
Allan Kardec
por
Carlos Antonio Fragoso Guimarães

Allan Kardec, 1804-1869
Música: Noturno Nº 19, Op. 72, nº 2, de
Chopin
Quem foi e o que fez Allan Kardec
Durante todo o século XVIII, a França se ergueu como o farol intelectual da
civilização ocidental. Para lá iam artistas, professores, filósosfos e
cientístas. Apesar do esbanjamento e da corrupção da côrte, Paris foi, desde
muito tempo, a capital europeia mais atrativa para os intelectuais do
continente. Juntamente com a Alemanha, sua maior rival, a França era quem
dirigia os rumos do intelecto humano, e foi com o Iluminismo que Paris passou
ser conhecida como "a Cidade Luz", pois, depois de tanto tempo à mercê
dos ditames do clero e da aristocracia, o homem era incentivado a ser
independente, a pensar com a própria cabeça. "Todos os homens são iguais", era o
slogan do Iluminismo, que nasceu e teve seus maiores conseqüências em
solo francês.
Embora tenha sido, na verdade, um retumbante movimento
burguês, com seus lamentáveis e invitáveis excessos, a Revolução Francesa
teve o mérito de desmitificar a pseudo-superioridade das classes privilegiadas
(a corrupta aristocracia e o hipócrita clero católico), levantando a bandeira
contagiante da "Liberdade, Igualdade e Fraternidade", e da "Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão". Evidentemente, a efervescência do período
desembocou num paradoxo: surge o império napoleônico. Mas os frutos intelectuais
da Revolução permitiram limpar a Europa do velho ranço aristocrático, forçando a
melhoria dos direitos sociais em todas as nações do ocidente, fortificando, mais
do que nunca, o papel do Direito.
Foi em meio a esse clima de mudanças e
de reconstrução de um novo mundo, onde vingava, por toda parte, o perfume
primaveril do romantismo, que
nasce, a 03 de outubro de 1804, em plena era napoleônica, na cidade de Lyon,
Hippolite Léon Denizard Rivail, que mais tarde adotaria o pseudônimo
Allan Kardec. Ele era filho de um juiz, Jean Baptiste-Antoine Rivail, e
sua mãe chamava-se Jeanne Duhamel.
Conta-se que o pai o iniciou com todo
cuidado nas primeiras letras e o incentivou à leitura dos clássicos, já em tenra
idade. Denizard Rivail sempre se mostrou muito interessado em ciências e em
línguas. Após completar os primeiros estudos em Lyon, Denizard partiu para a
Suiça, para completar seus estudos secundários na escola do célebre professor
Pestalozzi, na cidade de Yverdun. Bem cedo o jovem de Lyon chama a atenção do
mestre, que o coloca como seu auxilar nos trabalhos acadêmicos que exercia,
tendo algumas vezes substituido Pestalozzi na direção da escola, enquanto este
empreendia alguma viagem de divulgação de sua metodologia de ensino ou era
convidado para criar, em outras localidades, uma insituição nos moldes de
Yverdun. Denizard também exercia com prazer o papel de professor, ensinando aos
seus colegas as lições que aprendera. Ele, apesar de tão responsável, era visto
como um jovem amável e espirituoso, mas muito disciplinado. Não há registros de
que tenha sido mal-quisto em qualquer fase de seu período
estudantil.
Denizard Rivail bacharelara-se em Letras e Ciências. Falava
fluentemente vários idiomas. Após ser dispensado do serviço militar, resolve
fundar, em Paris, uma escola nos moldes da de Yverdun, que foi chamada de Liceu
Polimático. Ele estava empenhado no aperfeiçoamento pedagógico da educação
francesa, e, por isso, escreveu vários livros no assunto, tendo sido premiado,
em 1831, por seu trabalho, pela Academia Real de Arras. Por esta mesma época
casa-se com a professora Amélie Gabrielle Boudet.
Quando tudo parecia ir
bem, o sócio de Rivail, que era seus tio, leva o Liceu à ruína, por dissipar, no
jogo, vastas somas. Nada restava a Rivail que pedir a liquidação do Instituto a
que se dedicara com tanto amor. Com o dinheiro resultante da partilha, Rivail
sofre um outro revés da sorte. Após ter aplicado o dinheiro na casa comercial de
um de seus amigos, este logo abre falência, por realizar maus negócios, e
Denizard se vê na constrangedora situação de nada mais ter.
Para poder
sobreviver, Rivail se lança freneticamente a escrever livros didáticos e a
trabalhar como contador de três firmas comerciais, o que lhe possibilitou, após
o susto e o desespero iniciais, recuperar parte de seu antigo padrão de vida.
Chegou a organizar, também, cursos de Física, Química, Astronomia e Anatomia
Comparada que eram muito populares entre os jovens da época.
Depois de
algum tempo, Denizard Rivail já tinha o necessário para viver com certo conforto
e se dedicar ao ensino novamente.
