O Dote das Trevas
Capítulo 9
DESCOBERTAS E PREPARATIVOS
Catherine batia insistentemente na porta do dormitório masculino, na
manhã daquela sexta-feira nublada. Parecia não ter ninguém no quarto, pois não
abriam a porta de maneira alguma. Acabou desistindo, e desceu até o Salão
Principal sozinha.
Encontrou-se com o trio grifinório no meio do caminho, e deu um
tchauzinho para Harry, que ficou todo abobalhado. Quase não ouviu o comentário
de Rony, em tom de desagrado.
- Como é cínica! Dá oizinho como se não tivesse acontecido nada!
- Mas para ela não aconteceu nada – contrapôs Hermione. – Deve ser
tão normal deixar grifinórios confusos que ela nem se importou.
- Vocês dois me deixam confusos! – exclamou Harry, visivelmente
irritado – A história da carta aconteceu no começo da semana, ela deve ter
esquecido.
- Duvido que um Sonserino esqueça uma informação sobre um Grifinório
– disse Hermione.
- Vamos para o Salão, sim? – finalizou Harry, impaciente com as
discussões sobre Catherine Stone, que se tornavam cada vez mais constantes.
Já no Salão Principal, Catherine sentava-se na mesa sonserina, e deu um
sorriso ao ver que Draco já estava lá, muito compenetrado em seu dever de
Transfiguração.
- Draco, preciso da sua ajuda – disse em um sussurro.
- Ajuda no quê, Cat? - perguntou
Draco, curioso com o pedido.
- Vamos à biblioteca, preciso descobrir informações sobre uma pessoa
– respondeu misteriosamente, aguçando mais ainda a curiosidade do garoto.
- Não pode ser no horário do almoço? Preciso terminar esse dever
urgentemente.
- Então não ficará sabendo! – finalizou Catherine, pegando uma
torrada com creme de baunilha e levantando-se.
- Cat, me espere! Eu também quero saber o que é! – pediu Draco,
levantando-se também, e correndo atrás da amiga.
Não precisou correr muito, Catherine caminhava lentamente, pois tinha
certeza que o sonserino correria atrás dela. Juntos, foram até a biblioteca,
mas Catherine não deu nenhuma informação sobre o que procurava tanto.
- Agora pode me dizer o que quer – disse Draco sério, assim que
chegaram na biblioteca.
- Preciso saber tudo sobre um tal de Sirius – Catherine respondeu,
quase em um sussurro.
- Sirius Black? O foragido de Azkaban? – perguntou ligeiramente
assustado.
- Se esse for o único Sirius... – disse despreocupada, como se fosse
algo normal para se dizer.
- De onde você o conhece? – Draco já estava um pouco incerto se
deveriam pesquisar sobre o foragido Sirius Black, que causara tantos tumultos em
seu terceiro ano.
- Não o conheço, Draco – disse impaciente. – Ouvi falar dele, e
fiquei curiosa. Quero saber sobre ele. E o que há de tão medonho em ele ser
foragido?
- Ele é um louco! – exclamou com medo – Fugiu dos dementadores,
coisa que era impossível, e todos temem-no!
- Não acredito que o tão poderoso Draco Malfoy está com medo de um
bruxo que fugiu de Azkaban! Achei que fosse mais corajoso, Draco, francamente!
– Catherine disse, totalmente descrente no medo do amigo.
- Certo, vamos procurar sobre ele – decidiu, tentando lutar contra o
medo. – Meu pai me disse que existem livros com os alunos de Hogwarts, podemos
achar alguma sobre ele...
- Madame Pince – chamou Catherine, tentando parecer amigável -,
gostaria de ver alguns livros sobre os formandos de Hogwarts.
- De que época, Srta. Stone? – perguntou a bibliotecária, surpresa
pela educação da garota.
- Não sei ao certo... – disse pensativa – A senhora conheceu meus
pais? – e vendo um aceno positivo, continuou – Mais ou menos dessa época.
Catherine escolheu uma mesa afastada para ver os livros que Madame Pince
trouxe. Ela e Draco tiveram que se decidir entre vários livrões pesados para
começarem a procurar. Não procuraram por muito tempo; logo no primeiro livro
que procurava, Draco encontrou sobre os formandos do mesmo ano em que seu pai se
formara.
- Acho que está aqui – comentou Draco, apontando para a lista de
alunos.
- Deixa eu ver – pediu Catherine, tomando o livro para si.
