O Dote das Trevas

Capítulo 4
ATRÁS DA PORTA

“Cat,

Como vai? Como está indo em Hogwarts? Espero que esteja gostando, e que tenha caído em uma boa casa, embora eu já desconfie onde caiu.

Queria lhe agradecer imensamente por ter mandado aquela poção. Mag estava tendo um ataque. Sua poção estava correta como sempre, e me recuperei rapidamente. Sorte que teve uma boa instrução em poções, embora seu pai reprove imensamente isto, prefere a parte de feitiços. Mas isso não vem ao caso.

Estou sentindo sua falta, principalmente do tempo em que passávamos estudando. Espero que esteja aprendendo bem e que não menospreze as matérias que menos sabe, pois todas são importantes.

Você deve estar preocupada comigo, eu sei. Me sinto melhor, embora um pouco tonta às vezes. Mas vou me recuperar, e irei no médico assim que possível.

Catherine, fiquei sabendo que está de fogo com Draco Malfoy... olhe lá garota, você sabe muito bem o feitio dos Malfoy... veja no que está se metendo.

Me despeço por aqui. Assim que tiver alguma novidade, mande me escrever. Snoff saberá me encontrar.

De sua sempre amiga,
Sabrine”

 

         Catherine relia a carta que recebera, dois dias depois de ter enviado a poção para Mag. Estava deitada em sua cama de colunas, à noite, enquanto esperava o sono vir. De seus olhos correram duas lágrimas solitárias, que ela logo tratou de limpar. Relembrava de Sabrine, e tudo o que fez por ela, em todos os momentos difíceis, lá estava Sabrine para a ajudar.

         Pensou em voltar para casa, mas tinha certeza de que não seria o certo a se fazer. Primeiro que seu pai a mataria, e segundo que não queria seguir a ferro o que devia. Levantou-se da cama, e se sentou na janela, deixando os pés caírem para fora do castelo. Sentiu uma brisa fria lhe bater no rosto, e fechou os olhos. Lembrou-se de uma doce melodia que Sabrine lhe ensinara e começou a cantarolar, baixinho. A letra dizia alguma coisa sobre liberdade, e sobre ser ela mesma.

         Ficou entretida, cantando enquanto a brisa lhe batia em todo o corpo, fazendo-o tremer com o frio. Usava somente uma camisola preta, que delineava suas curvas, mas a deixava exposta ao frio.

         - Sua voz é muito bonita – comentou uma voz masculina, parada às sombras do quarto, com os braços cruzados, somente observando a garota.

         - Oh! – exclamou, ruborizando até a raiz dos cabelos. Correu para se enrolar num lençol, e conseguiu reconhecer a pessoa – Você me assustou, não faça mais isso.

         - Mas eu falo sério – disse se aproximando, saindo das sombras. Era Draco. – Sua voz é muito bonita, parece estar em harmonia com o ambiente.

         - Obrigada, mas não precisa exagerar – disse vermelha, mas se recuperando do susto.

         - Está sem sono?

         - Sim, estava lendo uma carta de Sabrine e vim apreciar a noite, esta lua cheia me convidou a cantar.

         - Você canta? – perguntou interessado, se sentando à beira da cama – Você é afinada, parece que canta desde pequena.

         - Na verdade sim – concordou, sentando-se ao lado de Draco. – No começo era obrigada por meu pai, mas com o tempo comecei a apreciar, e é um dos únicos momentos em que me sinto livre.

         - Entendo.

         Os dois ficaram em silêncio, olhando encabulados para o chão, ou para as paredes. Sentiam-se desconfortáveis, e não conseguiam iniciar um novo assunto. Quando tentavam, ambos começavam ao mesmo tempo, e então paravam.

         - Você também perdeu o sono? – arriscou Catherine, tentando começar algum assunto.

         - Na realidade, sim. Recebi uma carta de meu pai, parece que o Ministério não está fazendo nada para combater os ataques de Voldemort – respondeu Draco, escondendo alguma coisa.

         - E isso é bom? – perguntou insegura.

         - Não sei. Você acha? – perguntou de volta, virando seu rosto para olhá-la nos olhos.

         - Não sei o que pensar – respondeu sem graça.

         Ficaram em silêncio novamente. Catherine estava corada, e tentava evitar olhar para Draco, que não parava de olhar para ela, de um jeito estranho.

         - Percebeu que temos muito em comum? – perguntou Draco.

         - O quê? – perguntou Catherine surpresa, levantando o rosto.

