetário,
de harmonia e de luz. Estaria para se realizar, assim é sustentado por alguns,
a segunda vinda de Cristo, cujas energias já estariam em ação entre nós, no
seio das múltiplas pesquisas espirituais e de numerosos grupos religiosos (J.
Vernette, Le Nouvel Age, Téqui, Paris 1990, pág. 7).
Raízes
As expressões "Nova Era" e "Era de Aquário"
provêm dos ambientes esotéricos europeus e americanos do final do séc. XIX e
o início do séc. XX, onde as idéias do evolucionismo científico tinham sido
aplicadas à história psicológica e espiritual da humanidade e se alimentava a
expectativa de uma mudança radical. Especulações astrológicas que contribuíam
para corroborar esta expectativa.
Um dos livros de referência é L'Ere du Verseau, publicado
em 1937 pelo esotérico francês Paul Le Cour. Com base em antigas teorias
astrológicas, segundo as quais o sol mudaria de signo zodiacal cada 2169 anos,
Le Cour sustentou que está para terminar a Era de Peixes, iniciada a 21 de Março
da era cristã, e o sol está para entrar no signo zodiacal de Aquário. E
enquanto a era de Peixes foi caracterizada por grande estreiteza e por inumeráveis
guerras, a era de Aquário será caracterizada pela abundância, simbolizada
pela figura mítica do Aquário, o jovem Ganimedes que derrama um jorro de água
de uma urna.
Para entender o movimento cultural que se definiu mais
tarde, entre os anos 1960 e 1980, é preciso então olhar para a sua matriz
essencial, que encontramos na tradição esotérico-teosófica difundida no
ambiente intelectual europeu dos séculos XVIII-XIX, e especialmente nos círculos
culturais da maçonaria, do espiritismo, do ocultismo e da teosofia. Estes círculos
compartilhavam uma forma de cultura esotérica, definida (segundo o especialista
francês Antoine Faivre [A. Faivre, Access to Western Esotericism, Sunny Press,
Albany 1994, pp. 10-151) com estes elementos:
- o universo visivel e invisível está ligado por uma série
de correspondências, analogias e influxos entre microcosmo e macrocosmo, entre
os metais e os planetas, entre estes e as diversas partes do corpo humano, entre
o cosmo que vemos e os níveis invisíveis da realidade;
- a natureza é um ser vivo, percorrido por redes de
simpatia e de antipatia, animado por uma luz e por um fogo oculto, que o homem
procura controlar;
- através da imaginação, que é um órgão do espírito,
o homem pode entrar em contacto com o mundo superior ou inferior, recorrendo aos
mediadores (anjos, espíritos e demonios) ou a rituais;
- é proposto ao homem um itinerário espiritual de
transformação, que o iniciará nos mistérios do cosmo, de Deus e do próprio
ser, fazendo-o chegar à gnosis, o conhecimento mais alto, que coincide com a
salvação;
- procura-se uma tradição filosófica (filosofia perene)
e religiosa (teologia primordial) anterior e superior a todas as tradições
filosóficas e religiosas da humanidade, uma "doutrina secreta" chave
de todas as tradições "esotéricas", isto é, abertas a todos;
- a transmissão dos ensinamentos esotéricos é feita de
mestre a discípulo, através duma iniciação progressiva.
Segundo o estudioso holandês Hanegraaff, o esoterismo do séc.
XIX é "secularizado": integrou o esoterismo tradicional (que se
exprimia na alquimia, na magia e na astrologia), no qual era ressaltada a importância
da experiência religiosa pessoal e se procurava uma visão unitária do
universo, com aspectos da cultura moderna: a investigação científica das leis
da causalidade, o evolucionismo, a nova psicologia, o estudo das religiões (W.
J. Hanegraaff, New Age Religion and Western Culture. Esotericism
in the Mirror of Secular Thought, Brill, Leida-Nova lorque-Colónia 1996, pp.
411-524).
Esta integração é particularmente clara nas obras da
Senhora Blavatsky, uma "medium" russa que fundou, com o espírita
americano Henry Olcott, a Sociedade Teosófica (Nova lorque 1875), na tentativa
de fundir num espiritismo evolucionista as tradições do Oriente e do Ocidente.
A Sociedade Teosófica tinha um tríplice objetivo:
1) formar o núcleo de uma
fraternidade humana, sem distinção de raça, credo, casta ou cor (rejeitando o
cristianismo tradicional como sectário e intolerante);
2) encorajar o estudo comparado da religião, da filosofia
e da ciência para chegar à "tradição primordial";
3)investigar as leis derivadas da natureza e os poderes
latentes no homem.
Nas suas obras a Senhora Blavatsky defende a emancipação
da mulher, atacando a omnipotência do "Deus-homem" de Israel, dos
cristãos e dos muçulmanos. E propõe o retorno à religião hindu com o seu
culto da deusa-mãe e a prática das virtudes femininas. A ação feminista será
continuada pela Sociedade Teosófica sob a guia de Annie Besant, que está na
vanguarda do movimento feminista.
Alguns dos organismos derivados da Sociedade Teosófica
reconciliaram esoterismo e cristianismo, seguindo a pista aberta já no séc.
XVIII por Emmanuel Swedenborg. Entre esses a Igreja Católica Liberal de C. W.
Leadbeater e J. I. Wedgwood, A Escola Arcana de Alic, oailey, a Antropossofia de
Rudolf Steiner.
Constituição como movimento cultural
Como movimento cultural de massa a Nova Era perdeu consistência
e visibilidade por volta dos anos 1960-1980 no ambiente de dois centros
inspirados pela Sociedade Teosófica: a comunidade utópica de Findhorn, na Escócia,
e o Instituto para o desenvolvimento do potencial humano de Esalen, Califórnia.
Assumiu como insígnia, como dissemos, o mito astrológico
de Aquário. Circunscrito inicialmente aos ambientes astrológicos, explica
Massimo Introvigne (M. Introvigne, Mille e non più di mille. Millenarismo e
nuove religioni alle soglie del Duemila. Gribaudi, Milão 1995, pág. 206), este
mito tornou-se popular nos Estados Unidos nos anos 60, nos ambientes juvenis da
contracultura e o seu conhecimento divulgou-se entre os jovens do mundo inteiro
em 1968 pela comédia musical "Hair", cujas canções louvavam a Era
de Aquário. Era o periodo das revoltas estudantis que prometiam um futuro
radicalmente mudado. Depois das inevitáveis desilusões, muitos jovens se
orientaram então para a redescoberta do misticismo oriental e do ocultismo,
quando não para a droga, como atalho para um mundo totalmente diferente.
Em 1980 uma jornalista americana, Marilyn Ferguson, que
fizera pesquisas sobre o movimento do potencial humano, contribui para a difusão
deste modo de pensar para além dos ambientes da contracultura juvenil,
publicando o livro The Aquarian Conspiracy, Personal and Social Transformation
in the 1980's. A tese principal deste livro é que a humanidade se encontra no
limiar de uma grande mudança, de uma revolução silenciosa, operada por um número
crescente de indivíduos que - graças à transformacão pessoal - estão a
contribuir para realizar uma nova civilização. A autora analisa diversos
campos culturais - psicologia, religião, educação, trabalho, medicina e política
- para determinar os sinais precursores e atuais dessa mudança. E procura
suscitar a consciência de uma "conspiração" (no sentido etimológico
de "respirar juntos"), à qual podem aderir todos aqueles que desejam
levar avante, unindo-se, o novo "paradigma", a nova visão da
realidade. Sobre o termo "Aquário" não são feitas particulares
especulações: é só um símbolo, diz M. Ferguson, tomado da cultura popular
americana, para exprimir a expectativa de uma nova era.
Difusão
A difusão destas ideias foi rapidíssima também a nível
internacional. Segundo o especialista americano Gordon Melton (J. Gordon Melton,
New Age Encyclopedia, Gale Research Inc., Detroit 1990, pág. XXVI), quando nos
Estados Unidos foi proposta a ideia da Nova Era de Aquário, a comunidade
"ocultista-metafísica" constituida por centenas de grupos mágico-esotéricos
recebeu com entusiasmo esta perspectiva. O apoio dado pelos grupos espíritas,
teosóficos, etc., explica a velocidade da difusão do novo paradigma. Não
faltam depois os sinais do interesse do mundo maçônico, especialmente na sua
versão ocultista, que aspira ao desenvolvimento das forças ocultas da mente
humana ou do homem, para que este alcance a sua perfeição plena.
Outro factor essencial para a difusão, segundo o mesmo
autor, foi a formação de "networks" a nível mundial entre os grupos
interessados na "transformação global" (financiados por mecenas do
mundo esotérico). Criou-se assim um sentido de comunidade entre
"profetas" e pequenos grupos e desenvolveu-se a imagem de um movimento
crescente, capaz de impregnar a sociedade para além dos círculos dos
verdadeiros membros. Este modo de comunicação permitiu o intercâmbio entre
membros e outras pessoas e grupos que compartilhavam um ou mais ideais da Nova
Era (paz, ecologia, feminismo, medicina natural, mística inter-religiosa, etc.)
(Ibid., pág. 316). Além disso, em breve tempo, envolveram-se os circuitos
comerciais e os mass media.
Comparando em linhas gerais a corrente cultural que se
definiu nos anos 1960-1980 com o pensamento da Sociedade Teosófica, a estudiosa
francesa Francoise Champion encontra as seguintes diferenças: a esperanca nos
tempos novos, associados à Era de Aquário; a busca, não só dum aperfeiçoamento
pessoal, mas duma transformação social; um sincretismo que não se limita à
cultura oriental e ao esoterismo ocidental, mas que se refere a todas as tradições
religiosas e esotéricas e às especulações no campo da psicologia, da ciência,
da medicina alternativa, do paranormal; a atenuação das fronteiras entre
religioso e não-religioso; a aspiração "democrática" com a rejeição
dos mestres" e a criação de formas mais fluidas de ligação como as
"networks" (F. Champion, Le Nouvel-Age: recomposition ou décomposition
de la tradifion "théo-spiritualiste"?, em Politica Hermetica n. 7,
1993, pp. 118).
Poderíamos dizer que o movimento da Nova Era continua vivo
e em expansão nestes últimos anos do século XX?
Segundo alguns especialistas americanos, parece que nesse
continente já tenha perdido parte do seu fascínio, enquanto noutras áreas
ainda está em expansão. Mas será mais justo considerar que perdeu algo como o
mito, a utopia agregante, enquanto continua em expansão a corrente esotérica a
que deu publicidade e vigor, e isto a nivel tanto cultural como comercial. Já
existe quem procura remediar o desgaste da bandeira "New Age", criando
um novo termo, "The Next Age"...
Ideias centrais da
"New Age" (N.A.)