Quase que paralelamente a estes
acontecimentos na vida de Denizard Rivail, ocorre nos E.U.A um conjunto de
fenômenos que deram início ao nascimento do moderno espiritismo (este termo,
espiritismo, foi cunhado em 1857, por Rivail, para distinguir este
movimento do de outras escolas espiritualistas). Trata-se dos fenômenos
ocorridos em Hydesville, estado de New York, em 1848, na casa da família Fox,
que era metodista, e, portanto, longe de ter qualquer queda ou interesse por
fatos que poderíamos hoje chamar de paranormais. As fortes pancadas pancadas que
começaram a ser violentamente ouvidas no quarto das irmãs Katherine e Margaretta
e que se fizeram frequentes por várias semanas levaram a primeira, então com
nove anos, a desafiar "o batedor" a reproduzir as pancadas que ela mesma daria.
A prontidão das respostas acabaria por marcar o início desse tipo de comunicação
entre vivos e mortos (Enciclopédia Mirador-Britannica, p. 4171).
Por esta
época, em Paris, estava em voga uma nova moda (como se dizia na época).
Tratava-se das chamadas "mesas falantes" ou "mesas girantes", que
consistia em se fazer perguntas ao redor de uma mesa ou outro móvel qualquer que
respondia através de pancadas às perguntas formuladas. Isto era visto apenas
como uma sutil e inexplicável diversão de salão, quando não era encarada como
uma brincadeira ou embuste espirituoso. Mas havia quem levasse a sério tais
coisas, pois muitas vezes as mesinhas davam respostas corretas sem que ninguém
conseguisse provar o descobrir quem ou o que fazia as mesas responderem as
questões. Convém notar que esta "moda" das mesinhas que giravam parecia
ocorrer em todos os lugares e em vários países, num boom que dificilmente
pode ser creditado ao acaso. Em 1854, Deinzard ouve falar pela primeira vez
sobre tais "fenômenos", mas sua primeira atitude é a de ceticismo: "eu crerei
quando vir, e quando conseguirem provar-me que uma mesa dispõe de cérebro e
nervos, e que pode se tornar sonâmbula; até que isso se dê, dêem-me a permissão
de não enxeragar nisso mais que um conto para provocar o sono".
Por
insistência dos amigos, Rivail presencia algumas das manifestações físicas das
mesinhas. Depois da estranheza e da descrença inicial, Rivail começa a cogitar
seriamente na validade de tais fenômenos. Eis o que ele nos relata: "De
repente encontrava-me no meio de um fato esdrúxulo, contrário, à primeira vista,
às leis da natureza, ocorrendo em presença de pessoas honradas e dignas de fé.
Mas a idéia de uma mesa falante ainda não cabia em minha mente". E ainda:
"Pela primeira vez pude testemunhar o fenômeno das mesas que giravam e pulavam
em tais condições que dificilmente poderia se acreditar serem frutos de embuste
ou frade (...) Minhas idéias longe estavam de terem sofrido uma modificação, mas
em tudo aquilo que se sucedia devia haver uma explicação" (segundo Henri
Sausse, in Allan Kardec, ed. Opus, 1982). Foi em 1855 que Rivail
testemunha pela primeira vez o fenômeno das mesas girantes. Passa então a
observar estes fatos; pesquisa-os cuidadosamente e, graças ao seu espírito de
investigação, que sempre lhe fora peculiar, resiste a elaborar qualquer teoria
preconcebida. Ele quer, a todo custo, descobrir as causas. Como disse Henri
Sausse: "(...) Sua razão repele as revelações, somente aceita observações
objetivas e controláveis. (...) Vários amigos que acompanhavam há cinco anos o
estudo dos fenômenos, (...) colocam à sua disposição mais de cinquenta cadernos,
contendo as comunicações feitas pelos Espíritos (...). O estudo desses cadernos
constituiu, para Rivail, o trabalho mais profundo e mais decisivo. Foi por esse
estudo que ele se (...) convenceu da existência do mundo invisível e dos
Espíritos."
Ele utilizava o material dos cadernos, com as respostas dadas
pelos supostos espíritos, para refazer as mesmas perguntas para outros médiuns,
de preferência desconhecido dos primeiros. Com base nas novas respostas, Rivail
comparava o conteúdo de ambas, e ficava perplexo com as similaridades freqüêntes
entre as elas. Ele reformulava as perguntas, e pedia a ajuda de amigos para
faze-las a outros médiuns, em outras localidades. Ele recebia as respostas e
compilava-as organizadamente por tópicos e assuntos.
Como poderia pessoas
que nunca se viram dar as mesmas respostas para as mesmas perguntas, às quais
possuiam, frequentemente, um grande peso filosófico e uma amplidão de
conhecimentos que escapavam à formação ou aos conhecimentos normais dos médiuns?
A única resposta lógica seria a de que agentes inteligentes as dariam por
intermédio de certas pessoas com uma sensibilidade psíquica especial: os
médiuns. Além do mais, Rivail notou que poderia existir uma extraordinária
discrepância entre o desenvolvimento moral e intelectual de um médiun e as
comunicações obtidas em estado de transe, que na época se chamava estado
sonambúlico, ou, algumas vezes, de mesmerização, nome devido ao
pioneiro da hipnose, Mesmer. Sendo assim, a faculdade de comunicar-se com os
agentes inteligentes invisíveis independente do grau de desenvolvimento
espiritual do médiun, havendo médiuns moralmente medíocres, e até mesmo,
perversos, e outros médiuns de grande desenvolvimento moral, que podem, uns e
outros, receberem mensagens de cunho elevado ou banal.
