O Dote das Trevas

Capítulo 7
O LIVRO QUE TUDO SABE

         Após a conversa com Hagrid, Catherine foi ao seu dormitório, para guardar o material das aulas do dia, que na pressa de saber sobre sua mãe, acabara esquecendo de guardar. Em seguida desceu até o Salão Principal, mas não sem antes lavar o rosto novamente, por ainda querer chorar um pouquinho. Sentou-se ao lado de Draco, que não fez nenhum comentário.

         Passou-se boa parte do jantar sem nenhum dos dois trocarem uma palavra, mas tudo mudou quando Catherine sentiu um arrepio percorrer seu corpo, e olhar assustada para Draco, com uma indefinível expressão de dor.

         - Cat, o que houve?

         - Você não sente? – perguntou nervosa, com os dentes cerrados, ao mesmo tempo em que apontava para seu braço, com a cabeça.

         - Sim, mas...

         - O que faremos? – os olhos de Catherine marejavam, tamanha dor que sentia.

         - Vamos ir – disse com convicção.

         - Como? Não é possível aparat...

         - Tem um jeito, vamos logo! – Draco também parecia sentir dor, mas era bem menor do que a que Catherine expressava.

         - Snape também está indo...

         - Eu sei, ele sempre vai – concordou, levantando-se rapidamente. – Crabbe, Goyle, Pansy, venham também.

         Os cinco alunos sonserinos levantaram-se, e Catherine observava o professor Snape sair de fininho pela porta dos fundos.

         Na mesa da Grifinória, uma aluna de cabelos castanhos observava a tudo, intrigada. Despediu-se brevemente dos amigos, e seguiu o grupo sonserino cautelosamente.

 

         - Draco, dói muito! – reclamou Catherine, que corria ao lado de Draco.

         - Deve ser algo importante, para ser tão persistente assim – analisou o garoto, aumentando ainda mais a velocidade da corrida.

         - Mas como vamos fazer? Não se pode aparatar nem desaparat... – Catherine começou a falar, mas foi interrompida com um gesto de Draco.

         - Meu pai me disse que, assim que você entrou aqui no castelo, um dos feitiços foi desfeito, e podemos aparatar, mas somente se estivermos em grupos.

         - Realmente? – a garota quis confirmar.

         - Sim. Agora, entre, nesta sala!

         Catherine entrou na sala, seguida de Draco, Crabbe, Goyle, e por último, Pansy, que estava ofegante.

         - Draquinho, não devia correr tanto! – resmungou, massageando os joelhos.

         - É um chamado urgente, precisamos ser rápidos – disse rispidamente. – Agora, todos peguem suas varinhas, e digam Vestus Transformus.

         Todos repetiram a fórmula mágica, e suas vestes escolares transformaram-se em vestes completamente negras, todas com capuzes. Após isso, Draco pediu para todos formarem um círculo, dando-se as mãos. Por último concentraram-se na ardência em seus braços esquerdos, desaparecendo em seguida.

         O que ninguém percebera, era que um aluno observava a tudo aterrorizado, mas com um certo triunfo no olhar.

         - Desmascarei vocês, agora não há como negar isto.

 

         O local era sombrio, quase completamente escuro, a não ser por poucos archotes iluminando a área. Era muito frio ali, e Catherine apertou suas roupas no corpo, quase tremendo de frio. Pararam de caminhar com um gesto do que parecia ser Draco, reconhecido somente pelos seus cabelos louros.

         - O que foi? – perguntou Catherine em voz baixa.

         - Coloquem seus capuzes e suas máscaras, não podemos nos mostrar assim – avisou, fazendo o que ele mesmo sugerira.

         Após esse movimento, era impossível reconhecer quem era quem, e Catherine teria se perdido se Draco não segurasse sua mão levemente, guiando o caminho. Depois de caminhar um pouco, chegaram na entrada de uma grande casa. Várias pessoas encapuzadas estavam em volta de um círculo, com somente uma no meio, que era bem conhecida por todos.

         Antes de se aproximarem mais, Draco apertou a mão de Catherine, murmurando um quase inaudível “vai dar tudo certo”, tentando confortá-la. Ela agradeceu intimamente por isso, pois realmente estava muito nervosa.

         - Agora estamos completos – anunciou uma voz áspera, do homem que estava no centro do círculo. – Achei que não viriam mais – completou, olhando para o quinteto.

