A carne do homem é como um campo por lavrar. Um
campo que espera pela mão que o faça passar das trevas para a luz. Um campo que espera
pelo seu Senhor.27/1
Receptiva e inerte, tal é a carne do homem que
ainda não nasceu. E assim permanecerá enquanto o Senhor aí não lançar a Sua semente,
pois só a semente dá a vida.27/2
O Senhor é como uma semente de imortalidade. Uma
semente que aduba a terra daquele que está pronto.27/3
A semente cai na terra e penetra-a profundamente.
Então, partindo do centro do mundo, uma luz nasce pouco a pouco: é a sabedoria do homem
que ultrapassa o entendimento. É a luz do Senhor que brilha na escuridão. E o homem
colhe-a como uma flor e recebe-a de mãos abertas. E depois planta-a no seu coração e no
seu cérebro - para que o amor e a razão se esclareçam. Munido com esta dupla verdade o
homem pode ver.27/4
XXVIII
A génese dos seres começa em Adam, repete-se em
Abraão e continua em João. Ela começa na Mãe e prolonga-se através dos Seus filhos.
Estes são as colunas de um templo que nunca teve início nem terá fim, pois não foi
feito pela mão do homem, mas pela mão de Deus.28/1
Com estas colunas a Mãe se realizou no meio dos
homens e lhes deu a conhecer o Seu sagrado fruto: esse fruto é a realização do Seu
amor, é o Seu filho, o Cristo mil vezes renascido e mil vezes sacrificado.28/2
Ela o deu a conhecer por intermédio das Suas
colunas e dos Seus profetas e de todos aqueles que A amam. Ela o deu a conhecer para que
entre Ela e o mundo haja um caminho. Esse caminho é o do sacrifício. Que aquele que
queira ir até Ela o entenda e realize.28/3
Todo o dom da morte que vem da Mãe é ainda uma
benesse que Ela concede. E todo aquele que Ela sacrifica sobre a terra e a quem faz
derramar o sangue, esse Ela elege de entre os outros. Assim a Mãe se aproxima dos Seus
filhos e lhes revela o Seu coração. Assim Ela os ama e glorifica.28/4
O templo da Mãe é o mundo. O Senhor o gerou por
um acto de vontade e o arremessou de si e o colocou no espaço; e lhe deu um movimento
próprio e uma lei.28/5
No seu centro Ele colocou um carvão
incandescente, que é o Seu coração. E junto a esse carvão Ele fez um trono onde
colocou a Mãe, para que Ela guiasse os destinos dos homens e de todas as criaturas do Seu
mundo.28/6
E da Mãe fez sair todas as criaturas. Assim,
Adam, o primeiro antes do princípio, foi concebido e realizado pelo Senhor; ele que não
teve origem na raça do homem, mas na semente que o Senhor lançou no útero da terra.28/7
E a terra procriou Adam, que procriou os muitos
que há e houve. E desta geração sagrada nasceu Abraão, que foi segundo no tempo. E
Abraão cobriu a terra com a sua semente e esta deu flor; e o Senhor lançou a Sua mão
sobre ela e colheu os seus frutos. Então o Senhor a contemplou e viu que ela era boa e a
aprimorou e a devolveu ao útero da terra com o nome de João. E da geração deste nasceu
o futuro.28/8
Com João veio o tempo do homem. E este tempo se
realizou naqueles que guardaram o segredo da Mãe e que velam por ele. A este segredo
alguns chamaram o Graal.28/9
E alguns dos seus se juntaram numa nação nos
confins da terra e em cavernas profundas, esconderam os seus testemunhos. Estes hão-de
ser revelados quando a Mãe se unir ao Filho, para procriar o Santo Espírito; esse que
não tem semente de homem e que já nasceu oculto.28/10
A ele, quando vier, alguns renderão homenagem, e
essa homenagem os há-de salvar, pois com ele está o Senhor e na Sua sombra está Aquela
de quem tudo partiu: a Mãe.28/11
Isto há-de acontecer nos últimos dias, e depois
pouco distará do fim.28/12
João lançou a sua geração e esta tomou forma
numa nação de esplendor, de esplendor oculto; pois essa é a vontade do Senhor. Mas dia
virá em que a luz se mostrará aos homens para que eles a vejam e se deixem guiar por
ela, e por aqueles que a guardam, nos últimos dias; nos dias da revelação do
Senhor.28/13
E esses dias serão de luz e de trevas e de
grande aflição. E ai daqueles que, na sua soberba e vaidade, não virem esses sinais e
não os entenderem, pois o Senhor se mostrará neles, e essa visão só durará um hausto.