Visto que a "New
Age" é uma bandeira comum com uma grande diversidade de movimentos, não
é fácil definir as suas doutrinas. Contudo, tendo uma matriz cultural comum,
nela encontramos algumas ideias centrais, características do pensamento esotérico,
como acabamos de o definir:
- o cosmo é visto como um
todo orgânico;
- é animado pela Energia, que coincide com o Espírito divino;
- crê-se na mediação de diversas entidades espirituais;
- crê-se na ascensão dos seres humanos às altas esferas invisíveis e na
capacidade de controlar a própria vida para além da morte;
- crê-se numa "sabedoria perene" anterior e superior a todas as
religiões e culturas;
- seguem-se os mestres iluminados...
Num modo mais detalhado,
podemos descrever a N.A. sob o ponto de vista da ciência, da psicologia, da
religião ou espiritualidade, do projeto sobre o homem e sobre a sociedade.
a) Sob o ponto de
vista da ciência
Como escreve Piersandro
Vanzan (P. Vanzan, Contestualizzazione socioculturale e discernimento
teologico-pastorale del "New Age", em E. Fizzotti [ed.], La dolce
seduzione dell'Acquario, Las, Roma 1996, pp. 87-88), a N.A. faz própria a
mudanca de "paradigma" ocorrida na ciência moderna. Com efeito, na física
passou-se do modelo "mecanicista" da fisica clássica de Newton -
segundo o qual o universo é uma imensa máquina cujos elementos, interagindo
uns com os outros, se conservam em equilíbrio e desse modo mantêm o universo
em movimento - para o modelo próprio do "holismo" (global) da física
moderna, atómica e subatómica, segundo o qual a matéria não consiste de
particulas, mas de ondas e de energia. Então, para a N.A. o universo é um
"oceano de energia", que é considerado, não de maneira mecanicista,
mas como um todo, uma totalidade, uma rede de ligações. O universo
(Deus-homem-cosmo) é um organismo unitário, vivo, com um corpo e uma alma (a
energia coincide com o espírito). Quanto mais se escava em direção da raiz da
realidade, tanto mais tudo se unifica e se simplifica. Deus e mundo, espírito e
matéria, alma e corpo, inteligência e sentimento, céu e terra são uma imensa
vibração energética, na qual tudo está conexo.
b) Sob o ponto de
vista da psicologia
Como via de ampliação da
consciência recorre-se às técnicas da psicologia transpessoal e procura-se
provocar experiências "místicas". Por exemplo, através da prática
da ioga e do zen, da meditacão transcendental, ou dos exercícios derivados do
budismo ligado ao tantrismo, procura-se chegar a uma experiência de realização
do Eu, ou de iluminação. Também através das experiências-limite ("peak
experiences"): revivendo o processo do nascimento ("rebirth"),
viajando até às portas da morte, submetendo-se a estimulacões elétricas
("biofeedback") ou ainda com a dança ou a droga. Tudo o que pode
provocar "estados alterados de consciência" é considerado útil para
chegar a experiências espirituais de unidade ou de iluminacão.
Uma via particular é a do
"channeling": dado que todos os homens são parte da única Mente,
eles podem agir como "canais" rumo aos outros seres superiores: cada
parte do único Ser pode aceder ao resto de Si mesmo.
c) E sob o ponto de
vista da religião?
Ainda que alguns expoentes
da N.A., como Alice Bailey, o vejam como o início da nova religião mundial,
outros evitam propô-lo como uma "religião", termo que consideram
muito ligado à instituição e aos dogmas. Para eles trata-se literalmente de
uma "nova espiritualidade". Nova, embora muitas das suas ideias sejam
tomadas de antigas religiões e culturas: a novidade está antes na busca
consciente de uma visão alternativa à da religião judaico-cristã e da
cultura ocidental nela inspirada. Espiritualidade, concebida como experiência
interior de harmonia e de unidade com todo o real, que cura o homem de qualquer
sentido de imperfeição e de limite. O homem descobre que está intimamente
ligado à Força ou Energia universal, que é sagrada e está na origem de toda
a vida. Ao fazer esta descoberta, abre-se-lhe um caminho de aperfeiçoamento
para ordenar a sua vida pessoal e as suas relações com o mundo, encontrando o
seu lugar no devir universal e contribuindo, como co-criador, para uma nova génese.
Chega-se
então (como escreveu Mons. Carlo Maccari [C. Maccari, La "mistica
cosmica" da New Age, em Religioni e Sètte nel mondo, 1996/2, pp. 16-361) a
uma mística cósmica, baseada na consciência de um universo fremente de
energias dinâmicas. Energia cósmica-vibração-luz-Deus amor - ou também o Eu
superior - são expressões da própria realidade, ao mesmo tempo fonte primigénia
e presença imanente a todo o ser.
Para caracterizar esta
espiritualidade, poder-se-ia distinguir uma componente metafisica e uma psicológica.
A primeira provém das raízes esotérico-teosóficas e configura-se como uma
nova forma de gnose. O acesso ao divino realiza-se mediante o conhecimento de
mistérios ocultos, numa busca - como diz Jean Vernette (J. Vernette,
L'avventura spirituale dei figli dell'acquario, em Religioni e Sètte nel mondo,
1996/2, pp. 42-43)- "do Real atrás do aparente, da Origem atrás do tempo,
do Transcendente atrás do fugaz, da Tradição primordial atrás da tradição
efémera, do Outro para além do eu, da centelha, do Divino cósmico para além
do individuo encarnado". A espiritualidade esotérica, acrescenta este
autor, "é uma pesquisa do Ser além-mundo da separação dos seres, como
uma nostalgia da Unidade perdida".
A componente psicológica
provém do encontro da cultura esotérica com as investigações psicológicas.
Baseada nisto, a "New Age" tornar-se-á a experiência de uma
transformação pessoal psicoespiritual (considerada análoga à experiência
religiosa). Para alguns esta transformacão ocorre sob forma de uma profunda
experiência mística, depois de uma crise pessoal ou de uma longa busca
espiritual. Para outros a transformação vem do uso de técnicas de meditação
ou terapêuticas, ou de experiências paranormais que fazem intuir a unidade do
real.
d) Qual é o projecto
sobre o homem?
Na base desta corrente
cultural encontra-se, então, a busca do aperfeiçoamento e da exaltação do
homem. É o caso de pensar no super-homem anunciado por Nietzsche no final do séc.
XIX. Para este filósofo, que acusava o cristianismo de ter impedido o
manifestar-se da verdadeira dimensão do homem, a sua perfeição consiste no
"eu" levado à plenitude, segundo uma ordem de valores que ele mesmo
cria e realiza, graças à própria vontade de poder: um "eu"
autocriador.
Em muitas expressões da
N.A. encontra-se uma fé análoga. Segundo alguns visionários - diz Claude
Labrecque (C. Labrecque, Une religion améncaine. Pistes de discernement chrétien
sur les courants populaires du "Nouvel-Age", Médiaspaul, Montreal
1994, pág. 13) -, as diferenças entre o homem atual e o
homem que conseguirá realizar plenamente o seu potencial, como capacidades
fisicas e psiquicas, serão maiores do que as existentes entre o homem atual e
os antropóides. É assim proposta a exploração de todas as vias que permitem
ao homem autotranscender-se.
Poderíamos aqui
distinguir entre a via esotérica - da qual falamos - que é essencialmente uma
busca de conhecimento, e a via mágica, ou ocultista, que é sobretudo uma busca
de poder, no qual o homem se sente como um demiurgo, capaz de controlar o mundo
das forcas superiores e obter os bens que deseja. Mas estas duas motivações, a
busca do saber e do poder, encontram-se muitas vezes associadas, como da teoria
à prática, razão por que muitos grupos são simultaneamente esotéricos e
ocultistas.
No centro do ocultismo
observamos uma vontade de poder guiada pelo sonho da divinização. Muitas técnicas
usadas para a expansão da consciência têm a finalidade, conhecida só depois
de uma longa iniciação, de revelar ao homem que ele possui um poder divino,
que deve ser exercido a fim de preparar a via para a Era da Iluminação.
De que iluminação se
trata? Sem querermos generalizar a inteira "New Age", não podemos
ignorar as especulações de expoentes desta corrente (como Alice Bailey, David
Spangler, Benjamin Creme) sobre a figura de Lúcifer como o agente da iniciação
na "nova era" (alguns textos destes autores são citados no documento
da Comissão Teológica do Episcopado Irlandês A New Age of the Spirit? A
Catholic Response to the New Age Phenomenon, Veritas, Dublim 1994, pp. 33-37. No
mesmo documento é indicada "a Doutrina secreta" da Senhora Blavatsky
como fonte dessas idéias). Quanto estas especulações servem de inspiração
aos movimentos satânicos organizados ou a certas expressões da cultura moderna
dirigida sobretudo aos jovens, é um campo que requer sérias pesquisas.
e) Que transformação
social?
Ao refletirmos sobre os
frutos sociais da cultura esotérica divulgada pela N.A., vemos que o mito do
super-homem continua a inspirar movimentos políticos e agregações
alternativas de direita ou de extrema direita. Mas está também presente de
forma científica, por exemplo nas experiências da engenharia genética, que às
vezes parecem animadas pelo sonho cultivado nos ambientes ocultistas, de poder
recriar o próprio homem: descodificando-o, alterando as regras naturais da
sexualidade, procurando superar as fronteiras da morte.
Sob a mesma bandeira da
N.A. encontram-se orientações de sinal oposto, como a ecológico-feminista,
que se difundem em geral nos ambientes de esquerda e são promovidas por
"networks" internacionais para a educação "global" e o
desenvolvimento sustentável da Terra. Embora na enorme variedade de graduações,
o motivo de fundo parece remontar à própria busca de vias alternativas, mesmo
à custa de uma viragem global da sociedade, considerada necessária para o
nascimento da nova era.
Partindo da fé
cristã, quais são as principais diferencas a respeito da N.A.?
1. Antes de tudo nós
cremos num Deus criador. Um Deus que cria livremente, por amor, e cria o homem
livre. Deus não coincide com o mundo (panteísmo), nem o mundo saiu d'Ele por
emanação. Na óptica cristã é de igual modo falso dizer que Deus coincide
com o homem. Certamente mora nele, mas é ao mesmo tempo o seu Criador, Senhor e
Salvador. Por um desígnio de amor fê-lo Seu interlocutor. A alteridade
preserva a dignidade pessoal e a liberdade do homem.
2. Na oração entramos em
diálogo com este Deus. A oração não é a simples redescoberta do eu mais
profundo, mas pressupõe o encontro de duas pessoas: é um por-se livremente em
adoração, em ação de graças, em súplica. É um sintonizar-se com a vontade
de Deus.
