ENTREVISTAS
ALAN MOORE, O ESCRITOR SUPREMO
por Steve Johnson - 7 de Agosto
de 1996
MANIA: Assim, o Youngblood será o o principal super-grupo
jovem do mundo.
Alan Moore: Sim, é isso o que quero. Quero, em primeiro lugar,
pegar o que fazia esses quadrinhos funcionarem. Então destilar
um pouco disso e içar todo o Youngblood com isso, essa é
a idéia. Agora, como faremos isso, ainda precisa ser pensado, mas
de qualquer maneira esse é o plano.
MANIA: Bem, nós já vimos algumas edições
de Supremo e parece que o modo com que você está comunicando
a essência de Supremo reside em acrescentar milhares de detalhes,
o que é um modo interessante de fazer isso: você concentra
essa personagem até uma essência, mas comunica essa essência
construindo-o através de lentas etapas.
Alan Moore: E essas etapas estão contando detalhes, há
coisas que... você mencionará um nome na conversa, mas sei
que os leitores quadrinhos irão gostar, eles irão notar,
entender e se lembrarem disso. Esse é um grande modo de obter muita
informação para os leitores de HQs: você há
pouco mencionou isso casualmente no diálogo, mencionou um nome
de uma das personagens antes que os leitores nunca ouviram falar, e há
modos de se fazer isso. No espaço de quatro edições,
nós descobriremos uma enorme quantidade de informações
do mundo de Supremo. E parecerá como essas informações
já existem há anos, e penso nas próximas edições
quando conhecemos o Professor Night, o Grupo Supremo e muito
mais. Ao final das doze edições de Supremo, haverá
a sensação de que conhecemos essas personagens desde os
anos 40 ou 50.
SUPREMO
MANIA: Quais são os tipos de coisas que você quer apresentar
em Supremo que são diferentes do Super-homem da Terra-1
e que você apresentou maravilhosamente em O que Aconteceu ao
Homem do Amanhã e daí em diante?
Alan Moore: O que quero é fazer um ser realmente supremo.
Eu vejo isso não como uma revista retrô, não do modo
que 1963 foi. Há muitas semelhanças, Rich Veitch
é uma das mais notáveis.
Estou colocando estes retrospectos, estas histórias de 8, 12 páginas
nas doze edições de Supremo para criar a ilusão
de um continuidade previamente existente. Até que eu chegue em
Supremo #52 e nas edições seguintes, não acho
que haverá mais nenhuma sequência de flashbacks. Será
inteiramente um moderno super-herói da Image Comics com
toda uma História anterior a ser vista. Mas isso significa eu poder
fazer qualquer história que quiser, será a mistura do velho
com o moderno. Essa é a coisa interessante para mim, e eu há
pouco disse a Jim Lee algumas coisas semelhantes: não é
um material retrô, é mais como quando materiais retrô
são publicados ao mesmo tempo que os materiais contemporâneos.
O que estamos tentando fazer é criar algo que tenha a energia,
a indubitavel energia dos modernos trabalhos de super-herói da
Image. Há uma certa energia hiper-cinética com a qual as
crianças reagem [o estilo da Image].
MANIA: Não só as crianças.
Alan Moore: Não só crianças; há uma energia
hiper-cinética que tem algo a ver, em grande parte, com o sucesso
da Image. Dois ou três quadrinhos de uma só página,
os personagens exageradamente musculosos, tudo levado ao extremo.
Sempre há algo de bom nisso ao mesmo tempo que também há
fraquezas. Alguns escritores acham muito difícil, mesmo quando
têm seis quadrinhos por página, contar uma história
em 24 páginas. Não há muitos escritores que podem
contar uma história em 24 páginas quando eles têm
somente dois ou três quadrinhos por página. Desse modo, tem
havido problemas com as histórias feitas pela Image; a arte
parece incrível e todas essas novas e maravilhosas técnicas
de coloração, mas a qualidade das histórias tem decaido.
Os que eu gostaria de fazer é tentar difundir nesses novos tipos
de modelos de super-herói dos anos 90 com todo o poder imaginativo
do super-heróis desses anteriores 50 anos. Dar a eles aquele certo
humor e graça e ver se podemos propor algum tipo de combinação
que seja viável durante o próximo século.
MANIA: Um longo mandato.