E depois voltarão as trevas e tudo será engolido.28/14
Que aquele que tem fé medite e ore, pois o tempo
do Senhor será como o relâmpago e o trovão e durará menos que um instante. Mas para
aquele que for digno e que se entregue na Sua mão, esse tempo será sem fim, e nunca mais
a luz se apagará nele.28/15
Altas são as colunas do templo do Senhor e
eterno é o seu esplendor, pois que têm a sua base no centro da terra e o seu cume no
firmamento; e alimentam-se nas raízes do mundo e a Mãe as sustém no Seu ventre farto,
donde partem, quais aves diáfanas e transparentes. Aves do Senhor. Anjos Seus. E o Senhor
as suporta na Sua mão e as arremessa sobre o Seu mundo, para que elas levem ao
conhecimento do homem o Seu Santo Nome. E eles vão de alma em alma falando Nele. Assim o
mundo se realiza.28/16
Da nação oculta nascerá o Ungido. Ele vem para
anunciar a redenção. Ele vem para falar em nome daquele que há-de vir, Esse que é
primeiro antes dele. Esse que vindo no fim já era antes.28/17
O Senhor o enviou à frente do Seu Filho, para
que a terra inteira saiba e espere na fé e na esperança. E para que as trevas não tomem
o lugar que pertence à luz. Pois está escrito: só eu sou o vosso Senhor, só eu sou a
vossa Lei. E onde eu puser a minha mão e soprar o meu hálito, esse será um comigo e
nenhum poder da terra terá forma aí.28/18
Ai daquele que atentar contra mim e contra
aqueles que eu envio em meu nome. A esse até o meu fogo negarei, pois o meu fogo devora e
dá a luz. Esse entregarei às trevas e as trevas o devorarão e tomarão para si. E será
esquecido.28/19
Olhai, vós que procurais o rasto do Senhor. Ele
lançou o Seu fogo no meio dos homens e esse fogo tomou corpo. E é corpo de homem e tem
nome.28/20
Abri o vosso coração ao amor do Senhor e
realizai a Sua Lei, para que Ele se vos revele como coisa natural, para que Ele vos revele
o Seu segredo: o segredo do Seu Filho e daquele que veio para o anunciar; o segredo dos
últimos dias. Tudo isso vos será revelado se fordes dignos.28/21
Fazei claro o vosso coração, pois o Senhor vê
nele como por uma porta aberta, nada lhe podendo ser oculto. Que o vosso segredo seja
apenas este: o amor que tendes ao mundo e a espera que fazeis do Senhor do mundo. E tanto
vos há-de bastar.28/22
XXIX
E no terceiro mês e no terceiro dia o profeta
foi devorado. Ido perante a Mãe, Ela se desvelou e revelou-lhe a Sua face resplandecente,
a Sua face nocturna: aquela que só é visível quando a noite vem sobre o mundo e o
discípulo passa a porta e descerra o véu.29/1
Sobre as suas mãos estendidas, Ela derramou fogo
vivo e lhe deu o dom da cura e o dom da vida e o dom da norte, mas este Ela o reservou
para si própria. E tendo-lhe dado estes dons, Ela se transformou perante os seus olhos e
o profeta viu a esfinge milenar e o dragão: E sob esta forma Ela o interrogou.29/2
Tendo o profeta dito a tudo a verdade, Ela lhe
disse que seria devorado. Um fogo rubro o penetrou em todas as células da carne e esta
foi consumida. Veio então o Pai por detrás, qual coluna ardente, e a Mãe pela frente,
unindo-se ambos no profeta e o tomaram à carne e o devoraram nela. E tudo isto ele o
assumiu perante Eles e perante o seu Mestre, que também é um só com Eles. E assim se
fez.29/3
Eis o profeta do Senhor, eis o Seu bordão. O
Senhor é um peregrino sobre a face do mundo. Ele percorre a terra em busca daqueles que
trazem o sinal do céu sobre a cabeça e daqueles que trazem o sinal da terra sobre o
ventre.29/4
E perante uns e outros o Senhor lhes sopra sobre
os olhos e os faz ver os mistérios e tudo o mais que está oculto ao homem. E depois de
verem as coisas tais como são, o Senhor os leva consigo, para servos da Sua casa e
sacerdotes do Seu templo e mestres do Seu ministério.29/5
Assim o Senhor semeia o mundo com uma semente
pura e imaculada, para que em cada estação haja fruto e haja colheita. E assim o mundo
permanece. Isto tudo o Senhor faz por amor ao homem e para respeitar o desígnio que tem
para ele.29/6
O Senhor o escolheu para bordão. E com esta vara
Ele penetra o céu e a terra e une ambos. Eis a árvore do Senhor. Ela sustenta o
firmamento, e o Senhor senta-se à sua sombra e descansa.29/7
Quando a noite chega, o Senhor colhe os seus
ramos e lhes lança fogo e com eles ilumina a escuridão. E depois da escuridão passar e