3. Nós temos necessidade
da redenção de Cristo porque somos pecadores. O cristão vê o homem como
fundamentalmente bom, mas ferido pelo pecado original. Nenhuma técnica de
libertação, nenhum esforço de concentração pessoal, nenhuma sintonia de
milhões de consciências pode salvar o homem. A nossa única via de salvação
é Cristo, o Filho de Deus feito homem, que "entrou" na história para
nos salvar.
4. O sofrimento e a morte
têm um significado. Os seguidores da N.A. não aceitam o sofrimento nem a
morte. A redenção para eles vem de técnicas de expansão da consciência, de
renascimento, de viagens até às portas da morte, obtém-se também com
qualquer método que ajude a relaxar-se para aumentar as energias vitais. Para
os cristãos, ao contrário, o sofrimento vivido em união com Jesus
crucificado, que na cruz revelou o Seu amor pelos homens, é fonte de salvação.
Também a morte é um acontecimento único: não é um acesso a una nova
reencarnação a que seguirão outras, mas a passagem obrigatória para entrar
na vida eterna.
5. O mundo novo constrói-se
com as obras do amor recíproco. A N.A. fala de mudar o mundo. Diz um boletim do
movimento indiano Brahma Kumaris: "Está para suceder alguma coisa... Vós
podeis suscitá-la, associando-vos ao mesmo tempo a milhões de outros, reunidos
numa espécie de nova comunhão dos santos que, pela sua força e criatividade
intrínseca, dispõe de uma alavanca capaz de fazer virar a mundo do lado
justo". Mas bastará o pensamento para mudar o mundo? A via que nos foi
proposta por Jesus Cristo é muito mais exigente e fascinante, é a do amor recíproco
que se traduz em obras concretas e cria comunidades vivas que constróem um
mundo novo. Muitos homens de hoje têm necessidade de esperar numa "nova
era" da humanidade. Procuram uma visão mais ampla, que dê razão também
da diversidade de religiões e de culturas; procuram uma espiritualidade global,
capaz de oferecer um caminho que responda à aspiração à união com Deus, com
a humanidade inteira, com o cosmo; são sensíveis a um projeto cultural e político
que renove inteiramente a sociedade. Evitando as veredas cegas para onde conduz
o sonho da omnipotência, é preciso reconsiderar em termos novos o projeto
cristão sobre o homem e a sociedade.
L'Osservatore Romano, n.
25,
20/06/1998, págs. 16-17
edição em português
O Movimento "New Age" e a Mística Panteísta da Criação
Autor: Frederico Viotti (Parte IV de sua tese)
"O que será aqui escrito é fruto de uma vasta pesquisa junto a várias organizações que se dizem explicitamente gnósticas e da
leitura de diversos livros que tratam deste assunto. Um dos livros mais importantes, e que será citado várias vezes, é A Conspiração Aquariana, de Merilyn Ferguson,
considerado um dos principais documentos sobre a "Nova Era".
Capítulo 1
O Movimento "New Age"
Como
demonstrado na parte anterior deste trabalho, a Renascença representou um início
de ruptura com o teocentrismo. Essa ruptura pode ser percebida em diversos
autores renascentistas, como Giordano Bruno, M. Ficino, Pinponaze, Pico della
Mirandola, etc.
Giordano Bruno, nasceu em Nola (Nápoles), em 1548 e morreu em Roma a 17 de
fevereiro de 1600. Fascinado, como ele mesmo dizia, pelos ensinamentos de Heráclito,
Parmênides, Demócrito, Lucrécio e Plotino. "(...) De volta a Paris, o
seu violento antiaristotelismo provocou tumultos entre os estudantes... passando
à Alemanha, primeiro a Wittenberg, onde se inscreveu na igreja luterana, mas
onde permaneceu pouco tempo, despedindo-se com ‘oratio valedictoria’, cheia
de exaltação de Lutero. (...) Nem toda a sua doutrina teve igual sorte; mas a imanência da Divindade no
Universo foi tese muito estimada pelos espinosistas, hegelianos e respectivos sequazes, próximos ou longínquos; e o conceito
de mónada, como mínimo e máximo ao mesmo tempo, encontrou boa aceitação junto dos leibnizianos" .
A doutrina de fundo de Giordano Bruno, assim como a do movimento "Nova Era", é a gnose. O termo ‘gnose’ foi
inicialmente utilizado, na tradição helenística, para designar o ‘saber’, o ‘conhecimento’, etc. Com o advento do Renascimento,
a palavra ‘gnose’ tomou uma conotação mística e religiosa, misturando-se com a magia e com seitas esotéricas propugnadoras
do panteísmo e do monismo. Pode-se também argumentar que o primeiro sentido da palavra ‘gnose’ (conhecimento), refere-se ao conhecimento da
transcendência da verdade e, por efeito, da transcendência de Deus.
O segundo sentido da palavra ‘gnose’, empregado pelos esotéricos, ao invés de se referir ao conhecimento da transcendência de Deus, refere-se à imanência: auto-conhecimento.
Nesse sentido, é possível dizer que o significado do termo ‘gnose’ não se alterou, pois em ambos os casos ele se refere ao ato
de conhecer. O que houve foi uma alteração no objeto a ser conhecido, não mais exterior ao homem, mas imanente à natureza.
Só há duas possibilidades lógicas de se conceber Deus, ou se imagina um Deus transcendente e superior; ou se considera a
Deus - ou a divindade - como um ser imanente e, por conseqüência, igual aos homens.
O movimento ‘Nova Era’, na realidade, não passa de uma reedição das doutrinas que influenciaram a Renascença, tanto a
defendida por Parmênides e por Heráclito, quanto a que os Estóicos propugnaram na sua concepção de que o fogo
(divindade) se mistura em toda a matéria. Ao mesmo tempo, existe um caminhar seguro rumo a uma mística de origem oriental,
budista e hinduísta. O texto, transcrito em seguida, é de Pico della Mirandola, extraído do livro A Conspiração Aquariana:
"Com liberdade de opção e com dignidade, como criador e modelador de si mesmo o homem pode assumir a forma que
preferir. Terá a força para gerar nas formas inferiores de vida, que são irracionais. Terá a força partindo do julgamento da
alma, para renascer em formas superiores".
É interessante comparar o texto seguinte, de Marilyn Ferguson, com a escola de Eléia (Parmênides):
"(...)E traímos a integridade, a não-distinção, separando tudo que vemos, de modo que nos escapa a conexão latente entre
todas as coisas do universo."
No final do mesmo livro, escreve a autora:
"O mundo novo é o antigo - transformado".
Pierre Weil, em seu livro Nova Linguagem Holística - Um guia alfabético, define a Nova Era:
"Movimento holístico de renovação dos valores fundamentais de nossa sociedade, através de uma mudança de paradigma.
Traduz-se por:
- Um aspecto ecológico, o respeito à harmonia da natureza.
- Um retorno à simplicidade da existência.
- Uma seleção criteriosa e consciente dos verdadeiros aspectos positivos do progresso técnico em relação a estes valores
holísticos.
- O desenvolvimento interior, através dos diferentes métodos de holopraxia [meditação que leva à iluminação].
- O desenvolvimento de comunidades que apresentem as condições favoráveis a esta evolução e estimulem-na.
- A não violência.
- Uma Economia, Educação e Medicina Holística.
- Uma política holística
Em todos os países do mundo, encontramos pessoas e grupos chamados por Roger Garaudy de ‘Mutantes’, sujeitos a uma
mudança profunda e radical de características Holocêntricas [perceber que formam parte do ‘holos’, de uma mesma realidade
panteísta]; trata-se de uma metamorfose, de uma revolução silenciosa que se inscreve no ciclo evolução-involução do Cosmo,
da Humanidade e dos seres humanos."
Esse movimento holístico culminaria com a chamada ‘Era de Aquários’, onde o ser humano perceberia a sua íntima união com
o holos (todo), formando uma só realidade, uma só energia. Ou, em outras palavras, o homem perceberia a sua identidade com
o ‘pan’, de onde todos vieram e para onde todos vão.
Eis o homem do terceiro milênio, como defendem os adeptos da ‘Nova Era’, um ser evoluído e superior, que percebe a sua natureza divina. A ‘Era de Aquários’ surgiria com o fim da ‘Era de Peixes’,
que segundo dizem, simboliza o Cristianismo.
A) Panteísmo, Monismo e Evolucionismo Reencarnacionista
A filosofia básica da Nova Era é o Monismo e o Panteísmo, de origem hinduísta e budista. Segundo essas doutrinas, existe
apenas uma realidade, que é a energia cósmica, o resto é o "maya" (ilusão) (Monismo). Toda a diversidade de seres é uma
ilusão dos sentidos, que tende a ver diferenças onde só existe igualdade. Tudo é uma manifestação de uma mesma energia
cósmica. Energia esta que é divina e espalhada em todas as coisas (Panteísmo).
Escreve Marilyn Ferguson sobre a imanência de Deus:
"Todos os espíritos são um só. Cada um é uma centelha do espírito original, e este espírito é inerente a todos os espíritos. O
budismo afirma que todos os seres humanos são Budas, mas nem todos despertam para sua verdadeira natureza. Ioga,
literalmente, significa ‘união’. A iluminação plena é um voto para salvar ‘todos os seres sencientes’. (...)
Você está ligado a um grande Eu: ‘Tat tvam assi’. ‘Tu és Aquilo’. E como o Eu é inclusivo, você está ligado a todos os outros.
(...)
No conto de J. D. Salinger, "Teddy", um jovem espiritualmente precoce recorda a experiência com o Deus imanente vivida ao
observar sua irmãzinha tomar leite. ‘...De repente percebi que ela era Deus e o leite era Deus. Isto é, o que ela fazia era
despejar Deus dentro de Deus... (...).
Uma vez que se tenha chegado à essência da experiência religiosa, perguntou Meister Eckhart, para que se necessitará da
forma? ‘Ninguém pode conhecer Deus antes de conhecer a si mesmo’, disse Eckhart a seus seguidores medievais. ‘Vá às
profundezas do espírito, o lugar secreto ... às raízes, às alturas; tudo que Deus pode fazer está ali centrado."
De forma resumida, podemos descrever o evolucionismo da Nova Era da seguinte forma: Do Absoluto (energia primeira que
alguns chamam de Deus) emanaria uma faísca (mônada ) que chega na terra primeiro em estado mineral. Essa faísca seria a
essência da vida, ou, em outras palavras, a própria vida, é a partícula divina espalhada em todas as coisas. Esta partícula como
que ‘vive’ em forma de mineral. Essa essência passa do reino inferior para o superior (aqui eles acabam implicitamente admitindo a hierarquia), do mineral
para o vegetal. Após milhares de anos aquela essência primeira se torna um vegetal.