Por estarem numa
dimensão diferente da nossa, estes agentes inteligentes invisíveis teriam
de vivenciar uma realidade própria ao estado vibratório de sua dimensão que
explicaria algumas características das repostas dadas. Isso abriria um imenso
leque de cogitações e de explicações extraordinárias. Mas Rivail não se deixou
levar pelo entusiasmo.
Ele percebeu claramente, desde o início, que
muitas das respostas obtidas por meio dos médiuns eram tolas e pueris, e outras
tinham muito a ver com os conhecimentos ou as crenças do próprio médium, embora,
durante o transe, ele comumente não tivesse consciência do que dizia ou
escrevia. Assim, Rivail chegou às seguintes conclusões:
Primeiro, se são
agentes inteligentes não físicos que dão as respostas, nem por isso
eles parecem ser muito diferentes dos homens vivos, pois suas respostas são
parecidas às repostas que qualquer homem daria, inclusive dentro do nível de
instrução a que tenham chegado, pois há respostas muito bem elaborados junto com
muitas outras muito fúteis. E, segundo, algumas vezes as respostas são dadas de
forma não-consciente, pelo próprio médium. Então, seria o agente
inteligente do próprio médium que daria certas respostas, em certas
ocasiões. Estas repostas não são destituídas de valor. Elas podem apresentar um
extraordinário grau de maturidade, mesmo que sejam estranhas ao pensamento
normal do médium quando em estado de vigília ou de consciência desperta
noraml.
Assim, Denizard Rivail reconhecia clara e lucidamente que as
entidades, por serem seres extra-corpóreos, nem por isso eram
necessariamente mais sábias que os homens encarnados. Elas mesmas diziam que
nada mais eram do que os Espíritos dos homens que já morreram, e
por isso mesmo, continuavam tão humanas e cheia de falhas quanto antes. E mais
ainda, Rivail antecipou-se extraordinariamente em mais de quarenta e três anos a
Sigmund Freud (1856-1939) ao reconhecer uma ação incionsciente
pessoal agindo sobre a manifestação mediúnica, algumas vezes. Assim, poderemos
nos perguntar, Rivail não teria sido um precursor da cética
Psicanálise?
Com o estudo meticuloso das respostas dadas pelos espíritos,
por meio de diversos médiuns e em diversas localidades de diversos países,
Rivail teve suficiente material para compor um livro. Ele faz uma lúcida
introdução sobre seu trabalho no prefácio da obra que fez nascer o moderno
Espiritismo: O Livro dos Espíritos, lançado em Paris, em 18 de abril de
1857 (faça um download deste e de outros livros de Kardec na Home Page da FEB). Na
capa da obra, está o nome do autor, ou melhor, o seu pseudônimo, Allan
Kardec. Rivail preferiu por este nome em sua mais importante obra, para
diferenciar sua temática das de suas obras anteriores, voltadas à educação e à
pedagogia. E por que Allan Kardec? Bem, certa ocasião, depois repetida
inúmeras vezes, um espírito, que se denominava de Z, havia dito a
Rivail que eles haviam sido amigos numa vida anterior! Eles haviam vivido entre
os Druidas,
nas Gálias, e o nome de Rivail era, na ocasião, Allan Kardec. É incrível, mas
mais uma vez uma antiga concepção (certeza?) fluente no ocidente desde
Pitágoras, Sócrates, Platão, Plotino e entre os
povos originários da Bretanha Maior e Menor, como os dos Celtas, bem como como
nos chamados movimentos heréticos como a dos Cátaros e a dos Templários, vinha à
tona novamente na Europa: a idéia da Reencarnação.
De
uma profundidade filosófica e psicológica desconcertantes, O Livro dos
Espíritos possui passagens e reflexões que vão muito além do nível de
conhecimento ordinário de sua época de publicação, inclusive no que tange aos
aspectos científicos da obra. Citemos, só de passagem, a noção de evolução
das espécies vivas dado pelos espíritos e comentado por Kardec, publicado
nesta obra um ano antes do livro seminal de Charles Darwin, A Origem das
Espécies, ou , ainda, da indentidade entre matéria e energia (chamado por
Kardec de fluido universal), que se diferenciam entre si apenas por um estado de
condensação da energia, muito antes de Albert Einstein.... De igual modo, as
noções de percepção de consciência como sendo diferentes manifestações de
maturação psíquica lembra e muito as atuais abordagens da Psicologia,
principalmente a Psicologia
Transpessoal. Há momentos em que a apresentação da doutrina em O
Livro dos Espíritos não fica a dever em nada às melhores teorias da
personalidade da Psicologia moderna. A descrição de Kardec do Fluido Universal
lembra a do conceito de orgônio, ou orgon, dado pelo psicanalista
Wilhelm Reich, pai da Bioenergética. Da mesma forma, os fundamentos e
causas do processo da reencarnação é idêntico aos fundamentos e causas
postulados por alguns psicoterapêutas (muitos dos quais não conhecem Allan
Kardec) e que, por meios de desenvolvimento e pesquisas diversos, a paritr do
atendimento clínico de pacientes, chegaram à técnica da Terapia de Vida Passada
- TVP. E a filosofia de vida que a doutrrina estimula a adotar é, em muitos
pontos, similar às condições propícias ao desenvolvimento da auto-atualização
que é o lema dos psicólogos humanistas, tais como Abraham Maslow e Carl Ransom
Rogers. A noção de animismo aponta para o conceito de inconsciente
que teve em Sigmund Freud seu mais sério teórico, e a de evolução espiritual
lembra o processo de individuação postulado pelo gênio de Carl Gustav
Jung.