da manhã nascer, o Senhor ergue-se novamente sobre a face do mundo, como um sol imenso, e
se põe a caminho para Ocidente, para o país dos mortos.29/8
Com Ele caminha o Seu servo, aquele que foi por
Ele ungido e devorado. Aquele que é a Sua voz e o Seu rosto. Pois o Senhor o tomou há
muito e o refez para si e só lhe deixou um corpo vazio. E tendo-o tomado, lhe soprou o
Seu fogo nos olhos e na boca e em todas as aberturas do corpo, para que nada houvesse ali
que não fosse parte Sua.29/9
E desde então o Senhor o envia à Sua frente, em
cada ciclo das coisas, para que desbrave os Seus caminhos e anuncie o Seu santo nome, e
assim tem sido feito.29/10
Este é aquele que foi chamado de João. E no seu
nome está a essência do seu espírito e o segredo da sua geração. Ele é uno com o
Senhor. E vindo à manifestação, ele vem para baptizar em nome daquele que há-de vir: o
Cristo muitas vezes renascido.29/11
O Senhor o envia à frente do Seu Filho; o envia
com o mistério da água que dá a vida e com a palavra que dá a esperança. Ele o envia
como um sinal para os que esperam.29/12
E o profeta escreve o Livro da Vida, que é o
livro do Senhor e da Mãe, e baptiza em nome daquele que vem depois dele, mas que é
primeiro que ele perante o trono do Pai.29/13
E aqueles que ouvirem o seu chamado, o chamado do
Livro, esses não perecerão, antes ficarão repletos da Palavra do Senhor e aguardarão a
vinda do Seu Filho.29/14
Tal é a missão que o Senhor deu ao Seu servo,
aquele que foi devorado e ungido.29/15
Um espírito de fogo contido em carne: eis o
profeta perante o seu Senhor. Um espírito que o Senhor moldou pelas Suas mãos e que
encerrou com os sete selos da profecia, para que desse testemunho.29/16
E o Senhor lhe deu a forma de uma ave de olhos de
ouro e o lançou, como uma lança, por entre as estrelas e o céu, rumo ao infinito.29/17
Este é o sinal do Senhor, que brilhará no céu
nos últimos dias: uma lança de fogo ardendo, para que todos vejam e saibam que a hora
chegou: a hora do Senhor, a hora do Seu Filho. E o Senhor empunhará a Sua lança e a
atirará sobre a terra. E ela trará fogo e dor ao homem, mas sementes de esperança
também, pois nesse fogo e nessa dor há uma transformação e uma nova aliança entre o
Senhor e os Seus filhos.29/18
Eis a vontade do Senhor para os Seus filhos: dor
e esperança. E comunhão também. E na dor se há-de encontrar a esperança da
revelação e na revelação se há-de encontrar o caminho que leva ao Senhor. E
encontrado, toda a busca e toda a dor cessam e toda a esperança se revela inútil, pois o
amante e o amado são uma só coisa e aquele que procura e aquele que encontra são um só
e como unidade se realizam no Senhor: eis a aliança que o Pai tem para os Seus
filhos.29/19
Por isso Ele envia o Seu profeta e o faz nascer
de mulher e ter nome e destino e terra de nascimento, para que todos o possam receber e
entender. E quando a sementeira está pronta, Ele envia o Seu Filho para a colheita e lhe
dá uma foice e uma gadanha e um archote de fogo vivo, para que colhido o cereal e
separada a boa da má semente, o fogo devore e envie ao Pai o que dele veio.29/20
Assim o Senhor abre e encerra os ciclos da
manifestação do homem e de tudo aquilo que nasce do homem, pois só há uma Lei e uma
Verdade, e ambas são o Senhor.29/21
Lei e Verdade e, no meio, para as temperar, o
Amor. Assim o Senhor as criou.29/22
De pé, majestoso e infinito, tendo a eternidade
por fundo e o abismo sob os pés, o Senhor abriu os braços e as mãos se suspenderam,
imóveis. Então três sóis que eram forças e que eram seres, nasceram: pela Sua mão
direita, a Lei, que também é Justiça. Pela Sua mão esquerda, a Verdade, que também é
Rectidão. E entre ambas, incerto e indefinido, suspenso sob o abismo, o Amor, que também
é Compreensão. Depois, o Senhor as fitou por muito tempo e vendo que havia perfeição
ali, lhes soprou a Palavra e as arremessou de si.29/23
Eis porque, algures entre os mundos visíveis e
invisíveis, três sóis que também são seres, formam entre si os bordos de um
triângulo. Desse triângulo partem os três raios que, tocando em cada ser e em cada
coisa, vão animar e dar coesão àquilo que é essencial existir: um pensamento, um
sentimento e um destino. Por isso tudo é triplo.29/24
XXX
