O Dote das Trevas

Capítulo 5
DOR E DÚVIDA

         Demorou pouco mais de uma semana para Catherine perdoar Draco, e os dois continuaram a se falar como se nada tivesse acontecido, embora Draco ainda lembrasse do que ouvira naquela noite. Desde então, começou a prestar mais atenção aos movimentos dos professores Snape e Starfeel, ficando com um pé atrás quando a professora.

         - Draco, foi marcada a primeira partida de quadribol da temporada – informou Catherine, em certo almoço. – Grifinória contra Lufa-Lufa.

         - Será fácil. Os grifinórios bestas vencerão dos burros, mas irão perder para nós e para os metidos a espertos. Este ano a taça será nossa – disse despreocupado.

         - Potter parece estar mais treinado esse ano.

         - Besteira! – comentou Draco rindo – É só fachada, verá como eu venço ele.

         Catherine deu de ombros. Descobriu que era inútil discutir com Draco, já que ambos gênios difíceis se chocariam. Continuou a comer seu almoço, escutando Draco discutir com Crabbe e Goyle sobre quadribol.

         Enquanto isso, na mesa da Grifinória, Harry e Rony conversavam sobre os sonserinos.

         - Você viu, Rony? Malfoy e Catherine fizeram as pazes! – comentou Harry inconformado.

         - E você realmente esperava que eles fossem ficar brigados? – perguntou Hermione brava – Eles se merecem, Harry, não há no que ficar observando os dois.

         - Harry, você ainda não tirou a Stone da cabeça, parece que gosta dela – comentou Rony, recebendo um cutucão na barriga de Hermione.

         - Não é nada disso, Rony – Harry apressou-se em responder. – Já disse que vou descobrir por que ela é tão fria e calculista, nem que seja no último dia de aula.

         - Você é muito desligado, Harry! Já não tem provas o suficiente? – Hermione disse, impaciente.

         - Que provas? – perguntou Harry, desafiando a amiga a dizer o que sabia.

         - A primeira, e mais importante: Ela caiu na Sonserina. Depois, vira amiga íntima de Malfoy, e tem as características perfeitinhas, que caem como luva no padrão sonserino. Não vê o óbvio?!

         - Você não quer dizer que... – comentou Rony temeroso, custando a acreditar.

         - Percebi isso desde o começo – disse a garota com superioridade. – E o jeito que ministra as poções, só me faz confirmar as suspeitas.

         - Mione, sinceramente! – exclamou Harry, cansado de toda aquela besteira – Você está é com inveja dela, só por ter uma coisa que você não é a melhor. E desde o começo você ficou encucada com ela!

         Hermione ficou púrpura de raiva, e ficou emburrada com Harry pelo resto do dia.

 

         No começo de outubro aconteceu a partida entre Grifinória e Lufa-Lufa. Grifinória ganhou de lavada, pois desde que Cedrico abandonara o posto de apanhador e capitão, o time ficara desestimulado, e perdeu facilmente.

         Após a partida o tempo pareceu voar. Logo já estavam começando os preparativos para o Dia das Bruxas, e os alunos pareciam mais ansiosos do que nunca.

         A amizade entre Draco e Catherine estava ficando mais forte, mas isso não ajudava Draco a descobrir nada sobre a garota, enquanto ela acabava descobrindo sobre ele sem querer. Eles caminhavam para uma aula dupla de Poções, e Draco resmungava sobre o que seria a aula.

         - Eu não agüento fazer mais uma poção com o Potter! Ele sempre querendo mandar, sendo que é um estúpido e não sabe nada! – resmungava Draco, fechando os punhos com força.

         - Melhor alguém insuportável do que alguém que quer saber sobre seu passado – consolou Catherine, pensando com amargura na curiosidade da grifinória sobre ela, e o cinismo com que perguntava sobre ela, sem nenhuma cerimônia.

         - Se bem que não é novidade quererem saber sobre seu passado. Até mesmo eu não sei quase nada sobre você – alfinetou Draco, esperando uma resposta da garota.

         - E continuará não sabendo se continuar dando essas indiretas. Quando for prudente eu te conto – finalizou Catherine, apressando o passo para a sala.

         Draco a seguiu, não acreditando em como ela conseguia se livrar das perguntas com tanta facilidade. Catherine sentou-se em sua costumeira mesa, e Draco sentou-se atrás dela, querendo ter algum consolo para agüentar Harry Potter.

         Snape resolveu começar a aula antes de muitos alunos chegarem, todos grifinórios. Tirou cinco pontos para cada atraso, e acabou tirando quinze de Harry e Rony, que já começaram a protestar. Hermione sentou-se ao lado de Catherine, e começaram a fazer suas poções.