         Catherine passou os olhos pelo local. Várias pessoas eram impossíveis de se distinguir, mas outras eram mais fáceis. Viu três homens com capas um pouco diferentes, com o acabamento em um tom verde escuro, quase imperceptível. Deduziu que um deles fosse seu pai, que sempre utilizava vestes naquele modo, quando iam para essas reuniões. Procurou também por Sabrine, mas não conseguiu distingui-la dos outros.

         O homem começou a falar, e logo a atenção de Catherine foi desviada para o que ele dizia. Não conseguia compreender como ele fazia para todos prestarem atenção nele, e como todos o temiam. Continuou ouvindo a tudo silenciosamente.

         - Este ano, todos os meus planos serão realizados, se todos vocês fizerem exatamente o que mando – e lançou olhares para todos. – Este ano, especialmente, temos mais um de nós infiltrado nos maiores lugares do mundo bruxo, que poderão ser essenciais para nossa vitória. Um ataque será planejado, e começará em Hogsmeade. Vocês – e apontou para os cinco alunos -, quando terá uma visita a Hogsmeade?

         - Daqui a duas semanas, milorde – respondeu Draco, já que nenhum outro parecia disposto a falar.

         - Duas semanas, certo? – quis confirmar – Então daqui a duas semanas faremos um ataque a Hogsmeade, no dia exato que os alunos de Hogwarts irão visitá-la – e fez uma pequena pausa, de deixar qualquer um com uma certa apreensão. – Stone, já conseguiu intimidades com Potter?

         - N... mais ou menos, milorde – Catherine quase gaguejou no que falava, mas juntou todas as suas forças e conseguiu dizer com sua voz fria e indiferente. – Tento não dar muito a parecer, mas ele parece caidinho por mim, sempre querendo puxar assunto.

         - Ótimo – assentiu, satisfeito. – Aproxime-se mais dele, e descubra onde ele ficará no momento do ataque.

         - Todos atacarão neste dia? – perguntou uma voz do fundo do círculo, que parecia estranhamente familiar a Catherine.

         - Sim, Snape. Inclusive os mais novos – e demorou seu olhar em Catherine e Draco. – Não quero nenhum ato de covardia, todos deverão atacar com todas suas forças!

         - Sim, milorde – todos concordaram, em um uníssono.

         - Depois passarei novas informações para vocês, que já estão dentro de Hogwarts – avisou, em tom definitivo. – Haverá outra reunião na véspera. Estejam preparados.

         Fez um gesto já conhecido por todos, que indicava o fim da reunião. Os Comensais puderam então aparatar, ou se encontrar com alguém do círculo. Catherine procurava incansavelmente por Sabrine, mas parecia impossível de achá-la. Parou de olhar para os lados quando ouviu uma voz gélida às suas costas, que lhe era muito familiar.

         - Então grande parte do plano está nas mãos de uma criancinha, não é?

         Catherine virou-se bruscamente, não admitindo que a chamassem de criancinha. Nem se importou em estar sem máscara, encarando profundamente o homem, que parecia intimidá-la mesmo mascarado.

         - Espero que não faça nada de errado, milorde ficará desapontado.

         - Voc... – Catherine ia revidar, uma mão em seu ombro a fez parar. O homem que a parara era alto, e por ver Draco ao seu lado, descobriu logo de quem era aquela mão fria.

         - Não pense em responder Severo, garota. Ele pode lançar uma praga em você – até mesmo em um aviso, a voz do homem conseguia ser zombeteira.

         - Não tenho medo de ameaças – respondeu seriamente, encarando agora Lúcio Malfoy.

         - Deveria ter – disse uma terceira voz, que fez Catherine gelar. – Você não faz idéia do que ele pode fazer.

         Ela nem se importou em olhar para o pai, os olhos de Snape cintilavam estranhamente, e ela não conseguiu deixar de sentir um certo receio.

         - Tome cuidado, garota. Há vários olhos olhando você, é melhor não desapontar milorde no dia do ataque, a não ser que queira ter um belo castigo – tornou a dizer o homem, em uma voz letal, ameaçadora, mas sem emoção.

         - Stone, acho que você deveria saber mais sobre o Círculo dos Comensais. Pode começar por um livro muito interessante, que dei a Draco. Se seu pai permitir, é claro – disse Lúcio Malfoy, perguntando ao companheiro com o olhar.

         - Ela pode ler o que quiser, mas não vou me responsabilizar. E nem dar o meu livro – disse friamente, com os braços cruzados.