No Princípio era o Verbo e o Verbo estava com
Deus e o Verbo era Deus. E o Verbo desocultou-se perante a face do Homem e o Homem não O
conheceu.30/1
E Deus disse: que o segredo seja velado sob o
disfarce do símbolo e que no coração do Homem nasça uma semente de medo e temor a mim,
para que ele me procure no símbolo e, por não me achar aí, me procure onde
verdadeiramente sou. E então achará o Verbo e se fará Luz. Eis a minha vontade para
ele.30/2
Está escrito que o Homem me buscará onde não
estou e me amará por aquilo que não sou. E por não me encontrar e por não me amar,
há-de encontrar e amar a minha sombra e nela se perderá por muito tempo. Mas eu estarei
vigilante e esperarei e ele há-de descobrir o seu erro e virá para mim. Pois eu sou o
começo e o fim dos seus passos e tudo o que tem origem em mim a mim tem de voltar para se
realizar.30/3
O mundo do homem é o mundo da sombra, é o mundo
da penumbra. E entre o homem e a sombra há pactos. A sombra o vela de realidade e essa
realidade é a carne, e essa realidade é o mundo. A sombra o esconde da minha luz, mas a
minha luz não consente na sombra. Rasga a sombra, queima-a e torna-a em luz. Eis porque o
homem virá até mim, quando a sombra já não o enganar. Então a minha luz o devorará e
ele será transformado em fogo vivo, em fogo ardente. E o meu espírito habitará
nele.30/4
Eis o que é o homem: um fogo errante, um fogo
aprisionado. O homem está cativo das trevas, porque ama as trevas. Elas o seduziram com o
mundo e a carne do mundo e a sombra do mundo. Elas o encerraram numa gaiola de silêncio e
solidão e ele está lá, ignorado. Mas eu o libertarei.30/5
XXXI
E no sétimo dia e na sétima hora o Senhor
desceu ao Seu mundo e vendo-o pleno de espírito se congratulou. Mas tendo-se retirado da
face da terra, eis que ela mergulhou no abismo e à luz se sucederam as trevas e ao Senhor
se sucederam os Senhores da Escuridão. E veio a hora oitava e nona, para encerrar este
ciclo.31/1
Tudo isto aconteceu para que o justo pudesse
servir o Senhor no seu coração e testemunhar que a obra era boa e que a semente está
viva. E o justo ergueu-se sobre a terra e anunciou a vinda do Pai. Porém os homens não o
entenderam e o supliciaram. Mas depois dele muitos vieram, e muitos mais virão ainda,
pois a obra do Pai não tem fim.31/2
O justo é uma semente que o Senhor lança à
terra, uma semente de fogo e de luz, uma semente de plenitude. Se a terra está pronta
para a receber, a semente será multiplicada e o seu fruto intenso. Mas a terra está
mergulhada na escuridão e a alma do homem é pequena. Eis porque a semente dá pouco
fruto, e esse vive mergulhado no olvido. Mas dia virá em que os justos serão tantos como
as estrelas no firmamento e a sua semente não terá fim.31/3
No justo eu me realizo, diz o Senhor. A sua carne
é como barro mole entre as minhas mãos. Eu o moldo com o barro mais puro que existe no
centro do mundo e lhe sopro o fogo que o anima.31/4
Carne ou barro ou fogo: Eis o homem para mim. E
sangue, que é o meu espírito derramado nele, pois a carne que não tem sangue não vive
e o barro que o meu hálito não cozeu, está morto.31/5
Barro sem vida, eis o homem que não me conhece -
e poucos são os que me conhecem ainda - pois a hora da destruição soou e a trompa do
caos ecoa sobre o abismo.31/6
Quem responde à chamada? quem escuta o meu
grito? Só o justo pode distinguir entre mim e a minha sombra; só ele sabe ver para lá
do brilho do rosto. E há brilho que é falsidade e ilusão, como uma máscara de cristal
e gelo.31/7
Cuidado, vós que me buscais entre as ruínas do
mundo: pode enganar-vos essa busca de cegos. Aquele que me procura tem de me saber olhar
face a face, sem temor de mim, pois o meu espírito é como uma aragem suave que se move
entre tudo o que vive, e só na doçura e no amor me encontrareis.31/8
XXXII
O Verbo é a carne. O Senhor proferiu a Palavra e
esta fez-se carne de homem e carne de terra. O Senhor a proferiu para crescimento dos
seres e crescimento das almas dos seres, pois só no crescimento há vida, e só na vida
há comunhão, e só na comunhão há lugar para a realização do Pai e das criaturas, em
união profunda, para que não se distinga o que é de um e o que é de outro. Antes sejam
uma só coisa perante o Céu e perante a Terra. Assim o Senhor o quis e o realizou.
