ENTREVISTAS

O SUPREMO ESCRITOR ALAN MOORE

por George Khoury

TJKC: O que significa os desenhos a la Kirby no teto do precinto em Top Ten?

ALAN: É apenas algo que Gene (Ha) e Zander (Cannon) decidiram fazer porque eles acharam que deveria haver um mural na delegacia de polícia. Eles pensaram, o que poderia ser um bom estilo de mural e algo que não se parecem com o estilo de Gene ou Zander? E só pareceu que o estilo de Kirby seria perfeito para os murais da cidade. De forma que foi idéia de Gene e Zander, mas entendo que foi pelas razões que acabei de descrever. Eles precisavam de algo que se parecesse com um estilo convincente de mural para a metrópole, e como nós apresentamos em Top Ten, isso contrastava com a própria história deles, e Kirby foi a escolha perfeita.


TJKC: JÁ houve um personagem de Kirby com o qual você gostaria de contar uma história?

ALAN: É realmente difícil de dizer porque eu gostei de fazer Etrigan em no Monstro do Pântano. Eu imagino que se as coisas tivessem sido diferentes e eu tivesse ido para a Marvel, ao invés da DC, durante aquele período no meio da década de 80 - se eu não tivesse tido aquela briga precoce com a Marvel - então acho que qualquer um de seus personagens poderia ter sido divertido. Quarteto Fantástico, obviamente. Thor era maravilhoso. Eu consegui me colocar bastante fora do meu sistema durante os materiais para 1963. Todos os personagens de Jack Kirby eram ótimos. Eu preferi trabalhar com meus próprios personagens agora do que trabalhar com personagens de outras pessoas, mas é difícil pensar em um personagem criado por Jack Kirby que poderia ter sido interessante escrever.


TJKC: daqui a cem anos, como você acha que o papel de Kirby nos quadrinhos será definido?

ALAN: Isso não depende tanto dos indubitáveis talento e gênio de Kirby, mas do gosto dos leitores daqui a 100 anos. Há o modo de como as coisas deveriam ser e o modo de como as coisas poderiam ser. Em um mundo ideal, Kirby deveria ser percebido como alguém que fez um trabalho inacreditavelmente pungente e dinâmico no meio dos quadrinhos, mas durante suas fases iniciais. Trabalho que teve um impacto duradouro e influenciou todos os que vieram depois dele; esse é o modo como ele deveria ser lembrado. Mas é claro que há uma enorme quantidade de artistas de revistas em quadrinhos maravilhosos, por exemplo, Eu nunca ouvi sobre eles e realmente não me importo em procurar, porque eles estão presos, em grande parte, a um estilo de arte ou um grupo de artistas que ficaram populares nos anos 80 e 90 e eles não têm muita consideração pelas histórias. Esta não é uma condenação somente aos fãs de quadrinhos, mas a cultura em geral. Há uma grande quantidade de pessoas que não merecem ser esquecidas e são esquecidas porque a cultura é freqüentemente uma coisa inconstante e superficial. Eu imagino que, enquanto houver pessoas com o entusiasmo por Kirby, que obviamente é mostrada na KIRBY COLLECTOR. É o seu trabalho - e de todo mundo que se preocupa com o trabalho de qualquer outro artista em particular - para que se tenha certeza de que o trabalho dele ou dela ainda será discutido daqui a 100 anos, por vocês ou por seus descendentes.


TJKC: É engraçado; ultimamente tenho pensado que o que Kirby fez nos quadrinhos pode ser comparado ao que Beethoven e Mozart fizeram à música.

ALAN: Correto, você pode dizer com certeza que ainda haverá música daqui a 100 anos, de uma forma ou de outra, mas também esperamos que haja revistas quadrinhos daqui a 100 anos.


TJKC: Você disse que uma das razões por você ter entrado nos quadrinhos foi por causa da estética, do tipo de arte. Ainda há lugar para mais inovações?

ALAN: Claro que há. Sempre haverá lugar para inovações. Só depende que haja muitas pessoas que se preocupem em fazê-las. Pessoas que gostam de Jack Kirby são notáveis porque elas não aparecem com muita freqüência. Havia mais pessoas como Jack Kirby nos primeiros dias dos quadrinhos. Criadores independentes como um Will Eisner e um Harvey Kurtzman que poderiam ter um impacto incrível no modo de como os quadrinhos eram concebidos. Estes foram gigantes. Houve algumas outras pessoas que fizeram corajosos movimentos experimentais. Eu não vejo mais tantos por aí atualmente. Vejo muitas pessoas que não têm intenção verdadeira de experimentar; há pessoas que certamente fazem um esforço. Tem se passado muito tempo desde que apareceu um criador independente que realmente tentou expandir os limites do meio ou impor um estilo independente sem igual da mesma maneira que Kirby fez. Sim, as possibilidades para os quadrinhos são infinitas, mas depende do surgimento de homens e mulheres que simplesmente sejam capazes de perceber essas possibilidades, o que é algo totalmente imprevisível.