         O professor ficava andando por entre as mesas dos alunos, ralhando com os que não faziam nada, e provocando aqueles que não sabiam a fórmula correta. Quando passou pela mesa das duas garotas, acabou pegando um pedaço de uma conversa.

         - Me diga, Catherine, você sabe o que significa Morsmordre? – perguntou Hermione, fingindo-se apenas curiosa com alguma questão da matéria.

         Por um instante fugaz, Snape pensou ter visto a garota hesitar, antes de responder, com um pouco de insegurança, quase imperceptível aos olhos menos atentos.

         - Não conheço essa palavra, Srta. Hermione. Você a conhece? – perguntou, parecendo levemente interessada.

         - Não, só queria saber – apressou-se em responder.

         Catherine ficou em estado de alerta, ao mesmo tempo que estranhava o interesse do professor na conversa das duas, e o olhou com o canto do olho. Ele pareceu perceber o olhar, e logo tratou de continuar a vistoria. A garota deu um breve suspiro. Teria que ter o dobro de cuidado com Hermione Granger, que parecia desconfiar dela, e tinha um grande senso de percepção. Também ficou intrigada com Severo Snape, que sempre pareceu a tratar de modo diferente dos outros alunos, menor que grifinórios mas pior que sonserinos. Pensou se poderia ter alguma ligação pela antipatia que pareceu demonstrar para com seu pai.

         A aula demorou a acabar, e cada minuto parecia durar uma eternidade. Quando finalmente acabou, os alunos saíram o mais rápido possível, e ficaram somente Catherine, Draco e alguns sonserinos, que estavam guardando seus ingredientes. Catherine colocou a mochila nas costas, e quando estava prestes a sair da sala junto com Draco, ouviu a voz fria do professor à chamar.

         - Srta. Stone, preciso ter uma palavrinha com a srta. por um minuto – e completou, ao ver Draco se aproximar também. – Não se preocupe, Sr. Malfoy, não farei nada com sua namorada.

         Draco corou furiosamente, e saiu da sala bastante irritado. Snape deu um sorriso irônico antes de Catherine ficar perto de sua mesa.

         - Não pude deixar de notar que a senhorita ficou um tanto desconfortável ao responder à pergunta da Srta. Granger – disse o professor, suave e letalmente.

         - Acho que foi impressão sua – respondeu Catherine no mesmo tom. – E além do mais, os professores não deveriam escutar as conversas dos alunos – completou acidamente.

         - Já vi que lida com as situações de uma maneira parecida com a minha, Srta., com bastante sangue frio e pé no chão – observou o professor, analisando a aluna. – Só tenho que lhe alertar para não fazer isso o tempo todo, as pessoas podem desconfiar de você.

         Catherine sentiu o olhar gelado do professor a encarar brevemente, e sentiu uma forte pontada em seu braço esquerdo, quase fazendo uma careta. Snape pareceu notar isso, e comentou, sarcástico.

         - Meu olhar é tão poderoso para lhe causar dor?

         Ela percebeu que a voz dele tinha saído um pouco diferente do normal, talvez com algum vestígio de dor, e sentiu novamente a pontada em seu braço, desta vez mais forte.

         - Só vou te dar mais uma dica: tente disfarçar o que sabe nas matérias, porque, se não, muito me engano. a Srta. Granger já desconfia de você, só está esperando a prova final.

         Catherine fez um aceno com a cabeça, fingindo concordar e aceitar o conselho, e saiu antes que colocasse sua mão no local dolorido, que não parava de formigar. Apressou-se para encontrar Draco, e só achou no Salão Comunal, voltando do dormitório masculino. Assim que a viu, logo tratou de descobrir o que acontecera.

         - Cat, o que aconteceu? O que o professor queria?

         Catherine não respondeu imediatamente, tentava massagear seu braço esquerdo, tentando aliviar a dor. Draco tirou a mão do local rapidamente, e puxou-a até seu dormitório, que era especial por ele ser monitor.

         - O que pensa que está fazendo? – perguntou Draco em reprovação.

         - Tentando aliviar a dor, para contar o que aconteceu – respondeu Catherine brava, soltando sua mão da de Draco.

         - Nunca mais faça isso na frente dos outros – sibilou Draco, com os dentes cerrados.

         - Por quê? – perguntou, sem entender nada.

         - As pessoas podem pensar que... bem, podem pensar que você é uma...

         - Que mentes limitadas! – exclamou, assim que entendeu a mensagem.

         - Deixe-me ver como está – pediu Draco, esperando ela mostrar o braço.

         - Nunca! – disse Catherine, puxando o braço para longe.