Bendito seja o Senhor.32/1
Uma palavra de fogo: eis a Palavra do Senhor, que
Ele arremessa de si rumo ao infinito, para que rasgue as trevas e confunda aqueles que
vivem na escuridão e os obrigue à reflexão e ao aprofundamento do ser; para que os
obrigue à revelação do Pai neles.32/2
Só assim as trevas podem ser confundidas e,
aqueles que nelas se escondem, derrotados. Pois só a luz tem poder sobre as trevas e só
aquele que porta a Palavra do Senhor e que a traz guardada como um tesouro muito santo e
oculto, no centro da alma - só esse - pode ir ao encontro das trevas e devorá-las,
mostrando-lhes o erro em que vivem, pois tudo é erro quando a Palavra está ausente.32/3
A Palavra do Senhor é como uma fornalha ao
rubro. Que aquele que procura o Senhor, procure primeiro a Sua Palavra e nela penetre como
numa casa amiga, na certeza de ser esperado. Assim o Senhor é como um amigo que nos
conduz no caminho da revelação e nos prepara o leito nupcial, pois o fogo deve consumir
a carne (que é fogo gelado) e libertar o espírito que há nela. Tal é o presente que o
Pai concede àqueles que O buscam: o dom do Seu amor, que também é libertação.32/4
Na taça está a vida. O Senhor a leva aos
lábios no começo do tempo e no seu fim. Assim os ciclos começam e terminam no Senhor e,
através do Senhor, em cada uma das criaturas, pois o Senhor é a medida de todas as
coisas e a chama que as alimenta.32/5
Na taça o Senhor deposita a semente. Essa
semente é a alma. Então Ele ergue a taça sobre o firmamento e ela brilha como mil sóis
juntos. Uma serpente, que também é uma rosa de fogo, ascende da taça e enrola-se sobre
si. É a eternidade que se manifesta. No centro dela, como uma jóia, um losango branco
vive. Através dele o Senhor envia, partindo do Seu olho, uma luz muito branca, que vai
dar vida às coisas e aos seres.32/6
Isto o Senhor realiza no início e também no fim
dos ciclos, pois tudo aquilo que sai do Senhor a Ele há-de tornar, multiplicado na alma e
no espírito.32/7
Esta é a Obra alquímica dos filósofos e todos
os seres a realizam.32/8
Que o fogo do Senhor vos devore! é a minha prece
para todos vós. Que ele vos reduza à essência!32/9
O Senhor abre os braços sobre o infinito. Quatro
sóis marcam as Suas extremidades ígneas. Dentro de cada sol, alimentando-o, um ser
distinto vive. Nas mãos de cada um, erguidos bem alto, quatro símbolos os representam no
mundo dos homens. Ar para o primeiro, fogo para o segundo, água para o terceiro e terra
para o quarto Senhor. Elementos que o Senhor tornou vivos e a que deu forma e
representação própria. Símbolos que são o Graal Místico.32/10
Momento a momento o Senhor os torna vivos,
soprando sobre cada um deles. Então as eras se manifestam no mundo dos homens, umas
depois das outras, segundo uma ordem de imensidão e segredo, de que só o Eterno é a
chave.32/11
No centro do Senhor arde ígnea a rosa de fogo.
Das suas pétalas dimanam os sete raios da manifestação divina. Em cada ciclo do Senhor,
os Seus servos vêm perante a rosa e a consagram, pondo nela as mãos abertas.32/12
Assim, ele é o centro imóvel da roda que gira
parada, onde os quatro sóis são os vértices duma cruz sem fim. Isto o Senhor mostra
àqueles que escolheu para O servirem, pois todo o segredo está nisto.32/13
Que mortal pode ver isto e não temer? Ou recusar
a visão do Senhor, na Sua gloria ígnea, por amor aos homens?32/14
Pois muita terá de ser a coragem daquele que for
tão perto da verdade, que a olhe de frente, e depois amar mais a Obra do que o Senhor de
Obra; mais o homem que o Senhor do homem.32/15
Ou não amando já o homem, voltar para ele para
servir o seu Senhor, já que o espírito, chegando perto da realização, só quer esta e
nada mais. E tendo visto tudo que é visível, e tudo está no Pai e só nele está,
voltar aos homens ainda. Eis o sacrifício.32/16
Portugal é uma semente. Nele o Senhor tem o Seu
bordão posto, bordão que há-de florir quando a nova raça herdar a terra. Raça de fogo
com olhos de poente, feita da Mãe e do Pai, em união. E os primeiros desta raça virão
em breve para dar testemunho do que há-de vir. Que não se turve o entendimento daqueles
que esperam um sinal, pois o momento está próximo.32/17
Portugal é uma semente: essa semente chama-se
realização do Plano do Pai para o Seu mundo.32/18
No coração da semente vive uma rosa de
esplendor e brilho. Vive também uma Virgem que dará à luz, nos últimos dias, o Cristo.
