Caminhos

 

III

 

          Gostava de olhar as estrelas. Toda noite as observava, conversava com elas, fazia delas suas confidentes. Elas o escutavam em silêncio.

          Um dia, entretanto, viu no céu uma constelação que ainda não havia notado. Uma estrela chamou-lhe a atenção em particular; não era a maior, nem a mais brilhante, mas assim mesmo chamou-lhe a atenção. Era pálida, pequena, esverdeada, era a mais bela estrela que já vira. Em todos os anos em que olhara para o céu, jamais se dera conta de sua existência; e, no entanto, ali estava ela, à sua frente, a mais perfeita estrela que ele já vira.

          Seu interesse por ela era diferente daquele que tivera pelas demais. Não sabia por quê, mas se interessou por ela assim que a viu. Já não saía à noite para observar as estrelas, mas somente para vê-la. Para ele já não existia o dia, somente a noite, para poder vê-la. E, mesmo que a noite estivesse nublada, ele sabia que além das nuvens, onde sua vista não alcançava, ela continuava brilhando... e isso o satisfazia.

          Não se deu conta disso, mas aquela pequena estrela pálida, que passaria despercebida em qualquer observação menos detalhada do céu, tornou-se, repentinamente, a coisa mais importante de sua vida. Consultou livros, almanaques, descobriu seu nome, sua localização no céu; sabia o horário exato de sua aparição e do seu ocaso... Mas jamais se perguntou o por quê de tudo isso.

          Só muito tarde se deu conta do que lhe havia acontecido. Aquela pequena estrela pálida e esverdeada se tornara a coisa mais importante de sua vida porque se apaixonara por ela. Não saberia explicar como aquela admiração que sentira ao vê-la pela primeira vez se transformara em paixão; mas não importava.

          De que valeu todo o tempo perdido? De que valeram as noites em claro para poder vê-la? De que valia agora saber seu nome ou seu endereço, se ela jamais saberia o quanto ele a amava? Talvez nem sequer tivesse ouvido as confissões que todas as noites ele lhe fizera... Ela continuava a brilhar indiferente aos seus sentimentos...

          De manhã, o canto dos pássaros anunciava o final da estação. Seria o último dia em que ele a veria aquele ano. Sabia disso e procurou conter a emoção. À noite, ele a viu deitar-se mais cedo que de costume e desaparecer no horizonte... O coração apertou e ele chorou...

          Sabia que um dia a estação voltaria e a traria de volta. A esperança de poder revê-la dava-lhe forças para esperar. Tinha uma dívida com ela e precisava pagar. Já não sentia aquela paixão arrebatadora de tempos atrás, mas sim uma profunda gratidão. Ser-lhe-ia para sempre agradecido, pois foi graças a ela que descobriu que poderia amar.

 

 

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