E ainda mais assobroso, Kardec logo reconheceria que seu estudo
sobre a comunicação dos chamados espíritos (como elas mesmas se diziam ser, as
forças inteligentes), que ele chamou de espiritismo, não trazia nada de
realmente novo, a não ser o fato destes fenômenos serem vistos e entendidos sob
a ótica moderna, científica: (...) Constituindo uma lei da natureza,
os fenômenos estudados pelo Espiritismo hão de ter existido desde a origem dos
tempos e sempre nos esforçamos por demonstrar que dele se descobrem sinais na
antigüidade mais remota. Pitágoras, como se sabe, não foi o autor da
mentempsicose (ou seja, da transmigração da alma pela reencarnação); ele
o colheu dos filósofos indianos e dos egípcios, que o tinham desde tempos
imemoriais (...) o que não padece dúvidas é que uma idéia não atravessa séculos
e séculos, e nem consegue impor-se à inteligências de escol, se não contiver
algo de sério (...)" (Kardec, p. 143 de O Livro dos Espíritos, ed. FEB).
É por isso também que a introdução de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, de 1864 (obra de cunho filosófico com o objetivo de escalarecer
a posição da doutrina frente à mensagem do Cristo) traz um estudo
histórico que culmina em um resumo do posicionamento de Sócrates e Platão como
precursores dos mais elevados ideiais cristãos e, em suas filosofias, de vários
tópicos do espiritismo, como bem fica evidenciado no diálogo Fédon, de
Platão. Já em O Livro dos Espíritos, Kardec tece comentários sobre a
ancestralidade das idéias básicas do espiritismo (c.f. capítulo V da obra
citada) e como os fenômenos ditos espíritas são universais.
Os fenômenos
que caracterizam o espiritismo, especialmente o da comunicação entre vivos e
"mortos", são mencionados e reconhecidos como existentes em todas as épocas da
humanidade, qualquer que seja a cultura considerada. Um dos mais antigos e
claros registros a este respeito, dentro de nossa tradição judáico-cristã, é a
referência bíblica que está em 1 Samuel 28,7-19, onde Saul visita a pitonisa
(médium) de En-Dor, que lhe possibilitou a comunicação com o espírito do profeta
Samuel. Os fenômenos referentes ao Novo Testamento, mais apropriadamente aos
Evangelhos, podem ser consultados na Home Page sobre Jesus.
A
idéia da reencarnação, por exemplo, é tão antiga e universal quanto a própria
humanidade (ver o capítulo V de O Livro dos Espíritos), e é a base de
diversas tradições filosóficas e religiosas do oriente, como o Budismo e o Hinduismo,
por exemplo, e a das religiões pré-cristãs da Europa, como a dos Druidas, ou,
posteriormente, baseados no cristianismo, o posicionamento de alguns pais da
Igreja antes do concílio de Constantinopla, em 533, quando a doutrina da
reencarnação foi abolida por motivos políticos, mas que é encontrada em figuras
excepcionais da igreja, como em Orígenes de
Alexandria, só para citar um exemplo. Ainda houve a presença de alguns
movimentos fortemente contestatórios da ação da Igreja de Roma, como a dos Cátaros, embora os
conhecimentos antropológicos, históricos e sociológicos de seu tempo não
permitissem a Kardec ir muito além na análise destas tradições, filosofias e
ocorrências históricas. Além do mais, diferentemente de outras escolas
espirtualitas, Kardec fez absoluta questão de expor seus estudos de forma
racional, sem cair nas armadilhas do discurso místico ordinário, mais levado
pela emoção e pela fantasia que pela razão, a partir de fatos, fenômenos e
percepções reais, com o máximo zelo à análise e ao cuidado da descrição dos
fenômenos a partir de sólidos referenciais lógicos. Seu trabalho seria, então,
de trazer ao nível intelectual moderno alguns fenômenos que sempre acompanharam
o homem em sua história e que foram negligencados pela ciência mecanicista
moderna, principalmente a partir do legado mecanicista de Descartes e de Newton,
apesar de ambos terem sido pessoas espiritualizadas, principalmente o segundo,
que foi o primeiro grande cientista da era moderna e o último grande mago dos
tempos alquímicos.
Em 1º de Janeiro de 1858, Allan Kardec publica o
primeiro número da Revista Espírita, que serviu como poderosa auxiliar para os
trabalhos ulteriores e para a divulgação da Doutrina Espírita na Europa e
América.
Segundo Henri Sausse, "em menos de um ano (...)", a Revista
Espírita "(...) estava espalhada por todos os continentes do Globo. (...) De tal
maneira aumentou o número de assinantes, que Kardec, a pedido destes, reimprimiu
duas vezes as coleções de 1858, 1859 e 1860 (...)".
