O Dote das Trevas
Capítulo 3
POÇÕES
“Menina Stone,
Ah menina, como a senhorita faz
falta aqui em casa! Menina, como Mag pode cuidar da casa sem que a menina Stone
ajude Mag com as poções do senhor Stone? Como Mag vai conseguir fazer o almoço
do mestre dela? Me diga, menina, me diga!
E ainda mais agora... Menina
Stone, eu não sei o que faço, seu pai viajou a negócios, e eu estou sozinha
em casa, e a senhorita Sabrine estava aqui, queria pegar seus exercícios, mas
agora... Ah menina, agora não dá, ela está mal, menina! Mag precisa de você,
Mag não sabe fazer poção reanimadora, menina, me diga o que fazer com
senhorita Sabrine! Antes que seu pai chegue, menina! Se não levarei uma surra,
e terei que passar meus dedos a ferro! Menina, me ajude!
Mag”
Draco terminou de ler a carta por cima dos ombros de Catherine,
entendendo menos do que quando a carta chegou. Revezou seu olhar entre a carta e
Catherine, que parecia mais pálida do que sempre fora. Ela cambaleou até uma
poltrona, e deixou-se cair nela. Draco se aproximou e perguntou, com cautela na
escolha das palavras.
- Quem é Meg?
- O elfo da casa. Cuida de mim desde pequena – respondeu, olhando para
o nada.
- E quem é Sabrine?
- Minha professora. Me ensinou metade do que sei em magia – desta vez a
resposta fora mais calculada, mas ela ainda estava em estado de choque.
- E o que aconteceu com ela?
- Provavelmente teve uma recaída. Sabrine tem sérios problemas de saúde,
que podem ser controlados. Quando sai do controle, ela pode ficar sem conseguir
respirar, e... e... Eu preciso ir até lá! – exclamou em seguida,
levantando-se da poltrona, decidida.
- Não seja louca, Catherine! – exclamou Draco, colocando uma mão na
frente dele.
- E o que há de mais nisso? – desafiou a garota, encarando-o, seus
olhos parecendo duas fendas, de tão pequenos que ficaram.
- O velho caduco nunca iria te deixar sair do castelo! E eu te garanto
que os professores poderiam desconfiar de alguma coisa.
- Eles entenderiam, têm que entender! – disse com uma raiva reprimida
– Ela é como minha mãe, Malfoy, você não entende? Ela sempre me amparou
quando precisei! – agora sua voz estava embargada, e seus olhos marejavam, mas
sem despejar uma lágrima.
- Não se altere, Catherine – alertou Draco, percebendo olhares
curiosos que se formavam no casal. – Vamos, eu te levo até seu quarto.
Ele pegou na mão de Catherine, e a puxou lentamente até o dormitório
feminino. Pediu para ela se acalmar, e a deitou na cama, cobrindo-a em seguida.
Desejou um boa noite um pouco tímido e fechou a porta, deixando-a sozinha,
pensando no que fazer.
Quando Draco chegou no Salão Comunal, na manhã seguinte, encontrou uma
determinada Catherine ao canto da sala, com um olhar gélido e um punhado de
ingredientes nas mãos, caminhando até uma cortina. Ele apressou-se em alcançar
a garota, antes de ela se esconder.
- Catherine!- chamou ele – Espere, Catherine! - Draco puxou o braço
dela, fazendo dois frascos se espatifarem no chão.
- Malfoy! – exclamou em reprovação – Olhe o que fez! Esses
ingredientes foram difíceis de achar! Tive que acabar com meu estoque
particular!
- Que meda! – zombou o garoto, enfrentando Catherine.
- Não ouse a zombar de mim, Draco Malfoy – alertou, com uma voz suave
e letal.
Ignorou o garoto e entrou em um espaço pequeno, um vão entre a janela e
a cortina, onde borbulhava uma poção verde-azulado. Draco seguiu-a, curioso, e
não conseguiu refrear a pergunta que estava o incomodando.
- Catherine, o que está fazendo?
- Uma poção, Malfoy – respondeu secamente. – Vou enviá-la para Mag,
para ela dar a Sabrine. É o mínimo que posso fazer.
- E como vai enviar?
