ENTREVISTAS
O SUPREMO ESCRITOR ALAN MOORE
por George Khoury
TJKC: Qual foi o revista de Kirby mais estranha que você
já leu?
ALAN: Eu não sei. Devil Dinosaurr, talvez; era bem estranha.
Não sei, há uma certa estranheza em todos os trabalhos de
Jack Kirby, todos eram bem espantosos. Provavelmente Devil Dinosaur,
se você quer que eu escolha um. O produto final foi um pouco estranho,
mas a proposta original de Kirby para Devil Dinosaur se mostrou
bem interessante.
(Devil Dinosaurr TM & ® Marvel Characters,
Inc.)
TJKC: Você acompanhou seu retorno à Marvel
na metade dos anos setenta?
ALAN: Eu tenho de admitir que não gostei tanto quanto seus
primeiros trabalhos para a Marvel ou para a DC. É
Jack Kirby, então tudo tem seu próprio charme, mas
comparado ao seus trabalhos iniciais... não, eu não fiquei
tão emocionado com isso. Embora eu conheça algumas pessoas
que pensem que foi o seu melhor trabalho. Imagino que seja uma questão
de gosto pessoal.
TJKC: Do trabalho que Kirby fez no Quarto Mundo,
você seria capaz de distinguir o que Lee e Kirby fizeram
cada um para contribuir para as revistas da Marvel nos anos sessenta?
ALAN: Minha posição nisso, sem conhecer, é
que tenho certeza de que Stan Lee contribuiu muito pra Marvel,
mas sempre tive a impressão que provavelmente a maior e mais importante
parte do trabalho foi de Kirby. Posso estar sendo injusto com Stan
Lee, só que não sei; mas tenho a impressão que
a maior parte do storytelling e tudo o mais foi feito por Kirby
- e ainda muito do diálogo sugestivo, mas realmente não
sei. Você pode ver um certo polimento perdido nos diálogo
do Quarto Mundo, mas certamente lá ainda havia toda aquelas
idéias poderosas. Suponho que você possa tirar suas próprias
conclusões a respeito.
TJKC: Provavelmente um das coisas mais positivas que aconteceram
com você quando veio aos Estados foi que você pode conhecer
Jack Kirby pessoalmente. Que tipo de impressão você
teve dele? O que ele disse a você?
ALAN: Foi muito breve. Foi um pouco tenso porque foi durante aquela
palestra onde nós estávamos falando sobre conseguir de volta
a arte que Kirby fez pra Marvel. Então conheci Jack
muito rapidamente antes e depois daquela palestra, mas tudo o que me lembro
era daquela aura que ele tinha ao seu redor. Era um robusto, bronzeado
e pequeno sujeito de cabelos brancos e era o mesmo Kirby durão
que desenhava HQs. Ele também era gorducho. Eu só
me lembro dele conversando comigo e com Frank Miller e ele disse,
com uma voz áspera, vocês, rapazes, acho que vocês
são ótimos. Vocês, rapazes, o que fizeram foi maravilhoso.
Eu realmente quero agradecer a vocês. Foi quase embaraçoso
ver Jack Kirby me agradecendo. Simplesmente o assegurei que eu
era quem deveria estar lhe agradecendo, porque ele tinha feito tanto para
contribuir com a minha carreira. Ele tinha um brilho ao seu redor. Jack
Kirby. Ele realmente era alguém muito, muito especial.
Moore e Kirby se encontram numa San Diego Comicon nos
anos 80.
Cortesia de Jackie Estrada.
TJKC: Você tem alguma revista favorita feita por Jack
Kirby ou imagens feitas por ele que não saem da sua cabeça?
ALAN: Realmente gostei daquele material em Three Rocketeers
que ele fez, onde ele usou todas aquelas estranhos efeitos de colagem
no seu trabalho à frente do Quarteto Fantástico.
Alguns dos materiais de Galactus, em termos de impacto, me deixaram
aturdindo. Ego, o Planeta Vivo: a página ao fim daquela
edição do Thor onde você, de repente, vê
aquele quadro de página inteira de Ego, o Planeta Vivo com a pequenina
astronave de Thor ou quem quer que estivesse no primeiro plano;
essa é provavelmente a única página que não
sai da minha mente.
TJKC: Você menciona com freqüência que teve alguns
arrependimentos de como Watchmen influenciou outros quadrinhos;
é por isso que você trouxe o estilo retrô aos quadrinhos
com 1963?
ALAN: Estive trabalhando fora do gênero dos super-heróis
por muito tempo. Quando voltei a eles, senti que provavelmente preferia
que os super-heróis tivessem toda aquela energia da qual me lembro
dos quadrinhos de minha mocidade; que tivessem menos daquela miséria
que Watchmen, em parte, trouxe aos quadrinhos. Então, sim,
provavelmente foi parte da decisão de ter alguma diversão
com um estilo mais antigo de quadrinhos, como em 1963.
TJKC: Uma das muitas coisas que você quis mostrar com 1963
era a diferença entre os heróis de ontem e os heróis
de hoje. Você sente que conseguiu fazer isso?
ALAN: Não, nunca conseguimos terminar aquela série
por várias razões que foram uma vergonha e também
por outros eventos, mas quase acho que teria havido uma conclusão:
reunir dois tipos de super-heróis diferentes. Mas imagino que só
o fato de 1963 estar aparecendo nas bancas ao mesmo tempo que esses
heróis mocernos parece tornar implícito tal contraste, de
qualquer maneira. Então, sim, imagino que, de certo modo conseguimos,
mas não tão completamente quanto originalmente tínhamos
pretendido.
TJKC: Quais são algumas das diferenças entre os
quadrinhos de 1963 e de 1993?
ALAN: por trás de 63, havia um tipo de otimismo ilimitado; não
importava quantas ansiedades ou medos pudessem pairar sobre o trabalho,
ao julgar por esse incrível otimismo - tudo era possível.
Isso foi verdade para os artistas que trabalharam no conceito. Eles estavam
experimentando. Eles estavam tentando coisas. Eles estavam plenos de energia
e experimentação. Penso que talvez em 93, haviam alguns
artistas muito bons, mas parecia que havia uma falta de energia. Uma falta
de audácia no trabalho, uma falta de desejo de empurrar os limites
ou experimentar, como tinha lá nos anos sessenta.
TJKC: Como você descreveria o uso da mitologia e de outros
gêneros por Kirby em seu trabalho?
ALAN: Era incrível. Ele obviamente trouxe um sentimento
real e palpável com estas figuras arquetípicas. Eu me lembro
de Contos de Asgard, que é um de seus melhores trabalhos,
e o modo como ele misturou mito e ficção científica
em Thor foi maravilhoso. Acho que ele atingiu o grau exato de relevância
para o material original e o grau exato de irrelevância onde ele
tinha preparado mudanças e coisas novas com elas; aquele modo de
tornar, de certo modo, os mitos vivos.
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