Dentre os mais
célebres admiradores, amigos e estudiosos de Kardec ou do espiritismo,
destacamos o famoso astrônomo francês Camille Flammarion, o filósofo H. Bergson,
o psicólogo e filósofo William James, o físico William Crookes, o biólogo Alfred
Russel Wallace, o físico Oliver Lodge, o escritor Arthur Conan Doyle, dentre
inúmeros outros.
Podemos expor a importância do trabalho de Kardec por
estas palavras do pai da moderna Parapsicologia, o fisiólogo Charles Richet:
"Allan Kardec foi o homem que no período de 1857 a 1871 exerceu a mais
penetrante influência, e que traçou o sulco mais profundo na ciência
metapsíquica" (Charles Richet in "Traité de Métapsychique", p. 34).
Da mesma forma, vários outros estudiosos confirmam a importância de Allan Kardec
no desenvolvimento dos estudos psíquicos no mundo inteiro. Camille Flammarion,
um dos maiores astrônomos da história, sempre lhe foi grato pelos estudos que
eram correntes na Sociedade de Estudos Espíritas de Paris, e foi ele quem fez o
discurso fúnebre de Kardec, e a lista poderia se alongar com o nome de vários
outros célebres pesquisadores, como Ernesto Bozzano, César Lombroso, dentre
vários outros.
Em 1º de abril de 1858, Allan Kardec funda a Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas, que tinha por objetivo "(...) o estudo de
todos os fenômenos relativos às manifestações espíritas e suas aplicações às
ciências morais, físicas, históricas e psicológicas. (...)" - Não era
intenção de Kardec fundar uma religião, como ocorreu posteriormente a partir do
seu legado. Para ele "A ciência espírita compreende duas partes: uma
experimental, relativa às manifestações em geral; a outra, filosófica, relativa
às manifestações inteligentes e suas conseqüências" (Kardec, in O Livro
dos Espíritos, tópico XVII da Introdução). Discutiremos sobre isso
mais adiante, tomando o próprio Kardec e outros autores como
referência.
Em outubro 1861 ocorreu um patético acontecimento, para não
dizer repulsivo. Trata-se do famoso "Auto-de-Fé", promovido pela Igreja Católica
na cidade de Barcelona, Espanha, onde foram queimadas em praça pública cerca de
trezentas publicações espíritas. Estas obras, encomendadas a Allan Kardec pelo
bibliotecário e livreiro Maurício Lachâtre, foram enviadas de forma comum, nas
condições alfandegárias normais, tendo as taxas de importação sido pagas pelo
destintário às autoridades espanholas; porém a entrega das encomendas não foi
realizada. Elas foram confiscadas pelo Bispo de Barcelona, com a seguinte
justificativa: "A Igreja Católica é universal, e estes livros são contrários
à fé católica, não podendo o governo (veja só, voltamos a ter a mistura do
poder temporal com o religioso, sendo este último mais forte) permitir que
eles passem a perverter a moral e religião de outros países".
Talvez
com saudades dos áureos tempos de absoluto domínio das consciências humanas, à
base de ferro e fogo, o douto Bispo de Barcelona, em doentia demonstração de
esnobismo típicas de quem se acha no direito pertencer à seleta instituição dos
únicos representantes da vontade de Deus na Terra, fez reacender as fogueiras
que tantas vítimas inocentes fizera em séculos anteriores, onde, pelas mãos de
um carrasco, as obras foram queimadas certamente no lugar das pessoas que
deveriam lá estar: os espíritas franceses em geral, e um homem em particular:
Allan Kardec. Em tudo a pantomima seguiu as regras de uma execução
inquisitorial, como podemos ler pelos autos do processo:
"Assitiram ao
auto-de-fé:
"Um padre, com seus hábitos sacerdotais, tendo, em uma das
mãos, a cruz e, na outra, uma tocha;
"Um tabelião encarregado de redigir
o processo verbal do auto-de-fé;
"O assitente do tabelião;
"Um
funcionário superior da administração das alfândegas;
"Três serventes da
alfândega, com a função de alimentar o fogo;
"Um agente da alfândega,
representando o proprietário das obras condenadas;
"Uma incalculável
multidão se fez presente, enchendo os passeios, cobrindo a esplanada onde ardia
a fogueira;
"Depois de o fogo ter consumido os trezentos volumes e
brochuras espíritas, o sacerdote e seus auxiliares retiraram-se cobertos
pelas vaias e maldições dos inúmeros assitentes, que bradavam: Abaixo a
Inquisição!
"Depois, muitas pessoas, em protesto, aproximaram-se e
apanharam as cinzas".
E, graças a esta demonstração de brutalidade da
religião de Roma, o espiritismo acabou tendo uma grande repercussão em toda a
Espanha, granjeando inúmeros adeptos. De certa forma, este ato alçou o
Espiritismo ao mesmo patamar de outros mártires da liberdade de espírito,
incluindo Jacques DeMolay, Galileu, Giordano Bruno e aquela que, com toda a
infalibilidade papal, foi condenada como bruxa à fogueira para, quatro séculos
depois, ser elevada à categoria de santa, Joana D'Arc (demorou bastante
para a infalibilidade papal reconhecer o erro).