Após mais alguns milhares de anos, essa partícula divina entra no reino animal. Dependendo da corrente gnóstica, o gato seria
o animal mais evoluído, especialmente o gato preto, último estágio anterior ao homem.
Por fim, essa partícula divina entra no estado humano, em que existem, também dependendo da corrente gnóstica, 108
encarnações, onde o homem deve buscar se auto-conhecer, chegar à iluminação (budismo). Se durante 108 reencarnações
esse infeliz não conseguiu se iluminar, ele regride do estado humano para o animal, deste para o vegetal, até chegar, novamente,
ao estado mineral. Em chegando ao mineral, começa de novo as encarnações evolutivas da partícula divina até o homem e,
assim mais 108 reencarnações na fase humana, isso durante 3.000 vezes, ou, como chamam, 3.000 ciclos. Ou seja, a evolução
do estado mineral até o homem e a involução do homem ao mineral, se ele não consegue se iluminar, pode ocorrer até 3.000
vezes.
Quem se iluminou sobe de volta à energia cósmica primeira, ao Absoluto, onde ficará em uma espécie de nirvana eterno,
dentro de uma consciência coletiva, sem individualidade, pois percebeu, através da iluminação, que ele faz parte de um todo
(holos) energético, sem diferenciações, onde todos são um e um são todos.
Com efeito, assinala Pierre Weil:
"Holos significa a Totalidade do Ser com sua característica holonômica [não haver dualidade entre sujeito e objeto, todos
formam uma mesma realidade cósmica] essencial de um Todo aberto que compõe todos os fenômenos que são inseparáveis
dele e o são ao mesmo tempo.
Holos é, pois, a característica do Ser de não poder ser de maneira alguma definido em razão de sua Não-Dualidade: Nem Um,
nem Dois, nem Vários, sendo Um e Dois e Vários. É uma palavra que se pretende não-dual, contrariamente às características
da linguagem. Ou, ainda, o Todo se encontra em todas as partes."
Após a iluminação o homem poderia escolher entre voltar à energia pura, ir para outros planetas ou ficar aqui mesmo, na
terra, em forma de ‘Devas’. Devas são guias mestres, pessoas iluminadas que resolvem ficar para iluminar outras.
No livro A Conspiração Aquariana, temos a seguinte narração da evolução espiritual:
"O caminho para o conhecimento direto é ilustrado poeticamente em uma série de gravuras da China do século XII, conhecida
como as dez gravuras do arrebanhamento do boi. O boi representa a ‘natureza suprema’ [a energia cósmica divina]. De início
(Procurando o Boi), a pessoa que procura se põe a buscar alguma coisa de que tem apenas uma vaga idéia. Depois
(Encontrando os Rastros), percebe nos traços de sua própria consciência que na realidade existe um boi. Após algum tempo
(O Primeiro Vislumbre), passa pela primeira experiência direta e sabe então que o boi é onipresente. A seguir (Agarrando o
Boi), entrega-se a práticas espirituais avançadas que a ajudarão a lidar com a força selvagem do boi. Gradualmente (Domando
o Boi), chega a um relacionamento mais íntimo, mais sutil, com a natureza suprema. Nessa fase, a pessoa empreendendo a
busca desaprende muitas das diferenças úteis em estágios anteriores. "O boi é agora um companheiro livre, não um instrumento
para arar o campo do esclarecimento", escreve Lex Hixo, mestre de meditação, em seu sensível comentário sobre os quadros.
No estágio da iluminação (Levando o Boi para Casa), o ex-discípulo, agora um sábio, percebe que as disciplinas não eram
necessárias - o esclarecimento esteve sempre ao alcance. Em seguida (O Boi Esquecido, Eu Só e O Boi e o Eu Esquecidos),
chega ainda mais perto da consciência pura e descobre que não existe um sábio iluminado. Não há esclarecimento. Não há
santidade porque tudo é sagrado. O profano é sagrado. Todos são sábios à espera de uma oportunidade.
Na penúltima fase (Retorno à Fonte), o sábio em sua busca se amalgama com o reino que gera o mundo dos fenômenos. Surge
um cenário de montanha, pinheiros, nuvens e ondas. ‘Este crescimento e declínio da vida não é um fantasma, mas uma
manifestação da fonte’, diz a legenda. Mas há um outro estágio além desse idílio.
O quadro final (Entrando no Mercado com Mãos Prestimosas) evoca a ação e a compaixão humanas. A pessoa que busca é
vista agora como um camponês que vaga de aldeia em aldeia. ‘O portão de sua casa está fechado, e mesmo o mais sábio não
poderá encontrá-lo.’ Ele terá penetrado tão profundamente na experiência humana que sua pista não pode ser seguida.
Sabendo agora que todos os sábios são um único, ele não segue grandes mestres. Encontrando a intrínseca natureza de Buda
em todos os seres humanos, mesmo estalajadeiros e peixeiros, ele os faz florescer.
Essas idéias fazem parte de todas as tradições do conhecimento direto: o vislumbre da verdadeira natureza da realidade, os
perigos das experiências iniciais, a necessidade de treinar a atenção, a eventual dissociação do ego ou do eu individual, a
iluminação, a descoberta de que a luz esteve sempre presente, a conexão com a fonte que gera o mundo das aparências, a
reunião com todas as coisas vivas."
Lemos um poema escrito por Pierre Weil, em seu livro A Revolução Silenciosa, no qual ele resume o que entende como
sendo as sucessivas reencarnações da divindade, que é parte e é todo:
"Sou desprovido de nome, porque todo nome me limita
Porém, muitos nomes me deram.
Sou Brahman. Sou Brahma, Vishnu e Shiva,
O que cria, mantém e dissolve. Sou Jahve. Sou Buda.
Sou Cristo. Sou o Pai, com ou sem barba. Sou o Filho.
Sou o Espírito Santo. Sou Allah, Sou Alfa e ômega, o começo e o fim. (...)
Sou energia. Sou a natureza. Sou o Verbo. (...)
Sou consciência. Sou Deus. Sou o Eterno. Sou Universo. (...)
Sou você dentro do teu corpo. Sou também o teu próprio corpo.
Sou a vida que me torna eterno. (...)
Sou as partes que estão no todo. Sou o todo que está em todas as partes.
(...) Sou o homem. Sou a mulher. (...)
Sou sujeito, sou objeto, sou espaço entre os dois. (...)
Sou o autor. Sou o ator. Sou o papel. Sou a peça. Sou o espectador. (...)
Sou zero. Sou um (...)
Como infinito eu permeio todo finito.
Como finito volto sempre a ser o infinito.
Como eterno desfruto do tempo.
Como tempo me dissolvo no eterno. (...)
Enfim sou a tua alma
através da qual desfruto da imensa bem-aventurança
de ser consciente da própria bem-aventurança."
B) Auto-Conhecimento e Redenção
A Nova Era afirma que o problema do homem não é o pecado, como diziam a
tradição medieval e as religiões transcendentalistas, mas, assim como os
Renascentistas, a ignorância. Conhecer-se a si mesmo e desenvolver-se, eis o
lema da Nova Era. Através do auto-conhecimento, feito através da meditação,
o homem se "auto-salva", não precisa de um salvador. Cada um tem a
chama divina dentro de si (como aliás diziam os estóicos), deve perceber essa
divindade, descobrir-se, iluminar-se. Seu erro (pecado) refletirá não em um
inferno, mas numa encarnação menos evoluída ou mais sofrida (Lei do Carma),
onde aqui se faz, aqui se paga. O auto-conhecimento leva o homem à
iluminação, percebendo a divindade imanente que existe dentro dele. Não é no
exterior que se encontra a verdade, mas no interior de cada homem, ali reside a
partícula divina, o microcosmo que é, ao mesmo tempo é parte e é todo.
Segundo a gnose, a parte e o todo formam a mesma realidade, são ambas divinas
e, por divinas, iguais.
C) Dualismo
Do dualismo platônico, em que existem dois mundos, um mundo das idéias e outro
da matéria, onde o mundo espiritual, das idéias, é o bem e o mundo da
matéria é o mal, a filosofia da Nova Era vai além, pois afirma que a matéria
é uma ilusão. Assinala Pierre Weil: "A dualidade é o produto de uma
separação artificialmente criada...". Todos devem pensar holisticamente,
não há diferenciação, tudo forma uma só realidade (holos). Ainda segundo
Pierre Weil, no seu Dicionário Holístico, encontramos a seguinte definição
de Deus: "Uma projeção antropormófica [uma maneira ilusória de ver a
Deus como se este fosse um espelho do homem, tendo a sua forma e
características] popular e primitiva deformou seu sentido, dando ao Ser uma
forma e características que constituem uma limitação; isto criou uma
dualidade que discrimina e separa o Ser do ‘ser humano’. Na visão
holística do mundo, esta separação é essencialmente ilusória...".
D) Meditação
Para chegar ao ‘nirvana’ ou à iluminação, o caminho mais usado é o da
"Meditação Transcendental ", criada pelo guru Maharishi Mahesh Yogi.
Segundo seus propulsores, essa técnica serve para levar o ser humano a parar de
pensar da forma costumeira e, ainda que lentamente, começar a experimentar a
realidade de uma outra forma. O guru Maharishi Mahesh Yogi já esteve no Brasil
algumas vezes e disse que o problema do Brasil é um desequilíbrio das energias
cósmicas. Se 1% dos brasileiros adotassem a ‘meditação transcendental’,
os outros 99% seriam afetados, juntamente com a própria natureza (também parte
da energia cósmica). Ou seja, a seca do Nordeste desapareceria porque é fruto
de um desequilíbrio da energia. Esse desequilíbrio seria solucionado através
da meditação.
De acordo com seus propagandistas, a ‘meditação
transcendental’ seria uma ciência com mais de cinco milhões de adeptos em
todo o mundo, inclusive contanto com universidades. Um exemplo é a Universidade
Holística de Brasília, Fundação Cidade da Paz, cujo Reitor, Pierre Weil, é
um dos expoentes do movimento ‘Holístico’. A prática dessa meditação,
feita de forma individual e guiada por um guru destinado a cada interessado,
chegaria a alterar as leis naturais, como é o caso da levitação, e melhoraria
em tudo a vida de cada um dos praticantes. Aquele que desejar fazer a ‘meditação’,
deve cumprir algumas normas e rituais. Primeiramente ornar, com alguns
adereços, o altar que foi preparado para a ‘meditação transcendental’. Ao
lado do altar consta a foto do guru mestre de Maharishi Maheshi Yogi. Durante a
‘meditação’, o guru que a dirige começa a recitar versos em uma língua
que não se entende (onde ele dedica a sua vida a um dos milhões de deuses
hindus), ao mesmo tempo em que sopra, em seu ouvido, o ‘mantra’ (conjunto de
sons repetitivos, que objetivam fazer com que o ‘paciente’ vibre no mesmo
ritmo das vibrações universais da energia cósmica). Cada pessoa tem um som
específico, escolhido pelo guru em função das particularidades individuais.