Catherine não respondeu. Preferiu dar um agudo assobio com auxílio dos
dedos, que fez Draco tampar os ouvidos. Pouco tempo depois, uma coruja
marrom-acizentada se aproximou, pousando ao lado da garota. Ela acariciou o bico
da coruja e fez um sinal para Draco, como se quisesse que observasse melhor a
coruja.
- Snoff cuidará disso.
- Snoff? – repetiu Draco – E isso é nome de coruja?
- Claro que é. Ela é especial – respondeu em tom definitivo, voltando
sua atenção para a poção.
- Acho melhor você se apressar. Daqui a pouco acaba o horário do café,
e temos as aulas em seguida – avisou, a muito contragosto, já que fora
completamente ignorado e tratado com indiferença, coisa que ele não suportava.
- Eu sei Malfoy, não precisa ser meu relógio – retrucou impaciente,
jogando uma gosma cinza no caldeirão.
- Me chame de Draco – pediu ele, com os dentes cerrados. – Se me
chama de Malfoy dá a entender que quer distância – silêncio da parte dela.
– Quem cala consente, é isso aí.
Fez uma pausa, esperando a reação de Catherine, mas ela nada fez.
Percebeu que a garota tinha muito auto-controle, e na noite anterior, pôde
perceber que mesmo quando seus sentimentos se exaltam, ainda são mais
controlados que uma pessoa comum. Decidiu então, dar uma última alfinetada.
- Catherine, Cat, não sei se foi avisada, mas nossos pais têm várias
relações comerciais, e eles querem que nos ajudemos.
- Eu sei disso, Draco – suspirou a garota, dando-se por vencida. – Me
desculpe, mas quando quer, você realmente sabe ser irritante – sua voz agora
era calma, quase no meio termo entre gélida e calorosa.
- Obrigado por me chamar de Draco, assim eu prefiro – disse todo
pomposo. – Espero que não se atrase, teremos poções após o café.
- Obrigada, não irei.
Draco fez um aceno com a cabeça, e saiu do Salão Comunal, chamando
Crabbe e Goyle com um sinal dos dedos. Catherine ficou quase o café inteiro
fazendo a poção e, assim que acabou, mandou sua coruja entregar o pacote com
urgência.
Os dois se encontraram no corredor, Catherine caminhando com pressa, e
Draco calmamente, enquanto acabava de comer um sapo de chocolate.
- Você conseguiu chegar na hora Catherine, parabéns! – disse Draco,
se colocando do lado da garota – Conseguiu acabar tudo?
- Consegui, Draco. Obrigada pela preocupação – disse Catherine
sinceramente.
- Mas essa Sabrine... acho que já ouvi falar nesse nome n... – começou
Draco, mas Catherine colocou o braço na frente da barriga dele, fazendo-o
engasgar – O que foi? – perguntou bravo, massageando sua barriga.
A expressão no rosto de Catherine era de cautela, e seus olhos
procuravam algum culpado para a situação. Deu uma rápida vistoria e explicou:
- Os grifinórios estavam ouvindo a conversa, às escondidas. Tenha mais
cuidado com o que diz – seu tom de voz era de aviso, mas não deixava de ser
um pouco ríspido.
- Você tem uma percepção enorme! – observou Draco espantado – Eu
nunca perceberia que Potter e seus amiguinhos fedorentos estariam escutando a
conversa.
- Aposto o número de segredos que já deixou escapar – disse em tom de
reprovação. – Mas vamos logo, quero pegar um bom lugar para essa aula, e ver
o que te agrada tanto nesta matéria.
Os dois seguiram até as masmorras, que a cada dia pareciam mais frias,
mas não para Draco, que já se acostumara com o local. Ele e Catherine se
sentaram em uma das primeiras carteiras, com Crabbe e Goyle logo atrás.
Não demorou muito para o restante dos alunos entrarem, incluindo Harry,
Rony e Hermione. Harry fazia questão de se sentar perto de Catherine, já que não
tivera chance de conversar com ela desde o incidente no corredor. Ele e Rony
sentaram-se atrás de Crabbe e Goyle, e Hemione se sentou atrás deles, com
Neville como par.
O professor Snape chegou em seguida. Estava com suas típicas vestes
negras e seu sorriso irônico, que irritava a qualquer um. Demorou um segundo
observando a classe, para depois fazer a chamada. Ela correu normalmente até
Snape chamar o nome de Catherine. Demorou-se uns segundos olhando para a garota
com o canto dos olhos, antes de continuar a chamada. Isto fez com que a garota
se mexesse desconfortável em sua carteira.