         - Então pode ler. Garanto que irá repensar o que disse hoje, e se arrepender profundamente.

         Em seguida, os três homens aparataram, deixando ali somente Draco e Catherine. Ela estava pálida, sem reação nenhuma. Detestava quando ficavam humilhando-a, diminuindo-a, e ainda por cima, com seu pai perto. Demorou um pouco para se dirigir a Draco, que somente esperava uma reação da garota.

         - Quando vamos embora daqui, Draco?

         - Assim que você quiser, Cat. Os outros já foram, mas acho que temos poder suficiente para voltarmos – disse Draco, com a voz séria.

         - Então vamos. Não vou conseguir encontrar Sabrine mesmo...

         Os dois juntaram as mãos, e logo desaparataram dali, surgindo na mesma sala, nas masmorras de Hogwarts.

         - Vestus Destransformus – murmurou Catherine, e as vestes de Hogwarts logo apareceram. Draco fez o mesmo, mas um pouco depois da garota.

         - Vamos para o Salão Comunal, lermos os livros? – sugeriu, analisando o estado mental da amiga.

         - Tanto faz.

         Catherine acabou ficando no dormitório masculino para, junto com Draco, ler o livro que ele ganhara do pai. Ficaram envoltos nas cortinas, para ninguém importuná-los.

         - Tem certeza que quer ler, Cat? – perguntou Draco, antes de abrir o livro.

         - Claro, Draco. Depois do que passei na reunião a última coisa que quero é não ler o livro – respondeu rispidamente.

         Draco abriu o livro, que parecia estar em branco. Rapidamente, uma fina teia de aranha pareceu surgir, e palavras começaram a se formar, fazendo-as terem sentido.

“Vejo que têm sangue puro, puríssimo, se me permitem dizer... Digo os dois, pois sei que há mais de uma pessoa lendo este livro, ao mesmo tempo. Normalmente não é permitido, mas devido às condições que isso aconteceu, desta vez passará. Peço que escrevam seus nomes, e a data em que começaram a ler o livro, e a que terminaram. Suas escritas irão desaparecer, para ninguém indesejado descobrir seu conteúdo.”

         - O que acha? – perguntou Draco, analisando o livro.

         - Este livro foi enfeitiçado com a personalidade de alguém, que fica dizendo essas frases. Normalmente, quando não fazemos o que é pedido, eles podem vir se vingar – disse Catherine, alcançando uma pena. – Pode começar, o livro é da sua família.

         Draco escreveu seu nome e data, e em seguida, Catherine o fez. Novas palavras se formaram, no lugar das que foram escritas por ele.

“Este livro pertence à família Malfoy há mais de dez gerações. Os Stone são amigos íntimos dos Malfoy, então não há problema em lê-lo, Srta. Stone. Já estou sabendo da autorização de Lúcio Malfoy. Sei que não estão querendo saber sobre a história da Magia Negra, então pularei essa parte, mas vocês precisam lê-la antes de terminar o livro, só darei essa chance hoje. Então aproveitem.”

         - Que coisa estranha – comentou Draco, vendo as frases desaparecerem lentamente, como tinta penetrando no papel.

         - Ao menos sabe o que queremos saber – consolou Catherine, prestando atenção no que se formara.

“Capítulo VIII – Introdução às Trevas Modernas”

         - Ainda não é o que queremos saber – disse o garoto, franzindo as sobrancelhas para o livro.

         - Ele não iria deixar tão fácil assim, este livro é das Trevas – retrucou a garota, séria.

“O período intitulado moderno nas Trevas deu início com o surgimento de Lord Voldemort, o bruxo mais poderoso da atualidade, e herdeiro de Slytherin. Desde cedo conseguiu vários seguidores, e foi responsável pela morte de grande parte da família herdeira de Griffindor – os Potter. Seus fiéis seguidores são chamados de Comensais da Morte, e a única prova de que alguém é Comensal é uma espécie de tatuagem no braço esquerdo, na forma da Marca Negra. Todos os já registrados até agora serviram como Milorde esperava, menos três, que superaram qualquer expectativa, causando surpresa até no próprio Lord.

Não se sabe o nome certo destes três, pois variam os apelidos que lhes são atribuídos. Quem nunca ouviu falar no Trio das Trevas? Ou o Trio de Voldemort? Provavelmente muitos. Mas uma minoria sabe qual o nome pelo qual nosso mestre prefere chamá-los: O Trio dos Imperdoáveis. Guarde este nome, jovem seguidor, pois ele será bastante falado a partir de agora.