Não se pode falar esse som para ninguém, sob pena de que ele perca a magia.
Como um remédio homeopático, esse ‘mantra’ deve ser recitado 20 (vinte)
minutos durante a manhã e 20 (vinte) minutos durante a noite, mas sem
pronunciá-los, apenas pensando neles. Deve-se parar de raciocinar, apenas
concentre-se no som e deixe-se vibrar com ele, colocando sua mente no ‘ponto
morto’. Com o passar do tempo, esse praticante da meditação transcendental
chegará à ‘iluminação’. A sensação seria como que a de uma droga, em
que cada um se sinta dentro de uma energia única, igual ao cachorro ou à
pedra.
Segundo Pierre Weil, em seu livro A Revolução
Silenciosa, o que se busca, através da meditação, "é um estado alterado
de consciência, uma nova maneira de perceber a realidade." Ou então: A
meditação "Poderia ser definida como sendo um retorno a si. É o ser que
realiza que é e nunca deixou de ser o Ser. Consiste em sentar-se e não fazer
nada. Não fazer nada significa, neste caso, não fazer nada para chegar a
alguma coisa, sabendo que este alguma coisa sempre esteve aí e que não há
lugar algum a alcançar. (...) Se a onda parasse de procurar o mar, terminaria
sendo o que sempre foi: o mar. Igualmente, se o ser humano se sentasse e parasse
de procurar qualquer coisa, acabaria sendo o que sempre foi: o Ser. (...) Aquilo
que se chama meditação é um conjunto de condições imaginadas pelos grandes
sábios da humanidade, para facilitar a realização ou a iluminação".
E) Cristais, Pirâmides e
Canalização da Energia Cósmica
Não é pensando que se ilumina, é mediante a meditação por dentro de si,
mediante a canalização da energia por dentro do próprio corpo. Para esse fim
nos levariam o tarô, os búzios, quiromancia, astrologia, numerologia,
cristais, medicina alternativa, acupuntura, homeopatia, etc. Tudo é usado para
dar uma nova "visão" ao ser humano, uma nova maneira de experimentar
a realidade. Os cristais são muito usados, pois seriam uma maneira de canalizar
as energias e as vibrações cósmicas. Serviriam para curar doenças, atrair
prosperidade, levar à um grau de ‘consciência superior’, etc. Por exemplo,
o templo da LBV em Brasília, que é uma construção piramidal, possui um
cristal no seu centro geométrico (que serviria para atrair bons ‘fluídos’
para aqueles que recebessem a sua influência).
As pirâmides, preceitua a norma, devem ter um dos lados voltados para o
Norte/Sul, para produzirem melhores efeitos. O ser humano, por sua vez, teria
sete ‘Chakras’, centros de energia, mais ou menos como diz o Espiritismo. As
doenças seriam apenas manifestações de um desequilíbrio energético no
homem, de energias estagnadas. Para liberar as energias, seria necessário ‘rodar’
esses chakras. Tudo deve estar em equilíbrio (Taoísmo). O médico, passando a
mão sobre o paciente, 15 cm. afastado do contato, sentindo calor ou frio,
descobre onde está o desequilíbrio, onde está a energia estagnada. O médico
terapeuta, por ter a energia cósmica equilibrada, impõe, durante algum tempo,
as mãos sobre esses lugares desequilibrados e transmite a energia equilibrada
ao paciente.
Segundo Pierre Weil: "O corpo e o espírito formam um conjunto com o meio e
a doença é vista como resultado de uma falta de harmonia entre estes três
fatores. A dor é um sinal de alarme desta falta de harmonia e o sofrimento
provém da ignorância da inexistência de um eu separado de um mundo dito
exterior, ou de um ser do Ser. [O médico] ... considera o doente como agente
capaz de restabelecer seu próprio equilíbrio."
Capítulo 2
Network - A Rede de
Transformação
Podemos caracterizar o Movimento Nova Era (MNE), como uma grande mobilização
de pequenos grupos, dispersos em diversos locais, mas unidos no mesmo pensamento
e objetivo, que forma uma enorme rede de ação. O MNE abrange centenas de
entidades, instituições e grupos, sem que todos necessitem estar em contato ou
mesmo se conhecerem. Essa mega-rede é descrita por Merilyn Ferguson:
"Enquanto a maioria de nossas instituições vem falhando, surge uma
versão contemporânea da velha relação tribal ou familiar; a rede, um
instrumento para o próximo passo na evolução humana. (...) Este modelo
sistemático de organização social presta-se a uma melhor adaptação
biológica, é mais eficiente e mais ‘consciente’ do que as estruturas
hierárquicas da civilização moderna. A rede é moldável, flexível. Para
todos os eleitos, cada membro é o centro da rede. As redes são cooperativas,
não competitivas. São como as raízes da grama: autogeradoras,
auto-organizadoras, por vezes até autodestruidoras. Representam um processo,
uma jornada, não uma estrutura organizada. (...) As redes são a estratégia
através da qual pequenos grupos podem transformar uma sociedade inteira. Gandhi
se valeu de coalizões para levar a Índia à independência. Denominava ‘agrupamento
de unidades’ a essas coalizões, e as considerava essenciais ao êxito. (...)
O poder está mudando de mãos, passando de hierarquias agonizantes para redes
cheias de vida. (...) Luther Gerlach e Virginia Hine, antropólogos que vêm
estudando as redes de protesto social desde os anos 60, batizaram as redes
contemporâneas de SPINs (Redes Integradas Policêntricas Segmentadas; em
inglês: ‘Segmented Polycentric Integrated Network’). Uma SPIN tira sua
energia de coalizões, de combinações e recombinações de talentos,
instrumentos, estratégias, números, contatos. É o agrupamento de unidade de
Gandhi. (...) Cada segmento de uma SPIN é auto-suficiente. Não se pode
destruir a rede pela destruição de um dos líderes ou de algum órgão vital.
O centro - o coração - da rede se encontra em todos os lugares. A
Conspiração Aquariana é, na verdade, uma SPIN de SPIN, uma rede de muitas
redes, destinadas à transformação social. ... Seu centro está em toda a
parte. A Conspiração não pode ser detida, porque é uma manifestação da
mudança nas pessoas." Não existe uma sede mundial para o movimento, como
é a cidade de Roma para os católicos. Entretanto, Brasília tem sido
considerada como a capital do 3º milênio, da Era de Aquários (que se
iniciaria na nova era). O jornalista Dioclécio Luz, em seu livro Roteiro
Mágico de Brasília, escreve sobre a enormidade de movimentos gnósticos
existentes nesta cidade; todos, ainda que divergindo em questões acidentais,
convergem para a mesma cosmo-visão. Podemos citar, por exemplo: "Renascer,
Grande Fraternidade Universal, Augusta Grande Fraternidade Universal, Nova
Acrópole, Universidade Holística, Sociedade Internacional de Meditação,
Centro de Estudos de Antropologia Gnóstica, Eubiose, Sociedade Teosófica, A
Grande Pirâmide do Lago, Rosa Cruz Aúrea, Perfeita Liberdade, Cidade da Paz,
Movimento para Consciência de Krishna, Cadeia Mental Universal, Ordem dos 49,
Clube Naturalista de Preservação da Vida, Himalaya Consultoria Vivencial,
Abrasca (Associação Brasileira de Comunidades Alternativas), Centro de
Pesquisas de Discos Voadores, Amorc, Fraternidade da Cruz e do Lótus, etc, etc,
etc. Esse MNE tem muitas ramificações. Uns se interessam pela saúde, outros
pela ecologia, outros pela educação, todavia, todos estão unidos na filosofia
panteísta da criação.
Continuação da Parte IV - O Movimento New Age e a
Mística Panteísta da Criação
Capítulo 3
Influências do Movimento Nova Era
Na
introdução à sua obra, diz Marilyn Ferguson: "O ativismo social dos anos
60 e a ‘revolução da consciência’ do início dos 70 pareciam mover-se na
direção de uma síntese histórica: a transformação social como resultante
da transformação pessoal - a mudança de dentro para fora." Com efeito, a
transformação da sociedade atual parte de uma transformação na própria
pessoa. São inúmeros grupos espalhados pelo mundo, alguns até inconscientes
da transformação que estão operando, mas que aderem, explicita ou
implicitamente, a um movimento muito mais amplo de transformação axiológica.
Há uma verdadeira Revolução Silenciosa se operando na sociedade. Dificilmente
alguém ainda não ouviu falar em yoga, acupuntura, cristais, pirâmides,
energia, meditação, iluminação, nirvana, auto-conhecimento, gnose, etc.
Estes termos estão espalhados por todo o mundo. Os relatos seguintes,
extraídos do livro de Merilyn Ferguson, apesar de não indicarem a fonte,
servem como um indicador de algo que, mais ou menos, todos percebem: "Um
Conspirador Aquariano em uma equipe de planejamento disse uma vez: ‘Há uma
nova tolerância com a busca da transcendência. Estou cercado por colegas que
seguem na mesma direção, que valorizam o mesmo tipo de experiência... Uma
pessoa não é mais considerada excêntrica só porque empreende uma busca
espiritual. Ela chega até mesmo a ser um pouco invejada, o que é uma mudança
significativa nesses últimos quinze anos. Um membro de um grupo de lobistas de
uma organização voltada para o estabelecimento da paz internacional, em
Washington, denominou de ‘o pequeno misticismo’ o reconhecimento mútuo
dessas pessoas: ‘Não foi buscado nem desejado, mas se instalou em minha
vida... algo estava crescendo, emergindo.
Esses pequenos fatos somaram-se uns
aos outros, começaram a se encaixar. Comecei a encontrar Deus nos outros,
depois uma consciência de Deus em mim mesmo, em seguida um pouco de mim em
outras pessoas com uma consciência de Deus, logo outros e eu mesmo em Deus -
uma seqüência misteriosa e complexa de operações. O curioso efeito colateral
é que há reconhecimento dessa espécie de unitarismo entre os pequenos
místicos. Nós percebemos uns nos outros. ‘Até mesmo meu trabalho
político... foi beneficiado. Os pequenos místicos na política ‘farejam’
minha postura secreta, e se produz uma certa camaradagem, dificilmente
explícita, porém eficaz. Não sei ainda o quanto essa espécie de pequeno
místicismo secreto é comum, mas me parece mais fácil nos últimos cinco anos
confessá-lo com algumas expectativas de reconhecimento...’ ".