Eis uma observação
de Kardec, na Revue Spirite de 1864, p. 199, com respeito à divulgação do
Espiritismo como umra religião pelos doutores da Lei da era moderna:
"Quem primeiro proclamou que o Espiritismo era uma religião nova, com seu
culto e seus sacerdotes, senão o clero? Onde se viu, até o presente, o culto e
os sacerdotes do Espiritismo? Se algum dia ele se tornar uma religião, o clero é
quem o terá provocado".
Kardec passou o resto da de sua vida no
mister de divulgar os resultados de seus estudos e os de outros colegas.
Empreendeu inúmeras viagens pela França e pela Bélgica entre 1859 a 1868, e
escreveu várias brochuras e pequenos artigos para a divulgação do
Espiritismo.
Kardec escreveu ainda muitos outros livros, entre eles se
destacam O Livro dos Médiuns, de 1861; em 1864, O Evangelho Segundo o
Espiritismo; em 1865, o maravilhoso O Céu e o Inferno, ou a Justiça
Divina Segundo o Espiritismo; em 1868, A Gênese. Sempre lúcido e
lógico, soube como enfrentar a oposição e difamação de inimigos gratuitos com
dignidade e nobreza, reconhecendo quando algum argumento oposto tinha um valor
sério e sincero. Manteve-se à frente da Societé Parisiene D'Études Spirites,
além de de escrever outros livros e artigos para a Revista Espírita, até seu
desencarne, ocorrido em 31 de março de 1869, aos 65 anos de idade, causado por
um colápso cardíaco.
Princípios básicos da Doutrina Espírita
- Deus -
1. Existe uma Inteligência Suprema,
Absoluta, não cogniscível, Causa Primária de todas as coisas, que se chama Deus,
Jeová, Iavé, Alá, Brahman, O Uno, Grande-Espírito, etc. Não há efeito sem causa.
A causa de um universo ordenado é, pois, uma causa acima do universo. Deus,
portanto.
2. Deus está acima de qualquer definição. Como nos fala Plotino, Deus está,
por ser Absoluto, acima de qualquer definição, pois Ele/Ela é
infinito em seus atributos e perfeições. Além, portanto, das limitações
do pensamento intelectual humano. Qualquer que seja a palavra usada para se ter
uma idéia de Deus, ela sempre estará expressando algo de limitado, humano. Mas,
ainda assim, podemos dizer, numa etapa didática de analogia possível ao homem,
que Deus é eterno, imutável, imaterial, único, soberanamente justo e bom e
Infinito em todas as suas perfeições. Mesmo estas definições são coisas sem
muito sentido para se definir Deus. Expressam pálidas idéias humanas, e seu
sentido pode variar de uma para outra pessoa. E é por isso que assim falam os
espíritos: "Creia, não queiras ir além do fato intuitivo da existência de
Deus. Não vos percais num labirinto que vos confundirá e do qual não podereis
sair. Isso não vos tornará melhores, mas um pouco mais orgulhosos, porque vocês
acreditaram saber sobre algo que, na verdade, vos escapa e do qual nada, em
realidade, sabes. Deixai, pois, de lado todos estes sistemas que apenas vos
dividem; tendes bastante coisas que vos tocam mais de perto, a começar por vós
mesmos. Estudai as vossas próprias imperfeições, a fim de vos libertar delas, o
que vos será mais útil e mais benéfico do que pretenderes penetrar com vossas
limitações no que é impenetrável" (Resposta dada pelos espíritos à pergunta
nº 14 de O Livro dos Espíritos)
- O Espírito -
3. Há no homem, ou melhor, É
o homem, em sua essência, um princípio inteligente, a que normalmente chamamos
"Alma" ou "Espírito", independente da matéria, em íntimo contato com o corpo,
que é-lhe instrumento de aperfeiçoamento, e que possui todas as faculdades
morais e psíquicas inerentes ao ser humano.
4. As doutrinas materialistas
são, em grande parte, responsáveis pelo estado de náusea e desesperança que
aflige, em grande parte, a humanidade. Veja-se o tópico sobre Holismo para um
maior aprofundamento sobre esta afirmação.
5. O Espiritismo, enquanto
Ciência (aspecto tão enfatizado por Allan Kardec, mas, atualmente, um tanto
negligenciado pelos espíritas brasileiros, que transformaram a doutrina em quase
que unicamente uma religião), o Espiritismo prova a existência da alma por meio
dos atos inteligentes do homem e pelos atos inteligentes das manifestações
mediúnicas.
6. A alma humana, ou espírito, sobrevive ao corpo, embora
traga em si traços deste corpo, e conserva a sua individualidade após a morte
deste.
7. A alma do homem é ditosa ou infeliz depois da morte em
conseqüência direta de seus atos durante a vida, que se inscrevem em sua
consicência moral.
8. A existência de um Ser Supremo, Deus, a alma e a
sobrevivência e individualidade da alma após a morte do corpo, bem como o estado
de felicidade ou infelicidade futuras, constituem princípios básicos
fundamentais de, praticamente, todas as religiões. Por isso todas as religiões
são válidas. Elas representam modalidades do entidimento do transcendente de
acordo com os diversos estados de consciência do ser humano.