Passou os olhos por uma lista de todos os alunos que se formaram naquele
ano, e logo no comecinho encontrou o que procurava: “13 - Black, Sirius”.
Estava na parte de alunos da Grifinória, e logo chegaram na página.
- Então este é Sirius Black... Nada mal, não acha? – comentou
Catherine, mal contendo a satisfação por encontrar tão facilmente o que
procurava.
- Nada mal o quê?
- Ele é bem bonitinho, se ainda tivesse essa idade... – disse
despreocupada, causando ciúmes no sonserino.
- Bonitinho? Cat, ele é horrível! – exclamou Draco, fazendo uma
careta.
- Isso não importa – disse divertida. Passou o dedo pela lista dos
grifinórios daquele ano, analisando todos os detalhes – Black, Potter,
Pettigrew, Lupin, Evans, Longbotton... alguns nomes são conhecidos, mas outros
não... Conhece alguém mais?
- Lupin é aquele professor pé rapado do terceiro ano, que é um
lobisomem... – disse Draco, franzindo a testa só de lembrar.
- Lobisomem? – Catherine repetiu, incrédula – Que desperdício, ele
não é de se jogar fora...
- Quer parar de ficar falando da beleza deles? – o outro perguntou,
tirando o livro das mãos dela – E desapontaria-se se o visse atualmente, ele
está acabado.
- Não precisa ficar com ciúmes, querido – disse rindo, segurando o
queixo de Draco. – Mas já que estamos vendo as fotos, vamos ver as de seu
pai, para ver se você puxou a ele...
Folhearam algumas páginas e encontraram a turma de sonserinos. Vários
rostos eram desconhecidos, mas alguns eram conhecidos até demais para os dois.
Puderam ver o professor Snape em uma versão mais jovem, o pai de Draco, Lúcio
Malfoy, com seu ar aristocrático de sempre, o pai de Catherine e...
Catherine virou a página rapidamente, e parou nos alunos da Corvinal.
Procurou ansiosamente na legenda o nome que ansiava, e quando viu uma moça com
cabelos escuros e lisos, sorrindo timidamente, sentiu seus olhos encherem-se
d’água. Não conseguia acreditar... então aquela seria...
- Cat, o que houve? Por que virou a página? – Draco perguntou,
preocupado com a expressão no rosto da amiga.
- Draco... minha mãe, olhe minha mãe... – disse com a voz falha,
apontando para a moça.
- Sua mãe era muito bonita, você puxou a ela... – o loiro comentou,
observando a foto.
- Nunca tinha a visto antes... – Catherine parecia fora de sintonia, não
parecia estar preocupada com ninguém; queria apenas observar a fotografia por
toda a eternidade.
- Cat, Cat... Catherine... responda... Cat... – Draco chamava-a
insistentemente, balançando uma das mãos no rosto da sonserina.
- Fale Draco! – exclamou assustada, virando o rosto.
- Acho que podemos continuar pesquisando sobre Black, não acha? –
disse incerto.
- Tudo bem... Só fiquei um pouco abalada por ter visto minha mãe, só
isso – disse rapidamente, enxugando os olhos com a manga da capa.
Catherine fez o que pôde para se recompor emocionalmente, mas demorou o
suficiente para Draco perceber que ficara abalada. Continuaram folheando os vários
livros sobre os estudantes de Hogwarts, mas a atenção da garota não estava
totalmente focalizada no que lia sobre Sirius Black... tentou não deixar
parecer, mas ansiava por mais informações sobre sua mãe, e decidiu que
voltaria à biblioteca mais tarde, só para saber tudo o que podia.
A sineta tocou, assustando os dois, que pareciam entretidos nos livros.
Draco olhou para seu relógio, e quase gritou de surpresa.
- Cat, nós perdemos a primeira aula, História da Magia! – exclamou
Draco, uma onda de desespero recaindo sobre ele.
- De que importa, Draco? Dormiríamos na aula mesmo... – Catherine
retrucou, sem entender o verdadeiro motivo de tanta preocupação.
- Essa aula teria uma matéria nova, que cairia nos exames! Cat, temos
que nos desculpar com o professor e irmos para a próxima aula e...
- Draco, pare! – Catherine disse um pouco alto, e Madame Pince chamou
sua atenção – Não estou te reconhecendo... pedir desculpas ao professor?
Deixe o professor de lado, vamos para a próxima aula e depois vemos o que
perdemos. Não há nada o que fazer.
