II
Gostaria de poder escrever tudo o que tenho em mente, mas sinto-me
limitado no pequeno número de palavras. Não existem palavras que exprimam
aquilo que penso, que sinto, que desejaria transmitir. Procuro as palavras mais
expressivas, evito os lugares-comuns... nem ao menos sei escrever.
Não quero que esta mensagem seja a última, mas, como tu mesma já
disseste, o início de uma corrente, a que várias seguirão. Tampouco quero que
seja lida levianamente... é tão difícil, para mim, escrevê-la!
Pouco tempo é passado, bem sei, mas a saudade é grande, as lembranças
muitas dos muitos momentos em que juntos estivemos. A distância que nos separa
é grande, o tempo que nos separará maior ainda; mas a amizade que nos une será
muito maior e, além dos limites do espaço e do tempo, juntos estaremos em
pensamento.
Olho para trás e vejo os tempos passados, em que juntos estivemos. Quão
rápido o tempo passa! Foram poucos meses... Como foi curto esse tempo, e como
as raízes dessa amizade penetraram tão profundamente em mim. O tempo nos
separará cada vez mais, e a distância criará fronteiras entre nós. Mas, como
a semente em solo fértil, essa amizade que nos une crescerá firme, fixando
profundamente suas raízes.
O tempo nos passa despercebido, e um tempo chegará em que este tempo será
ido. As lembranças de outrora estarão esquecidas, já há muito amareladas
pelo tempo. Esquecer-nos-emos um do outro (para que negar o que é natural?), e,
algum dia, assim espero, nos encontraremos novamente, assim como nos conhecemos
e, como, acredito eu, já nos encontramos várias vezes, antes disso.
E, se algum dia, sozinha, relembrando os tempos passados, as amizades
esquecidas, entre lembranças e recordações dos antigos amigos, te deparares
com esta carta, espero que te lembres deste amigo, já encoberto pela bruma do
tempo e pela névoa do esquecimento, que tentou fazer tudo o possível para te
ajudar, embora muitas vezes possa ter falhado; deste amigo que talvez já tenha
também te esquecido, mas que sempre estará pronto a atender ao primeiro chamado.
E, se tendo o espírito tomado pela tristeza, pela dor, pelo medo, te
sentires só no mundo, procura por ele, porque estará sempre pronto a ouvir-te
e a forçar seja o que for que nele ainda exista para poder te ajudar.
Pode parecer que esta carta seja uma despedida, mas é, antes de tudo, a
certeza de um reencontro, pois, uma vez concluída mais uma etapa desta estrada,
procurarei por ti, onde quer que estejas, e te encontrarei. Prometo, por nossa
amizade, que um dia retornarei.