9. Todas as
criaturas vão, sucessivamente, evoluindo no plano moral e intelectual, pelas
diversas etapas por que passam nas várias reencarnações, num contínuum
que vai surgindo em progressão dos reinos inorgânicos até os mais incorpóreos e
espirituais.
10. A Terra não é o único planeta habitado, e nem o mais
aperfeiçoado. Existem uma infinidades de mundos habitados, que oferecem vários
âmbitos de evolução e aprendizado para os espíritos.
11. Há uma lei de
causalidade moral, conhecida como Lei do Carma, que interliga as várias vidas
sucessivas do espírito, de modo a lhe dar o meio condizente com os atos
praticados anteriormente, mas onde pode atuar agora, por meio de seu
livre-arbítrio.
Comentários
O aspecto moral da doutrina,
resutante da filosofia espírita, foi posteriormente confundido e amalgamado com
um aspecto religioso. Por possibilitar, através de sua filosofia, uma
religação efetiva com a dimensão espiritual do homem, o espiritismo
permite usufrir ao seu estudioso um sentimento de religiosidade, no
sentido latino do termo (religare, ou seja de se religar com algo
superior, transcendente) que vai muito além do sentido atual da palavra
religião. A Religiosidade, que é sentimento superior ao estreito rótulo
da religião, é que preenche de fato a doutrina espírita.
É o próprio
Kardec quem também nos fala que o espiritismo, por ser uma ciência e uma
filosofia, "é, pois, a mais potente auxiliar da religião" (Kardec,
O Livro dos Espíritos, página 111 da edição da FEB), sendo, pois, algo
que, se não é uma religião em si, a não ser que se queira isso, respeita todas
as religiões, pois elas são a expressão da ânsia humana pelo sublime e pelo
transcendente, e são válidas, assim como cada teoria de personalidade, na
Psicologia, é válida de acordo com o posicionamento e maturação psicológica e
emocional de cada indivíduo. Infelizmente, fizeram do espiritismo o que bem
quiseram, do mesmo modo como fizeram o que bem quiseram dos ensinos do Cristo,
de Sócrates, e outros....
Um estudo realmente aprofundado e sistematizado
do obra de Kardec escalareceria a todos sobre estes pontos, que acredito ser de
fundamental importância para a maturação da tolerância entre as diferenças
religiosas e uma vacina contra qualquer tipo de dogmatismo que, vez por outra,
parece brotar no posicionamento religioso de alguns espíritas e
dirigentes espíritas brasileiros que, por força da tradição católica em nossa
cultura, têm transformado alguns centros - que deveriam ser casas sérias de
estudos psíquico-espirituais- em verdadeiras igrejas - e sem a
competência destas, pois algumas pessoas passam a dar palestras sem mínimo de
aprofundamento na doutrina ou nas ciências psíquicas, como em psicologia e
psiquiatria, além das leituras básicas da codificação kardequiana, tirando
conclusões apressadas e/ou equivocadas de alguns fenômenos psicológicos que
incidem sobre parte de nossa população, taxando-os de obsessão e outras coisas
mais. Ora, nem todos os problemas são causados por pertubações espirituais -
isso é acusar os espíritos injustamente -, ou, se existe alguma parcela disto,
foi por algum desajuste primeiro do sujeito encarnado, desajuste de cunho íntimo
e pessoal que precisa de tratamento mais dirigido ao aspecto psicológico,
mundando seus o padrão de pensamentos e os hábios mentais imediatos que é a
causa de atração do espírito desencarnado, por sintonia psíquica. Sendo assim
Kardec apontou para o fato de que muitos de nossos desajustes se devem à causas
pisicossomáticas e espirituais interligadas, pondo-se, portanto, bem à frente do
desenvolvimento da psicologia de seu tempo, apontando para as teorias correntes
agora, nos meios acadêmicos sobre o papel da medicina psicossomática na dinâmica
das doenças e distúrbios mentais.
Kardec tinha plena consciência do fato
de que os conhecimentos adquiridos em seus estudos eram apenas o primeiro passo
de uma longa jornada, e, como nos fala o grande escritor Léon Denis em sua obra
"Depois da Morte", no capítulo XX, "A doutrina de Allan Kardec, nascida -
não será demasiado repetí-lo - da observação metódica, da experiência rigorosa,
não se torna um sistema definido, imutável, fora e acima das conquistas
futuras da ciência. Resultado combinado de conhecimentos dos dois mundos, de
duas humanidades de planos paralelos penetrando-se uma na outra, ambas,
porém, imperfeitas e a caminho do entendimento de verdades mais profundas,
do desconhecido, a Doutrina dos Espíritos transforma-se sem cessar, pelo
trabalho e pelo progresso, e (...) acha-se aberta às retificações, aos
esclarecimentos do futuro". E é isto que tem de ficar bem claro para o
movimento espírita brasileiro, com alguns setores cristalizados e dogmatizados.