TJKC: Todo o tempo eu ouço de pessoas que dizem que todas as histórias possíveis de super-herói foram contadas, que já foram feitas; que estas histórias e idéias só podem ser colhidas uma vez.

ALAN: Sim, então você tem que superar a dificuldade e realmente fazer uma outra coisa ainda mais original. É um pouco trabalhoso e eu posso entender como muitos criadores do presente realmente não parecem estar preparados para fazer isto. Eles preferem esperar que alguém faça a inovação e então saltam à bordo porque isso é muito mais fácil. É muito mais seguro em termos de carreira. Se você esperar que alguém experimente um trabalho e então salta à bordo, provavelmente você se sairá bem disto, em termos de lucros - bem como seus personagens - melhor do que a pessoa que realmente fez a inovação. Você poderia continuar fazendo histórias sobre super-heróis pra sempre. Ainda há novas histórias de cowboy a serem escritas. Se mais alguém não acredita nisso, deveria então pegar os trabalhos de Cormac McCarthy e pegar Blood Meridian e deveria ver se estes não um novo modo de contar uma história de cowboy. Eu fico um pouco cansado de ouvir pessoas que dizem que tudo o que poderia ser feito está feito. Todas as grandes inovações aconteceram no passado. Que tipo de cultura teríamos se todos nós pensássemos assim? Certamente as pessoas têm pensado assim por muito tempo. Estou certo que sempre que uma forma de arte ou música surge há uma multidão pensando, Bem, realmente é isso. Como nunca conseguimos atingir isso? E então vem alguém que não acredita nisso e não concorda com isso - e faz algo que é completamente revolucionário e muda tudo ao seu redor, e então todo mundo fica eufórico pelo o acontecido, e então dizem, Bem, agora todas as grandes idéias foram criadas. Não há nenhuma possibilidade de haver coisa melhor no futuro. Isso é algo que penso ser uma atitude frágil e derrotista. Eu acho que qualquer criador que valoriza seus pensamentos não deveria acreditar que há um ponto de onde não se consegue mais avançar, mas que deveria tentar alcançá-lo. Criatividade ou o avanço de qualquer meio são como um desses velhos desenhos da Warner Brothers, onde você têm uma via férrea que passa no meio do deserto, com o Patolino tendo ele mesmo que pintar os trilhos do trem, com o objetivo de deixar um caminho na frente do trem, para que este prossiga. Eu não sei se você está familiarizado com a imagem deste desenho em particular que tenho em mente: traçar um caminho à sua frente, onde não há caminhos, é um gigantesco salto de fé. Você tem que primeiro acreditar que há algo à sua frente, então você tem que fazer seu melhor para realmente atingir esse ponto em particular onde se diz, estou tentando atingir o outro extremo da criatividade porque não imagino coisa melhor para se fazer. Então, decidirei que toda humanidade alcançou o extremo da criatividade só porque me rendi a isso. Essa é uma atitude muito covarde e derrotista. Se apenas mais artistas pudessem agarrar o meio pelos chifres do modo que Jack Kirby fez e decidissem que eles vão ajustar suas mentes para alcançar o final das idéias e ver se há algumas mais por lá. Minha posição básica é que idéias são infinitas, ilimitadas, mas só depende de estarmos preparados para fazer o trabalho para que elas se realizem. Sempre que você ouve criadores que falam sobre alguma falência ou fracasso do meio ou em qualquer gênero particular, eles estão falando principalmente sobre as falhas e fraquezas da própria criatividade deles. Você não pode culpar o meio: Acho que não haverá muitas idéias de super-herói. Eu imagino que nós aproveitamos todas elas. Isso me faz lembrar dos gregos antigos quando eles colocaram os mitos em primeiro lugar. O mundo das idéias é inesgotável e infinito. Você só tem que achá-las, o que uma enorme quantidades de pessoas não está preparada para fazer. Eles preferiram deixar alguém como Jack Kirby fazer todo o trabalho duro e árduo; explorando e escavando uma indústria durante trinta ou quarenta anos e então as pepitas que ele lançava à superfície eram achadas e eles colocavam um novo marco na mina. Eles não queriam fazer o trabalho duro. Esta não é uma condenação que vale à toda indústria. Eu acho justo dizer que há várias pessoas na indústria que estão muito felizes em trabalhar com coisas que já foram estabelecidas, em lugar de tentar desenvolver os seus músculos criativos e fazer alguns de seus trabalhos independentes. Mas tenho certeza de que esse é meu próprio e particular sentimento.


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