         Deparou-se então com Draco a olhando de um jeito diferente, aproximando seu rosto ao dela, lentamente. Ela ficou sem reação no momento, tentando entender o que estava prestes a acontecer. Quando os lábios dos dois estavam prestes a se tocar, Catherine virou o rosto, assustada, e respirando rápido. Levantou-se depressa, e Draco a olhou, confuso.

         - O que foi?

         - Draco... não queira confundir as coisas... não misture – disse ofegante.

         - O que quer dizer?

         - Oh Draco! – exclamou, tentando raciocinar melhor – Somos amigos, e por enquanto nada mais que amigos. Acho que nossos pais não falaram nada em compromisso.

         - Certo Cat, não precisa se ofender – disse Draco, em movimento defensivo. – Foi só atração do momento, garanto que não irá se repetir!

         - Tente me entender, Draco – pediu Catherine, deixando de lado seu jeito frio. – Ainda estou me acostumando a essa vida, dê tempo ao tempo.

         - Eu entendi Cat, e peço desculpas – repetiu Draco.

         - Tudo bem – disse, depois de um tempo em silêncio.

         Catherine ficou em silêncio, pensativa com o que quase aconteceu entre os dois. Draco esperava uma reação da garota, e vendo que ela não faria nada, tomou uma outra iniciativa.

         - Esqueça isso, Cat – começou, segurando na mão dela, e assustando-a. – Vamos dar uma volta pelo jardim, ajuda a refrescar a cabeça.

         - Mas Draco! Não podemos sair do dormitório a essa hora da noite!

         - Venha, não há problema nisso – disse despreocupado. – Ninguém fica acordado vigiando alunos – e começou a puxar Catherine, que recuou.

         - Espere! Não vou sair sem o robe – avisou Catherine, franzindo a sobrancelha. Foi até seu malão, pegou um robe preto, e o vestiu.

         Então os dois puderam sair dos dormitórios, evitando fazer barulho para não acordar ninguém. Foram pelo caminho das masmorras, que saía em um local escondido do jardim, próximo ao campo de quadribol. Passaram por duas masmorras sem nenhum problema, mas quando passaram pela terceira, perceberam que a porta estava entreaberta, e escutaram vozes vindo de dentro dela.

         - Faça silêncio, vamos escutar – sibilou Catherine, movendo somente os lábios.

         Draco fez que sim com a cabeça. Ambos se encostaram próximos à porta, de um jeito que podiam ouvir o que acontecia lá dentro.

         - Lembra-se do nosso grupo na época de escola? Éramos imbatíveis, talvez até melhor que os marotos – comentou uma voz femenina, quase em tom de desafio.

         - Parece a professora Starfell – sussurrou Draco, e Catherine concordou.

         - Não me lembre do passado, Natalia. Já não me basta o presente – respondeu outra voz, desta vez masculina, e que parecia muito emburrada com a conversa.

         - Com certeza é o professor Snape – afirmou Draco, olhando para Catherine, que somente o mandou continuar escutando.

         - Não seja tão severo consigo mesmo, querido – disse Natalia Starfeel em tom de riso. – Você gostava daqueles tempos... Éramos eu, você, Lúcio e Richard.

         - Richard? Quem é Richard? – perguntou Draco curioso.

         - Quieto! – repreendeu Catherine, parecendo estranhamente distante.

         - Você e Richard eram os piores. Sempre querendo como alvo os Lufa-Lufas – comentou Snape em um misto de ironia e amargura.

         - Como se você e Lúcio não fossem – retrucou Starfeel. – Sempre com aqueles grifinórios na cabeça! Só pensavam neles!

         - Você realmente não entende nossos motivos – disse Snape seriamente.

         - Há! – zombou a outra, quase rindo, o que somente irritava mais o professor.

         - Com certeza não veio aqui para relembrar o passado. Diga logo o que quer – cortou Snape, não sentindo-se nem um pouco à vontade com a conversa.

         - Na realidade queria comentar algumas coisas... Percebeu que quase todos os Sonserinos da nossa turma tiveram filhos? Grabbe, Goyle, Narcisa, Lúcio... Até Richard, que achei que ficaria solteiro para sempre, casou e teve Catherine, que eu nem sonhava que viria justo para Hogwarts! Muita imprudência dele, não acha?

         - Não se meta na vida dos outros, se não quiser que se metam na sua – respondeu letalmente, cada vez mais frio com o rumo que a conversa tomava.