         - Deixe de ser boba, Cat, não vou te machucar, somente te ajudar – disse o outro impaciente, puxando o braço da garota e levantando seu robe.

         Ele se espantou com o que viu. O braço estava bastante vermelho, e podia-se ver uma pinta, que lembrava uma agulha que fora acabada de ser tirada da pele. Catherine também ficou surpresa, já que nunca vira o braço daquele jeito.

         - O que aconteceu para ficar desse jeito? – perguntou Draco pensativo.

         Catherine contou o que aconteceu, desde a pergunta de Hermione. Draco ficou alguns minutos em silêncio, até que começou a dar o diagnóstico.

         - Provavelmente ele sentiu alguma coisa em você, e quando ficaram perto demais, com suas personalidades se chocando, você também sentiu a mesma coisa.

         - Como você sabe disso tudo? – perguntou Catherine parecendo frágil.

         - Meu pai me contou um pouco, mas também já aconteceu comigo, pouco depois de meu braço doer – respondeu dando de ombros. – De fato, não era à toa que você ficava falando que ele te tratava estranhamente, já tinha sentido assim que a viu.

         - Então ele tem um poder enorme! – comentou Catherine, surpresa.

         - Deve ter. Meu pai disse que ele sabia mais feitiços do que um aluno do sétimo ano, e isso quando entrou na escola. Por isso foi cotado a ser seguidor de Voldemort – explicou Draco.

         - Mas e agora, Draco? O que eu faço? – perguntou aflita.

         - Mande uma coruja para sua amiga, ela deve saber o que fazer. Enquanto isso, vou pedir a meu pai um livro que li uma vez, e que pode dizer alguma coisa.

         - Mas Sabrine saberá o que eu posso fazer? – duvidou Catherine, insegura.

         - Não sei, Cat – respondeu Draco sinceramente. – Mas não custa tentar.

         Catherine concordou com a cabeça, e foi para seu dormitório, escrever uma carta para Sabrine, enquanto Draco procurava em seu malão por um pergaminho, para, em seguida, escrever para seu pai.

 

         A carta que teve sua resposta nas mãos dos garotos mais rápida foi a de Catherine. Ela estava animada para ler a resposta de sua amiga, mas ficou paralisada quando viu que a letra era bem diferente da de Sabrine, e muito parecida com a de...

         - Meu pai! – exclamou, segurando a carta com as mãos trêmulas, e correndo ao encontro de Draco, que estava jogando uma partida de xadrez bruxo com Pansy – Draco, venha aqui!

         - O que foi, Cat? – perguntou Draco se levantando.

         - Draquinho, não vá atrás dela para bobagens, termine esse jogo! – pediu Pansy, olhando chorosa para Draco.

         Ele revezou seu olhar entre as duas garotas, que esperavam uma resposta. Pansy tinha cara de quem ia chorar, e Catherine parecia aflita, e com uma informação importante para revelar. Decidiu-se então pela informação.

         - Desculpe, Pansy, mas é importante.

         - Dracooooo! Não é justo me trocar por ela!! – berrou Pansy, ao ver Draco e Catherine correrem para os dormitórios.

 

         - O que aconteceu? – perguntou Draco, ansioso e temeroso.

         - Recebi uma carta, e queria que você lesse junto comigo – disse estendendo o papel.

         Os dois começaram a lerem juntos.

 

“Catherine Stone,

O que pensa que está fazendo? Fica mandando cartas para qualquer um, contando seus problemas e confusões? Garota, se eu estivesse ao seu alcance você teria o que merece.

Não pense que só porque está em Hogwarts que estará livre de mim, garota! Fiquei sabendo que há muita gente de confiança por aí, incluindo o filho de Lúcio! Mas não admito que fique arrastando a asa para qualquer um, Catherine! Não queira causar tumultos, o velho vai logo desconfiar, e preciso de você aí dentro!

E não fique dando muita trela ao Snape, ele é um traidor, e irá pagar por isso. A dor em seu braço é conseqüência de ser bisbilhoteira, e não fazer o que eu mando! Agora agüente a dor, que irá durar algum tempo, principalmente quando ver Snape.

Entre na linha, garota, se não quiser que eu vá até aí para lhe dizer o que merece! E não fique mandando cartas, bloqueei sua coruja para encomendas para essa professora.

    De seu pai em grande desgosto,

        Richard Stone”

 

         Catherine ainda ficou olhando para o pergaminho, mesmo após Draco terminar a leitura. Ele ficou pasmo, e sem entender o motivo de tanta fúria da parte dele. Olhou para Catherine, esperando uma explicação, mas percebeu que seria difícil descobrirem alguma coisa, já que os olhos da garota marejavam.

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