Virgem do homem mas não do Senhor. Antes serva Dele, e recolhida no centro do mundo, que
é onde a semente tem a sua raiz.32/19
Mar e Mãe é o seu nome. E na caverna da Senhora
está um cálice que a contém, onde o sangue foi recolhido ao longo das eras e os
séculos fizeram rubro e vítreo: como um rubi. Tudo isto é verdade e há-de ser
visto.32/20
A rosa é o símbolo do Senhor. Ele se inebria no
seu odor, como o homem se inebria no odor da mulher e esta no dele, para que o casamento
das forças se realize e daí saia o fruto da continuidade. Do mesmo modo o Senhor se
realiza na rosa, que é a Sua esposa mística e nela gera a perpetuidade do Seu nome e da
Sua geração entre os homens.32/21
Esta é a origem dos profetas e dos santos e de
todos aqueles que tem a marca do Senhor sobre si: uma rosa. Assim os podeis distinguir
daqueles que mentem e profanam. Pois só o Senhor pode dar vida àquilo que está morto e
só Ele pode pôr o fogo, que é a rosa, sobre a cabeça de quem ama e quer para si.32/22
Que aquele que fala em nome do Senhor traga a
rosa rubra e ígnea no peito, para que o seu amor seja um testemunho da sua fé, pois não
há amor fora da fé do Pai e tudo o que não vem Dele só pode vir das trevas.32/23
Um sinal: é isto que o Senhor vos dá pela via
da rosa. Ela que vive em cada servo, por reflexo longínquo daquela outra que é a mãe de
todas: aquela que brilha no centro do Senhor, pois o alto espelha-se no baixo e só vinda
do alto pode a luz existir.32/24
Assim e cruz do homem não é dele, mas do Senhor
seu pai, cruz que é o próprio Pai na Sua imensidão e glória. Tudo foi concebido
segundo essa medida e nela está a base de cada ser e de cada coisa.32/25
Assim também, a rosa que vive no coração do
homem, só vive por amor à rosa que vive em Deus, que é Deus vivo e eterno.32/26
Portugal é uma rosa de fogo. Tal fogo já não
cabe nele, antes cresce sem cessar consumindo e devorando tudo. Assim o Senhor o quis,
assim o realizou. E neste livro O diz para que outros o saibam, pois chegou o momento de
desocultar o segredo e de realizar a nova aliança entre o Pai e os filhos.32/27
Para altar do mundo o Senhor o escolheu, pois
aqui se fará o sacrifício e se derramará o sangue na Taça, que depois se transformará
em espírito: o espírito do Senhor. Espírito que dará a vida àqueles que vivem, ou a
morte àqueles que a trazem consigo. Para separar justos e injustos, a semente da palha e
lançar a palha ao fogo e dar o mundo àqueles que hão-de vir.32/28
XXXIII
Vejo uma rosa que cresce sem cessar. Uma rosa que
primeiro foi semente que o Senhor lançou no coração do homem. E o homem a imaginou e
amou aquilo que viu. E o Senhor a fez dar fruto dentro do homem e, quando este fruto
cresceu e se multiplicou, o Senhor a fez transcender o homem e a lançou nas terras do
mundo. E as terras do mundo a acolheram.33/1
Vejo uma rosa que começou por ser semente no Pai
e depois no coração do homem e agora já é semente do mundo. E quando todo o mundo
tiver sido coberto por esse roseiral, no centro do mundo há-de acontecer um milagre: o
milagre da rosa, o milagre do amor universal.33/2
E esse será o momento por que os deuses esperam.
O momento da renovação do mundo e do homem. O momento da celebração da nova
eucaristia, da nova aliança entre os deuses e os homens. O momento do Senhor.33/3
Tudo isto a rosa fará. E há-de alimentar-se dos
homens que julgam alimentar-se dela, e há-de lançar neles uma semente de renovação e
de vida eterna, julgando eles que a lançam no terreno do profano e do tempo que
passa.33/4
E muitos virão para destruir e serão
destruídos nas suas esperanças e no seu amor mal dirigido.33/5
E muitos virão para a proteger e serão
protegidos, pois o caminho do homem nem sempre é o de Deus e aquilo que o homem quer
realizar, o Senhor já viu e realizou.33/6
Muita será a confusão e o escárnio em redor da
rosa, mas muito será também o amor. E tudo isto acontecerá para que alguns despertem e
outros sejam postos à prova.33/7
Vejo uma rosa que começou por ser semente e
depois raiz e essa raiz teve nome e foi nome de coisa. E em redor da rosa se juntaram
alguns.33/8
E esse movimento cresceu com o passar dos anos. E
a rosa cresceu também. Para alguns no seu coração, para outros na sua mente e para os
restantes na sua esperança. E tudo isso a rosa multiplicou.33/9
Vejo uma rosa de fogo que lança as suas raízes
no corarão do homem, e se alimenta do seu sangue e por isso é vermelha.33/10
E vejo também um pequeno país que cresce em
redor da rosa e daqueles que, ciclicamente, a alimentam e fazem renascer.33/11
E vejo ainda o Senhor que, do alto, vigia a Sua
sementeira e aproxima uns e afasta outros, pois nem tudo é bom e digno de servir.33/12
E vejo alguns que, vindo humildes, se tornam
grandes, e outros que julgando-se mais do que são, são confundidos.33/13
Tudo isto a rosa opera neles, pois a sua luz é
como mil sóis juntos, e para aqueles que lhe chegam ao cume, é a visão do Senhor que os
espera. E retomam o seu lugar à mesa do Pai.33/14
Vejo uma rosa que é uma coluna de luz, cuja base
nasce do centro da Mãe, do Seu ventre cristalino, e cuja cúpula sustenta o firmamento,
tocando os pés do Senhor.33/15
E vejo também uma árvore carregada de frutos
doces e amargos; de esperanças e de ilusões. Muitos tentam a sua escalada e alguns ficam
pelo caminho e dormem e sonham que chegaram ao fim. E outros desistem do seu intento, mal
deram os primeiros passos. E outros vão até ao fim e, chegados ao castelo que guarda o
Graal, são feitos cavaleiros e guardiães, por sua vez, ali ficando até que o tempo do
homem cesse e o Senhor se realize. Tudo isto eu vejo e muito mais.33/16
Vejo uma rosa que desabrochou no coração de uma
nação pequena. E vejo que essa nação é, ela própria, uma rosa maior que por sua vez
há-de dar fruto.33/17
E tudo isso acontecerá quando as nações se
unirem nela, e os filhos das nações se juntarem nela e nela fundirem os seus corações
e as suas esperanças e tudo aquilo que faz o homem grande e pequeno.33/18
Então algo acontecerá: o Senhor há-de
mostrar-se a todos eles e, no meio deles, há-de aparecer aquele que é a Sua voz e o Seu
reflexo. E aqueles que O escutarem serão salvos.33/19
Esse falará da rosa e da semente que foi
lançada no mundo e daqueles que, anónimos e desconhecidos, tem velado por ela sem
cessar. Pois só há um Senhor e só há um fruto, e esse fruto tem o nome de amor.33/20
Tudo isto o Senhor fez por amor ao homem, pois
não é bom para o homem estar só.33/21
XXXIV
Vejo um dragão alado cuspindo fogo sobre a
terra, e a terra geme ferida e ensanguentada. Os seus filhos precipitam-se para a morte. O
sangue corre como as águas dos rios. A taça está cheia.34/1
Mil taças se enchem entre a noite e a alvorada.