- O que foi? – perguntou Draco com o canto da boca – Parece estar com
calafrios.
- Snape – respondeu com a voz fraca. – Você diz que não, mas volto
a repetir que ele tem algo contra mim – murmurou. – Sinto-me estranha quando
ele me olha.
- Eu acho que é paranóia sua, mas veremos no decorrer da aula – disse
despreocupado, achando engraçada a implicância que ela tinha para com o
professor.
Após a chamada, a sala já estava uma bagunça. Enquanto arrumava seus
frascos de ingredientes, Neville deixou um cair, e este quebrou bem em cima de
Hermione, que teve suas vestes queimadas. Grifinória perdeu trinta pontos por
isso – quinze de Neville e quinze de Hermione, por começar a gritar e lançar
um jato d’água sobre suas vestes, molhando dois caldeirões – e Draco não
agüentava de felicidade.
- Você verá, Cat, essa aula será demais! Grifinória perderá uns cinqüenta
pontos, no mínimo – comentou com um sorrisinho de prazer.
Catherine, porém, não deu muita importância ao comentário. Ficou
vendo o jeito com que Snape comandava a aula: amedrontando e ameaçando os
alunos.
- Hoje faremos a poção em duplas, e devo avisar que estas duplas valerão
por dois meses inteiros, sem mudanças e nem reclamações – avisou o mestre,
olhando para os alunos com sarcasmo. – E é claro – completou, vendo que
muitos se viraram para os amigos -, eu escolherei as duplas.
- Só espero que ele não me coloque com o Potter – disse Draco
baixinho, fazendo Catherine rir, mas apenas um riso pequeno.
- Potter e Malfoy – começou o professor, com a voz bem letal.
- Ah não! Não o Potter, de novo! – resmungou Draco, antes de se
sentar com o parceiro.
- Weasley e
Parkinson.
- Ah não! Aquela garota é um saco! – reclamou
Rony, fazendo quase toda a sala ouvir.
- Granger e Stone.
- Ao menos posso descobrir mais sobre essa garota
– disse Hermione para si mesma, se aproximando de Catherine com um sorriso
falso. – Espero que seja boa em Poções, não quero perder nota por estar
fazendo as tarefas com algum companheiro.
- Não se preocupe, srta. Granger, não irei atrapalhar em nada –
respondeu Catherine polidamente, como se realmente não se importasse.
- Longbotton e Goyle.
- Não acredito! – lamentou Neville – Não
conseguirei mais que 3 nesse trabalho!
Depois o professor falou as outras duplas, com muitos protestos da parte
grifinória, e alguns da sonserina também. As duplas se juntaram, e em seguida
Snape disse qual seria a tarefa.
- Hoje será apenas uma revisão de coisas que já aprenderam, mas nunca
puseram na prática. Farão uma poção reanimadora – muitos alunos
lamentaram, e outros, como Harry e Rony, já queriam discutir com o professor.
– Têm que tomar muito cuidado, já que qualquer erro de milímetros pode ser
fatal. Podem começar.
- Espero que saiba fazer esse tipo de poção, Potter – provocou Draco,
com a voz arrastada, e mostrando-se superior.
- Engraçado, Malfoy – comentou Harry despreocupado -, mas quando você
está com sua nova amiguinha, você não fica arrastando a voz.
- É que ela é uma garota bonita, muito bonita, tem um bom papo, e ainda
mais, não tem nenhuma cicatriz horrorosa na testa que fica exibindo para onde
for – respondeu Draco, não se abalando nem um pouco com o comentário.
- Ora, seu... – disse entre dentes, apontando a varinha para Draco.
- O que pensa que vai fazer, Potter? Me tacar um feitiço? – provocou o
sonserino, sarcástico – Acho que isso lhe renderia uma bela detenção, além
de uns pontinhos a menos...
Draco nem terminou de falar. Harry lançara um expelliarmus direto
no estômago do rival, e ele voou quase que a sala toda, até bater no caldeirão
de Neville, derramando poção para todos os lados. Crabbe e Goyle foram ajudá-lo
a se levantar, enquanto Rony ia parabenizar Harry pelo feito. Mas a felicidade
grifinória não durou muito tempo, pois logo Snape estava atrás de Harry,
cochichando com sua voz mais ameaçadora.