Não é
desconhecido o grande misticismo que envolve a política no Brasil. Geralmente
vários dos candidatos a cargos políticos consultam videntes, astrólogos,
cartomantes, etc. Mesmo no meio judiciário, conhecido como o mais conservador,
tendências ao ocultismo não passam desapercebidas, como relata a repórter da
Folha de S. Paulo, Flávia de Leon, na matéria Guru ‘energiza’ jantar do
Supremo: "A presença do paranormal Thomaz Green Morton no jantar em
homenagem ao novo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Sepúlveda
Pertence, agitou políticos, advogados e até juízes anteontem. (...) O
primeiro ‘Rá!’ - grito criado por Morton e que simboliza a energização,
foi para o diretor-geral do STF, Alvesson Mitraud. (...) O sisudo ministro José
Serra (Planejamento) não pôde ser energizado, mas não deixou por menos. (...)
... anotou todos os seus telefones. ‘Este é da minha casa e este do gabinete’.
(...) O não menos sério ministro da justiça, Nelson Jobim, também foi
cumprimentar o guru. (...) ‘Quando ele me abraçou, senti uma descarga
elétrica’ (...) contou o deputado baiano Benedito Gama (PFL - BA). (...)
Ilmar Galvão não foi o único ministro a conferir os poderes energéticos de
Morton. Logo atrás de Galvão, o ministro aposentado do STF, Paulo Brossard,
esperava por um ‘Rá!’ energético. (...) Provocado por estar bebendo e
fumando, o guru comentou: ‘Minhas drogas são lícitas. Este cigarro (de
palha) é maconha cósmica, fabricado em Palmeira das Missões (RS) e o uísque
é sem gelo porque o corpo já tem muita água’. (...) Morton foi convidado
para a posse e o jantar pelo próprio Pertence, que carrega no chaveiro uma
moeda amassada por Morton como amuleto. Depois de energizar o prédio do TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) na gestão de Pertence, Morton deverá fazer o
mesmo no prédio do STF".
No meio artístico e cultural, diversos atores,
cantores e cineastas declararam sua simpatia pelo MNE. Dentre eles podemos citar
Shirley MacLaine, John Denver, Tina Turner, George Lucas e Steven Spielberg. Uma
grande parte das novelas brasileiras trazem conceitos de reencarnação,
espiritismo, magia, ocultismo, etc, acostumando a opinião pública a uma
radical mudança em suas concepções religiosas. Diversos são os livros que
inundam as livrarias do Brasil e do mundo sobre esse tema. Em relação à
saúde, não é menos difundido a chamada ‘medicina alternativa’, que
promove a cura mediante a energização, o pensamento positivo, a imposição
das mãos, florais, acupuntura, etc. Mesmo na Igreja Católica, a influência do
movimento ‘New Age’ é grande. Tanto o movimento de Renovação
Carismática, que tem sua origem nos movimentos pentecostalistas
norte-americanos, como o chamado movimento de "Espiritualidade da
Criação", são de tendência panteísta. De forma geral, todos os
movimentos pentecostalistas assimilam a idéia da imanência de Deus na
criação. A tal ponto a crise na hierarquia eclesiástica católica é
sensível, que Merilyn Ferguson escreve: "A mais autoritária das
instituições religiosas (sic), a Igreja Católica, sofre o que o historiador
John Tracy Ellis chamou ‘um esfacelamento de sua fixidez’, um trauma
aparente na nova variedade de doutrinas e disciplinas entre os católicos
americanos. ‘Grupo nenhum dispõe de plena autoridade ou capacidade de
impor-se a outros grupos’, observou Ellis.
A Igreja americana está ‘abalada
e insegura em uma época inquietante e incerta’. Leigos estão exigindo
reformas, evangelizando e participando de movimentos pentecostais e
carismáticos; por volta de 1979, estimava-se que meio milhão de católicos
haviam se tornado carismáticos, falando sua terminologia e se engajando em
práticas de cura. O número de freiras e padres sofreu uma sensível queda
durante os anos 70, teólogos discordavam da autoridade papal, a freqüência
às escolas paroquiais declinava. Rebeliões similares vinham acontecendo em
quase todas as religiões organizadas do país." De forma geral, toda a
concepção igualitária de mundo tem sua origem em uma cosmo-visão que, se
não explicitamente gnóstica, levará, mais cedo ou mais tarde, à
explicitação da imanência de Deus na criação. O mundo Pós-moderno, como
veremos na próxima parte deste trabalho, é carregado de tendências gnósticas
e panteístas, apesar de não terem sido, na sua maioria, explicitadas em fatos.
Há como que uma preparação, ou como diz Marilyn Ferguson, uma conspiração
silenciosa a mudar todos os referenciais ontológicos do homem e, desta forma,
transformar a sociedade em comunidades alternativas e ocultistas. Assim se
exprime a repórter Thaís de Mendonça, em matéria no Correio Braziliense:
"Veadeiros, ou melhor, Alto Paraíso (GO), é mais conhecida pelas cúpulas
coloridas da Morada da Paz - uma espécie de cartão postal da cidade -, que
pela atividade desenvolvida nos seus muitos centros de meditação. Coração do
planeta ou mesmo centro do universo, localizado no Paralelo 14, a rua principal
conduzindo aos sítios e fazendas dos esotéricos, o lugarejo de 8 mil almas mal
comporta a concentração de tantos grupos religiosos. (...)
O ecumenismo
adotado por algumas ‘ordens’, como o Centro Terapêutico Metatron, pode
colocar lado a lado Jesus Cristo, Maomé e Buda, ao mesmo tempo em que oferece
cursos sobre ciências exóticas: cristais, colorpuntura (acupuntura com cores)
e reiki (arte tibetana de cura pelas mãos). (...) Com fé na idéia de que
deste lugar especial sairá alguma solução para a Humanidade, a cada dia
chegam mais grupos a Alto Paraíso. O fato de assentar-se sobre uma jazida de
quartzo lhe dá uma aura de mistério da natureza. No dia a dia, porém, a
antiga Veadeiros cada vez mais abandona sua ligação com o natural, para
assumir o sobrenatural". Inúmeras realizam seus rituais em Alto Paraíso
de Goiás. Geralmente vivendo em comunidades , seus seguidores cultuam a
natureza e a divindade, dispersa em todas as coisas. ‘Ergam’, líder de
várias dessas seitas, teria sido avisado por extraterrestres para sair de
Campinas, sua antiga cidade, e fundar essas comunidades. Ergam diz ter contatos
periódicos com os extraterrestres. Mesmo em adesivos de carros, pode-se
encontrar: Eu acredito em Duendes, ou Eu acredito em Fadas, etc. Cada um desses
‘seres’ refletiria um estágio da evolução divina. Os Duendes e Gnomos,
por exemplo, referem-se ao estágio mineral. Já a Fada, é relacionada com o
estágio vegetal.
A tal ponto está difundido o esoterismo, que não é difícil
encontrar recortes de jornais sobre esse tema. Aliás, é interessante notar que
todas as segundas feiras o Correio Braziliense traz uma página de seu ‘Caderno
Dois’ dedicado ao tema esotérico, e isso já há quase dois anos. Em uma
dessas matérias, lê-se: Energia diferente na cidade: "Quem duvida que
Brasília é mística tem mais uma razão para acreditar nos que vêm ao
Planalto Central em busca de esoterismo. Pelo menos três locais da cidade
concentram uma energia diferente. Essas interferências têm os seus pontos de
origem perfeitamente detectados: a Ermida D. Bosco, o Memorial JK e a estátua
de S. João que fica na entrada da Catedral. A notícia foi transmitida pela
secretária de Turismo do DF, Maria de Lourdes Abadia, a dezenas de sisudos
empresários reunidos na sede da Federação do Comércio do DF. (...) Além do
turismo esotérico, a secretária quer investir também no chamado
ecoturismo...". Em um cartaz, afixado na UnB, lia-se: "Maharishi
Mahesh Yogi, fundador da Meditação Transcendental e do MT-Sidhis; Fundador da
Ciência Védica e das Universidades Védicas Maharishi; Fundador dos programas
para criar uma sociedade livre de problemas, doenças e conflitos. Procura-se
[sic] 200 Pioneiros para criar o Governo da Natureza - Meditação
Transcendental... Vamos dar uma chance ao DF e ao Brasil! 5º-feira, 27/10 [94],
às 12:00h. - anfiteatro 10 (Ala Sul)".
Em todos os campos da atividade
humana a Nova Era parece já ter penetrado, ainda que de forma quase
imperceptível. Espalhando-se como um câncer em um moribundo (a sociedade
nascida na Revolução Francesa), o movimento Nova Era junta fiéis e levanta
altares. Desde a filosofia, até a medicina; desde a metafísica, até a
física, parece que a influência da Nova Era se faz sentir. A tal ponto essa
influência é sensível que a chamada Pós-modernidade não pode ser analisada
sem se mencionar o seu lado esotérico, como será visto na próxima parte deste
trabalho. Capítulo 4 O Ressurgimento do Satanismo Há uma outra realidade,
paralela e colateral ao Movimento Nova Era, que é a volta do antigo satanismo.
A tal ponto o satanismo é uma realidade na civilização moderna, e
Pós-moderna, que muitos pesquisadores passaram a estudá-lo.
Muitos
estranharão os termos em que aqui serão descritos os rituais ocultistas e
satanistas, todavia, é cada vez mais freqüente encontrar notícias sobre essas
práticas estampadas nos principais jornais do país. Se se quer estudar
corretamente o mundo atual, não se pode deixar de analisar o ressurgimento do
movimento satanista. Mesmo porque esse satanismo moderno - ou Pós-moderno - é
um reflexo dos valores emergentes na ‘cultura’ mundial. A maior oposição
ao mundo medieval não é o movimento Nova Era, mas o satanismo. Entretanto,
não cabe nos limites desse trabalho ‘acadêmico’, fazer uma ponderação
sobre a existência ou não de entidades demoníacas. Existe uma limitação
natural, imposta pelo próprio Processo Revolucionário, que consiste em impedir
especulações religiosas - de caráter medieval - nas discussões
universitárias. Por outro lado, isso não impede que se escrevam as opiniões
dos envolvidos com esses assuntos, bem como de relatar fatos nacionais, bem como
internacionais, retratando os rituais satânicos.