Alan Moore: É, mas que seja merecedor de ser publicado. O que
mais eu poderia fazer?
MANIA: De fato, você teve meio que ficar longe dos super-heróis
durante algum tempo. Foi a possibilidade de reconstruir o universo a partir
de suas fundações que trouxe você de volta?
Alan Moore: Não, eu tenho feito pouca coisa para um par de sujeitos
de Image. Tenho feito coisas para a Wildstorm, feito um
pouco de coisas para a Titan e um pouco para [a série] 1963.
Este foi um trabalho com o qual eu ainda pude me divertir muito. É
divertido, revigorante, dar uma parada nos trabalhos mais sérios.
É agradável poder pontuar um trabalho mais sério
com algo que é mais como um recreio. Trabalhar com super-heróis,
o que podemos fazer agora com eles?, foi grande parte de sua atração.
Embora com Supremo, quando os personagens foram oferecidos a mim
e comecei a pensar nisso, percebi que esta seria uma oportunidade para
criar o tipo de personagens que pensei que deveria ter criado antes. Até
certo ponto, Dia do Julgamento é apenas uma expansão
dessa oportunidade. Me dá a chance de criar todo um universo em
seis dias, e no sétimo eu descansarei.
MANIA: Então você não considera Watchmen e
Miracleman sua última palavra nesse campo?
Alan Moore: Nunca há realmente uma última palavra, há?
Há todos os tipos diferentes de histórias de super-herói.
Watchmen, não posso imaginar quanto mais adiante você
poderia ir naquela direção em particular. De fato, para
uma história de super-heróis sombria, altamente realista
e estruturalmente complexa, provavelmente é até onde se
pode ir.
MANIA: Considerando que Supremo parece estar se dirigindo numa
direção exatamente oposta, possivelmente mais longe do que
alguém mais foi.
Alan Moore: Tentando fazer algumas coisas muito complexas com alguns
elementos muito simples. Como em Supremo 44. Aparentemente está
recontando a história do super-grupo dos anos 40, os Super-Homens
Aliados de América e falar sobre sua última aventura
na véspera do ano-novo de 31 de dezembro de 1949. Então
estes três espectros aparecem no banquete de ano-novo, que são
basicamente os três anfitriões das histórias de horror
da EC, que levam estes super-heróis para o futuro de seu
mundo.
Há um mundo bastante parecido com o mundo pós-holocausto,
pós-nuclear da ficção científica da EC.
Depois há um segundo mundo, baseado na Shock SuspenStories
(antiga HQ americana de suspense dos anos 50), onde você encontra
mulheres que planejam o assassinato de seus maridos, adolescentes viciados
em heroína, o prefeito da cidade como um membro da KKK.
O terceiro mundo é um mundo das paródias da MAD,
onde Supremo se torna Supremelvin e é igual ao Superduperman.
É, em poucas palavras, uma boa leitura.
Nessa história, Supremo está relembrando o passado
enquanto ele reune os outros membros do Aliados nos anos 90. É
uma pequena história, muito simples e agradável, mas ela
é bastante complexa. É um comentário sobre o porquê
de todos os grupos de super-heróis desapareceram ao fim dos anos
40, que foi basicamente porque eles não eram realmente relevantes
no mundo dos anos 50. A EC Comics era.
A Sociedade de Justiça não era relevante nos anos
50, ao contrário da Shock SuspenStories e da MAD Comics,
que eram. É bem estranho; Superduperman é uma paródia
de Super-homem. Nessa edição de Supremo, que
é um pastiche de Super-homem, nós temos esse pastiche
da paródia da MAD. É como uma paródia da paródia
nessa história do Supremelvin, porque tem muitas referências
da EC.
Assim, estamos falando sobre história de quadrinhos, e comentando
vários estilos de quadrinhos do passado, e contando a história
de Supremo, preenchendo uma parte da história de sua vida.
Há muita complexidade nessa história, embora você
esteja usando superficialmente uma clara, legível, divertida e
moderna HQ.
A complexidade de Watchmen estava toda na superfície. Apenas
olhar uma parte de suas páginas lhe tomaria uma meia hora e lhe
daria uma enxaqueca, só porque era, obviamente, um trabalho complexo.
Com Supremo, parece ser um trabalho simples, mas ele é conduzido
para a direção oposta e vendo que tesouros serão
achados pol lá.
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