Mil virgens as erguem ao céu, para que o Pai as abençoe. O sacrifício é grande. Maior
será ainda, antes que o fim venha. E antes que ele venha não haverá sossego sobre a
terra, só lágrimas e dor e desespero.34/2
A Mãe sofre pelos Seus filhos. As Suas lágrimas
tombam sobre a face do mundo e juntam-se ao sangue derramado pelo homem: e o futuro nasce
disto.34/3
Sangue e lágrimas: eis o Homem. E, secreto e
esquecido, um fogo. Na caverna do ventre, na caverna do coração, na caverna da mente um
fogo arde, branco e rubro, arde sem fim. Pois o Pai e a Mãe têm de se unir para gerar o
Filho, e, onde houver carne ou barro, tem de haver fogo que purifique a carne e coza o
barro numa forma viva. Tal é o mistério dos opostos que formam a síntese.34/3
Assim é o homem, súmula de gelo e de fogo
unidos e em equilíbrio, para que a humanidade seja o fiel da balança onde os deuses
pesam os seres, pois o homem está a meio de tudo e aí deve ficar até ao fim.34/4
A terra é um ovo onde dorme secreta uma cria. O
dragão a guarda e a alimenta. O fogo que ele cospe é o mesmo do alquimista sobre o seu
atanor, para que a matéria se transforme em energia e a Obra chegue ao fim.34/5
Assim o dragão vela pela sua obra, e velará
até que um pequeno dragão rompa o ovo e retome o seu destino aqui interrompido. Pois a
terra é como um ninho: a Mãe o traz dentro de si e vela e ora pela sua gestação. E
chegado o momento do nascimento, Ela própria rompe a cortina que A vela e o Seu fruto
fica exposto aos olhos das criaturas. Assim os Cristos nasceram feitos da semente do Pai e
do ovo da Mãe, unidos no ventre do mundo.34/6
Um dragão alado: eis o Senhor dos Mundos. O Seu
fogo nos alimenta e aquece, o Seu hálito (que é a Sua Palavra) nos deu a vida antes que
a criação fosse.34/7
Fogo e barro, eis os opostos tornados carne de
homem e alma de homem e vida de homem. Fogo e barro juntos: eis o altar do dragão, onde a
Senhora sacrifica, sem cessar, as esperanças e ilusões dos Seus filhos. Pois só a
pureza importa. A pureza e o espírito. E quando o espírito está pronto, a carne (que é
barro) rompe-se e a luz ascende rumo ao Senhor. E Ele o acolhe e o recebe em si e dele se
alimenta.34/8
Espirais sem fim: eis o segredo do dragão. A sua
energia gera e destrói os mundos. O processo não conhece início ou fim.34/9
No início do homem, o dragão se une à terra e
a terra procria os filhos que a povoam, e geram as criaturas. E a Obra do Pai começa.
Então, o dragão aquece o ovo. Primeiro com temperança e depois, à medida que a Obra
avança, com mais fulgor, para que a criatura conheça a morte e se transforme nela; e
vá, de degrau em degrau, até aos pés do Senhor. Por isso o ovo é aquecido e o seu
conteúdo misturado, pois três (como os Poderes) serão as fases da Obra a realizar.
