O Dote das Trevas

Capítulo 6
SEGREDOS

         Logo na manhã seguinte à resposta do pai de Catherine, Draco recebeu a resposta de seu pai, e foi correndo avisar a amiga sobre a resposta. Correu até o dormitório feminino, e encontrou-a em sua cama, envolta pelas cortinas verdes.

         - Cat, Cat! Acorde, tenho respostas! – chamava o garoto, sacudindo as cortinas.

         - O que é Draco, não vê que estou dormindo? – resmungou Catherine, ainda sem abrir as cortinas, e com uma voz sonolenta.

         - Meu pai trouxe uma resposta! Acorde logo!

         - Já vou, já vou – bufou a garota, levantando-se bruscamente da cama, e abrindo as cortinas, ao mesmo tempo que colocava seu robe.

         - Posso me sentar aí? – perguntou, receoso.

         - Vá, já me acordou mesmo.

         Draco sentou-se, olhando para a expressão mau-humorada da amiga. Guardou mentalmente para nunca mais acordá-la logo cedo.

 

“Draco,

Realmente, que situação mais complicada. Não sei o que sua amiga fez, mas hoje Richard estava uma pilha, estava tão nervoso que cancelou vários negócios com nossa família e a de Severo. Depois me explique o motivo disso, e espero que seja uma boa justificativa. Perdi muitos galeões nessa brincadeira.

Diga à sua amiga, para tomar cuidado. Severo não era lá tão amigo de Richard, eu é quem balanceava os dois. Severo com certeza desconfia dela, e ela nada pode fazer. Sentirá dor sempre que estiver muito perto dele, a não ser que eles se resolvam, o que acho meio difícil. O recomendável é ela fazer uma massagem com uma poção relaxadora, toda noite. Garanto que ela ou você sabem preparar.

Assim que minha coruja de entregas retornar, mandarei o livro que citou, e outro que é importante você ler. Será difícil que Richard deixe a garota ler, por isso pode ler junto com ela. Você já está bem grandinho para saber qual seu conteúdo, por isso o mandarei.

Mas fique alerta. Severo pode achar que você está com alguma relação com a garota, e pode passar a te tratar diferente. Caso precise de mais conselhos, escreva-me. Só não espere que eu vá responder tão rápido quanto essa.

    Seu pai,

        Lúcio Malfoy”

 

         - De que livro vocês tanto falam? – perguntou Catherine, franzindo uma sobrancelha.

         - Isso eu só posso contar quando ele chegar – respondeu Draco misteriosamente.

         - É, então está mais do que provado que o professor não vai com a minha cara – comentou a garota, com uma expressão infeliz -, muito menos com o meu nome.

         - Não se preocupe, Cat. A massagem irá te aliviar um pouco, não se preocupe.

         Ficaram ainda discutindo os atos do professor Snape por alguns minutos, antes de descerem para o café. Estaria tudo bem se não trombassem com o trio grifinório, no meio do caminho.

         - Olá Catherine, como tem passado? – perguntou Harry, sob olhares de surpresa de Rony e incredulidade de Hermione.

         - Potter, não me encha o saco, pois não acordei de bom humor! – respondeu Catherine rispidamente, puxando Draco para o salão principal.

         - Harry, pare de ficar dando motivo para a Stone te encher, ela não tá nem aí! – avisou Rony, observando os dois virarem um corredor.

         - Rony, não se meta na minha vida – respondeu Harry bravo, caminhando sozinho até o salão principal.

 

         - Cat, você está mesmo mau-humorada hoje? – perguntou Draco, enquanto comiam o café, e Catherine comia uma torrada com feracidade.

         - Não Draco, não está vendo que estou jogando rosas de tanta felicidade? – respondeu Catherine irônica, girando os olhos, enquanto continuava a comer.

         - Não precisa ser tão rude – reclamou Draco, emburrado. – Não esqueça que ajudei no seu problema com o Snape.

         - Eu sei – disse impaciente -, mas não é por isso que não tenho direito de me irritar com você. Além do que, você quem me acordou, pois eu não iria assistir a nenhuma aula matinal.

         - Só porque temos aula com a Starfeel?

         - Não, pois não estou com humor para isso.