As palavras ditas por Catherine agiram como um soco no rosto de Draco. O
impacto foi tão grande que ele somente afirmou com a cabeça, juntou seu
material e saiu apressado da biblioteca, deixando a amiga para trás.
- Tenho um recado para dar a todos os alunos acima do terceiro ano –
anunciou Dumbledore, três dias depois. – Está marcada uma visita para
Hogsmeade neste fim de semana, mas somente para os alunos que estiverem no
terceiro ano, no mínimo – alguns alunos lamentaram por serem tão novos,
outros comemoraram, pois estavam com saudades do povoado mágico.
O diretor se sentou, e o professor Snape cochichou alguma coisa em seu
ouvido, mas pouquíssimos alunos – senão nenhum – estavam preocupados com
isso. Viravam-se para os colegas, comentando excitados tudo o que fariam no
povoado mágico.
- Então o dia já está marcado – comentou Catherine sombriamente.
- Do que está falando, Cat? – Draco perguntou, comendo apressado.
- Você sabe muito bem do que estou falando, Draco – retrucou áspera,
no tom mais baixo possível. – Do ataque que acontecerá em Hogsmeade.
- É mesmo! – Draco pareceu lembrar-se somente naquele momento – Não
se preocupe, correrá tudo bem.
- Espero mesmo – concordou, com o olhar perdido em algum canto do salão.
- O que faremos em Hosmeade? – perguntou Rony empolgado, enquanto comia
uma coxa de frango que parecia suculenta.
- Veremos Snuffles – disse Harry em tom baixo.
- Ah, é – concordou o ruivo, com a boca cheia. – Então precisaremos
levar bastante comida para ele, deve estar vivendo de migalhas.
- Estou preocupada, sabem – comentou Hermione pensativa. – Acho
perigoso que Sirius esteja em Hogsmeade, sinto que alguma coisa pode acontecer.
- O que poderia acontecer, Mione? – perguntou Harry – Ninguém sabe
sobre ele, não deve ter nenhum problema.
- É, quase ninguém sabe sobre ele Harry, ou se esqueceu? A Stone deve
estar preparada para nos seguir, e descobrir quem é seu padrinho – Hermione
lembrou-os, em tom cauteloso.
- Já faz tempo, Mione, ela deve ter esquecido – Rony disse, achando
ridícula tanta preocupação da amiga.
- Não subestimem um sonserino em hipótese alguma – alertou a garota,
preocupada.
Draco e Catherine estavam no Salão Comunal da Sonserina, jogando uma
partida de xadrez bruxo. Draco estava tendo uma vantagem considerável, pois
Catherine estava com o pensamento longe, preocupada com alguma coisa muito
distante. Ambos pareciam muito concentrados no jogo, e Draco estava pronto para
dar um xeque-mate, quando um chamado distraiu-os ao mesmo tempo.
- Draco... – chamou Catherine, mas nem precisou terminar a pergunta. O
garoto parecia ler seus pensamentos.
- Vamos rápido – disse, pegando sua capa da cadeira, e saindo junto
com Catherine.
Saíram do salão em passos rápidos, e logo Crabbe e Goyle juntaram-se a
eles. Entraram em uma das masmorras menores, que estava desocupada.
Transfiguraram suas roupas e logo aparataram, não querendo chegar atrasados.
- Não acredito que ele já saiba! – murmurou Catherine, que estava
agarrada em Draco, que ia na frente do grupo.
- Deve ter sido algum informante, tipo o professor Snape – supôs
Draco, caminhando até o local onde havia um grande crânio suspenso no ar.
Aproximaram-se do crânio, e Draco tocou no que pareciam ser estrelas de
diamante, e um grande portal se abriu. Os quatro passaram pela passagem, que
logo fechou-se, sem deixar vestígios de que um dia esteve ali.
Chegaram em um grande aposento, cheio de cadeiras em volta de uma enorme
mesa. Parecia um castelo abandonado, deduziu Catherine, vendo a decoração
macabra do local. Draco escolheu um lugar afastado de todos para ficarem.
Aos poucos vários Comensais foram aproximando-se, e perceberam entre
eles o Trio dos Imperdoáveis, agora muito mais conhecido pelos dois. Voldemort
foi o último a chegar, e estava acompanhado de um outro Comensal, que ficou um
pouco distante de todos os outros.