Diz "O Globo" na
edição de 8 de fevereiro de 1993: "Um garoto negro não identificado, com
aproximadamente 13 anos, foi encontrado morto ontem, entre recipientes de barro
e de ágata com oferendas para orixás, num terreno baldio na Zona Oeste (do Rio
de Janeiro). ... Pelo menos 21 crianças e adolescentes morreram e outras foram
gravemente feridas nos últimos 14 anos em casos de grande repercussão, por
praticantes de magia negra ou por pessoas que diziam ter recebido mensagem do
além". Folha de S. Paulo, 16 de julho de 1993: "Em Altamira, Pará,
três pessoas - 2 médicos e um fazendeiro - são acusados de matar cinco
meninos e cortar seu órgão genital. Segundo o Superintendente da Polícia
Federal ‘existe a suspeita de que os acusados façam parte de uma rede
nacional de magia negra que promove o sacrifício de crianças". Em seu
livro, Anjos e Demônios, os irmãos Solimeos relatam a seguinte notícia:
"A jornalista Ellenice Bottari, em ‘O Globo’, do Rio de Janeiro,
escreve sobre a disseminação do satanismo na ex-Capital Federal e Baixada
Fluminense: ‘Rituais satânicos e cerimônias de magia negra crescem e
assustam o carioca... O juiz Antonio Meirelles, da 3º Vara Criminal de Duque de
Caxias, na Baixada Fluminense, decretou a prisão preventiva do ‘pai-de-santo’
Carlos Alberto Justino Pessoa, que há um mês estuprou uma menina de 11 anos
num ritual de magia negra. Também em Caxias, Lucy Magalhães da Conceição,
condenada a 25 anos de prisão por ter matado a filha de 6 anos durante um
ritual desses, será levada a novo julgamento. ... ‘O ‘pai-de-santo’
Marcos Fabiam Vieira não tem medo do capeta. Diz que é em noite de lua cheia
que invade os cemitérios para roubar crânios para seus rituais de magia negra,
para o bem ou para o mal, depende só do gosto do freguês. ... Se apresenta
como Marcos Diabo e incorpora o Exú Tiriri - para os leigos - o próprio diabo
em pessoa".
A) Breve Histórico de um Movimento que Deriva no Gnosticismo
"No século XIV ... As acusações giram em torno da prática de
sortilégios, confecções de imagens e de modo especial, sobre um dos atributos
tradicionais da atuação de feiticeiros e feiticeiras, aliás um crime
eminentemente concreto e uma permanente ameaça à ordem constituída: o
envenenamento. Todavia, ainda estamos lidando com casos esporádicos até 1375,
com uma taxa média para toda Europa de um julgamento por ano, a partir do
século seguinte, em especial de 1415, o seu número aumenta significativamente
com as acusações recaindo preferencialmente sobre a temática da Demonolatria.
Toledo se converte na cidade preferida da magia, onde se concentravam os
interessados em aprender as ciências ocultas. O universo mágico seculariza-se,
abandonando as divindades antigas, transformando-as, para tratar com forças
naturais, espíritos e forças imateriais, estes últimos oriundos da tradição
hebraica da ‘Kabbalah’ - onde fórmulas e ritos eruditos transformavam o
homem, pelo conhecimento de Deus e seus atributos, num criador e manipulador das
virtudes do universo. A busca humanista das tradições greco-latinas, da
revificação da cultura antiga, trouxe consigo as suas tradições e crenças
e, por curiosa antítese, ao mesmo tempo que desprezava e rejeitava as ‘bárbaras
superstições medievais’, aceitava as concepções mágicas da Antigüidade
clássica, estudando-as e aprofundando-se no contato com o Oriente,
transformando a cultura renascentista no retorno da magia em toda a sua glória.
Virgílio, Homero, Ovídio, Sêneca, Lucano, conhecidos graças a uma série de
reelaborações e popularizações, devolviam a credibilidade a usos e ritos que
até então se havia acostumado a considerar como ‘superstitiones’ e
confirmavam com sua autoridade a veracidade de seus conteúdos.
Os mestres das
‘artes antigas’, renovadas pelo Renascimento, encontram-se mergulhados no
seio de um universo povoado de espíritos, de demônios, de seres que são os
agentes, os instrumentos da causalidade, manejando as forças naturais e
produzindo o encadeamento de um fenômeno a outros, em uma mesma realidade, una
e múltipla, material e espiritual. Assume então a magia, junto ao universo
mental, uma nova roupagem; cristaliza-se como ‘atividade antiga’, herdada de
épocas remotíssimas e por vias secretas... No Concílio de Rouen de 1445 são
condenados todos os ‘livros e tratados de arte mágica ou divinatória’... A
feiticeira, predomina no meio urbano, e a bruxa, no meio rural, gravitando por
cima destas a figura do mago, tão distante na escala de valores como
inatingível pelos processos cumuns de repressão.
O Século XVII é o século
que prepara o triunfo da Razão - época onde a cultura dirigente passa a
descrer das bruxas e das práticas mágicas sob o influxo do racionalismo
emergente. Singularmente, constitui também a época em que surgem, na elite
palaciana, os cultos satânicos - as missas negras." Os irmãos Gustavo e
Sérgio Solimeo, em seu já citado livro Anjos e Demônios, a Luta Contra o
Poder das Trevas, assim se referem às missas negras: "Durante os sabás
[reunião de bruxos, feiticeiros e magos], freqüentemente havia uma paródia da
Santa Missa, oficiada ... por [um] de seus ‘sacerdotes’ ou ‘sacerdotisas’;
ou então uma Missa Sacrílega, celebrada por um infeliz padre pervertido às
práticas satânicas, chamada correntemente ‘Missa negra’. Todas as
orações e ritos eram invertidos ou deturpados blasfemamente. No Credo, por
exemplo, dizia-se ‘Creio em Lúcifer e em seu filho Belzebu, concebido por
Leviatã, o Espírito Santo’. Na elevação da hóstia, quando um padre havia
realmente consagrado, fazia-se uma algazarra terrível, e se aspergia os
assistentes com o sangue de Cristo... Às vezes um punhal era enfiado dentro do
cálice e saía gotejando sangue; ou então cravava-se uma hóstia na cruz, e
todos os participantes vinham transpassá-la...
Em certas ocasiões, na Semana
Santa, crucificavam-se meninos que eram seqüestrados, ou levados pelas
próprias mães, elas mesmas feiticeiras, cravando-lhes cravos nos pés e nas
mãos, coroando-os de espinhos e transpassando-lhes o lado. Arrancavam-lhes o
coração e outras vísceras, e com freqüência também o membro genital, que
eram utilizados para ‘malefícios’. [nota de rodapé] Um dos casos
históricos mais famosos, dos tempos modernos, envolvendo bruxaria e Missa
negra, foi o chamado ‘Caso Voisin’, no qual esteve envolvida nada menos do
que a amante do rei Luís XIV, Madame de Montespan. (...). " A bruxaria
invade salões e as cortes palacianas, como no célebre caso de Mme. de
Montespan, a amante de Luís XIV, que emprestava a sua nudez como um altar para
garantir a fidelidade do coroado amante. Assim, o final do antigo regime é
marcado pela descrença e a ridicularização das ‘crendices populares’ e um
suposto ‘risorggimento’ de tradições ocultas. Momento onde se rompe o
equilíbrio ‘harmônico’ entre Deus e o diabo, levando os homens ao
agnosticismo, e a uma rebelião contra a Igreja, que traz consigo a
reabilitação de Satã, como um princípio de rebeldia contra a tirania e o
obscurantismo, representado pelo Cristianismo ortodoxo a um nível tradicional.
O Lúcifer no ‘Caim’ de Byron é sumamente grandioso, filho magnificamente
poético do agnosticismo, da rebeldia contra a moral tradicional.
Deste modo, a
partir de 1850, o ocultismo experimenta um grande florescimento, derivado
diretamente da exaustão do otimismo liberal. Ao movimento romântico, em seu
mergulho na tradição e no folclore medievais, e seu cortejamento da morte,
soma-se o exótico e o misterioso que aportam à Europa o conhecimento e a
estranheza do misticismo e das religiões orientais. Funda-se na França a
O.T.O. - a Ordem do Templo do Oriente, de que participa Alphonse Louis Constant
(1810-1875), ou, como era conhecido por seu nome esotérico, Eliphas Levi, que
editou o seu célebre ‘Dogma e Ritual de Alta Magia (1860, Paris). Clássico
que até hoje pontifica nos meios esotéricos. ... após uma militância nos
meios anárquicos, E. Levi descobriu o ocultismo. Em Londres evoca o espírito
de Apolônio de Tiana, filiando-se à Rosa-cruz inglesa e entregando-se por fim,
à ‘Cabala’, como forma superior de conhecimento esotérico. Voltando a
Paris, apresenta-se como uma reencarnação de Rabelais*... Sua atividade no
entanto, será retomada pelo marquês Stanilas de Guaita, de uma grande família
lombarda, que, erigindo-se em seu sucessor, reconstituiu em 1888 o ‘Supremo
Conselho da Ordem Cabalística da Rosa Cruz** .
Rosa-cruzes, teósofos e
cabalistas, representam, grosso modo, uma dimensão erudita dos movimentos
ocultistas, na busca das maneiras de se chegar à purificação do homem. Ao seu
lado, desenvolver-se-á (às vezes de modo bastante imbricado) o seu lado ‘perverso’,
da rebeldia contra o estabelecido e da busca solitária do ‘poder’: os
cultos satânicos. A desilusão com a utopia burguesa, a visão pessimista do
‘fin de siècle’, provoca um apelo ao diabolismo, a uma visão luciferina da
vida, que se entre poetas e romancistas se tornou maneira de ser e de ‘parecer’,
em outros círculos, implicou em uma estreita união entre o folclore e o
espiritualismo de sabor oriental. Situação que, no limite, implica uma paixão
pelo macabro, pelo perverso e pelo cruel, em uma espécie de ‘vampirismo moral’,
que ama pelo calculado e refinado prazer de destruir o objeto do próprio amor:
‘o vício representa o elemento positivo, a virtude o elemento negativo,
passivo, condição do prazer sádico é a existência da virtude como um freio
a romper***, cujo limite estaria representado pela obra de Sade, em especial, em
sua novela ‘Justine’." Satanismo e ocultismo gnóstico começam a
caminhar juntos, praticamente imbricados um no outro, como forma de rejeição
de toda a filosofia e teologia medieval. Assim, continua o prof. Roberto
Nogueira: "Satanismo e ocultismo - se é que estas duas correntes podiam
ser diferenciadas - implicam em um extremo desdém pela história, repudiando a
nascente noção de processo histórico pela vital necessidade de se acomodar a
uma longa e imaginária tradição de antiquíssima sabedoria oculta. Assim,
frente a uma história que se revelava madrasta, ao mostrar um presente ‘decadente’
e um futuro incerto, os ocultistas a rejeitavam recuperando uma tradição
hermética de várias origens e de vários momentos históricos, freqüentemente
unida e harmonizada com textos apócrifos e analogias, no mínimo bastante
duvidosas."