- Ora, ora, ora... O que temos aqui... Um Potter e um Weasley que querem
arranjar encrenca, não é? Se procuram encrenca, garotos, encontraram. Tiro
vinte pontos de Grifinória por cabeça, e os dois ficarão em detenção –
sua voz era suave, mas ainda sim letal.
- Isso não é justo! – protestou Rony, mas o professor o fez se calar
com um gesto.
- Se quiser reclamar, Weasley, o faça quando tiver razão.
Depois de Draco se levantar, o professor mandou os alunos continuarem a
preparar a poção. Hermione procurava em seu livro os ingredientes, enquanto
Catherine observava a confusão, balançando a cabeça negativamente. Quando
voltou sua atenção à poção, pegou um frasco com um líquido amarelo
borbulhante e despejou no caldeirão, fazendo Hermione gritar.
- O que pensa que está fazendo? Ainda não achei como se deve fazer.
- Desculpe srta. Granger, mas esse tipo de poção eu já sei de cor, não
preciso de uma receita boba – respondeu Catherine, pegando um copo d’água e
despejando também, fazendo Hermione ficar púrpura de raiva.
- Então faça como quiser! Quero ver se vai estar errada! – desafiou a
grifinória, cruzando os braços, furiosa.
- Veremos então – concordou Catherine, despreocupada. – Mas a
senhorita terá que morder a língua, pois aposto minha varinha que está certa.
Hemione lançou um olhar de “Eu duvido muito” para a sonserina, e
ficou de braços cruzados, enquanto observava a companheira fazer a poção.
“Essa garota tem uma aura me mistério a envolvendo, mas eu irei descobrir.
Ah, se irei!” – pensava Hermione, se remoendo de inveja – “Ela não é tão
intragável como Malfoy, nem tão autoritária quanto Snape, mas se encaixa
perfeitamente no perfil sonserino: arrogante e querendo mostrar sua grandeza.
Aposto que tem algo mais nessa amizade com Malfoy...”
No final da aula, o professor Snape foi checar como estavam as poções.
A de Harry e Draco estava boa, embora de uma cor diferente – devido às
discussões que os dois tiveram no preparo da mesma -; a de Rony e Pansy estava
muito rala, e eles perderam nota por isso; mas a de Catherine e Hermione estava
perfeita, exatamente da cor e consistência que deveria ter: um bege escuro, um
pouco mais grossa que a água.
- Parabéns senhoritas – disse Snape a contragosto. – Sua poção está
ótima, acho que conseguiram o segundo melhor recorde dessa. Vou dar... hum...
dez pontos para Sonserina.
- E Grifinória, professor? – perguntou Parvati, achando injusto só
Sonserina ganhar pontos.
- Não devia dar nada, mas dou apenas cinco pontos, porque a srta.
Sabe-Quase-Tudo Granger não ajudou em praticamente nada – respondeu autoritáio.
- Viu senhorita? – perguntou Catherine, com um sorriso de triunfo – A
poção estava correta, não havia motivo para se exaltar! – e deu um aceno
para a garota, enquanto se dirigia à porta, com Draco Malfoy logo a alcançando,
fazendo Hermione soltar fumaça pela cabeça, de tanta humilhação.
- Mione, o que foi? – perguntou Rony, vendo a cara mordaz da amiga.
- Aquela Stone – resmungou Hermione. – Ela me paga!
- O que ela fez? – perguntou Harry, se aproximando à simples menção
do nome Stone.
- Depois eu conto Harry, depois...
- Cat, você devia ter visto a cara da Granger com o que você disse! –
comentou Draco, não conseguindo frear um riso ao lembrar da cara de Hermione.
- Ela mereceu, Draco – respondeu Catherine com falsa simplicidade. –
E você também esteve bem contra Harry Potter, e não recebeu nada, nem um
ponto a menos.
- Snape me adora. Nunca tiraria um ponto sequer meu. E além do mais ele
é meu padrinho – disse Draco se vangloriando.
- Padrinho? – perguntou Catherine, desta vez realmente surpresa –
Nunca soube dessa...
- É verdade. É claro que ele é ausente e tudo mais, mas é muito bom
na hora de me proteger.
- Certo Draco, já entendi – disse, já começando a entender o que ele
queria dizer. – Agora vamos, temos Herbologia, e não estou com vontade
daquela Sprout nos dar bronca