- Meus servos – começou o Lord das Trevas, com sua voz amedrontadora
-, convoquei esta reunião para decidir os últimos detalhes sobre o ataque, que
será feito este fim de semana, em Hogsmeade.
Alguns Comensais começaram a cochichar entre si, mas um estampido verde
vindo da varinha de Voldemort fez com que qualquer barulho cessasse. Alguns
pareciam até mais temerosos do que antes, enquanto outros apenas esperavam o
que teriam que fazer.
- Antes de decidirmos qualquer coisa, gostaria que a menina Stone
dissesse o que lhe foi incumbido de descobrir. Venha à frente, minha serva –
ordenou o Lord, e Catherine se aproximou, tentando manter uma postura fria. -, e
diga, onde Potter estará em Hosmeade?
- Ainda não descobri com precisão, Milorde – começou Catherine,
sentindo todos os olhares dos Comensais recaírem sobre ela -, sei apenas que
ele visitará um parente escondido.
- Potter não tem nenhum parente vivo, menina – disse ferozmente. –
Sua informação não é válida, será castigada por isso!
Voldemort levantara a varinha e a apontara para Catherine, pronto para
lançar um feitiço. Inconscientemente, ela deu dois passos para trás,
temerosa. Sabia muito bem que levaria ao menos um Cruciatus como castigo,
e fechou os olhos, somente esperando pelo pior. O feitiço começara a ser dito
por Voldemort, quando uma voz saiu da escuridão, com a pessoa se aproximando.
- Milorde, a informação da garota é válida, Potter ainda tem o
padrinho, que está foragido do Ministério – disse uma voz gélida, já
conhecida de Catherine.
- Isso é verdade, Snape? – Voldemort quis confirmar, desconfiado.
Catherine quis desmanchar no chão, aliviada por ter se livrado de um castigo
– E quem seria esse padrinho misterioso? – questionou, sem acreditar no que
era dito.
- S-S-Sirius Bl-B-Black, Milorde – disse uma vozinha entre os
Comensais, que poucos reconheceram.
- Então ainda não acabou com aquele miserável, Rabicho? – rugiu o
Lord, incontrolável – Sua missão era encontrar aquele pulguento, mas vejo
que nem isso você consegue! Cruccio – os pedidos de perdão do servo não
foram atendidos, e rolou no chão, chorando com a dor que sentia.
Os Comensais que não estavam amedrontados com a presença do Lord
acabaram mudando de idéia, finalmente entendendo que ele não estava de
brincadeira. Somente o Trio pareceu não se abalar.
- Agora que está tudo resolvido – continuou, sua voz formando eco no
local -, você Stone, deverá descobrir onde está o padrinho de Potter,
enquanto os outros Comensais devem rondar Hogsmeade, em busca de alguma informação
extra, como guardas do Ministério e Aurores. Na véspera do ataque, todos serão
reunidos novamente, para juntarmos as informações obtidas.
Os Comensais começaram a aparatar rapidamente, querendo verem-se livres
da presença amedrontadora do Mestre. Catherine não conseguiu segurar seu peso
nas pernas, e cedeu. Teve a sorte de Draco já estar próximo a ela, e ter
conseguido segurá-la.
- Cat, você está bem?
- Draco, eu vi minha vida passar, pensei que ia morrer! – disse
ofegante, tentando recuperar-se.
- E ia mesmo, sorte que Snape te salvou a pele, nem queria imaginar o que
o Lord faria com você – disse Draco, olhando em volta.
- Preferiria ter morrido, Snape não me salvou em troca de nada –
resmungou a garota, conseguindo pôr-se de pé. – Odeio estar em dívida com
alguém.
- Vamos embora, então? – perguntou, verificando se o Trio ainda estava
por ali.
- Queria encontrar Sabrine, faz tempos que não a vejo – disse com a
voz distante.
- Seria impossível encontrá-la aqui, e seu pai ainda não aparatou. É
melhor deixarmos para uma outra hora – aconselhou o garoto, dando a mão para
Catherine.
- Tudo bem, não tenho mesmo uma outra escolha – ela deu de ombros, e
concentrou-se no castelo de Hogwarts, pronta para aparatar.
Antes de sumirem, porém, Draco viu Voldemort chamar pelo mesmo Comensal
que entrou junto com ele, e dizer alguma coisa que ele não conseguiu ouvir.
Nesse momento eles já tinham sumido do grande aposento, e apareciam novamente
na gélida masmorra de Hogwarts.