B) Satanismo Contemporâneo "Se o ocultismo se desenvolve
em solo francês, é na Inglaterra que vai amadurecer e se separar do corpo
esotérico a sua vertente satânica. Aí em 1887 é fundada a ‘Hermetic Order
of the Golden Dawn’, sob a direção de Samuel L. Mathers, e tendo vários
poetas e romancistas entre seus filiados, como Yeats, Sax Rohmer, Bram Stoker e
Bulwer Lytton. A estes se juntará em 1898, a sinistra e inquietante figura de
Aleister Crowler, que após ser iniciado nos vários graus da ordem, reclama por
fim o lugar de Mathers, o denunciando como impostor. Segue-se uma estranha
batalha de ‘feitiços e espada’. O que sabemos é que Mathers e a Aurora
parecem perder a importância, enquanto Crowley permanece em evidência,
fundando a ‘Astrum Argentinum’ em 1905, misturando as invocações egípcias
da ‘Golden Dawn’, com a doutrina iogue do Tantrismo. Seu culto terá um
viés marcadamente erótico e ligado ao consumo de drogas e à ‘orgia sagrada’,
se intitulando ‘a Grande Besta’ ... sua seita já havia transbordado os
limites ingleses, penetrando na França, com lojas em Lyon e Paris e mesmo,
atravessado o Atlântico, tendo o próprio Crowley viajado para Nova Iorque,
para ali fundar uma sucursal americana.
Crowley... erige-se em arquidiácono do
Diabo. Um sumo-sacerdote satanista que chefiava mais de treze grupos (num total
de 156 pessoas), fornecerá um esclarecedor testemunho das motivações deste
gênero de seitas. Ao ser perguntado porque havia seguido o Satanismo,
respondeu: ‘Porque nunca me senti tão poderoso como agora’* A geração do
‘sex, drogs and rock n’roll’ trará em seu amadurecimento uma
extraordinária revivescência do ocultismo. Desde a tão famosa ‘Era de
Aquário’ (a partir da conjunção planetária de 5 de fevereiro de 1962), o
ocultismo desenvolveu-se de uma maneira assombrosa. A falência do movimento
Hippie, e das utopias estudantis, desembocarão no surgimento ou revitalização
de inúmeras seitas. Entre estas, o ‘The Process’, oriunda do bairro ‘Mayfair’,
em Londres. Seu fundador, ex-hippie Robert de Grimston, pregava o excesso sexual
e considerava o casamento uma abominação. Suas lojas se multiplicaram
rapidamente, pela França, Estados-Unidos e México. As ilhas britânicas
assistem a uma multiplicação de grupos satanistas. Igrejas foram atacadas,
túmulos violados, rituais eram realizados em ruínas de igrejas e abadias. E de
uma maneira bastante explícita, um grupo de satanistas entrou na Igreja de
Westhan e Essex, para cuspir nos crucifixos, fugindo ao serem surpreendidos
pelos guardas.
Como desenvolvimento lógico deste processo, surge uma igreja
diabólica: a 1º Igreja de Satã, que pode ser encontrada no catálogo
telefônico de San Francisco, no título ‘Churchs - Satanists’. Fundada por
seu pastor, o ex-fotógrafo policial, ex-domador de leões e ex-quiromante
(entre outras atividades) Anton Szandor La Vey, a mesma se tornou rapidamente
conhecida e freqüentada pela intelectualidade da costa oeste dos EUA...
Argumentando que Satã não é um adversário de Deus, mas uma força oculta na
natureza, defende a aquisição e o controle de nossas forças psicológicas
interiores pela livre admissão e aceitação de nossas paixões .Os sete
pecados capitais do Cristianismo, nesse sentido, devem ser encorajados, pois
são virtudes que levam à consumação de nossos desejos. Segundo La Vey, a
Idade Satânica começou em 1966, quando Deus foi declarado morto. O trágico
fim da atriz Sharon Tate, amiga pessoal do ‘reverendo diabólico’ Anton La
Vey e simpatizante do ocultismo -assassinada com seus convidados durante uma
festa por membros de uma seita satânica estranha - aponta para uma nova
possibilidade de configuração do satanismo. Tratava-se de ‘A Família’
fundada em 1969 por Charles Manson, que dizia reunir em seu corpo a Cristo e a
Satã, sendo sua missão levar a cabo o final dos tempos. Seitas estas que se
multiplicam a partir do final da década de 60, com a crescente importância
transcendental (e o conseqüente desinteresse e a negação do real). Nesta
perspectiva, não causa espanto o fato dos Estados Unidos serem o país que
abrigue um maior número de seitas ocultistas e os grupos mais organizados de
satanistas, existindo ‘seminários diabólicos’, para treinar pastores, nas
paróquias satânicas de Nova Iorque, Filadélfia, Chicago e Los Angeles.
Em
1967, o Diabo chega às colunas sociais, com um casamento pela Igreja de Satã
de San Francisco de Judith Case, filha do eminente advogado e líder do Partido
Republicano, Edward H. Case, ao qual compareceram inúmeras personalidades do
mundo teatral e do ‘jet-set’. Em Los Angeles e San Francisco, surgem as ‘Universidades
Livres de Ocultismo’, como a ‘Universidade Livre de Midpenínsula’, com
vários cursos de ocultismo e a ‘Universidade Livre de Heliotropia’, em San
Francisco, com seu bacharelado em Feitiçaria. Da década de 60 em diante,
parece que nos encontramos frente a um desenvolvimento constante das seitas
esotéricas e do ocultismo...". O próprio laicismo do Estado faz com que
ocorram fatos como os narrados pela periódico americano Newsweek: "[Sobre
o satanismo, declarou] o juiz Edward Nottingham: - Recuso-me a ser superficial,
apesar das graves preocupações que isto levanta [envolvendo a] Primeira Emenda’,
ao determinar que as autoridades das prisões federais devem permitir a
presidiário, cultor declarado de satanás, a exercer rituais satânicos e a lhe
fornecer trajes negros, se necessário." Sobre a crescente onda satanista,
ver, além dos já anteriormente citados: B. Wenisch, Satanismo; Gregório
Lopes, Bruxaria: os Antros se Abrem; H. Kramer - J. Sprenger, O Martelo das
Feiticeiras; G. Pontóglio, Ritual Satânico - O Sacrifício de Evandro; etc.
Como também ‘O Estado de S. Paulo, 10/7/92; ‘O Globo’ de 31/12/92,
8/2/93, 23/8/92, 11/9/92, 12/9/92 e 26/5/95; ‘Jornal de Santa Catarina’ de
27/3/93; ‘Correio do Povo’ (Porto Alegre) de 17/6/93; ‘Folha de S. Paulo’
de 16/7/93; ‘Jornal da Tarde’ de 29/4/95; etc. C) New Age e Satanismo, a
União Metafísica Segundo a tradição bíblica, o primeiro brado de
igualitarismo foi dado por Lúcifer, quando disse não servirei. Os irmãos
Solimeos assim relatam: "Deus criou os anjos num alto estado de perfeição
natural e além disso os elevou à ordem sobrenatural. É de fé que todos os
espíritos foram criados bons.
A Sagrada Escritura, com efeito, chama-os ‘filhos
de Deus’(Jó 38,7), ‘santos’ (Dan 8,13), ‘anjos de luz’ (2 Cor 11,
14). Entretanto, os próprios Livros Sagrados se referem a ‘espíritos imundos’
(Lc 8, 29); ‘espíritos malignos’ (Ef 6, 12); ‘espíritos piores’ (Lc
11, 26); e outras expressões análogas. Isto indica que certos anjos
tornaram-se maus, tiveram sua vontade pervertida. Em suma: pecaram ‘Tu, desde
o princípio, quebraste o meu jugo, rompeste os meus laços e disseste: - Não
servirei!’ (Jer 2, 20). Este versículo do Profeta Jeremias ... tem sido
aplicado à revolta de Lúcifer. Ao brado de rebelião de Lúcifer - ‘Não
servirei!’ - respondeu São Miguel com o brado de fidelidade: ‘Quem é como
Deus!’ (significado do nome Miguel em hebraico [Quem como Deus = Miguel].
(...) O próprio Jesus dá testemunho dessa queda: ‘Eu via Satanás cair do
céu como um relâmpago’ (Lc 10, 18). ‘(O Demônio), foi homicida desde o
princípio, e não permaneceu na verdade’ (Jo 8, 44). (...)
Segundo São
Tomás de Aquino, essa soberba consistiu em que os anjos maus desejaram
diretamente a bem-aventurança final, não por uma concessão de Deus, por obra
da graça, e sim por sua virtude própria, como mera decorrência de sua
natureza. Desse modo, quiseram manifestar sua independência em relação a
Deus; eles recusaram assim a homenagem que deviam a Deus como seu criador e
desejaram substituir-se a Ele e ter o domínio sobre todas as coisas: ‘ser
como deuses’. (cf. Gen. 3, 5)". Ora, exatamente o que sustenta o
Movimento New Age, é a salvação (bem-aventurança), não como obra da graça,
mas como decorrência da própria natureza divina do homem (sereis como deuses).
Escreve o Prof. Carlos Roberto F. Nogueira, em seu livro O Diabo no Imaginário
Cristão: "Filho da própria experiência, amigo do homem e inimigo de Deus
- o supremo tirano, que condenou os homens à humilhação, ao sofrimento e à
morte - Lúcifer está com o homem, intensifica-se com ele, uma vez que ambos
foram condenados ao suplício eterno de conhecer."
Prossegue ainda o mesmo
professor: "Em 1828, Karl Ernst Jarcke, professor de direito criminal na
Universidade de Berlim, editou os registros de um processo de bruxas na Alemanha
do século XVII, com alguns comentários. Argumentava que a bruxaria era acima
de tudo uma religião natural e que havia sido a religião dos germanos pagãos.
(...) O centro desta antiga religião pagã eram as artes secretas de
influenciar o curso da natureza. (...) Michelet proclama na França, em 1862,
sua homenagem a Satã, a encarnação do espírito livre e a sua sacerdotisa da
Natureza: a feiticeira." (...) Ao movimento romântico, em seu mergulho na
tradição e no folclore medievais, e seu cortejamento da morte, soma-se o
exótico e o misterioso que aportam à Europa o conhecimento e a estranheza do
misticismo e das religiões orientais." Desse modo, existe uma união de
objetivos entre os satanistas e os gnósticos. Ambos rejeitam a hierarquia
medieval, acreditam na divindade da natureza e aliam-se, segundo a filosofia
medieval, ao brado de revolta: Não servirei!, onde o homem busca uma igualdade
entre ele e Deus (panteísmo e monismo). Eis uma hipótese a ser oportunamente
mais bem estudada.
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