         - Mas é verdade! E mais ironia ainda é que ela se dê tão bem com o filho de Lúcio, Draco! Até parece que os dois fazem parte dos negócios deles! – continuou argumentando, insatisfeita com somente aquelas respostas do colega.

         - De Lúcio posso te garantir que não, mas já Richard eu não sei... – resmungou Snape.

         - Ah é! Me esqueci! Você nunca gostou muito de Richard, não é? Principalmente quando comecei a namorá-lo... Você parecia uma pilha toda vez que nos via! – alfinetou Starfeel.

         - Já chega, Starfeel – disse, batendo a mão na mesa. – Se veio para me importunar com o passado, não perca seu tempo, pois já fiz de tudo para esquecer qualquer lembrança do passado!

         - Só quero comentar mais duas coisas... Lembra-se quando Richard soube que teria uma menina? Quis que a mulher abortasse, só porque não continuaria com o nome da família... E agora fica a mandando para Hogwarts... Parece-me que ele mudou muito!

         - Cat, dessa eu não sabia! – exclamou Draco, sentindo pena da garota.

         - Fique quieto – respondeu Catherine impassível, seus olhos ficando mais frios, olhando fixamente para as sombras na sala.

         - Todos mudamos, ou você esperava que continuássemos adolescentes de 16 anos? – perguntou Snape friamente – A vida, junto com suas lições, fez todos mudarem.

         Por um momento a professora ficou sem resposta, e Snape aproveitou o momento para acabar de vez com o assunto.

         - Se não me importa preciso me retirar, e você deveria ir para sua sala.

         Draco olhou para Catherine, receoso. Ela fez um gesto com a mão, indicando para saírem dali o mais rápido possível. Começaram andando rápido, mas vendo que a porta se abria totalmente, aumentaram o passo, chegando a correr. Severo Snape notou que alguém escutara a conversa dos dois, e ficou possesso.

         - Viu o que fez?! – ralhou com a colega – Alguém escutou tudo! E se foi um grinfinório... Nunca mais dirija a palavra à minha pessoa! – completou, aumentando a voz e fechando a porta com estrépito.

         Natalia Starfeel ainda deu um sorrisinho vitorioso antes de se retirar das masmorras.

 

         Draco e Catherine correram o mais rápido que conseguiram, e chegaram nos jardins em questão de minutos. Catherine ofegava levemente, e se agachou na grama para recuperar o ar. Draco se cansou também, mas já conseguira regular a respiração, e foi ajudar a amiga.

         - Estou bem, Draco. Não se preocupe – disse Catherine, colocando sua mão como obstáculo para ele não se aproximar.

         - Tem certeza? Você parece mal – observou Draco, preocupado.

         - Já disse que estou bem – disse friamente, se levantando com um pouco de dificuldade.

         - Cat, é verdade o que a professora disse? Seu pai fez isso mesmo?

         - Não vamos falar nisso, ok? – disse, sem mostrar nenhum sentimento.

         - Você não sente nada por isso? É indiferente? – perguntou, abismado.

         - Você não me conhece nada, Malfoy – respondeu em reprovação. – Aprendi a lidar com frieza qualquer situação, e acabou se tornando parte da minha personalidade. Não questione e não volte a tocar nesse assunto.

         Dizendo isso, Catherine levantou-se, e começou a caminhar de volta ao castelo, sem esperar por Draco, nem ouvir os pedidos de desculpas dele. Inconformado, correu atrás da garota, e segurou-a pelo braço, fazendo-a parar.

         - O que é? – perguntou olhando para o garoto, aborrecida e com voz letal.

         - Me desculpe, só achei que era muita frieza para uma pessoa, achei isso quase anormal – disse Draco sinceramente.

         - Se você tivesse tido ao menos um décimo da aprendizagem que eu tive, saberia ao menos controlar seus sentimentos – respondeu ferozmente, tentando se livrar da mão dele.

         Draco não respondeu. Simplesmente a beijou, mas não um beijo delicado, somente com desejo. Catherine ficou assustada, e empurrou Draco com força, fazendo-o cair na grama. Ela pegou sua varinha e apontou para Draco, impetuosamente.

         - Ouse a me beijar novamente e te lanço uma azaração – ameaçou, guardando a varinha nas vestes e voltando para o castelo, desta vez sem Draco a seguir. Antes de adentrar na passem, ouviu o outro gritar:

         - Não pense que ficará brava comigo por muito tempo! Sua amizade ainda será minha!

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