E a grande pergunta é: por que este nome? Por serem perfeitos utilizadores das Maldições Imperdoáveis, arma favorita dos Comensais mais antigos.

Fazem parte do trio as famílias sangue-puro mais antigas e nobres do mundo mágico. Atualmente, é composta por Severo Snape, Lúcio Malfoy e Richard Stone.”

         - Nossos pais fazem parte deste trio! – exclamou Catherine, surpresa.

         - O professor Snape também... – completou Draco, pensativo – Será que foi por isso que meu pai te disse aquilo?

         - Não sei, só tenho certeza que boa coisa não virá a seguir...

         - Cat, está receosa do que vai ler?

         - Claro que sim, Draco! Estou com a terrível impressão que nós faremos parte deste trio mais para frente... – a voz da garota demonstrava sinceridade, mas ao mesmo tempo era um pouco obscura, e intimamente Draco concordou com ela.

         - Então vamos continuar? – perguntou incerto.

         - Sim – Catherine concordou, e logo mais palavras surgiram.

“Estes três Comensais se juntaram a Voldemort na época de estudantes, e desde então só têm feito o que lhes é pedido. Cada um tem um dom especial, mas todos são igualmente fortes em termos gerais, mas há coisas que os destacam.

Severo Snape sempre foi o melhor em duelos de seu ano. Conhecia mais feitiços para duelar do que qualquer aluno mais experiente, e seus golpes tinham precisão enorme. No Trio dos Imperdoáveis, é quem controla a todos com a Maldição Império, por ter um grande poder de persuasão. É quase impossível alguém resistir a esta maldição, tornando-a uma arma poderosa contra seus inimigos. Também é o Mestre das Poções, e pode preparar qualquer fórmula mágica pedida pelo Mestre. Teve um breve fraquejo em abandonar nosso Lord, mas ainda é um grande servo.

Lúcio Malfoy tinha como característica pessoal a habilidade de inventar belas desculpas, e se salvar de todos os problemas. No Trio, sua arma principal é o Avada Kedrava, a maldição da morte. Tem sangue frio espantoso para matar suas vítimas, e seu golpe nunca falhou. Por incrível que pareça, Malfoy gosta de atacar trouxas e sangues-ruins, e seu feitiço é mais forte neste tipo de pessoa, talvez por não ter a defesa de uma pessoa bruxa.

Richard Stone sempre foi o mais impiedoso. Na época de colégio, era um líder nato, que sempre inventava as piores maneiras de torturar os companheiros da escola. Como é de se esperar, sua maldição preferida é a Cruciatus, um método de torturar as pessoas. Seu poder é tão forte que pode até matar. Nunca gostou muito de Avada, pois diz sempre que, se uma pessoa precisa morrer, que morra sofrendo, para pagar por tudo o que fez. É também o de passado mais obscuro, e seu único herdeiro é uma menina, a Srta. Catherine Stone.”

         - Não sabia de nada disso... Você sabia, Cat? – ambos estavam passados com o que leram, e pareciam ter dificuldade de formular pensamentos.

         - Nada... Então é por isso que eles têm vestes diferentes... Reparou na barra das capas? Que estão em verde escuro?

         - Sim, mas achava que era para os mais experientes.

         - Podia ser, mas agora sabemos que é por serem o Trio dos Imperdoáveis... – Catherine parou por um momento, pensando. Depois, completou – Agora as aulas de Snape serão insuportáveis, o que ele suspeitava eu fiz questão de confirmar!

         - Ao menos, não sentirá mais a marca doer.

         - Estou com a leve impressão de que ela doerá mais do que o costume...

         Não demoraram-se muito no assunto, logo se despediram e prepararam-se para dormir, mas sem conseguirem pregar o olho. Pensavam no que seus pais faziam como Comensais, e se eles substituiriam seu pais caso alguma coisa acontecesse.

 

         No Salão Comunal da Grifinória, Harry e Rony jogavam xadrez de bruxo, esperando por Hermione, que desaparecera no meio do jantar e não tinha aparecido novamente. Foram surpreendidos quando ela entrou no Salão, correu até eles e colocou um livrão pesado no meio do tabuleiro, estragando todo o jogo.

         - Mione, o que pensa que está fazendo? – perguntaram, bravos pelo jogo ter sido interrompido.

         - Tenho uma grande informação para vocês – disse misteriosamente, com um sorriso em meio a expressão ofegante.

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