A verdade é muito ampla para estar contida apenas nas obras do primeiro período
da codificação, e as ciências evoluem para uma compreensão mais holística do
homem e do universo que deve estar presente também nas nossas casas de estudo
espíritas. E se há ainda pessoas que se realizam apenas no aspecto religioso do
movimento, muitas outras há, especialmente entre os jovens, que anseiam por ver
novos horizontes onde possam se lançar à altos vôos com as duas asas, como nos
fala Emmanuel, da razão e a do coração.
Neste sentido é bom relembrar
mais algumas palavras do próprio Kardec:
"O Espiritismo é uma doutrina
filosófica de efeitos religiosos como qualquer filosofia espiritualista, pelo
que forçosamente vai encontrar-se com AS BASES FUNDAMENTAIS DE TODAS AS
RELIGIÕES: DEUS, A ALMA E A VIDA FUTURA. MAS NÃO É UMA RELIGIÃO
CONSTITUÍDA, visto que não tem culto, nem rito, nem templos e que, entre
seus adeptos reais, nenhum tomou o título de sarcedote ou de sumo sarcedote"
(...) "O Espiritismo proclama a liberdade de consciência como direito natural;
proclama-a para seus adeptos assim como para todas as pessoas. Respeita todas as
convicções sinceras e faz questão de reciprocidade". (Kardec, in "Obras
Póstumas" - Ligeira Resposta aos Detratores do Espiritismo, páginas 260 e
261 da 21º edição da FEB, com destaques meus).
Ora, é muito lamentável
que algumas instituições que se dizem espíritas tenham em seus meios pessoas com
a pseudo-sabedoria de se arvorarem donas de todo o conhecimento e evitem o
contato com outros sistemas de pensamento ou com as novas descobertas
científicas. Esquecem-se, em nome do dogmatismo e da vaidade, os dois
mandamentos essenciais do espiritismo: "Espíritas, amai-vos, eis o primeiro
mandamento; instruí-vos, eis o segundo", e põem um limite quase
instransponível entre a mesa, com seus dirigentes, e a assembléia, num arremedo
de hierarquia, arremate de um nível de poder político comum às religiões
institucionalizadas. Ainda há tempo de retomar a seara da forma como foi
planejada por Kardec, basta humildade e solidariedade, nada mais, junto com um
sincero desejo de estudar e de instruir-se. Felizmente nas fileiras espíritas
brasileiras existem lumiares de alto valor dentro do aspecto científico e
filosófico, como Hernani Guimarães Andrade, Henrique Rodrigues, Hermínio C.
Miranda, Clovis Nunes, Jorge Andrea, Raul Teixeira, Divaldo P. Franco e, por
meio de sua mediunidade maravilhosa, Francisco Cândido Xavier. De forma mais ou
menos indireta, também temos a obra fantástica de Pietro Ubaldi que, com a sua
A Grande Síntese demonstrou algumas das temáticas só agora mais ou menos
popularizadas ou divulgadas como consequencia da evolução da Física Quântica ou
da concepção Holística da
filosofia da ciência que foram divulgadas em grande parte nas obras de Fritjof
Capra. Mas isto é um outro assunto.
Acho que o precioso trabalho de
Allan Kardec ainda há de ser reconhecido pelas gerações vindouras. O sucesso que
sua obra logrou a ter na segunda metade do século XIX, foi, de certa forma,
ofuscada pelas crises e guerras sucessivas por que passou a Europa, que acabou
por entrar numa fase de descrença existencial, com a perda de seus idéias mais
espirituais, bem exemplificada pelo niilismo e mecanicismo do século XX, bem
como pelo surgimento de outras correntes espirituais mais esotéricas, de
sabor fortemente ocultista e, por isso mesmo, mais atrantes para algumas pessoas
às quais o mecanicismo de nossa época desagrada, como a Teosofia de H. P.
Blavatisk, e outras. Mas só o tempo, como agora parece ocorrer, dirá o que de
fato é a obra de um dos homens mais universais do século XIX.
Bibliografia Sugerida
Atenção: Alguns dos livros espíritas aqui indicados podem ser
retirados (por download) pela internet
em http://www.bauhaus.com.br/secd/
ou em
http://www.febrasil.org.br/lesp_br.htm
Enciclopédia
Mirador-Britannica, 1992.
Kardec, Allan A Codificação da Doutrina
Espírita - Coletânea das Obras básicas de Kardec, Instituto de Difusão
Espírita, São Paulo, 1997.
Kardec, Allan O Livro dos Espíritos, Federação Espírita
Brasileira, São Paulo, 1990.
Kardec, Allan O Que é o Espiritismo,
Federação Espírita Brasileira, São Paulo, 1990.
Kardec, Allan O Livro dos
Médiuns, Lake, São Paulo, 1988.
Kardec, Allan O Céu e o Inferno,
Lake, São Paulo, 1988.
Kardec, Allan Obras Póstumas, Federação
Espírita Brasileira, São Paulo, 1990.
Wantuil, Zeus & Thiesen, Francisco
Allan Kardec, vol. I, II e III, Fed. Espírita Brasileira,
1984.
Sausse, Henri Biografia de Allan Kardec em Allan Kardec,
Ed. Opus, São Paulo,1982.
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João Pessoa, Paraíba, 02/01/1997
Revisto e ampliado em 10 de
março de 1998
Copyright (C) 1997 by Carlos Antonio Fragoso Guimarães