         Catherine continuou dando respostas mau-humoradas para Draco, e para qualquer um que quisesse puxar assunto. E a situação não melhorou quando caminhavam para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, onde a professora prometera falar sobre as criaturas das Trevas mais perigosas.

         - Que aula mais emocionante! – comentou Catherine, sem se importar de manter o tom baixo na voz.

         - Sei que a senhorita preferiria uma aula particular sobre quais maldições poderiam ser mais eficazes contra os colegas importunos – disse uma voz bem próxima dela.

         Catherine não respondeu, somente encarou a professora, os olhos faiscando de raiva. A professora pareceu não se importar com o olhar, e voltou para sua mesa, explicando agora sobre os dementadores.

         - Cat, será que poderia ser menos rude? Estou ficando irritado com tanta superioridade – reclamou Draco, quase no finzinho da aula, após Catherine fazer mais um comentário maldoso.

         Ela não respondeu, continuou escrevendo em seu pergaminho, segurando a pena com força. Draco deu um suspiro, exasperado, e começou a copiar o dever que era passado.

         Nas aulas daquele dia, Catherine estava mais séria do que de costume, e evitava responder às perguntas que os outros faziam, para não explodir. Draco respeitou a garota, e passou as aulas com Crabbe e Goyle, que até então estavam esquecidos.

         Na aula conjunta de Trato das Criaturas Mágicas, até os grifinórios notaram o distanciamento da garota.

         - Ei, será que a Catherine brigou com o Malfoy? – perguntou Harry interessado, enquanto conversava com seus amigos.

         - Harry, sua curiosidade com a garota está me irritando! – comentou Rony, desviando o olhar da garota, que estava de braços cruzados próxima à cerca.

         - Agora entende pelo que eu passo, não é? – alfinetou Hermione, vitoriosa.

 

         - Hagrid, o que você pode me contar sobre os dementadores? – perguntou Catherine com a voz passiva, porém fria, ao gigante que arava a terra.

         - Mas por que quer saber sobre isso?

         - Trabalho de DCAT – respondeu dando de ombros.

         - E já perguntou ao seu amiguinho loiro? – sua voz estava um pouco diferente do habitual, registrando que não gostava de Malfoy.

         - Briguei com ele – disse, infeliz.

         - Não fique chateada, ele é um garoto muito bobo, não respeita ninguém.

         - Não, não! O senhor não entendeu! – Catherine apressou-se a responder – Eu que briguei com ele, e não o contrário!

         - Outro motivo para não ficar desse jeito, Stone. Você pode ser sonserina, e eu tenho um grande problema com as pessoas dessa casa, mas acho que seu lugar não deveria ser lá. Por isso não a trato como os outros, mas é claro que não posso ser gentil se está na companhia de Malfoy – essa conversa lembrou a Catherine uma das milhões de lições de moral que já recebera.

         - Eu entendo, Hagrid. Só estou infeliz por ter levado uma bronca de meu pai – disse Catherine, esquecendo por um momento sua frieza.

         - Richard Stone... Sim, sim, conheço seu pai, desde a época de escola – começou, pensativo, enquanto coçava sua barba.

         - Conheceu? – perguntou Catherine, sem esconder seu interesse.

         - Eu era guarda caça naquela época. Um garoto retraído, com um ar de superioridade. Não demorou muito para o chapéu colocá-lo em Sonserina, e logo ele fez amizades. Não as melhores, claro – ele fez uma ligeira careta. – Sempre vivia com Snape, Malfoy e Starfeel, a nova professora. Tinha um dom nato de chefiar o grupo, e ele e Malfoy eram quem escolhiam em quem pregariam as peças.

         - Eles faziam muito isso?

         - Faziam, e até demais da conta. Inúmeras vezes os levei para Dumbledore, por estarem na floresta proibida tarde da noite. O que importava era que ele era um ótimo aluno, bom em diversas matérias, mas detestava Herbologia e Trato das Criaturas Mágicas. As garotas adoravam-no, e nem se importavam por ele ser um sonserino metido e arrogante. Os únicos que não se davam bem com eles eram os marotos. Eles sim, poderiam se igualar. Outro quarteto, imagine as brigas que os dois grupos não arranjavam...

         - E conheceu minha mãe? – Catherine estava ansiosa, e queria ouvir mais.

         - Sua mãe? – Hagrid quis confirmar – Sim, conheci sua mãe, uma gar...