Primeiro a do Caos e dos Senhores do Abismo, depois a da Alma e dos Senhores da Ilusão e,
por fim, a do Espírito e dos Senhores da Luz. Três fases, mas uma só verdade. Quem
puder entender que entenda.34/10
Perante a face do Grande Dragão não há
ilusão, ou luz, ou sombra. O seu hálito, feito da luz que consome e alimenta os mundos,
atravessa o espaço e o tempo como o Verbo atravessa o coração do homem: para dar a vida
e a morte.34/11
E os seres, que se julgavam eternos perante a Sua
face, são reduzidos a cinzas e aqueles que lhe suplicam34/12
o dom da continuidade são confundidos na sua
esperança, pois o dragão só ama o fogo, e a menos que o homem ascenda a ele,
transformado em fogo, o fogo o consumirá em vida.34/13
Um espelho: eis o dragão para o homem. Um
espelho que se chama alma e que se chama espírito e que se chama carne ou terra.34/14
E o homem mede-se dia a dia no espelho e une-se
ao seu reflexo, que é também o seu ideal de Deus, até só restar o espelho e o ideal e
nada reflectido. Então o espelho se fecha sobre a ilusão do homem (que é o seu Deus) e
leva consigo a imagem absorvida.34/15
Um espelho no qual se reflecte um dragão: eis o
mistério que o Senhor lança ao coração do homem, para que ele o decifre ou se lhe
submeta. E o homem recua ou avança consoante a sua casta. Se o seu sangue foi temperado
na guerra, ele ama a luta e combaterá pela posse da vida e irá enfrentar o enigma do
espelho e do dragão, que dá a vida ao homem; mas se teme a luta e o sangue da luta e a
dor, ele fugirá do espelho e o dragão irá no seu encalço e o submeterá.34/16
Duas são as castas do homem perante o dragão: a
do que ama o fogo e que só vive para ser consumido nele, e a do que teme o fogo e que
foge sem cessar. Um vive de rosto coberto, o outro de rosto destapado. Sobre a face de um,
o Senhor traçou o signo da terra que é uma serpente adormecida. Sobre a face do outro, o
Senhor traçou o signo do céu que é uma serpente acordada.34/17
E quando o homem vai perante o dragão e rasga o
espelho que é uma cortina de ilusão, a serpente que há na sua face transforma-se e
ganha as asas do voo que o Pai dá àqueles que O amam e vão até ao fim: transforma-se
num Filho do Dragão. Esta é a forma que o Senhor usa para dar continuidade à Sua voz e
à missão que tem para o homem.34/18
A sombra do Senhor: um dragão. Uma sombra sobre
a terra, pejada de morte e de carnificina, onde a Mãe ora sem cessar no altar que é o
homem e a carne do homem e o sangue do homem. Um altar com as dimensões do mundo. E sobre
o altar, transformados em archotes vivos, aqueles que servem o Pai e a Mãe: os servos, os
sacerdotes, os que sabem e vêem. E quando a faca do sacrifício tomba sobre os corpos, o
Senhor vem como uma coluna de fogo para recolher a alma e dar-lhe vida. E vem também para
santificar a morte e dar o seu assentimento, pois mal seria para o homem se o Senhor não
purificasse essa morte e não a tomasse para si. E quando o Senhor não vem, e antes
esconde a Sua face e passa adiante, esse está condenado e a sua alma será dada a beber
aos Senhores do Abismo.34/19
O Senhor é uma coluna de fogo. Os Seus olhos
são diamantes rubros. A Sua face é resplandecente. Quando Ele repousa sobre um mundo,
mil servos O vêm acolher e adorar. Então o Senhor sonha acordado, e no Seu sonho o mundo
repousa também. E os ciclos param e a espiral descansa, e mil eras se somam no
esquecimento, antes que o Senhor desperte e parta. Quando tal acontece, de cada mundo vem
um servo que fica perante o Senhor e o Seu dragão e é levado perante o Livro Negro, para
que saiba o nome das coisas e o seu próprio nome e os nomes do Senhor. E quando viu tudo
isso, é levado perante o espelho que separa o Senhor dos Seus mundos, e lhe é dito que
passe a cortina da ilusão e da esperança.34/20
Aqueles que vão e não temem a escuridão, nem a
morte, nem o silêncio, esses passam e cortina e o Senhor os recebe em si e viverão Nele;
mas aqueles outros que na sua pureza tiverem ainda a sombra do medo e da escuridão do
medo, esses não passam a cortina e são condenados a vaguear entre a realidade e a
ilusão. E o Senhor lança o Seu dragão sobre eles e são devorados.34/21
Que aquele que vai perante o Senhor se purifique
primeiro no Seu dragão e no espelho que reflecte as trevas que existem em todas as coisas
vivas, e no fogo que o Pai e a Mãe lhe deram no início do mundo, pois o olhar do Senhor
vê para lá da forma e da figura da forma e da vida da forma. E ai daquele que procure o
Senhor no seu sonho e não O receba no seu despertar, pois a luz só consente em si e tudo
o resto lhe é distinto.34/22
XXXV
E no terceiro dia e na terceira hora o anjo
soprou a trombeta e a desolação caiu sobre a terra. E foi grande a dor e o
desespero.35/1
Assim as trevas caíram sobre o mundo e o Senhor
se retirou da sua face e o deu às Sombras para que o devorassem. E elas o fizeram por
doze luas.35/2
E, quando o seu tempo terminou, a terra estava
morta e o homem escravizado, e toda a obra do homem deitada por terra.35/3
E o Senhor considerou que a prova tinha bastado e
ordenou às Sombras que se retirassem do visível, e eles o fizeram também. E o sol
voltou a brilhar nos céus e sobre a terra e as estações foram retomadas.35/4
Assim se cumpriu o tempo da expiação e se
fechou e abriu o ciclo do Senhor.35/5