         - Hagrid, os elfos estão em retaguarda, Mafoy chutou um deles! – avisou Harry, chegando rapidamente ao local onde os dois conversavam.

         - E onde eles estão? – perguntou Hagrid preocupado, olhando o jardim à procura dos elfos.

         - Se esconderam dentro de sua cabana, e parece que vão destruir tudo! – o tom de Harry era preocupado, mas não pôde deixar de dar um sorriso ao ver a expressão furiosa no rosto de Catherine.

         O meio-gigante saiu em dispara até sua cabana, com Canino em seus calcanhares, deixando Harry e Catherine sozinhos, próximos um do outro.

         - Interrompi alguma coisa, Catherine?

         - Interrompeu Potter, interrompeu muita coisa! – disse Catherine letalmente, com sua voz saindo em um fio de tanta fúria.

         Antes que o grifinório pudesse responder, ela tirou a varinha das vestes e o ameaçou lançar um feitiço. Abaixou a varinha e saiu caminhando em passos duros, sua capa voando em volta de seu corpo.

         Demorou grande parte da aula para Hagrid convencer os elfos de que Malfoy não era uma pessoa boa e só sabia judiar dos elfos. Eles, por fim, aceitaram, mas a sineta tocou, indicando o fim da aula. Os alunos caminhavam até o castelo aliviados, por irem para uma aula melhor. O único aluno que continuou nos jardins foi Catherine, com uma expressão indefinível no rosto.

         - Hagrid, pode falar sobre minha mãe?

         - Claro que posso – respondeu amigavelmente. – Mas agora tenho que dar aulas, podemos conversar depois do jantar.

         - Depois do jantar não! – exclamou rapidamente, fazendo Hagrid olhá-la assustada – Bem, é que depois do jantar os monitores bloqueiam a saída, para ninguém aprontar com as outras casas.

         - Uma boa atitude, vinda da Sonserina – considerou, sem ao menos perceber que a garota mentira redondamente. – Então pode ser antes do jantar?

         - Após a última aula do dia? – sugeriu Catherine, em tom inocente.

         - Está certo. Pode vir até minha cabana, assim conversaremos com mais privacidade. Agora, apresse-se, está atrasada para a última aula da manhã!

         - É Herbologia, posso demorar – disse Catherine, fazendo pouco caso à matéria.

         - Não pode não, agora vá! – disse Hagrid, afastando-a com as mãos. Ela pôs-se a correr até o castelo, e ele pensou como que ela era parecida com os pais.

 

         Quando a última aula – Feitiços – acabou, Catherine não agüentava de ansiedade, e seguiu o mais rápido que pôde até os jardins, nem ouvindo o chamado de Draco. Quase esbarrou nos alunos do terceiro ano, que acabavam de sair da aula do meio-gigante. Chegou lá meio ofegante, e Hagrid logo ofereceu chá com bolinhos. Ela, como não conhecia os dotes culinários dele, aceitou, já que não almoçara.

         - Como foram suas aulas do dia, Stone? – perguntou gentilmente, enquanto fervia um bule de água.

         - Foram chatas, pois estava sozinha. E pode me chamar de Catherine, não me sinto bem quando chamam pelo nome de meu pai – disse, com uma expressão séria.

         - Tudo bem Catherine. Mas ainda está chateada com Malfoy? – ele já servia uma xícara de chá, junto com alguns bolinhos de chocolate.

         - O problema é que já me acostumei com a presença daquele asno, e já não consigo mais ficar sozinha – Catherine parecia muito brava consigo mesma.

         - Mas não fique assim. Se te importa tanto, faça as pazes com ele na hora do jantar. Ele parece gostar de você.

         - Só gosta porque nossas famílias são amigas – respondeu emburrada.

         - Pode ser – considerou Hagrid, sorrindo amigavelmente -, mas ele também sente sua falta, percebi quando fez a bagunça na aula.

         - Agora não quero saber de Draco, Hagrid, por favor! – exclamou Catherine, um pouco impaciente. Hagrid se surpreendeu por ela ter pedido por favor.

         - Tudo bem, falemos de sua mãe, não é o que você deseja?

         - Sim! – a garota parecia levemente apreensiva.

         - Sua mãe era uma garota muito misteriosa. Logo no primeiro ano, parecia ser diferente de todos os outros alunos, a começar por parecer mais velha que seus companheiros de classe.

         - Qual era o nome dela? – perguntou, ansiosa pelo maior número de informações.

         - Era Serene. Serene Sene. Ninguém nunca conheceu a família dela, o que Dumbledore descobriu foi que ela morava com um parente, uma espécie de tio. O nome dela era um problema, pois muitos achavam que aquele não era o nome verdadeiro dela.

         - Mas como?

         - Não sei, mas os que conviviam com ela achavam isso. Mas bem, ela foi um dos novatos que mais o chapéu demorou para selecionar. Acabou em Corvinal.

         - Minha mãe era Corvinal? – perguntou surpresa. Sempre achou que ela fosse Sonserina.

         - Sim, sim. No começo parecia não ter gostado da casa, mas depois se acostumou. O engraçado era que ela vivia sempre observando os sonserinos, principalmente o quarteto de seu pai. Ela era uma boa pessoa, mas com um passado obscuro.

         - E você chegou a descobrir qual era?

         - Não, ninguém nem sequer desconfiou – Hagrid fez uma pequena pausa. – No sexto ano, seu pai começou a se interessar por ela, seus longos cabelos negros e os olhos misteriosos chamaram a atenção do sonserino, que sempre disputava com Sirius Black as moças do colégio. Sua mãe pareceu não dar nenhuma atenção ao seu pai, mas no sétimo ano os dois começaram a namorar.

         - Minha mãe era bonita?

         - Sim, bastante. Acho que você herdou alguma coisa nesse ponto, mas seus olhos são incontestavelmente de seu pai. Vários alunos lamberiam o chão que ela pisasse, se ao menos ela desse alguma atenção. Correram boatos, no quinto ano, que ela estava interessada em Severo Snape. Achei uma barbaridade, pois ela era muito bonita para ele... Ainda bem que foi tudo desmentido.

         - E eles chegaram a se casar?

         - Ah sim. O casamento aconteceu quase um ano após se formarem em Hogwarts. Uma festa colossal, pela família de seu pai ser muito rica, quase todas as pessoas importantes do mundo bruxo compareceram. Ela parecia feliz, mas ainda havia alguma coisa que a deixava preocupada. Ninguém soube o que era. Alguns meses depois, foi dada a notícia de que ela estaria grávida. O pai parecia radiante.

         - E ela estava mesmo?

         - Estava. Seu pai queria descobrir o mais rápido possível o sexo do bebê, e até a levou em hospitais trouxas para descobrir. Não sei por que, mas quando descobriu passou a tratar diferente a mulher. Isso ainda é um grande mistério, que acho que somente ele sabe.

         - Mas minha mãe quis ter o bebê? – perguntou Catherine, com os olhos marejados.

         - Quis, disse que teria o bebê nem que morresse depois. E infelizmente foi isso que aconteceu... Após o parto, ela só teve tempo de fazer o marido prometer que cuidaria de você, e deu um nome a você. Depois disso, infelizmente... – Hagrid não achou palavras para terminar, ao ver que Catherine chorava silenciosamente – Não fique assim. Onde quer que ela esteja, provavelmente deve estar orgulhosa da filha que tem – completou a abraçando.

         - Eu queria tê-la conhecido – revelou a garota, abraçada ao gigante.

         - E com certeza ela gostaria de ter te criado, isso não há dúvida. Desde esse dia, Richard Stone passou a ser mais frio, a tratar as coisas de modo diferente.

         - Hagrid, obrigada por ter me contado – agradeceu, forçando um sorriso em meio às lágrimas que cismavam em escorrer.

         - Pode me chamar de Rúbeo, querida, e só fiz o que achei certo – disse ternamente, enxugando as lágrimas com seu dedo indicador.

         - Rúbeo, pode manter em segredo nossa conversa? – perguntou, com um olhar suplicante, como se fosse terrível que todos descobrissem.

         - Sem problemas, Catherine. Agora acho melhor lavar o rosto, ou seu amigo pode desconfiar de alguma coisa.

         - Tudo bem – ela concordou, e após lavar o rosto, despediu-se de Hagrid, e voltou à sua postura normal, mas ainda com as palavras que ouvira martelando em sua cabeça.

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